domingo, 26 de março de 2017

O poder da criação: Artesanato sergipano


Fotos/Créditos:
F/1 - PMA/César Oliveira.
F/2 - fotografiaufs.blogspot.com.br
Postadas por MTéSERGIPE, para ilustrar artigo.

Publicado originalmente no site do Jornal do Dia, em 15/08/2012.

O poder da criação: Artesanato sergipano.
Por Juliana Fabrícia Oliveira Nascimento *

Neste espaço mais uma vez volto a falar das riquezas culturais do nosso Estado, Patrimônio reconhecido e valorizado além fronteiras. Dentre os tipos de artesanatos sergipanos ganhará destaque neste texto a renda Irlandesa e renda de bilro.

Em Sergipe encontra-se a arte de fazer bilro, renda irlandesa, crochê, ponto de cruz, ponto cheio, rechilieu, crivo, rendendê, objetos em madeira, cerâmica e palha, atividades que sobreviveram ao longo das gerações e se não preservadas podem cair no esquecimento.

O artesanato tem sua origem em um passado distante. Representante de uma sociedade é produzido manualmente pelos membros que a compõe, e ao tempo que se caracteriza como um elemento cultural retrata aspecto da religião, do cotidiano, da história. Sua gênese se deu a partir da vivência social, na qual o homem sentindo necessidades buscou transformar matérias-primas - pedra, cerâmica, fibras - em objetos utilitários para o seu dia-a-dia, melhorando a sua sobrevivência.

Fazendo uso do passado e retrocedendo alguns anos, percebe-se que no período caracterizado como Pré-história, mas especificamente o neolítico, o homem aperfeiçoou suas ferramentas - líticas, por exemplo - e as mulheres faziam arte nas cerâmicas. Os objetos produzidos nesse momento da história caracterizam-se como exemplos de artesanato, hoje considerado rústico tendo em vista os avanços técnicos.

O trabalho de artesão destacou-se na Idade Média com a criação de Corporações de Oficio, reunindo artesãos, que ensinavam - Mestre - o ofício a aprendizes e produziam peças a serem comercializadas. No entanto, com a Revolução Industrial trazendo consigo inovações tecnológicas, o surgimento das máquinas, podem-se produzir bem mais em um espaço de tempo relativamente curto, atendendo às necessidades de mercado. Assim, o trabalho em artesanato dirigia-se a um público menor.

O trabalho do artesão, geralmente, é passado de geração a geração. Ou seja, são conhecimentos técnicos passados informalmente aos membros de uma família. O artesão detém todas as técnicas de trabalho, desde os primeiros passos - com a seleção dos materiais a serem utilizados - até a finalização com o produto acabado. Geralmente, não tem uma estratificação de tarefas, apenas uma pessoa produz um objeto manualmente. Exceto quando em uma grande encomenda na qual, bordadeiras se unem para entregar o trabalho no prazo. Embora, se elabore peças aparentemente iguais, o trabalho do artesão será único a cada criação, terá que selecionar suas matérias-primas, projetar, é um cuidado e preocupação a cada trabalho.

No Brasil, os primeiros artesãos foram os indígenas com a produção de elementos que facilitavam seu trabalho e a vida do grupo. Nessa perspectiva, têm-se objetos de pedra - machados-, madeira - arco e flecha-, cerâmica - potes, jarros. As produções dos índios resistiram ao tempo e constituem um tipo de artesanato produzido no Brasil e em Sergipe. Com a colonização a mistura de aspectos do indígena, do negro e do português resultou no povo brasileiro e a sua cultura, mesmo contemplando elementos de outros povos, é única, pois retrata a realidade social, cultural, econômica, histórica, política, religiosa do Brasil.

Sendo Sergipe Estado integrante da nação brasileira, suas produções culturais também representam uma mistura de componentes diversos - indígena, europeu. As produções em renda, bordado, cerâmica, madeira, palha, são algumas das representações artesanais do Estado sergipano que enriquece a cultura e gera fonte de renda para esse povo.

A renda Irlandesa é produzida em Divina Pastora, encontrando-se também artesãs que executam esse bordado em Nossa Senhora das Dores, sendo Sergipe privilegiado por essa produção. É confeccionada sobre um papel - manteiga - e muito trabalhada em detalhes com um cordão de seda- lacê. É feita com linho, cambraia de linho e tecido adamascado. Foi elaborada por diversos povos e a colonização a trouxe até o Brasil, alcançando Sergipe.

A renda de bilro é encontrada na cidade de Propriá. Surgida no século XV na Itália, chegou à França, Portugal e Brasil com a colonização portuguesa. Os materiais utilizados são os fios, os bilros em madeira, almofada, alfinetes e cartões com os moldes . Nesta cidade dona Gedalva Bezerra é a única artesã que fabrica renda de bilro. Passada de geração a geração tanto em técnicas quando nos tipos de renda, dona Gedalva aprendeu o oficio aos oito anos de idade com a mão de criação, Silvita Bezerra, em Poço Redondo.

"Enrolando o fio nos bilros e prendendo outro no papelão desenhado, faz uma trama que prima pela delicadeza. A confecção começa com a rendeira sentada em uma esteira, tendo à frente uma almofada, feita com enchimento de palha de bananeira".

O artesanato sergipano é orgulho para o Estado enriquecendo-o culturalmente e contribuindo para a sua economia.

* Juliana Fabricia Oliveira Nascimento é graduada em História Licenciatura Plena pela Universidade Tiradentes. Pós-graduada em Ensino de História: Novas Abordagens pela Faculdade São Luís de França.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS:

CENTRO de Arte e Cultura de Sergipe. Artesanato de Sergipe. Aracaju - SE: Secretaria de Combate a Pobreza, 19--.
DANTAS, Beatriz Góes. Rendeiras de Poço Redondo: vida e arte de mulheres que batem bilros no sertão do São Francisco. Aracaju: Instituto Xingó, Arqueologia e Patrimônio Histórico, Centro de Documentação e Pesquisa do Baixo São Francisco, 2002.
Movimento Amigos da Arte. Artesão de Sergipe. Aracaju: Triunfo Ltda; Unimed Sergipe. 2000.
PAB -PROGRAMA DO ARTESANATO BRASILEIRO, do Ministério do Desenvolvimento, da Industria e do Comércio Exterior. A Arte do artesanato brasileiro. São Paulo: Talento, ©2000. 179 p. ISBN 8585062355.

REFERÊNCIAS:

HISTÓRIA do artesanato. Disponível:
http://www.colegiosaofrancisco.com.br/alfa/historia-do-artesanato/historia-do-artesanato.php. Acessado em 05.05.2012 às 08:15
O ARTESANATO e sua história no Brasil e no mundo. Disponível: 
http://www.emdiv.com.br/pt/arte/enciclopediadaarte/501-o-artesanato-e-sua-historia-no-brasil-e-no-mundo.html. Acessado em 05.08.2012 às 08:30.
BORDADOS. Disponível em:
http://www.bordando.net/textos.htm. Acessado em 05.08.2012, às 21:25
BORDADOS do Nordeste. Disponível em:
http://www.bordadosdonordeste.com.br/index.asp?page=tipobordados. Acessado em 05.08.2012, às 11:00.
CORPORAÇÕES DE OFICIO. Disponível em:
http://www.suapesquisa.com/o_que_e/corporacoes_de_oficio.htm. Acessado em : 05.08.2012 às 09:30.

Texto reproduzido do site: jornaldodiase.com.br

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