segunda-feira, 3 de abril de 2017

Música Brasileira e os 6 anos de ausência do João Ventura (2016)

Foto reproduzida do site: musica.terra.com.br
Postada por Isto é SERGIPE, para ilustrar artigo.

Publicado no blog Ney Vital, em 4 de janeiro de 2016.

Música Brasileira e os 6 anos de ausência do João Ventura (2016).
Por Raymundo Mello*


A data  05 de janeiro de 2016, marca os 6 anos de ausência do 'João Ventura', um sergipano pelo coração, cantor, compositor, poeta, que fez sucesso artístico no Brasil e no mundo, e, por opção própria, ao aposentar-se, em 1980, no auge de sua carreira, referenciado pelos melhores nomes da música popular brasileira – ele que lançou artistas como Jorge Ben (hoje Jorge Benjor) e Djavan –, resolve deixar o sucesso por lá e voltar para o Aracaju de sua juventude, para o seu 'Sergipinho' (ai... saudade do meu Sergipinho – ele cantava) e vem para a terrinha, lembrar, cantar e reviver, enquanto pôde, seus carinhos, suas amizades, seus velhos companheiros de farra e história.

Trouxe a sua experiência, o brilho de sua arte, o calor de suas emoções para a alegria de seus amigos e especialmente de seus familiares que o acompanharam Rio de Janeiro – Aracaju (esposa querida, filha, filho, netos), além de juntar-se aos aqui residentes, eu inclusive, seu irmão. Como foi bom ter João conosco. É verdade que, por insistente convite de 'Chico Anysio', ele aceitou mais um ano no Rio de Janeiro, colaborando com o grande mestre na elaboração e direção musical do famoso 'Chico Anysio Show', mas foi só um ano e, graças a Deus, ele resistiu aos insistentes – insistentes mesmo – convites do diretor de novelas 'Herval Rossano', que o queria, a todo custo, na produção da segunda edição da “Escrava Isaura”.

Eles fizeram juntos a edição da Globo, a original, feita quando os recursos técnicos ainda eram poucos, e Herval o queria junto na nova edição da novela para a Rede Record. Mas João resistiu e Herval ficou chateado, embora entendesse suas razões. Diga-se de passagem, a “Escrava Isaura” da Globo, até quando João vivia, rendia-lhe alguns reais, poucos, é verdade, porque no parte e reparte do que vinha da Alemanha, China e demais países do mundo onde a novela foi exibida – e vejam que ela andou sendo dublada no mundo inteiro –, sempre lhe trazia satisfação, não pelos valores que eram pequenos, mas pelas origens – Europa, Ásia, África e Américas.

Tenho umas poucas coisas de João. Poderia ser muito mais, porque, na verdade, estávamos, calmamente, selecionando materiais, correspondências, discos, fotos e tudo mais que julgássemos importante para um 'Memorial João Mello' a ser implementado e aberto ao público, com o próprio João falando, dizendo ao vivo o que significava tal foto, tal documento, tal disco, a exemplo de um pequeno acervo que já existia, devidamente organizado em uma dependência da Rádio Aperipê, aos cuidados do funcionário senhor “Anjo”, que João, carinhosamente, tratava por “Anjinho”, apesar do volume do homem ser mais para “Anjão”; era um quase atleta, mas delicado, com gosto para cuidar das coisas, como ele mesmo dizia.

Infelizmente, fomos pegos de surpresa, e na manhã de 5 de janeiro de 2010, o nosso 'João Mello', o legítimo João Ventura por ele cantado, foi-nos tomado, mas seguiu serenamente para o outro lado da vida, e nesse outro lado ele é eternizado e nos aguarda. Quem sabe, lá no “aeter” já está montando aquele memorial imaginado. Quem sabe? Anjo aqui, anjos lá, tudo é mais fácil.

