domingo, 26 de março de 2017

Onde estão as fontes para a história de Sergipe?

Arquivo Público de Sergipe, Praça Fausto Cardoso, em Aracaju/SE.
Foto reproduzida do blog santohufs.blogspot.com.br
Postada por MTéSERGIPE, a fim de ilustrar o presente artigo.

Publicado originalmente no blog Primeira Mão, em 21/08/2016.

Onde estão as fontes para a história de Sergipe?
Por Dr. Francisco José Alves

“A história se faz com documentos”, sentenciou o historiador Henri Marrou (1904-1977). De fato, o pesquisador do passado, no ofício, não pode prescindir deles. O conhecimento historiográfico tem como condição incontornável, o acesso às chamadas fontes, documentos da época que se quer estudar, as fontes coevas.

Os documentos, de que fala Marrou, são diversos. No limite, tudo pode ser usado como fonte. A única condição é a contemporaneidade. Isto é, o material deve proceder da época que se quer estudar, deve ser contemporâneo à era a ser investigada.

A historiografia sobre Sergipe, como qualquer outra, não escapa à imperativa necessidade de fontes. Neste sentido, talvez seja útil ao iniciante saber onde estão guardadas as fontes mais convencionais para fundamentar pesquisas sobre o nosso passado.

Consideremos os acervos de nosso Estado começando pela Capital.
O Arquivo Público de Sergipe (APS) é sem dúvida depositário de muitas fontes históricas. Abriga documentação manuscrita relativa à administração de Sergipe até a primeira metade do século XX. Guarda ainda jornais sergipanos do século XIX e XX, bem como uma coleção de mapas e cartas do século XIX e XX.

Qualquer um que se interesse pelo passado de Sergipe na República e no Império, não pode deixar de consultar o material guardado no APES.

Outro acervo precioso para a história de Sergipe, localizado em Aracaju, é o Arquivo Judiciário. A instituição reúne documentos que vão da colônia até os dias atuais. A documentação é cível ou criminal. Assim, o pesquisador vai encontrar nele milhares de processos criminais e registros cartorários relativos à compra, venda, etc. Vale lembrar que este arquivo conserva não somente documentos da Comarca de Aracaju, mas de todo Estado.

O interessado na história social não pode deixar de visitar e consultar o riquíssimo filão documental abrigado no Arquivo Judiciário. Pelas suas instalações e acervo, é o mais rico de Sergipe.

Ainda em Aracaju, um outro repositório de Clio, é o Instituto Histórico e Geográfico de Sergipe (IHGSE). A instituição reúne fontes diversas: impressos, manuscritos, peças tridimensionais.

Na coleção do Instituto se destaca a hemeroteca formada de jornais dos séculos XIX e XX. Outro destaque é a coleção de pinturas que retratam figurões do passado. Dentre os manuscritos, ganha relevo os documentos reunidos por intelectuais sergipanos e doados por parentes à instituição. Também merece menção a coleção de livros sobre Sergipe e de autores sergipanos reunidos na Casa de Sergipe.

Ainda em Aracaju, o pesquisador não pode deixar de visitar a Biblioteca Pública Epifânio Dórea (BPED). A instituição remonta ao século XIX e reúne sobretudo rico acervo impresso, abrigado na Sala de Documentação Sergipana que agrega obras de autores de Sergipe, ou obras sobre Sergipe. Outro filão importante é formado pela bibliografia de autores de Sergipe como Silvio Romero e Gumercindo Bessa.

Apesar do estado precário de suas instalações, a Biblioteca Epifânio Dórea é estação obrigatória na cata de fontes para a história de Sergipe.
Bem próximo de Aracaju, o pesquisador encontrará mais dois acervos expressivos para se escrever a história de nosso Estado. Falo dos dois museus de São Cristóvão: O Museu Histórico e o Museu de Artes Sacras.

O acervo do Museu Histórico é formado de mobiliário, pinturas, utensílios, armas e etc. As peças, em sua maioria, provêm do século XIX. A instalação é confortável e o acesso fácil. Falta, todavia, um inventário do acervo.

O Museu de Arte Sacra de São Cristóvão é considerado pelos peritos como um dos mais ricos do Brasil. Ele abriga peças da imaginária religiosa, vestes litúrgicas e mobiliário sacro. As peças expostas datam dos séculos XVIII, XIX e XX. No campo da imaginária se destacam as esculturas de Nossa Senhora. Tais peças procedem de oratórios e capelas de fazendas sergipanas, e também das igrejas das velhas paróquias de Sergipe.

O estudioso da religiosidade e arte sacra local tem neste museu um acervo para ser perscrutado com proveito.

Rumando para o Sertão, o pesquisador irá encontrar em Canindé do São Francisco, o Museu Arqueológico do Xingó (MAX). O museu, mantido pela UFS, guarda centenas de peças. São vestígios humanos como esqueletos, ou restos deles. O acervo contém ainda peças de cerâmica e material lítico.

As peças guardadas no Museu do Xingó podem subsidiar pesquisas sobre as sociedades pré-históricas do Baixo São Francisco há milhares de anos atrás. O museu abriga o mais significativo conjunto de dados para se escrever um capítulo da nossa pré-história.

Nos municípios, além dos Acervos mencionados, o pesquisador não pode deixar de compulsar a documentação reunida em três instituições: Prefeituras, Câmaras Municipais e Paróquias.

Nas prefeituras, ele encontrará os testemunhos relativos à administração do município. Nas câmaras municipais, a legislação e os preciosos livros de atas das seções da câmara. Já no arquivo das paróquias, o buscador, encontrará livros de batizados, casamentos e óbitos. Neles, irá encontrar uma mina preciosa para a história social e religiosa dos municípios: os livros de tombo.

Fora de Sergipe, Salvador - BA é a estação obrigatória na peregrinação do buscador das fontes para a história de Sergipe.

O Arquivo Público da Bahia (APEB) guarda centenas de documentos fiéis para a história de Sergipe Colonial. Falo, sobretudo, das correspondências entre os gestores da Capitania de Sergipe e os dirigentes da colônia, sediada na Bahia. A correspondência ativa dos governantes da capitania são peças chaves para a reconstituição da vida administrativa e social de Sergipe Colonial. Infelizmente, ainda não temos um inventário exaustivo dos documentos do APEB uteis para se embasar a história de Sergipe nos primeiros séculos de colonização.

Ainda em Salvador, o caçador das fontes para nossa história, não poderá deixar de compulsar os documentos sobre a guarda da Cúria Arquidiocesana da Bahia. A instituição reúne testemunhos relativos às paróquias sergipanas desde a era colonial até 1912, quando é criada a diocese de Aracaju.

Também neste caso, falta-nos um inventário sobre a documentação sergipana conservada naquela instituição.

* Professor do Departamento de História da UFS.
[fjalves@infonet.com.br]

Texto reproduzidos do blog: primeiramao.blog.br

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