domingo, 16 de abril de 2017

Gonçalo de Faro Rolemberg, tronco basilar da sergipanidade (Dois artigos)

Foto: MyHeritage

Publicado originalmente no site do Jornal da Cidade, em 12 e 13/05/2011.

Gonçalo de Faro Rolemberg, tronco basilar da sergipanidade (I).
Por Givaldo Rosa Dias (Procurador Federal)*

O primeiro Barão de Japaratuba, Gonçalo de Faro Rolemberg, nasceu em 1819 e faleceu em 06/10/1874. Era filho de Manuel Accioli Rolemberg, um dos principais produtores de cana-de-açúcar no século XIX, senhor do Engenho “Flor de Murta”, casado em primeiras núpcias com Bernadina do Prado, e em segundas, com Maria Leite Sampaio. Teve dessa união três filhos: José de Faro Rolemberg, Ana de Faro Rolemberg e Maria de Faro Rolemberg, “Maria do Topo”, que foi casada com seu primo Manuel Rolemberg de Menezes, filho de Semeão Teles de Menezes e de Rosa Cândida Dias Sobral. Seus filhos foram Maria de Faro Rolemberg, casou-se também com Manuel Rolemberg de Menezes II, e José de Faro Rolemberg contraiu núpcias com Amélia Dias Coelho e Mello, filha do Barão de Estância, Antônio Dias Coelho e Mello.

O nosso focalizado, médico, político e senador, nasceu em Maruim (SE), em 13 de setembro de 1860, residia em Japaratuba no Engenho “Topo”, era filho de Manuel Rolemberg e de Maria de Faro Rolemberg (a repetição de nomes na família é uma constante), casou-se com Aurélia Dias Rolemberg (tia Sinhá), também filha do Barão de Estância, Antônio Dias Coelho e Mello e de Lourença Almeida Dias Coelho e Mello, era neta do Barão de Itaporanga, Domingos Dias Coelho e Mello.

A produção açucareira nas terras de Maruim/SE, cidade onde nasceu Gonçalo de Faro Rolemberg, fez da cidade um dos centros mais movimentados no tempo da Província, levando-se em conta a proximidade com a Capital e a facilidade de escoamento da produção através de embarcações denominadas “saveiros”, cujas mercadorias eram transportadas para o Porto de Aracaju, sendo exportado o açúcar para vários outros países.

Desde 1854, quando se tornou cidade própria do Estado, Maruim recebeu a visita do Imperador Pedro II e da Imperatriz acompanhados com toda comitiva da Corte, que ficaram impressionados com o desenvolvimento da cidade, impulsionada com a aplicação espontânea de recursos próprios do Barão de Maruim, João Gomes de Melo, que incentivou a construção da Igreja Matriz com sua ajuda financeira e com as doações de joias preciosas da família, para que surgissem outros edifícios, inclusive o Museu de História.

Dos filhos ilustres da terra, o Barão João Gomes de Melo foi outro que se destacou também na política, elegendo-se senador. Era tio e pai adotivo de Maria de Faro Rolemberg, “Maria do Topo”, e deixou após seu falecimento uma das mais cobiçadas heranças questionadas em Sergipe, tendo provocado, segundo vários historiadores, sua morte por envenenamento.

O senador Gonçalo de Faro Rolemberg formou-se em Medicina no Rio de Janeiro em dezembro de 1881, exerceu sua profissão em Sergipe, publicou vários trabalhos científicos na área da saúde pública, além de ter estudado em Paris. Também se destacou como grande proprietário rural e nas atividades políticas como deputado, vice-presidente do Estado (cargo equivalente a vice-governador) e senador da República por oito anos, permanecendo no Congresso Nacional de 1918 a 1926. Ingressou na política por influência de seu sogro, meu heptavô o Barão de Estância Antonio Dias Coelho e Mello, elegendo-se deputado provincial em 1881, sendo um político de grande influência e prestígio em Sergipe à frente do Partido Liberal, sofrendo forte oposição do jornal "Folha de Sergipe”.