João, homem simples que nunca pensou em si, como reclamava seu amigo Luiz Antônio Barreto, fez um auto-retrato em uma canção dos anos 40, elogiada em artigo publicado no “Sergipe - Jornal” de 1947 pelo insigne jornalista e homem de letras de Sergipe e do Brasil 'Aluysio Mendonça Sampaio', que, em texto publicado na 'LB-42 – Revista da Literatura Brasileira' (2006), diz: “Destaque-se, ainda, que a canção João Ventura ressalta a personalidade participante do compositor, pois o dito Ventura, cidadão de Aracaju, “não é malandro nem vagabundo”, “é um cabra inteligente, sonha um mundo diferente, pra ele e pra todo mundo”. E, como digo na última página (219) do livro 'João Ventura – Cidadão de Aracaju', “por esse sonho, todo o roteiro de sua vida teve que ser refeito; mas, valeu a pena”. 

Guardo, com muito carinho, a página 'Cultura e Variedades' (que me foi doada por um “Ilustre Desconhecido”) do Jornal Cinform, edição de 26/12 a 01/01/2006 (Ano XXIII – Edição 1185), onde a jornalista e editora 'Flávia Martins' publica excelente entrevista com João Mello, com o título “João Mello e vida passada a limpo”. Trata-se de uma entrevista de alto nível, com excelentes fotos, realizada na então residência de João Mello. Com um sabor diferente, delicado, a editora e jornalista Flávia Martins repassa a seus leitores uma leitura correta sobre seu entrevistado, o porquê do seu livro, com ótimos registros, e cita fatos quase perdidos em minha memória. Penso em registrá-la, e, se interessar ao 'Museu da Gente Sergipana', passar para os arquivos daquela casa, onde estudamos, João e eu, cada um a seu tempo. Será um documento a não se perder. Vou falar com o doutor Ézio sobre o assunto.

Além da manchete acima citada, escreveu Flávia com destaque: “Aos 84 anos, compositor abre o peito e revela preciosas memórias dos primeiros anos do rádio em Sergipe, como produtor das gravadoras Philips e Som Livre e descobridor de talentos como Jorge Benjor e Djavan”.

“Todos cantam sua terra, também vou cantar a minha”, diz um verso popular. Não canto, mas lembro e vou lembrar sempre, já que os órgãos de cultura do estado e do município são omissos quando quem deve ser lembrado não é um subalterno, porque tem (ou teve) dentro de si a sua arte.

João Mello editou para o mundo o seu “Sergipinho” - “ai, saudade, saudade do meu Sergipinho, tão pequenininho, mas tão bonitinho que dá gosto a gente ver. Ai, que saudade, qualquer dia desse eu vou voltar pra lá, vou ver meu bem querer. Etc... etc...”.

E em seu livro, publica poema sobre seu Aracaju e suas pérolas artísticas, e como última estrofe, diz:

"E as lembranças são tantas meu Aracaju...
 das suas luas de tantas serenatas
 que há de faltar papel pra descrever.
 O que eu quero que saibas é que eu voltei
 desta vez pra ficar, te olhar, te ver,
 e te pedir a terra pra quando eu morrer!”.

Ninguém foi tão aracajuano e sergipano como ele; por isso, enquanto ainda falo e escrevo, vou continuar lembrando que o 'compositor João Mello' continua a merecer a lembrança e a homenagem de Aracaju e de Sergipe – uma rua ou um logradouro com seu nome, uma passarela ou viaduto onde seu nome seja eternizado e os futuros sergipanos ou visitantes tomem conhecimento da existência desse homem, lembrado e sempre citado na imprensa baiana e carioca, onde suas músicas continuam sendo executadas por antigos e novos intérpretes.

Só pra lembrar: “Sambou... sambou”, que ele compôs com João Donato, supera a casa de 50 gravações, no Brasil e no mundo.

* Raymundo Mello é Memorialista [raymundopmello@yahoo.com.br].

Texto reproduzido do blog: blogneyvital.blogspot.com.br

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