quinta-feira, 24 de setembro de 2015

A Trajetória da Atriz e Bailarina Tetê Nahas

O Diabo de " Auto da Barca do Inferno" 
é um dos personagens mais lembrados da Atriz.

Urânia de " Antonio Meu Santo" 
é a personagem mais popular da Atriz.

 Tetê também é bailarina e cantora.

 Ela participou de diversos grupos como o 
" Imagem" dirigido por Cícero Alberto.

Publicado originalmente no blog Pedro Carregosa, em 14/12/2010.

A Trajetória da Atriz e Bailarina Tetê Nahas
Por Osmário Santos/Jornal da Cidade.

Valdelice de Matos Santos nasceu em Aracaju, no dia 20 de outubro de 1966. Ela foi a sexta filha do casal Jonas Xavier dos Santos e Valderez de Matos Santos. Desde pequena recebeu o nome de Tetê Nahas.

O pai, Jonas Xavier, era de Maruim, de uma família bastante humilde, com dez filhos. Vieram tentar a sorte em Aracaju e Jonas foi trabalhar no comércio, mas não gostava do trabalho. Ao invés de vender, procurava passar o tempo lendo. Foi quando se tornou pescador. Homem rude e ao mesmo tempo sábio, passou para os filhos muitos valores de honestidade e ética.

Aos 18 anos Jonas Xavier se apaixonou pela menina Valderez, conhecida como “Cedinha”. Valderez era a única menina em uma casa com oito filhos, ajudava a mãe com os afazeres domésticos. Aos 13 anos de idade, estudante do Colégio Augusto Ferraz, ela se casou com Jonas Xavier. Aos 14 deu a luz ao primeiro filho, Givaldo de Matos Santos, falecido neste ano de 2010. Para ajudar o marido a criar os filhos, foi trabalhar para uma família onde permaneceu por mais de 30 anos.

Do pai, Tetê diz que herdou muito o temperamento, o gosto pela leitura e a forma de ver a vida. “Papai era sábio. Aquele homem não nasceu para viver nesse tempo. A casa era cheia de crianças e jovens que vinham de toda a vizinhança para ouvi-lo falar. Culto, educado, dava verdadeiras aulas. Era meu porto seguro, meu ar, meu chão” afirmou Tetê.

Já da mãe ela diz que herdou a aptidão artística e o amor pelas crianças. “Enquanto Papai era minha consciência, minha segurança, mamãe é meu impulso. Mulher guerreira, atrevida, lutadora. Mãe na essência nos deu e nos dá ate hoje um amor incondicional. Amor como o que ela tem eu nunca vi na vida. Ela é minha força, minha coragem, minha luta e minha fé na vida.Quisera ter um terço da força que ela tem”, acrescentou a atriz e bailarina. Tetê também traz uma tia paterna, Catarina Xavier, como referência. “Titia me adotou e somos muito parecidas, ela parece muito no jeito com papai. Ajudou muito na minha criação. por causa dela me tornei uma tia e uma irmã presente para a minha família”, afirma.

As primeiras letras ela aprendeu na vizinhança, em uma escolinha de uma professora do bairro Santo Antonio, onde nascera. Foi a própria que a levou para estudar. Depois ela entrou no Colégio Castelo Branco, onde ficou muitos anos. Lá se destacou nos estudos, nas artes e também nos esportes. Tetê fez atletismo e ganhou diversas medalhas na época.

Um fato interessante na escola, ela nunca respondia a chamada porque não chamavam nenhuma Tetê, mas Valdelice, seu nome. Tetê foi registrada como Valdelice de Matos Santos, conforme vontade da mãe, mas desde pequena é chamada de Tetê Nahas. O pai dela, senhor Jonas, queria que o nome fosse Tetê Nahas, segundo ele Tetê significava pele e Nahas na raça e na força. E, de fato, desde pequena, Tetê demonstrou ser dona de uma forte personalidade. Foi nas festas da vizinhança, enquanto dançava e aprontava, que ela foi descoberta para as artes.