Seu concorrente na política foi Graccho Cardoso, filho do professor Brício Cardoso. Formou-se em advocacia pela Faculdade de Direito do Ceará, tendo sido iniciado na política por influência do Comendador Accioli. Foi eleito deputado federal, vice-presidente do Ceará e depois senador por Sergipe, fazendo parte de uma família constituída de pessoas de nível cultural elevado, como o desembargador presidente do Egrégio Tribunal de Justiça e ex-interventor federal, Dr. Hunald Santa-Flor Cardoso, que assumiu o Governo por várias vezes, e da mestra Amélia Cardoso, professora emérita da antiga Escola Normal de Sergipe.

No Senado da República, fez amizade com o então senador Nilo Peçanha, que o apoiou em todas as reivindicações em favor do Estado de Sergipe, e a pedido de seu irmão primogênito Adolfo Rolemberg, do Engenho Escurial, convidou seu antigo colega de Senado, Nilo Peçanha, já que o mesmo tinha saído vitorioso nas eleições da Presidência da República, para inauguração do “Casarão dos Rolemberg”. O mandatário da Nação se hospedou no referido Casarão e participou da solenidade e de todos os festejos de inauguração, onde grande maioria dos sergipanos e figuras representativas do povo também compareceram ao evento, sendo um marco histórico para nossa cidade.

Além do irmão primogênito Adolfo de Faro Rolemberg, o médico, usineiro, senador e abastado proprietário rural dos engenhos Mato Grosso e Topo, era o irmão caçula e possuía três irmãs, Ana, Eliza e Amélia Dias Rolemberg, que viveram até seus falecimentos no “Casarão dos Rolemberg”. Após seu falecimento ocorrido em 1937, foi denominada a Rua Senador Rolemberg em uma das artérias de nossa capital, em homenagem ao destacado médico, proprietário rural e político reconhecido por todo o país.

Muitos acreditam que a denominação da artéria é em homenagem ao digno, ético e humanitário médico Francisco Rolemberg, ex-senador da República que muito honra e é merecedor das homenagens de seus conterrâneos, pelo atendimento e caridade do exercício da profissão aos menos favorecidos. Relembro que nos idos dos anos sessenta o jovem médico do Ipase, conjuntamente com sua belíssima esposa Dra. Elcy Vianna Rolemberg, nos atendia no consultório da Av. Ivo do Prado. Desde aquela época que tenho veneração pelo casal de médicos. Ele nascido em Laranjeiras, filho de Antônio Valença Rolemberg, “Seu Toinho da Farmácia”, amigo de todos os nossos familiares, e especialmente da nossa tia Otacília Menezes, viúva do coronel e usineiro João Pinheiro dos Santos Silva, senhor de engenho, um dos primeiros proprietários do Engenho Palmeiras que era um dos produtores de açúcar nos idos dos anos quarenta, não teve filhos do consórcio, mas dedicava com sua consorte todas as atenções a vários sobrinhos, dentre eles Violeta Santos Silva Leite, esposa do ex-deputado Fernando do Prado Leite, que assumiu o Governo de Sergipe, por várias vezes, na condição de substituto legal do Governador do Estado, como presidente da Assembleia Legislativa, pai do deputado federal Otávio Leite, da bancada representativa do Rio de Janeiro na Câmara Federal em Brasília, e do jovem e brilhante jornalista Ricardo Leite, eles são filho e netos do senador Júlio Leite. Dr. Fernando do Prado Leite foi criado e educado pelos nossos tios Dr. Otávio Accioli Sobral e sua esposa Luiza Prado Sobral, proprietários do Engenho Oiteirinhos e filha do Cel. Gonçalo Rolemberg do Prado, do Engenho Pedras, em Maruim, todos descendentes da mesma linhagem familiar.

