quarta-feira, 27 de janeiro de 2016

Pesquisa resgata história do São Francisco.




Publicado originalmente no site do Jornal do Dia, em 14/07/2014.

Pesquisa resgata história do São Francisco.

Por Kátia Azevedo
katiaazevedo@jornaldodiase.com.br

Desde menina a ribeirinha Maria Conceição Vieira, moradora do município de Brejo Grande, aprendeu a viver da pesca artesanal no Rio São Francisco. "Com o rio sustento minha família, cresci ouvindo histórias, mas hoje o São Francisco perdeu boa parte da vazante. Não tem mais tanto peixe como antigamente. O povo ribeirinho sofre com o represamento das suas águas", relata.

Conceição é presidente da Colônia de Pescadores de Brejo Grande há três anos. A entidade tem 2.800 pescadores cadastrados. 50% dos integrantes são pescadoras. Ela é a primeira mulher a presidir a entidade.
"Com o tempo, as mulheres ribeirinhas passaram a assumir a pesca como atividade profissional, o que fortaleceu a luta organizada destas trabalhadoras nas colônias, espaços que por muitos anos foram liderados apenas pelos homens. Essa mudança começou a acontecer a partir de movimentos sociais em defesa do Rio São Francisco", conta Conceição.

Relatos e histórias como a da pescadora estão reunidas em uma pesquisa que vem sendo realizada desde 2006 pela escritora e poetisa Vera Cristina Santana Vilar, autora de um projeto que tem como proposta resgatar a memória e causos do Velho Chico, enfatizando sua importância para o desenvolvimento regional e a vivência das comunidades ribeirinhas com o rio.

Ela pretende publicar em breve o livro "Pescadores do São Francisco". Vera ressalta que além da proposta de mostrar o rio como integrador social e econômico, a pesquisa também tem como objetivo discutir temas como a transposição e revitalização do Velho Chico, o represamento de suas águas gerado pela crescente presença de usinas hidrelétricas nas regiões abastecidas pelo São Francisco.

"Já tinha iniciado este levantamento há oito anos. Com a participação de um projeto de pesca na região em 2010 comecei a pensar numa proposta de retratar em livro as vivências dos pescadores. Com este estudo, quero mostrar as belezas naturais do Rio São Francisco, a riqueza do seu povo, a sua importância histórica e regional, mas acima de tudo fazer um alerta para a importância da preservação desse patrimônio do povo brasileiro", destaca Vera Vilar.

A ideia de realizar a pesquisa, segundo ela, surgiu a partir de uma preocupação em retratar e dar visibilidade ao trabalho dos pescadores revelando a importância do rio nas práticas cotidianas das comunidades ribeirinhas, os impactos ambientais do represamento das águas e a necessidade de uma agenda do poder público para a revitalização do Velho Chico.

"A proposta é lançar um livro contando o trabalho das colônias, as lendas que estão no imaginário coletivo da população que vive às margens do São Francisco, a diversidade ecológica, a cultura local, mas acima de tudo fazer dessa pesquisa um instrumento de denúncia e de luta pela preservação do Velho Chico, chamando a atenção para a fundamental implantação de políticas públicas que envolvam a revitalização do rio", explica.

Vera nasceu na cidade de Propriá, um dos municípios afetados pela grande degradação ambiental envolvendo o Velho Chico. "O rio perdeu a vazante e a situação da pesca tem priorado muito. Poucas embarcações conseguem atravessar", relata.

O trabalho da pesquisa vem sendo feito nos municípios de Propriá, Brejo Grande, Pacatuba, Ilha das Flores, Santana do São Francisco, Neópolis e Cedro, e por enquanto conta apenas com o apoio das colônias de pescadores como a de Brejo Grande, Ilha das Flores e Neópolis, além de algumas prefeituras locais.

"Já visitei os pescadores dos povoados Betume,Tapera, Alto Santo Antônio, Pindoba e Mussuípe com o apoio da Colônia de Pescadores de Neópolis", relata.

A pesquisa também contempla as cidades de Gararu, Porto da Folha, Poço Redondo, Pacatuba, Telha e Canindé e os povoados destas cidades onde a pesca tem um destaque maior.
O projeto tem duração de 6 meses para sua conclusão. Vera espera por apoio para publicar "Pescadores do São Francisco", o seu quarto trabalho, que está sendo produzido com recursos próprios. Ela é autora de três livros de poesias- "Aparas do Tempo", "O Ritmo das Palavras" e "Em Pedaços".

A escritora também já foi homenageada com o prêmio Abdhias do Nascimento, na Assembleia Legislativa de Sergipe e no Memorial do Teatro Sergipano. "Espero que o poder público e a iniciativa privada se somem a esta causa, de preservação do Rio São Francisco", enfatiza. Os interessados podem entrar em contato com a escritora pelo (79) 9830-1563 ou através do e-mail poetisaveravilar@hotmail.com
Para a ribeirinha Conceição, Pescadores do São Francisco representam também uma oportunidade de dar visibilidade para os trabalhadores que vivem da pesca em Sergipe, especialmente os que sobrevivem do Velho Chico.

"Essa classe de trabalhadores ainda sofre com pouca assistência do poder público e com a morte lenta do Rio São Francisco, que faz parte da história do povo ribeirinho", lembra.

Texto e imagens reproduzidos do site: jornaldodiase.com.br

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