O ator Douglas, vizinho de Tetê, levou-a para fazer um espetáculo em que precisavam de uma criança. “Douglas foi um irmão mais velho, aliás, a família dele me acolheu como se eu fizesse parte dela e fiz. Somos irmãos, amigos, primos, escolhidos pela vida”, agradece Tetê. E foi assim que a atriz começou suas atividades aos cinco anos, na peça “As aventuras de Jujuba e Teteca”, de autoria do falecido diretor Bosco Scaffs, com produção do Grupo Grifacaca, ainda nos anos 70.
Depois, seguiu no grupo teatral Check-up, onde era a mascote, participando de espetáculos e principalmente recebendo todo o legado do mestre Bosco Scaffs.

Então, desde pequena que Tetê se envolveu nas artes e logo cedo começou a viajar para os festivais e se envolver com a cena artística. Como tinha um tipo físico forte, todos pensavam que ela tinha mais idade. Bosco Scaffs fazia espetáculos ousados como Assinax e Inri “O ato da iluminação”,

“Eu era menor de idade e ainda tinha censura, então, na época em que os censores iam fazer os ensaios eu me escondia. Mas em cena, ninguém acreditava que eu tinha 15, 16 anos”.

Sobre o mestre Bosco Scaffs, a palavra é gratidão: “Devo a Bosco e a Douglas o que sou. Quem eu me tornaria se Douglas não tivesse me enxergado ali em uma festinha e me levado a Bosco?

E ele, que tanto me ensinou, sobre o artista completo, sobre a vida, sobre liberdade, sobre arte. Bosco Scaffs foi uma das melhores pessoas que eu conheci, devo tudo a ele, absolutamente tudo, eu o amo”.
Paralelo ao teatro, Tetê passou a fazer dança. “Bosco sempre dizia que devíamos ser completos, ele dançava muito bem e dava noções para a gente, mas a gente precisava, segundo ele, se aperfeiçoar. Só que me apaixonei pela dança e pelo teatro e me tornei bailarina também. Sempre fui muito tímida, então o teatro e a dança juntos, era a forma de expressar aquilo que não conseguia falar, sentir”.

Como bailarina, participou de diversos grupos de dança, entre os quais o Grupo Raça Real e o Balé Municipal de Dança Contemporânea de Aracaju. “Foi uma época muito rica em termos de cultura, a cena era crescente, eram vários espetáculos, tínhamos prêmios, incentivos, festivais, era maravilhoso, qualquer jovem se empolgava e seguia na arte, pois tínhamos oportunidade”, explica.

Foi como bailarina que Tetê entrou na Prefeitura de Aracaju. Foi lotada para a Escola Municipal de Artes e até hoje dá aulas de teatro. “Nunca imaginei que fosse me tornar professora, mas é algo
que também me realizo muito. Absorvi tudo o que pude de Bosco Scaffs e tento, como ele, 
transformar a vida de algumas pessoas através da arte”, disse Tetê. E lá se vão mais de 25 anos como professora.

Ainda nos anos 80, Tetê integrou o Grupo Imagem. O grupo tinha a proposta de unir a dança, teatro e música e foi idealizado por Cícero Alberto, também ex-integrante do Grupo Check-up, de Bosco Scaffs. “No Imagem foi uma experiência fantástica, dançamos, pintamos e bordamos. É um dos grupos de teatro mais importantes do Estado, fiz meu primeiro personagem marcante, a Mona Lisa, em ‘Salve-se quem puder’, saudades…”, relembrou a atriz.

Paralelo ao Imagem, Tetê participou ainda do grupo Asas de Teatro. O Asas foi dirigido pelo baiano Paulo Barros. No grupo, a artista ganhou um prêmio como iluminadora por “A Floresta do Alinhamento”. Ela utilizou apenas duas lanternas para fazer o espetáculo e se destacou pela ousadia e criatividade.

