quarta-feira, 18 de janeiro de 2017

Um pouco da história do Hotel Marozzi



Publicado no blog História do Hotel Marozzi, em 19 de setembro de 2013.

Um pouco da história do Hotel Marozzi

Inaugurado em meados dos anos 30 e 34, o Hotel Marozzi viveu dias gloriosos durante seu período de funcionamento, sendo considerado por muitos anos como o melhor, o mais elegante e o mais bem frequentado hotel de Aracaju. Este contribuindo, pode-se assim dizer, para o desenvolvimento do turismo na cidade de Aracaju como também no Estado. Foi fundado pelo italiano Augusto Marozzi, abriu suas portas primeiramente nas proximidades da praça Fausto Cardoso, porém tempos depois instalou-se permanentemente na Rua João Pessoa, número 320, entre a rua São Cristovão e a Praça General Valadão. Funcionando em um prédio que foi construído em forma de castelo, com jardim que culminava nas dependências e onde deixava à disposição de seus clientes 35 acomodações além de alguns espaços para a realização de eventos. No qual, o público que costumava frequentar o hotel eram as pessoas da classe alta de Sergipe.

Serviu de cenário para a recepção de nomes importantes da época, tanto a nível estadual a exemplo de Maciel Porto, comandante do 28BC da época, quanto em nível nacional como os cantores Angela Maria e Luiz Gonzaga. Sendo também utilizado como residência por celebres sergipanos, como Pires Wynne, devido à qualidade não só dos serviços, mas também da atmosfera que referenciava o empreendimento. Servindo também como palco de reunião para clubes, como o Rotary Clube de Aracaju, de grandes festas, banquetes e comemorações. Tendo-se como exemplo o jantar que foi oferecido para o Desembargador Hunald Santaflor Cardoso pelos seus amigos e que contou com a presença de pessoas da alta sociedade, por exemplo, o General Maynard Gomes e o Dr. Jorge Campos Maynard, prefeito de Aracaju na época. O evento foi tão comentado pelos jornais que teve o seu convite publicado no Correio de Aracaju:

Convite
Os amigos e admiradores do Exmo. Sr. Desembargador Hunald Santaflor Cardoso, alegres como o regresso a Sergipe, por estes dias, desse ínclito magistrado cuja ausência, por menor que seja, é sempre lamentada por todos aqueles que, de perto, conhecem as virtudes que lhe exornam o espírito culto e boníssimo, - desejando homenageá-lo, oferecer-lhe-ão lauto jantar no Hotel Marozzi, em dia e horas que serão oportunamente marcados.

O Hotel tinha como principais concorrentes o Hotel Avenida, o Hotel Central e o Hotel Rubina, este sendo o maior e principal concorrente do Marozzi.

Devido ao reconhecimento do empreendimento perante a sociedade sergipana e as relações construídas no decorrer dos anos em que este esteve em atividade, no período da historia onde momentos de tensão eram vividos devido aos torpedeamentos dos navios de passageiros na costa sergipana, pelo submarino alemão U-507, em agosto de 1942, o proprietário do Marozzi não foi alvo de suspeitas e perseguição por parte das autoridades. Outro motivo que impediu que Augusto Marozzi fosse preso pelos alemães e tivesse que fechar o hootel foi o fato deste ter hasteado em seu hotel a bandeira do Brasil.

No entanto, mesmo tendo sido uma grande referencia no ramo da hotelaria em Sergipe, o Hotel Marozzi se deparou com o seu fechamento em 1965, devido a uma serie de fatores que o levaram a tal circunstancia, dentre estas vale salientar o fato de não ser mais tão bem frequentado quanto antes, uma vez que foi inaugurado o Hotel Palace se tornando um concorrente de peso e afetando assim na ocupação do primeiro; outro fator que determinou o fim das atividades do Marozzi se deve ao fato do imóvel não ser de propriedade do fundador do hotel, que se viu obrigado a fechar as portas quando foi notificado pelo proprietário do imóvel, da venda do mesmo. Após o seu fechamento e depois de alguns anos o prédio onde funcionava o Marozzi foi destruído dando espaço para a criação de outros prédios, como lojas para o comercio.

Devido ao fato do Sr. Augusto Marozzi depois do fechamento do hotel não ter guardado com extremo cuidado os documentos sobre a inauguração e o funcionamento do hotel, acarretou na falta de informações mais precisas sobre o Marozzi, inclusive a data certa de inauguração do hotel na cidade de Aracaju/SE.

Autores:
Nayara De Santana Cardoso
Jorge Luis Santana Luduvice
Ruth Stephany Souza Vieira
Jéssica Santos Silva
Danielle Santana Silva

Fonte: infonet.com.br/luisantoniobarreto.

