domingo, 22 de janeiro de 2017

A Formação do Povo Sergipano


Publicado originalmente no site de Silvério Fontes.

A Formação do Povo Sergipano.
Por Luiz Antônio Barreto*

É rica a bibliografia sergipana, no que diz respeito aos estudos históricos e geográficos, mas é pobre, muito pobre, o capítulo da formação da sociedade. A questão dos limites com a Bahia, que reduziu parte do território de Sergipe nas fronteiras sul e oeste, serviu de mote inspirador, por muito tempo, a que diversos autores vasculhassem os arquivos em busca de documentos que servissem na defesa do bom direito sergipano. Autores e textos que tomaram lugar na estante genuinamente sergipana, como é exemplo A Capitania de Sergipe e suas Ouvidorias, de Ivo do Prado, monumenta que consagra a luta intelectual dos autores sergipanos, dentre eles Carvalho Lima Júnior, Padre João de Matos, Elias Montalvão, Manoel dos Passos de Oliveira Teles.

Aqui e ali alguns autores trataram, de passagem, do tema da formação social sergipana, enquanto apresentavam argumentos em defesa da autonomia territorial. Outros autores, com informações esparsas, contribuíram para a compreensão do processo de ocupação territorial, ao longo dos séculos de presença colonizadora. A sólida tentativa de colonização através da distribuição de cartas de sesmarias, a partir das margens dos rios, Real, no sul, ao São Francisco, no norte, ainda no século XVI, muito pouco estudada, é um marco. Depois, os currais de gado, espalhados entre os vales dos rios Sergipe e São Francisco. Por fim, os engenhos de açúcar, de todos os tamanhos, plantados em quase todo o território. Tais aglomerados humanos, formados em torno da economia ditada pela colonização, formataram a vida sergipana.

A emancipação política de 8 de julho de 1820 sedimentou o processo econômico iniciado com a conquista de 1590, ampliando-o e aperfeiçoando-o, inclusive com a participação de brasileiros e estrangeiros que chegaram para atender as demandas locais. O século XIX consolidou, rapidamente, os núcleos urbanos, exibindo as condições de vilas importantes, como Estância, Laranjeiras, Maroim, e a cidade de São Cristóvão, capital da Província. Na segunda metade do século XIX Aracaju, feita cidade e capital a um só tempo, serviu de ponto de convergência da Província, adquirindo a condição de cabeça e de caixa de ressonância da vida sergipana.

As estatísticas do Censo de 1890, o primeiro após a proclamação da República, revelaram que o Estado de Sergipe tinha a população mais mestiça do Brasil: 48.99% de mestiços e mais 6.52% de caboclos, contra 29.72% de brancos e 14.77% de pretos. Com tal população, Sergipe produzia, nas primeiras décadas do século XX, açúcar, algodão, couros, especiarias, feijão, milho, mandioca e farinha, peixes salgados, aguardente, álcool, melaço., fumo, arroz, e mais os tecidos grossos, bulgarianas, produzidos pelas fábricas instaladas em Aracaju, Estancia, Maroim, São Cristovão, Neópolis e Propriá, e exportava mais do que importava.

José Silvério Leite Fontes, advogado, pensador e professor, nascido em Aracaju, se propôs a estudar Sergipe e a formação do seu povo em diversos trabalhos que são reunidos nesta edição, patrocinada pela Secretaria de Estado da Cultura. São seis pequenos ensaios, escritos em épocas diferentes e alguns para eventos de professores de história, que têm um núcleo comum, o de buscar nas origens sergipanas a formação do povo. São, portanto, ensaios de história, produzidos na prática recorrente do pesquisador.

Formação do povo sergipano, ensaio que dá título ao livro, amplia a discussão sobre a sociedade sergipana, iniciada por Prado Sampaio em Sergipe Artístico, Literário e Científico (Aracaju: Imprensa Oficial, 1928), e seguida por José Calasans em Aspectos da Formação Sergipana, na Revista do Instituto Histórico e Geográfico de Sergipe (Aracaju: Imprensa Oficial, 1942), por Nunes Mendonça, em Introdução ao Estudo do Sergipano, também na Revista do IHGS (Aracaju: Livraria Regina, 1960), Luiz Mott, principalmente em Brancos, Pardos, Pretos e Índios em Sergipe: 1825-1830 (Assis, SP, Separata dos Anais de História/Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras, 1974), Alexandre Diniz em Aracaju – Síntese de sua Geografia Urbana (Aracaju: J. Andrade, 1963).

Sergipe Artístico, Literário e Científico é uma memória feita para ser apresentada pelo Governo do Estado, na administração de Manoel Correia Dantas, à Exposição Ibero – Americana de Sevilha e nela Prado Sampaio estuda os Aspectos etno – psicológicos do povo sergipano, tratando ainda da criação cultural e científica dos sergipanos.

José Calasans trata sobre os franceses em Sergipe nos primeiros tempos da colonização. Nunes Mendonça divide o seu trabalho do seguinte modo: I – Características Psicológicas; II – Usos, costumes e crenças; II – Quadro étnico e relações inter – raciais; IV – Tipos de habitação; V – Atividades econômicas; VI – Condições de vida.

Luiz Mott faz estudo da população sergipana logo após a Emancipação política e a instalação do Governo, enquanto Alexandre Diniz focaliza a capital sergipana, na sua Tese de concurso para Catedrático de Geografia do Ateneu.

Os ensaios de José Silvério Leite Fontes são todos da década de 1970 e estão ligados, intimamente, a Universidade Federal de Sergipe, como ativadores da pesquisa histórica da instituição, que permitiu fossem produzidos novos e bons textos de autoria da professora Maria Thétis Nunes, e de muitos outros, destacando-se, nos últimos tempos, Maria da Glória Santana de Almeida, Maria Matos, Diana Diniz, Ibarê Dantas, Francisco José Alves, Lenalda Santos, Terezinha Oliva e Jorge Carvalho do Nascimento, dentre muitos.

Os ensaios de história de José Silvério Leite Fontes retratam, por isto mesmo, os diversos momentos da pesquisa e do debate sobre Sergipe e sobre os sergipanos e sua publicação preserva levantamentos e fontes preciosos, como roteiro para as novas e mais abrangentes pesquisas. Graças aos esforços do Secretário da Cultura José Carlos Teixeira os textos do professor José Silvério Leite Fontes estão disponíveis aos interessados na formação do povo sergipano.

Fonte "Pesquise - Pesquisa de Sergipe/InfoNet".

Texto e imagem reproduzidos do site: silveriofontes.com.br

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