sexta-feira, 20 de janeiro de 2017

José Anderson Nascimento

Imagem postada por MTéSERGIPE, a fim de ilustrar o presente perfil.
Foto reproduzida do YouTube.

Publicado originalmente no site de Osmário, em 13/11/2005.

José Anderson Nascimento.
Vida jurídica e literária de Anderson Nascimento.
ex-juiz, ele preside a Academia Sergipana de Letras.

Por Osmário Santos.

José Anderson Nascimento nasceu a 16 de agosto de 1944, na cidade de Aracaju, Sergipe. Nome dos pais: Manoel Nascimento Filho e Josefa (Cicé) Ferreira Nascimento. O pai era carteiro do antigo DCT e a sua meta foi a sua educação, já que era filho único e todas as suas atenções eram voltadas para a sua formação moral e cultural. Também atuou na política e na cultura. “Meu pai teve militância política, colaborando com o deputado e depois ministro Armando Rollemberg, do Partido Republicano e de igual modo com o prefeito Godofredo Diniz e com o seu filho, o deputado Raymundo Diniz. Foi um colaborador do deputado Viana de Assis e do deputado José Carlos Teixeira, atual secretário de Estado da Cultura. Manteve uma grande amizade com o general Djenal Tavares de Queiroz, um dos líderes do Partido Social Democrático. Na década de 60, dedicou-se, juntamente, com a minha mãe, à Sociedade de Cultura Artística de Sergipe, então presidida pelo professor João Costa, com quem a nossa família sempre manteve grandes laços de amizade. Foi dentro desse ambiente, que fui introduzido por meu pai na vida política e cultural, sempre orientado nos princípios de liberdade e de tolerância, razão pela qual o seu legado foi de muita importância para mim e para a família que construí”.

Sua mãe é uma artesã. Foi, por mais de cinqüenta anos, exímia bordadeira. Produziu peças, que estão espalhadas no Brasil e no exterior, com todos os tipos de bordados à mão, predominando o micro bordado, denominado de “rococó”, que executava com esmero e primor. Os pontos mais complicados, como o simétrico “richelieu” e o ponto cheio, com motivos florais, eram produzidos com fino e delicado acabamento. Na cozinha, é uma artista. As moquecas, especialmente a moqueca de aratu é uma iguaria inconfundível do seu toque culinário. “A sua formação educacional decorre do Colégio N. S. de Guadalupe da Estância e do Colégio do Professor Azarias, do qual também fui aluno. Minha mãe sempre gostou de uma boa leitura, de música e de um bom “bate-papo”. Adora uma reunião de família e de amigos. É uma pessoa iluminada e professa a religião Católica Apostólica Romana, com muito ardor e com muita fé na Santíssima Trindade. Da minha mãe, absorvi o seu lado lúdico e criativo”.

Os meus primeiros professores foram seus pais e, por isso, já foi para o Jardim de Infância General Augusto Maynard, em Aracaju, sabendo, praticamente, o “ABC” e a “Tabuada”. No Jardim de Infância, aprendeu com as professoras Núbia Porto e Bebé Tiúba, desde a iniciação musical até os trabalhos manuais, passando pelo sentimento cívico, patriótico e o amor pelo Brasil, que elas despertavam nas crianças.

Depois, foi estudar o primário no Instituto Americano, da professora Magnólia, transferindo-se, a seguir, para o Educandário N S da Salete, sendo aluno da renomada professora Éster Lopes. Estudou ainda, no Instituto D. José Tomaz, sob a bondosa e eficiente direção dos professores Valquírio (Bezinha) Lima, que haviam chegado do Ceará, com a missão de educar os jovens sergipanos. “No D. José Tomaz, fui colega do jornalista Ivan Valença, cuja amizade ainda mantenho, com firmeza e lealdade”.

Em 1955, por motivos políticos, o pai transferiu residência para o Rio de Janeiro e Anderson passou a estudar no Colégio Letícia, no bairro Riachuelo. Quando os ânimos se arrefeceram, aqui, em Sergipe, a família retornou, fixando-se, inicialmente, em Estância, onde foi estudar na Escola do Professor Azarias, em cujo estabelecimento a Crestomatia, da autoria do professor Radagasio Taborda, era um livro de fundamental importância. “Este livro, alguém me tomou emprestado e nunca mais o vi. Contando este fato ao amigo e escritor José Gilson dos Santos, ele prometeu-me presentear-me com um exemplar que havia adquirido no Rio de Janeiro e o fez com uma dedicatória que muito me lisonjeou. Com a nova Crestomatia, relembrei-me da sua apresentação metodológica que levava o estudante a conhecer todos os gêneros literários, a Geografia e a História, a Moral e a Religião”.