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Entrevista com Maria Augusta Marozzi.

Entrevista com Maria Augusta Marozzi, filha do proprietário Augusto Marozzi elaborada pelos alunos da disciplina de aspectos históricos de Sergipe.

Qual o nome do proprietário do Hotel?
Maria Augusta: “Papai”, assim ela se referiu ao proprietário do hotel durante a entrevista, se chamava Augusto Marozzi , ele era italiano e trabalhava na embaixada do Brasil em Veneza.

Onde o Hotel estava localizado?
Maria Augusta: Segundo Maria Augusta , o primeiro hotel Marozzi se localizava na praça Fausto Cardoso no atual Tribunal de Justiça. Depois ele se instalou na rua Jõao Pessoa.

Quais personalidades ilustres frequentaram o hotel?
Maria Augusta: Eram vários principalmente os cantores como: Angela Maria Luiz Gonzaga que era o que mais frequentava, Bibi Ferreira, Emilinha Borba, Marlene .

Qual o perfil do público que frequentava o hotel?
Ela afirma que o público que frequentava o hotel eram pessoas da classe alta de Sergipe e que o Rotary Club , o qual foi fundado dentro do hotel , comemoravam festas com banquetes dentro do Hotel Marozzi. Os políticos que visitavam Sergipe também realizavam jantares no hotel por ser um dos hotéis mais bem conceituados na época.

Quais eram os hotéis concorrentes?
Maria afirma que o principal concorrente do Marozzi era o Hotel Rubina que se instalou no antigo endereço do Marozzi , Hotel avenida e Hotel central.

Quantos quartos o hotel possuía?
O hotel possuía 35 quartos e possuía o espaço térreo e o 1º andar.

Qual marco histórico aconteceu durante a época do hotel?
Segundo Augusta, depois de nascida houve a revolução de 1964 e antes disso o náufrago do navio em Sergipe atacado pelos alemães. Ela também relata que o seu pai, Augusto Marozzi foi o único europeu que não foi preso por suspeita durante esse ataque.

Qual foi o motivo do fechamento do hotel?
Maria Augusta diz que o motivo foi a venda do prédio onde se instalava o hotel. Como o imóvel onde funcionava o hotel era alugado e de propriedade da família Cruz , quando estes decidiram vender o prédio , seu pai também decidiu fechar as portas do Marozzi.

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Hotel Marozzi.
Por Luiz Antônio Barreto.

