sábado, 28 de novembro de 2015

Melação da boa em Brasília

Foto: Márcio Garcez.

Publicado originalmente no site Jornal do Dia Online, em 25/11/2015.

Melação da boa em Brasília
Por Rian Santos

Para acompanhar o trabalho de Márcio Garcez, muita sola de sapato. Pouca gente tem tanta disposição para correr os caminhos do folclore sergipano assim de perto, a custa de poeira e barro. O fotógrafo, no entanto, parece ter encontrado na gente simples de um caminho ensolarado o sujeito de uma espécie de poética festiva, movida a calos e sopapos. A mostra 'Lambe Suje X Caboclinhos' - documentada em livro, e abrigada desde ontem pelo Memorial de Justiça do Distrito Federal - é parte, portanto, de uma história maior e mais antiga que, apesar de vacilante, esteve sempre repleta de verdade.

O próprio fotógrafo manifestou a preocupação com a sobrevivência de tais valores, em conversa com o titular da página, em oportunidade anterior. "Nós temos uma grande riqueza cultural, porém, essa diversidade precisa ser melhor explorada de forma prática, a fim de trazer benefícios para a comunidade que promove os folguedos, municípios e estado. Entendo que seja preciso uma política cultural que vise a auto sustentabilidade dos que fazem essas manifestações, a médio prazo".

Lambe-sujo X Caboclinho - A exposição traz registros da festa do Lambe-Sujo, que acontece anualmente no segundo domingo de outubro em Laranjeiras, Sergipe, a 23km da capital Aracaju. Trata-se de uma manifestação folclórica que representa a luta entre negros (escravos dos quilombos) e os índios caboclinhos, usados pelos brancos na captura de escravos fugitivos e destruição dos quilombos.

Na encenação, os lambe-sujos se pintam com tinta xadrez preta, melaço de cana, e se vestem com calções e gorros vermelhos. Como arma, usam foices de madeira, em alegoria ao instrumento de trabalho usado nos canaviais. Já os caboclinhos se pintam de tinta xadrez vermelha, usam cocares e saiotes de pena, pulseiras e colares e se armam de arco e flecha. Os caboclinhos formam um grupo disciplinado, todos em fila dupla comandados pelo "chefe" (cacique), enquanto os lambe-sujos, debochados, saem correndo pelas ruas, sob o ritmo agitado da batucada e sujando pessoas que não ofertem algum dinheiro.

Para o pesquisador Maurício Albuquerque de Melo Júnior, o trabalho do fotógrafo tem o poder de evocar memórias. "Sergipe arcaico ressuscita na emoção de quem olha as fotografias que, mesmo estáticas, têm o poder de despertar esperanças e que trazem aprisionada toda a alma de uma gente".

Texto e imagem reproduzidos do site: jornaldodiase.com.br

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