Retornando a Aracaju, o pai matriculou o filho no 4º ano do Colégio Tobias Barreto, onde foi aluno da professora Idalina Almeida, que o preparou para o exame de admissão ao ginásio. “No mês de dezembro de 1957, submetia-me à Banca Examinadora do Tobias Barreto, composta pelos professores Alcebíades Melo Vilas-Boas, Thiers Gonçalves de Santana e Virginio Santana”.

Realiza o curso ginasial quase que integralmente no Colégio Tobias Barreto, com rápidas passagens pelos Colégios: Salesiano N. S. Auxiliadora e Atheneu São Luiz, na rua Silveira Martins, no Rio de Janeiro, bem próximo ao então Palácio do Catete, hoje Museu da República.

No início do ginásio, no Tobias Barreto, foi brindado com os ensinamentos dos professores: João Costa (Português), Francisco Portugal, (Francês), Vírginio Santana (História) e João Evangelista Cajueiro (Latim). “No decorrer do curso ginasial, iniciei a minha militância na política estudantil ao lado de Luciano Morais, João Augusto Gama da Silva, Luiz Antônio Barreto (já colecionava discos de vinil de 78 rotações e fotos) e Felix Mendes (já pintava aquarelas, com motivações folclóricas). Agitávamos o Tobias nas campanhas para o Grêmio Estudantil. O professor Alcebíades Vilas-Boas, diretor e proprietário do Colégio mantinha uma coexistência pacífica entre o nosso bloco, mais à esquerda, e o bloco direitista. O nosso grupo tinha participação decisiva nos destinos da União dos Estudantes Secundaristas e mantinha boas alianças com a turma do Grêmio Estudantil Clodomir Silva, do Atheneu Sergipense, dirigido por Wellington Mangueira. Na época, organizávamos festivais de cinema, viagens de estudos, greves, seminários, congressos estudantis e coroamos o curso ginasial com uma grande festa de formatura no auditório do Instituto Histórico e Geográfico de Sergipe”.

Iniciou o científico no Tobias Barreto, ocasião em que foi despertado pela professora Ofenísia Soares Freire para o estudo da Literatura. “Nesse tempo, li os grandes escritores lusófonos. Outra grande professora, Glorita Portugal, incentivou-me a estudar a Literatura Francesa, o que me levou a estudar a História da França, suporte para os meus estudos na área da historiografia. Era um aluno aplicado, apesar de continuar na atividade na política, que demandava tempo”.

“Da militância estudantil para a política partidária, fortalecida em decorrência da ligação mantida com o deputado e acadêmico João de Seixas Dória, integrante da Frente Parlamentar Nacionalista e defensor das reformas de base (agrária, bancária, educacional), cujos princípios eram defendidos pelo bloco político estudantil do qual eu pertencia. Essas ações, num colégio particular eram refreadas pela sua direção, compelindo-me a transferir-me para o Curso Clássico do Atheneu Sergipense. Neste Colégio, recebi extraordinários ensinamentos dos professores José Antônio da Costa Melo (Filosofia) e José Silvério Leite Fontes (História)”.

“Diante da militância no Grêmio Estudantil, fui expulso do Atheneu no dia 10 de setembro de 1964, pela Portaria nº 35, porque, segundo expediente do Comando do 28º B.C, eu poderia contribuir para a desarmonia social e ideológica naquele estabelecimento de ensino público. No mesmo dia e com as mesmas razões, foram expulsos os colegas Wellington Mangueira, Mário Jorge Vieira e Jackson de Sá Figueiredo. Estas expulsões tiveram repercussão na sociedade sergipana e enfrentamos uma batalha hercúlea para que conseguíssemos continuar estudando. Eu concluí o curso secundário na Escola Técnica de Comércio do Recife, em dezembro de 1964, vivendo num clima de enorme repressão policial-militar, pois os direitos constitucionais haviam sido suspensos por Atos Institucionais do Governo Militar”.