Aliás, essa é uma marca presente no trabalho da atriz. Ousada, criativa, intensa, bastante dedicada. De 1988 até 1990 se dedica mais à dança e à música. Participa então da banda Zé Yeddo, que cantava músicas folclóricas. “Valfran de Brito me convidou a fazer parte desse projeto e acabei me envolvendo muito com a música. Além dele participavam Itamar Freiras e Eliude, Passos, pessoas queridas”, relembrou. Ela também foi backing vocal do cantor Tonho Baixinho.

Foi em 1991 que foi convidada para o Grupo Imbuaça. “Rivaldino Santos, muito meu amigo, tinha trabalhado comigo em outros grupos. Foi ele o portador do convite do Imbuaça. O grupo já era célebre e eu tinha uma carreira já consolidada. Aos 25 anos decidi me dedicar a essa nova fase de minha carreira, fazendo teatro de rua, com literatura de cordel, uma linha de atuação mais popular” lembra.
Foram 17 anos e seis meses no Grupo Imbuaça. “Fiz muitos trabalhos e personagens marcantes, aprendi muito, viajei, conheci outros países. O Imbuaça me deu muitas oportunidades. Jamais esquecerei de minha Filismina de A Farsa dos Opostos, Das Mulheres de Eurípedes, do Diabo, de O auto da Barca do Inferno e de Tereza, de Além da Linha D’água, escrita especialmente para mim. Foi nesse espetáculo que nós, do Imbuaça, contracenamos com Marília Pêra. Isso sem falar, claro, daquela que não me abandona, Urânia de Antônio Meu Santo”, afirma a atriz, que deixou o grupo em 2008 para se dedicar mais a família.

Urânia fez tanto sucesso que Tetê, a convite do produtor Fernando Petrônio, desde 2003 grava uma participação especial no São João da Gente, da TV Sergipe. Em 1992, como muitos atores sergipanos, participou de Tereza Batista, minissérie da Rede Globo. Em 2007, gravou o filme “Orquestra dos Meninos” dirigido por Paulo Thiago.

A estreia como diretora com o Espetáculo “Conto ou Não Conto”, em janeiro de 2001, baseado no livro “Contos de Vida e de Morte”, de Carlos Cauê. Não parou mais. O infantil “No Reino do Encantamento”, com a Companhia de Teatro da Fundação Pedro Paes Mendonça, marca a estreia como diretora em espetáculos infantis. Depois vieram os espetáculos “Andantes (2002)”, da Companhia Usina de Teatro, Decadência (2005), da Companhia de teatro Rota, “Sete noivas para sete irmãos (2003)”, da Companhia de Teatro da Fundação Pedro Paes Mendonça. Tudo isso sem falar de “Nunca é Tarde(2006)” do grupo Troteatro de Espetáculo e de “Viva, A vida em um ato” monólogo de Carlos Cauê interpretado por Luís Carlos Reis. Um espetáculo marcante para a atriz a “Paixão de Cristo (2000), realizada todos os anos no povoado Serra do Machado em Ribeirópolis, que é uma produção encenada por mais de 60 atores. A atriz também dirigiu o primeiro espetáculo infantil do Grupo Imbuaça. “O Natal da floresta dos Ursinhos (2006)” e fez a assistência de direção e as coreografias do espetáculo “Desvalidos (2004). Recentemente montou os musicais “Saltimbancos”, e “O Mágico de Oz” para a Nossa Escola, o espetáculo contou com um elenco composto por mais de 200 alunos.

“Sou muito família. Amo meus cinco irmãos, fui tia aos 12 anos e tentei ser o mais presente possível na vida dos meus sobrinhos, que também amo de paixão. Mas ter um marido e um filho é algo indescritível. Realmente a gente muda os valores, os pensamentos, toma decisões mais acertadas. Agora me sinto completa”. Afirmou a atriz e bailarina que no fim do ano se forma em artes cênicas pela UFS.

Texto e imagens reproduzidos do blog: pedrocarregosa.wordpress.com

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