Quando cerrou suas portas, em 1965, o Hotel Marozzi já não era o melhor, o mais elegante e bem frequentado hotel de Aracaju. Já havia o Hotel Palace, imponente obra da engenharia moderna, no centro da praça General Valadão, construído pelo Governo de Luiz Garcia, em 1962, para fomentar o turismo. O Hotel Marozzi, com seus 35 quartos, e com mais de três décadas de funcionamento elegante, era uma saudade viva, encarnada na figura do seu proprietário Augusto Marozzi, um italiano de Bolonha, nascido provavelmente em 1888, filho de Eduardo Marozzi e Anunciata Calovi. Augusto Marozzi trabalhava na legação brasileira de Veneza, na Itália, quando conheceu o diplomata e escritor sergipano Ciro de Azevedo. Da amizade surgiu o convite feito por Ciro de Azevedo, para que Augusto Marozzi o acompanhasse de volta ao Brasil. Convite aceito, o mordomo italiano desembarcou no Rio de Janeiro, onde permaneceu algum tempo, até vir para Sergipe, servir no Palácio do Governo, que desde 24 de outubro de 1926 passou a ser ocupado pelo diplomata. Ciro de Azevedo, republicano dos primeiros tempos, participando do Clube Federal de Laranjeiras, foi eleito para substituir Graccho Cardoso na presidência do Estado. Gozava de bom nome e de simpatia na classe política sergipana, apesar de estar afastado do Estado, cumprindo missões diplomáticas em vários países do mundo e exercendo atividades intelectuais. Empossado, refez alguns atos do presidente anterior, mas, doente, não teve disposição para governar. Desde a posse, os afastamentos para tratar a saúde e a morte foi um período curto, de menos de um ano. Morto o presidente, o amigo italiano resolveu permanecer em Aracaju. Primeiro abriu um pequeno restaurante na rua de Japaratuba, hoje João Pessoa, no trecho entre a praça Fausto Cardoso e a rua de Laranjeiras, onde hoje está o edifício Oviêdo Teixeira. Depois montou outro restaurante, na praça Fausto Cardoso, nas vizinhanças da Recebedoria Estadual, onde hoje está o edifício Walter Franco. Por fim montou o Hotel Marozzi, na mesma praça Fausto Cardoso, no lado oposto, numa casa onde mais tarde funcionou o Hotel de Rubina e que demolida cedeu o terreno para a construção do prédio do Tribunal de Justiça, no Governo de José Rollemberg Leite. Foi, contudo, no número 320 da rua de João Pessoa que Augusto Marozzi instalou, em definitivo, o seu hotel. Era uma casa de dois pavimentos, de propriedade da família Cruz, alugada através da intermediação de Teodomiro Andrade, um dileto amigo do súdito italiano. Começava uma história de sucesso, que deu a Augusto Marozzi uma imagem de comerciante atualizado, que tudo fazia para tornar seu hotel num ponto requisitado, tanto pelos viajantes e visitantes de outros lugares, como por figuras de sergipanos, que preferiam morar no Hotel Marozzi, como o magistrado Enock Santiago, Monsenhor Doutor Alberto Bragança de Azevedo, o poeta e historiador Pires Winne, Juca Barreto, proprietário do Cinema Rio Branco, Dr. Brandão, que foi por muitos anos Secretário Geral do Tribunal de Justiça, o Comandante do 28 BC, Maciel Porto, que só saiu do Hotel para casar, dentre muitos e muitos outros hóspedes famosos. O economista e professor Nilton Pedro da Silva, vindo do Recife trabalhar em Aracaju, foi dos últimos mensalistas do Hotel Marozzi. O bom relacionamento de Augusto Marozzi o livrou da suspeição e da perseguição motivada pelos torpedeamentos dos navios de passageiros na costa sergipana, pelo submarino alemão U-507, em agosto de 1942. Corria na capital sergipana o boato de que alemães e italianos residentes em Sergipe colaboravam com os ataques das forças de Adolf Hitler, fornecendo informações pelo rádio. Tanto o Comandante do 28 BC, quanto Enock Santiago deram a Augusto Marozzi a solidariedade, evitando os constrangimentos comuns aquele tempo em Aracaju. Há quem lembre, por exemplo, que seu concorrente, Nelson de Rubina, fez tudo para evitar que o Hotel Marozzi recebesse hóspedes que buscavam, desesperadamente, pelos seus parentes, vítimas dos torpedeamentos. O Rotary Clube de Aracaju fez suas reuniões no Hotel Marozzi, desde a fundação em 1934, e até o fechamento do hotel. Também o Lions tinha os salões do Hotel Marozzi como a sede de suas reuniões sociais. Banquetes, festas, reuniões tiveram naquele hotel momentos de elegância e de bom gosto. Com o fechamento do hotel, Augusto Marrozi doou parte do mobiliário ao Convento dos Capuchinhos, por interveniência de D. Norma Tavares, esposa de Constantino Tavares. Agente consular, Augusto Marozzi tratava dos assuntos dos italianos residentes em Sergipe, como a família de Augusto Frederico Gentil, a família Fiscina, residente em Itaporanga, e outros italianos com quem mantinha amizade. Augusto Marozzi, que foi casado com Ana Heger, com quem tinha uma filha – Anunciata Amélia Marozzi – que morreu em Aracaju em 8 de maio de 1992, casou, pela segunda vez, na capital, com a sergipana, de Boquim, Alvina Batista Marozzi, com quem teve uma única filha, Maria Augusta Marozzi Cabral, nascida num dos quartos do Hotel, em 12 de julho de 1939. Além de ajudar ao pai no gerenciamento do hotel, Maria Augusta casou-se com um comerciante, Cabral, proprietário da bem transada Cantina Capri, na rua de João Pessoa, bem próximo ao Marozzi. Vítima de insuficiência cardíaca refratária, Augusto Marozzi morreu às 5:30 h do dia 1º de agosto de 1969, aos 81 anos. Residia na rua de Propriá, sobrevivia de pequena aposentadoria como comerciante. Sergipe deve reverência a esse italiano que viveu mais de quarenta anos em Aracaju, aqui fez família, aqui trabalhou, dando uma contribuição refinada, que ainda hoje é guardada na lembrança dos que conheceram o glamour do Hotel Marozzi.

Artigo publicado no dia 04/08/2004, por Luíz Antônio Barreto

Fonte: "Pesquise - Pesquisa de Sergipe/InfoNet.
Site: infonet.com.br/luisantoniobarreto

Fotos/Legendas/Créditos:
F/1 - Hotel Marozzi, na Rua João Pessoa, em Aracaju/SE.
Imagem reproduzida do blog: fotosantigasdearacaju.blogspot.com.br
F/2 - Anúncio - Hotel Marozzi.
Revista Renascença Ano II n. 09 - 1936.

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