quarta-feira, 31 de julho de 2013

Altenesch e Wladimir Preiss

 Palácio Serigy: uma das grandes obras de Altenesch.

Casas da rua Estância: marca da arquitetura de Altenesch.

Infonet - Blog Luíz A. Barreto - 12/11/2004

Altenesch e Wladimir Preiss
Por Luíz Antônio Barreto.

Mesmo tendo sido planejada nas pranchetas dos engenheiros militares, Aracaju não guardou simetria urbana com outras cidades brasileiras, nem mesmo com Terezina, construída 3 anos antes, em 1852, para ser capital da Província do Piauí.

Evidentemente, nem Terezina e nem Aracaju, ou mesmo Goiânia, seguiram à risca os planos iniciais de seus traçados. Aracaju, mais que as outras, incorporou diversas contribuições técnicas e parece ter a mais eclética das arquiteturas.

Vários engenheiros, mandados pelo Império ou contratados pela Província, realizaram obras por décadas seguidas, cumprindo o planejamento da cidade, notadamente no tocante aos prédios públicos – Palácio do Governo, Igreja Matriz, Palácio da Assembléia, repartições federais, como os Correios, os Telégrafos, a Alfândega, o Quartel do 28 BC, estaduais, como o Atheneu, a Biblioteca Pública, a Recebedoria, o Quartel da Polícia, dentre muitas outras. Parte de tais construções sofreu modificações radicais e nem deixaram vestígios de seus modelos arquitetônicos.

As intervenções mais profundas, modificando o Palácio do Governo, a Catedral, e construindo diversos edifícios públicos – o Mercado Modelo (Antonio Franco), o Palácio da Intendência, a Penitenciária Modelo, a Associação Comercial, o Colégio Nossa Senhora de Lourdes, dentre outros, ocorreram nos governos de Pereira Lobo e Graccho Cardoso. Há, em tal período, a presença em Aracaju da chamada Missão Italiana, com número razoável de profissionais, cada um com seu papel, destacando-se Belando Belandi, Oreste Gatti, Hugo Bozzi, Cercelli, Gentile e outros, conciliados com os serviços de José Alcides Leite, doublé de armador e de marceneiro refinado.

A Missão Italiana deixou variadas marcas muito visíveis na paisagem urbana de Aracaju. E deixou, também, pinturas interessantes no interior do Palácio Olímpio Campos, e na Associação Comercial de Sergipe, atribuídas a Belandi, e na Catedral, inclusive o teto do altar principal, obra assinada por Oreste Gatti, que foi também o autor da pintura do teto do altar da Matriz de Estância. Os Gentile, que passaram a assinar Gentil, continuaram em Aracaju e criaram um estabelecimento de material de construção, produzindo mosaico, trotroá, ladrilhos em geral e outros adornos. Gatti viveu em Sergipe até a década de 40 (do século XX), morando na rua de Japaratuba, em Aracaju.

Na década de 30 – Século XX - Aracaju passou por uma nova intervenção em sua arquitetura e em sua paisagem. Algumas áreas, como o Parque Teófilo Dantas, que contou com a arte paisagística de Corinto Mendonça, inspirado nos jardins de Belém do Pará, foram novamente agenciadas. O prefeito Godofredo Diniz contratou os serviços de Wladimir Preiss, de São Paulo, para arborização e jardinagem da capital sergipana, projetando uma ação ordenada em todo o centro da cidade, e não apenas em lugares determinados. Afamado por servir na capital paulista, Wladimir Preiss foi recebido entusiasticamente pelo prefeito, gerando uma expectativa de embelezamento de Aracaju, como nunca havia sido pensado.

Na mesma época, estava aqui com seu escritório de trabalho à avenida Rio Branco, 14, o engenheiro alemão H. O. H. Arendt Von Altenesch, apresentando modelos de bangalôs e de outras casas de estilo europeu que eram o sonho de consumo dos ricos e da classe média sergipana. Fernando Porto, o mestre da geografia aracajuana, engenheiro pela Escola de Ouro Preto, fez severas críticas aos bangalôs de Altenesch, atribuindo um “mau gosto”, que pareceu contagiar os proprietários.

Altenesch fez enorme sucesso como engenheiro e construtor e assinou projetos que ainda hoje são marcas ecléticas da arquitetura de Aracaju, como o prédio do Instituto Histórico e Geográfico de Sergipe, na rua de Itabaianinha, o edifício Serigy, na praça General Valadão, construído no lugar da Cadeia Pública, a sede da Associação Atlética de Sergipe, a Cidade de Menores “Getúlio Vargas”, considerada a sua obra prima, além de dezenas de residências espalhadas pelas ruas de Estância, Pacatuba, Itabaiana, Maruim, Barão de Maruim, e outras.

Nascido em Haburgo, em 1900, Hermann Otto Wilhelm Arendt Von Altenesch deixou a Alemanha aos 18 anos, vindo para a América. No início dos anos 30 estava já em Aracaju, passando aqui uma década de trabalho, colaborando com o governo constitucional e com a Interventoria de Eronídes de Carvalho, e sendo identificado como o arquiteto do Estado Novo em Sergipe. Ao falecer, em Teresópolis, para onde foi em tratamento médico, aos 40 anos, em 20 de junho de 1940, Altenesch foi reverenciado pelos jornalistas do DEIP, como o homem que mudou a face da cidade com suas casas “modernas”.

O governo, em retribuição aos seus serviços, deu o nome de Altenesch à rua que levava à praça Getúlio Vargas (inaugurada em homenagem ao 1º aniversário do Estado Novo), e que por causa da II Guerra Mundial, passou a ser denominada de Duque de Caxias. O nome de Altenesch sumiu de circulação após a sua morte, mas suas casas continuam chamando a atenção, como intervenções singulares na paisagem da cidade.

Fonte "Pesquise - Pesquisa de Sergipe / InfoNet".
Contato: institutotobiasbarreto@infonet.com.br.

Foto e texto reproduzidos do site: infonet.com.br/luisantoniobarreto

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