Outros sobrinhos da referida usineira, os filhos do Dr. Roosevelt Cardoso de Menezes, médico e ex-prefeito de nossa Capital, especialmente Maria Clara Menezes Barreto, esposa do engenheiro Cristiano de Melo Barreto, e também de D. Raquel Dantas de Menezes Maynard e os descendentes de Luiz Cardoso de Menezes (Seu Luizinho do Engenho Camuculé), ela era uma gentil senhora de educação finíssima, e relembro também quando a mesma visitava seus parentes, sobrinhos e primos Francisco Luiz Cardoso de Menezes, Rosalvo e Maria Amélia, na antiga residência do usineiro Luiz Cardoso de Menezes (Luizinho do Engenho Camuculé), localizada no primeiro trecho da Av. Ivo do Prado (rua da Frente) nº 66, na passagem do ano novo, onde assistiam a procissão de Bom Jesus dos Navegantes, eles todos se reuniam com os parentes, Rosa Amélia Dias Sobral (tia Rosita), esposa do comerciante Dermeval do Prado Franco, então proprietário das firmas P. Franco em Aracaju e da Bahia Elétrica em Salvador (BA), do Dr. Renato Franco, Procurador da Fazenda Nacional no Estado da Bahia, de Zaíra Menezes Pimentel Franco, esposa de José de Barros Pimentel Franco (Zequinha do Engenho Passagem, de Riachuelo), pais dos médicos Paulo Cardoso de Menezes Franco e de Dra. Lenita Franco, e de muitos outros parentes, ela recordava o tempo em Laranjeiras quando proporcionava o carinho aos jovens irmãos Francisco Rolemberg e Heráclito, os quais eram acariciados fraternalmente, até a mamadeira dos infantes era preparada por ela, pois tinha por eles um amor filial, contava ainda, que os jovens tiveram uma educação aprimorada de seus pais. Tempos depois do falecimento de seu marido, foi morar em São Paulo bem perto de seus outros sobrinhos conhecidos em nossa Capital, Luiz Carlos Campos e Buíta Vieira de Melo. (continua amanhã).

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Gonçalo de Faro Rolemberg, tronco basilar da sergipanidade (II).
Por Givaldo Rosa Dias (Procurador Federal)*

Retornando à nossa cidade, eu e minha primeira esposa Cândida (Candinha) prestávamos por vários anos assistência à mesma, e aos sábados e domingos levávamos para nossa residência, e nas tardes dos domingos saíamos passeando pela cidade. Faleceu em Aracaju nos idos dos anos oitenta e fez o pedido de ser sepultada no cemitério do Alto do Bomfim, situado ao lado da Igreja do mesmo nome na cidade de Laranjeiras onde ocorreu com grande acompanhamento dos parentes e amigos, que sempre a reconheceram como uma mulher prestimosa e caridosa, mesmo sendo usineira, e que ficou um tempo à frente de seus negócios, e se deslocava ao Banco Prado Vasconcelos localizado na época na rua de São Cristóvão, para realizar operações bancárias, onde tinha o médico Gileno da Silveira Lima, gerente do citado banco e ex-prefeito da Capital, que era casado com sua sobrinha dona Maria Antônia Santos Silva Lima.

Um dos primeiros ancestrais da família com o nome Gonçalo foi Gonçalo Sottomaior, casado com Anna Dias Correia Dantas, vindos de Portugal após o Descobrimento do Brasil, daí em diante vieram os sucessivos casamentos em várias gerações, surgindo aqui em Sergipe, Gonçalo Leite, nascido em 27 de setembro de 1864 em Riachuelo/SE, filho de Antônio Leite e de Amélia Almeida Leite. F formado em Medicina pela Faculdade de Medicina da Bahia, exerceu a profissão em Aracaju, depois em São Paulo e em Penedo/AL, faleceu em dezembro de 1912, era avô do médico Augusto César Leite, pai de D. Maria Virginia Leite Franco, avô de Albano Franco e sogro do médico e ex-governador Augusto do Prado Franco. Existiram vários homônimos de Gonçalo de Faro Rolemberg, ao longo de sucessivas gerações e de parentesco, através de casamentos realizados e relações genealógicas consanguíneas, perpetuando os laços tradicionais com heranças culturais e políticas que serviram para formação histórica, social e étnica do Estado.

Podemos citar o fazendeiro Gonçalo de Faro Rolemberg IV, já falecido, que possuía fazendas rurais no município de Japaratuba, casado com nossa estimada prima Maria Amélia Sobral Rolemberg, filha do usineiro e ex-vice governador do Estado, Moacir Sobral Barreto, que assumiu o Governo do Estado, e de D. Osvaldina Sobral Barreto (Vavá) todos oriundos dos mesmos troncos familiares. O Cel. Gonçalo Rolemberg do Prado, senhor do Engenho Pedras, em Maruim, cuja Avenida é denominada erroneamente de Gonçalo Prado Rolemberg, quanto o correto é Gonçalo Rolemberg do Prado. O professor emérito e primeiro diretor e fundador da Faculdade de Direito de Sergipe, professor Gonçalo Rolemberg Leite, é irmão do ex-governador José Rolemberg Leite, filho do também senador Manuel Rolemberg de Menezes e de nossa tia Amélia Dias Rolemberg Leite.