A juventude foi pontilhada de acontecimentos interessantes. Diante da atividade na política estudantil teve acesso logo ao jornalismo. “ Militei na Gazeta de Sergipe, marco indelével do jornalismo sergipano, assinando a coluna “Background”, por convite do seu editor Pascoal Maynard. Nessa mesma época, fui auxiliar do prefeito de Aracaju, Godofredo Diniz Gonçalves, que realizava uma obra administrativa voltada para o desenvolvimento de Aracaju. Ao sobrar-me tempo, freqüentava as reuniões da “esquerda festiva” no Bar e Restaurante Cacique Chá, ponto de encontro dos intelectuais sergipanos. Quando Freitas, o proprietário do bar com os seus “humores”, começava a fechar as suas portas e janelas era a hora de cairmos fora e terminávamos a noite sempre na boemia, nas boates da Rua da Frente (Av. Otoniel Dória), que eram animadas com música ao vivo e sob os acordes do violão de Antonio Teles e a voz de Hilton Lopes. A minha juventude foi bastante participativa. Estive presente em quase todos os acontecimentos sociais e culturais de Aracaju e presenciei o crescimento da minha cidade, a explosão demográfica do bairro Siqueira Campos e de outras áreas do lado oeste de Aracaju e a destruição dos seus sítios e parques ecológicos em nome do progresso”.

Concluído o curso secundário em 1964, presta o exame vestibular para Direito, em fevereiro de 1965, sendo aprovado com distinção. “Já era um vocacionado pela Ciência Jurídica e proclamava uma sociedade justa e igualitária. Logo na primeira semana do curso, impetrei, juntamente, com Luiz Antônio Barreto, que era colega de turma, um habeas-corpus em benefício de um cidadão que houvera sido acusado de um crime que não cometera. Quando recebemos o seu alvará de soltura, a nossa alegria foi muito grande diante daquela vitória. Foi o primeiro passo para a minha atuação como operador do Direito. Na Faculdade de Direito, não tive militância política, procurei estudar e trabalhar pela liberdade de amigos que sofriam com a repressão do regime político. Comecei a namorar com Luzia Maria de Mesquita Costa, recém graduada e iniciante na advocacia. Nesta época, aproximei-me do professor Olavo Ferreira Leite, um dos luminares da advocacia em Sergipe. Com ele, aprendi a arte de advogar, os meandros do processo, o estilo e a ética jurídica. Foi um grande mestre. Depois, já graduado e inscrito na OAB passei a acompanhá-lo nas audiências, tanto no Gumercindo Bessa, como em comarcas do interior”.

Logo que recebeu a carteira da OAB com a inscrição 436, que mantém até os dias atuais, associa-se ao escritório do dr. Alfredo Rollemberg Leite, a maior expressão do Direito Eleitoral que já conheceu. “Mesmo sob o regime de opressão em que vivíamos à época, o Direito Eleitoral mostrava-se vivo. Grandes eram os embates municipais, a partir das próprias convenções partidárias, com as suas famigeradas sub-legendas. Nesse cenário, fui levado a especializar-me nesse ramo do direito público”. Concomitantemente à advocacia, foi convidado pela Professora Marlene Rosa Montalvão para lecionar a disciplina Organização Social e Política Brasileira, criada pelo Movimento Militar, no recém fundado Colégio Estadual Castelo Branco. “A sua atitude foi corajosa, já que eu era apontado pelos “dedos-duros” como subversivo e por isso não deveria atuar no Poder Público, nem na iniciativa privada. Depois, lecionei a mesma disciplina no Instituto de Educação Rui Barbosa e no Colégio Estadual Costa e Silva e Literatura Brasileira na Escola Técnica de Comércio de Sergipe. Fui secretário geral do Conselho Estadual de Cultura, na presidência do dr. Antônio Garcia Filho, figura exponencial da vida sócio-política-cultural de Sergipe”. “Deixei o magistério estadual e ingressei na UFS para lecionar Direito Processual Civil e Direito Eleitoral no Departamento de Direito. Alguns anos depois, foi aberto concurso para promotor público e eu fui aprovado em 2º lugar, sendo nomeado para a Comarca de Porto da Folha. Logo depois, era aprovado em 1º lugar no concurso para juiz de Direito, ingressando na magistratura sergipana em 10/10/1978”.

Exerceu a magistratura em N. S. das Dores, Itabaiana e Aracaju, onde se aposentou. “Acompanhando os grandes acontecimentos no mundo jurídico a partir da Constituição Cidadã, retornei à advocacia eleitoral, sempre combatendo o uso do poder econômico e do poder de autoridade nas eleições”.

Incentivado pelo escritor e amigo Guilherme de Figueiredo, então reitor da Universidade do Rio de Janeiro, elaborou o texto do livro Sergipe Del Rei, editado pela Embratur em parceira com a Cia Editora Nacional. O seu lançamento aconteceu em 21/9/1979, no Centro de Turismo. “É uma obra em torno do patrimônio artístico e histórico da nossa terra, com desenhos a bico de pena de Tom Maia, consagrado artista visual de São Paulo. Foi o primeiro passo para a literatura em que mostrei a sedução das praias e coqueirais de Aracaju, o poema barroco de São Cristóvão, os velhos muros de Estância e Laranjeiras, as pedras e cruzes dos jesuítas e beneditinos e os caminhos de Cristóvão de Barros”.

