segunda-feira, 29 de fevereiro de 2016

Ditadura: Marcélio pede que governo realize seminários

Foto: Jadilson Simões/Equipe JC.

Publicado originalmente no site do Jornal da Cidade, em 27/02/2016. 

Ditadura: Marcélio pede que governo realize seminários
Ex-preso político lamentou que administração estadual não tome iniciativa.

Por: Valter Lima/ Equipe JC.

O ex-vereador de Aracaju, Marcélio Bonfim, prestou ontem seu depoimento à Comissão Estadual da Verdade. Ex-preso político que foi torturado durante a ditadura militar, em Sergipe, ele defendeu, durante entrevista ao JORNAL DA CIDADE, que o governo estadual, através da Secretaria da Educação, realize seminários em todas as escolas públicas para apresentar aos estudantes o que ocorreu durante o regime de exceção.

“Lamento profundamente que o governo de um resistente, de um militante, que também foi punido pela ditadura, não tenha determinado ao seu secretário da Educação a realização de seminários para discutir o golpe de 1964. Ontem, eu fui para a Universidade Federal falar para cerca de 500 estudantes sobre a minha história na ditadura, durante a Operação Cajueiro. Já o fiz também na Unit e em escolas particulares, mas nunca fui convidado, nem tenho conhecimento de que as escolas da rede estadual tenham organizando debates para contar este capítulo da história”, afirmou.

Marcélio pontuou que “as novas gerações precisam tomar conhecimento do que ocorreu no País para que se organizem e evitem que um dia a ditadura retorne a ocorrer no Brasil”. Para ele, é a “falta de informação” que faz com que setores da sociedade e parte da juventude defendam a volta dos militares ao poder como alternativa à crise política, econômica e moral que está instalada no País.

“Estou contando a minha história, esse é o nosso papel. Não carrego nem ódio nem rancor nem tenho espírito revanchista. Porque quem vence não pode ter esses sentimentos. Eu e todos os meus companheiros somos vitoriosos. Pois podemos passar por aqueles que nos torturaram sem vergonha, enquanto eles não têm coragem de assumir o que fizeram. Então, a gente só vai acabar com este sentimento de que a ditadura pode ser uma solução para o País quando as pessoas tiverem informações suficientes do que ocorreu no País durante aquele período”, ressaltou.

Ao comentar as duas ocasiões em que foi preso – tanto em 1964 quanto em 1976 –, Marcélio evitou detalhar como se deram as torturas. “Precisa ter um controle emocional muito grande. Começo a lembrar não das torturas que enfrentei, mas dos gritos dos meus companheiros sendo torturados. Isso é muito difícil”, pontuou. Ao relatar as duas ocasiões em que foi detido, o ex-vereador citou que os dois fatos ocorreram no mesmo local: no prédio onde funciona atualmente a Câmara de Vereadores de Aracaju.

“A Câmara tem um significado muito grande para mim. Eu era funcionário da Deso e fui preso em 1964 trabalhando onde hoje é o plenário da Câmara. Depois, em 1976, quando trabalhava no cartório do segundo ofício, no local onde hoje é a sala do presidente da Câmara, eu fui preso novamente. E a coincidência disso é que anos depois eu me tornei vereador e passei a ser colega de Câmara de um militar que em 1964 me prendeu”, destacou.

Comissão

Além de Marcélio Bonfim, outros presos políticos foram ouvidos pela comissão na última semana, inclusive o governador Jackson Barreto. Prestaram depoimento Delmo Naziazeno, Milton Alves, Carlos Alberto Menezes e José Elias Pinho de Oliveira. No final de janeiro já haviam participado das audiências públicas Milton Coelho, Wellington Mangueira e Bosco Rollemberg. Cerca de 20 pessoas serão ouvidas ao todo pela comissão.

Texto e imagem reproduzidos do site: jornaldacidade.net/politica

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