Apontamos ainda os sucessivos Gonçalos, acrescidos dos sobrenomes, Vieira de Melo, Prado, Rabelo Leite, Dias, Menezes, Sobral, Dantas, Aguiar, Barreto, Accioli, Góes, Garcez, Cardoso, Melo, Carvalho, e tantos outros remanescentes dessa mesma estirpe. Desde a época do Império, a família Dias Coelho e Mello possuía um ramo nos Rolemberg, cuja linhagem se estendeu entre as dez  famílias mais importantes, iniciada com o Descobrimento do Brasil, cuja ancestralidade é remota, e vem se repetindo sucessivamente há vários séculos. As ligações entre as famílias dos Barões, os Dias, possuíam duplo Baronato, a exemplo do Cel. Domingos Dias Coelho e Melo, Barão de Itaporanga, e o Barão de Estância seu filho, Antônio Dias Coelho e Mello.

Houve ainda a junção com o Barão de Japaratuba, Gonçalo de Faro Rolemberg, após seu casamento com a filha do Barão de Estância, o reforço das relações sociais e políticas e econômicas com destaque da vultosa herança patrimonial deixada pelo Barão de Estância Antônio Dias Coelho e Mello, para sua filha primogênita Amélia Dias Rolemberg, o Engenho Escurial foi o maior produtor de açúcar da época.

Com o casamento de tia Sinhá, Aurélia Dias Rolemberg, com o médico e senador Gonçalo de Faro Rolemberg, redobraram o investimento da herança material e o predomínio na destacada área social, em que o herdeiro do Engenho Topo casou a produção de açúcar do Vale do Cotinguiba com os bens recebidos de seu sogro, que foi grande proprietário de terras, engenhos de açúcar, constituindo a elite, sendo alcunhados de “donos do poder”. José Rolemberg Leite, o médico Silvio César Leite, Dr. Márcio Rolemberg Leite, o advogado Alfredo e o senador Francisco Leite Neto eram filhos do também senador Manuel Rolemberg de Menezes e de Amélia Almeida Dias Coelho e Mello, que após o casamento passou a chamar-se Amélia Dias Rolemberg Leite, por sua vez filha do Barão de Estância, meu heptavô Antonio Dias Coelho e Mello.

Pelo lado materno, Dr. José Rolemberg Leite e seus irmãos eram netos do Barão de Estância, meu heptavô Antônio Dias Coelho e Mello, e pelo lado paterno de Gonçalo de Faro Rolemberg, Barão de Japaratuba. Se os mesmos adotassem os sobrenomes originais de seus genitores, Manuel Rolemberg de Menezes e Amélia Dias Rolemberg Leite, (Menezes Dias) ou vice-versa, dos sobrenomes, seriam idênticos aos de meus filhos do primeiro consórcio com Cândida Maria de Menezes Dias, os jovens advogados Aldo Luiz de Menezes Dias, da Procuradoria da República, Thiago José de Menezes Dias, delegado na cidade de Belém no Pará, e o profissional do Direito Francisco Neto, registrados com o referido sobrenome, bisnetos que são de Cândida Dias Sobral (do Engenho Tartaruga, de Riachuelo) e de Rosa Amélia Dias Sobral (do Engenho São João).

Já meus filhos do segundo matrimônio com celebração civil, com Denilza de Góis Sobral Rosa Dias, que foram registrados com sobrenomes Sobral de Góis Rosa Dias, os menores Rodrigo Otávio e Maria Clara, igualmente descendentes da mesma linhagem e estirpe que remonta ao seu trisavó, José Francisco de Menezes Sobral, clérigo e orador sacro de mão cheia, que assumiu a Presidência da Província no tempo do Império, cuja ordem familiar focalizada, e ancestrais se encontram todos, ao longo do tempo interligados e oriundos das raízes do vínculo de parentesco legítimo que ultrapassaram vários séculos, permanecendo no mesmo grupo familiar e laços tradicionais da antiga formação histórica e social da família sergipana. (final).

* É também professor universitário, vice-presidente nacional de Assuntos Governamentais da ANPAF (Associação Nacional dos Procuradores Federais), e adjunto da Presidência em Brasília-DF).

Textos reproduzidos do site: jornaldacidade.net/artigos-leitura

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