“Ao entrar na Academia Sergipana de Letras (ASL), em 1981, na Cadeira n° 20, publicou o livro Sergipe e Seus Monumentos, registrando a evolução histórica e artística de Sergipe, notadamente nas construções coloniais e provinciais, ressaltando os diversos partidos arquitetônicos e as artes plásticas das épocas mais recuadas na nossa história. Em 1998, publicou o livro Cangaceiros, Coiteiros e Volantes, que relata a epopéia do ciclo do cangaceirismo no Nordeste até o seu dramático desfecho com os assassinatos de Virgulino Ferreira da Silva, o legendário Lampião e do seu vingador, Cristino Gomes, o temido Corisco.

Na área do Direito publicou: Propaganda Eleitoral (1996). Tópicos de Direito Eleitoral (1998). Eleições 2000 (2000). Prazos Processuais (2002). Ações de separação judicial, divórcio, nulidade e anulação de casamento (2003) e Manual das eleições municipais (2004).

No prelo, estão os livros: Metáfora dos Arlequins: as cores na arte de Leonardo Alencar. Aracaju: sua história e sua arte e Um perfil do folclore nordestino. Na Academia Sergipana de Letras, sucedeu na presidência o acadêmico Antônio Garcia Filho, que vinha desenvolvendo um invulgar trabalho de solidificação do Sodalício na vida cultural de Sergipe. “Foi um grande desafio sucedê-lo face à sua enorme folha de serviços prestados à medicina, à educação e à cultura de nossa terra. Mas, não me intimidei. Procurei logo ajustar a instituição aos padrões da legislação atual, além de adotar um programa para que a ASL pudesse cumprir com o seu compromisso na divulgação e no apoio da literatura, da arte e da ciência de Sergipe. Baseie as suas ações na produção e na difusão do livro e no interesse pela leitura”.

Nesse sentido, foram editados e reeditados livros de acadêmicos e Revistas da Academia. Ao lado disso tudo, a Academia Sergipana de Letras tem promovido conferências proferidas por seus acadêmicos e, também, por acadêmicos da Academia Brasileira de Letras, abordando os mais variados gêneros. As portas do Sodalício abriram-se para a participação popular, por meio de Seminários de Cultura Popular, anualmente, realizados. Outras conferências foram proferidas por personalidades de renome internacional, destacando-se o professor Mario Losano, da Universidade de Milão; professora Marta Biagi e professor Raul Zaffaronni, da Universidade de Buenos Aires e do professor José Esteves Pereira, da Universidade Nova de Lisboa, que expuseram para esta Academia, as suas experiências no campo da filosofia do direito, da ciência política, da penalogia e da literatura lusófona. Foi criado o fardão, para as solenidades acadêmicas”.

De igual modo, foi criada a Medalha do Mérito Cultural “Sílvio Romero”, numa justa homenagem ao Sesquicentenário de Nascimento do pensador sergipano. Outro passo importante foi a reforma e ampliação do prédio em que funciona a ASL, cujas obras foram iniciadas na gestão do governador Albano Franco e concluídas na administração do governador e acadêmico João Alves Filho. “Agora, estamos iniciando a revitalização da biblioteca para atender à comunidade estudantil e ao povo em geral. Agora, temos dois grandes desafios: a aquisição de um elevador para acesso à biblioteca e a informatização de obras de escritores sergipanos para serem oferecidas ao público em CD”.

Casou-se com a advogada Luzia Maria da Costa Nascimento, hoje defensora pública, com quem teve os filhos Anderson da Costa Nascimento, bacharel em Direito, Francisco Manoel da Costa Nascimento, juiz de Direito e Guilherme da Costa Nascimento, bacharelando em Direito e os netos Cristiana, Luanna, Manuella Franchesca, Anderson Neto, Juliana e Dirce, que é uma mistura de neta e filha. “Luzia tem sido a grande colaboradora da minha trajetória profissional e cultural. Desde que nos casamos que ela incentiva-me a produzir literariamente. No exercício profissional, temos brindado os sucessos e sepultado as decepções. Otimistas, sempre enfrentamos as dificuldades e temos conduzido os nossos filhos para o estudo e para o trabalho. Sempre se preocupou com os destinos educacionais dos filhos e dos netos. Em todas as minhas conquistas, Luzia esteve presente. É uma mulher determinada e muito eficiente no que produz e no que realiza.

Texto reproduzido do site: osmario.com.br

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