quarta-feira, 1 de março de 2017

Clubes, ruas e cordões, a Aracaju dos carnavais

Foto: acervo Murillo Melins.

Publicado originalmente no site Expressão Sergipana, em 09/02/2016.

Clubes, ruas e cordões, a Aracaju dos carnavais

Por Emilly Firmino

Serpentina, purpurina, confetes, fantasias, o carnaval é explosão de sorrisos e calores, capaz de unir a diversidade do povo sergipano desde as antigas batalhas de confete que aconteciam na Praça Fausto Cardoso, na Atalaia e pelos bailes dos antigos clubes da cidade. Por mais que viesse cheio de regras e julgado por uma sociedade que afirmava que festa de carnaval era coisa de quem não vinha de “boa família”, os dias de folia eram responsáveis muitas vezes por alinhar em um só ritmo as diferenças. Eram também o canto de resistência para aqueles que quase nunca tinham voz diante das elites locais.

Por volta da década dos anos 40 e 50, o encontro dos blocos de carnaval ocorria em frente ao Palácio do Governo, na praça Fausto Cardoso, espaço que por muitos anos ficou conhecido como o palco de festas de Aracaju. Não muito distante, em frente à praça Olímpio Campos, ficava o Recreio Clube, onde as elites reproduziam os bailes de mascaras franceses, que foram trazidos pela família real quando chegaram ao Brasil. “Foi uma festa que os portugueses trouxeram e com o tempo os negros perceberam que também cabia em suas tradições, o congo e o samba deram sonoridade à festa”, afirma Osvaldo Ferreira Neto, estudante de história.

Enquanto os clubes estavam lotados a ponto de não caber mais gente, desciam pelas ruas do centro blocos como “O palhaço é o que é”, “Mascarados”, “A muda”. “Inicia a década de 60 e no Cirurgia, próximo à Caixa d’água, tínhamos um bairro onde moravam as classes mais populares, que tinham como liderança nomes como Seu Oscar, um dos líderes dentro da comunidade. Junto com outros moradores, ele plantou a semente do que hoje é o Rasgadinho. Protestando por não ter acesso aos clubes, eles saíram em um sábado, com roupas rasgadas e sujos, batendo lata até o centro da cidade”, comenta Osvaldo ao informar que inicialmente Rasgadinho sofreu uma pressão intensa vinda das elites e por isso permaneceu inativo por muitos anos, voltando com força apenas em 2003.

Assim como ocorre hoje com o Rasgadinho e os diversos outros blocos de rua que tem tomado a cidade, já nas primeiras horas de carnaval as ruas eram tomadas pelos foliões que vinham dos bairros para assistir e fazer parte dos shows. Da mesma forma, os salões da Associação Atlética de Aracaju, do Recreio e do Cotinguiba Sport Club estavam tomados pelas fantasias, e ainda que alguns clubes tivessem leis que proibiam a entrada de negros e mulheres solteiras, por exemplo, na prática essas regras eram esquecidas e todos se misturavam como um povo só.

Em um cenário bastante diferente do que é hoje, mas já trazendo os abadás, as cordas que separavam os foliões da pipoca e bebendo da música baiana, o Pré Caju surge em 1992. Durante os 23 anos que esteve na rua o evento se tornou a maior prévia carnavalesca do Brasil, reunindo ritmos como axé, pagode, forró, samba, capazes de atrair publico de todo país, assim como turistas de outros países.

Ainda que os clubes tenham se perdido, o carnaval começou. Os cordões que separam o povo dos blocos tem diminuído e Ernestos e Maré-marés vem retomando a alegria dos blocos de bairro. Entre as diferentes formas de comemorar o feriado, o carnaval tem mensagem única desde 1899, lá quando a primeira marchinha escrita por Chiquinha Gonzaga: abre alas, que eu quero passar. Que venham os nossos carnavais, que as ruas se pintem da alegria do povo.

Texto e imagem reproduzidos do site: expressaosergipana.wordpress.com

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