sexta-feira, 12 de maio de 2017

Museu e Memorial do Cangaço, Povoado Alagadiço, município de Frei Paulo



Publicado originalmente no site do Jornal da Cidade, em 30/05/2012.

Povoado Alagadiço abriga o Museu do Cangaço.

Segundo Porfírio Neto, semanalmente, dois ônibus com turistas, pesquisadores e estudantes visitam o local.
 
JornaldaCidade.Net.

Há muito que a neta de Lampião, Vera Ferreira, luta para que Sergipe sedie o Museu do Cangaço. Até então, não encontrou nenhum apoio governamental para implantar seu projeto grandioso. Ainda assim, não desiste da empreitada e tenta que outro Estado abrace a causa.

Por sua vez, o escritor e membro da Sociedade Brasileira de Estudos do Cangaço (SBEC), Antônio Porfírio de Matos Neto, não se intimidou com as negativas do poder público e decidiu criar o Museu e Memorial do Cangaço localizado no Povoado Alagadiço - município de Frei Paulo -  a 78 km de Aracaju, com as próprias expensas. É bem verdade, que o projeto do funcionário público federal é diferente do que Vera Ferreira imagina fazer no futuro, a respeito do movimento liderado pelo seu avô, nos anos de 1920/1930.

No entanto, desde a construção do Museu do Cangaço, há cinco anos, que a realidade de Alagadiço e do seu entorno mudou significativamente. Segundo Porfírio Neto, semanalmente, dois ônibus com turistas, pesquisadores e estudantes visitam o local, a fim de conhecer um pouco mais da história da região, que foi palco de um confronto entre cangaceiros e civis nascidos no povoado. Antes disso, Alagadiço era um ponto perdido no mapa sergipano.

“Desde pequeno que ouço essas histórias, sobre os cangaceiros que foram mortos por conterrâneos meus. Quando cresci, ficava me perguntando qual o motivo para que o povoado não fosse reconhecido por esse feito. Então, decidi ir atrás da história, registrar isso em livro e montar um museu que abrigasse objetos da época, documentos e uma biblioteca bem formatada de títulos de sergipanos e grandes escritores dos séculos XIX e XX”.

A história que Porfírio se refere, está registrada no seu livro “Lampião e Zé Baiano no Povoado Alagadiço” (2006), e diz respeito à morte de Zé Baiano e mais três cangaceiros (Demudado, Chico Peste e Acelino) por seis civis do povoado frei-paulistano. O grupo que dizimou os cangaceiros, em Lagoa Nova, no dia 07 de junho de 1936, era liderado por Tonho de Chiquinho e contava ainda com Pedro Guedes, Pedro de Nica, Birindin, Dedé e Toinho. Depois da chacina, que culminou com a eliminação do violento Zé Baiano- conhecido por marcar rostos de mulheres com ferrão de gado- Lampião jurou vingar a morte de seu subalterno.

“Lampião esteve no povoado em quatro ocasiões para visitar Zé Baiano. Depois que ele morreu, jurou se vingar, mas não voltou a Alagadiço. Soube que tinha um canhão na localidade, pronto para atacá-lo e desistiu. De fato, havia um canhão, mas de porte pequeno. Ele está em exposição no Museu do Cangaço, assim como parte do arsenal usado pelos cangaceiros e pelos civis nesse confronto e outros objetos de época”, diz Porfírio.

Além disso, o Museu possui uma rica biblioteca com cerca de 10 mil volumes. O acervo, na quase sua totalidade, foi adquirido pelo próprio Antônio Porfírio que percorreu bons sebos em São Paulo, atrás de obras raras.

“Obra rara ninguém doa. Tem que ser comprada. Tive a sorte de encontrar em lojas especializadas em São Paulo, as três coleções de Tobias Barreto- composta por 10 volumes- editadas por Sílvio Romero, Graccho Cardoso e José Sarney. Adquiri também o “Grande e Novíssimo Dicionário da Língua Portuguesa” de Laudelino Freire, a “Concepção Monística do Universo” de Fausto Cardoso, “Memórias” de Olímpio Rabelo, entre outros. O acervo foi sendo composto ao longo de 10 anos e hoje, orgulho-me da comunidade de Alagadiço poder ter acesso a esses títulos e tantos outros de renomados escritores brasileiros”.

O agitador cultural, que realizou o I Encontro Cultural do Povoado Alagadiço em julho de 2007, pretende agora alçar voos mais altos: tornar-se um imortal, na Academia Sergipana de Letras (ASL).  Formado em Direito e autor de títulos como “História de Frei Paulo” (1999), “Esboço Histórico do São Francisco e Seus Aspectos Ambientais” e finalizando “Os Últimos Dias dos Cangaceiros” (que promete revelar o envolvimento da classe burguesa com o cangaço), Antônio Porfírio de Matos Neto pleiteia a cadeira de número 23 da Academia Sergipana de Letras, que vinha sendo ocupada por Luiz Antônio Barreto, até sua morte, no mês passado.

“Para mim seria uma honra muito grande ocupar a cadeira que outrora foi de Luiz Antônio Barreto, a quem tinha muito apreço. Mas preciso sensibilizar os outros membros da Academia, quando da votação para o ingresso da mesma”, finalizou Porfírio.

Texto reproduzido do site: jornaldacidade.net

--------------------------------------------------------------------------------------


Nenhum comentário:

Postar um comentário