quarta-feira, 20 de setembro de 2017

Arthur Bispo do Rosário ganha exposição na Casa Museu Eva Klabin, no Rio

Obra ‘Balança’ faz parte da mostra ‘Flutuações’.

Fotos: Rodrigo Lopes/ Divulgação.

Publicado originalmente no site do Jornal da Cidade, em 19/09/2017

Arthur Bispo do Rosário ganha exposição na Casa Museu Eva Klabin, no Rio

“Flutuações” apresenta obras inesquecíveis de um dos maiores nomes da arte contemporânea brasileira.
 
A Casa Museu Eva Klabin apresenta, novamente à Zona Sul do rio de Janeiro, obras de Arthur Bispo do Rosário em Flutuações, exposição que marca a 22ª edição do projeto Respiração, com curadoria de Marcio Doctors. Considerado uma das maiores referências da arte contemporânea brasileira, Bispo do Rosário é o primeiro artista morto a ser convidado para participar do projeto, que faz parte do circuito vip do ArtRio. A exposição acontece até o dia 14 de janeiro de 2018.

Em Flutuações, nada na Casa será tirado do lugar e as obras de Bispo do Rosário não encostarão em nenhum objeto já presente. As doze obras selecionadas ficarão suspensas, como se estivessem flutuando, espalhadas pela sala renascença, hall principal, sala inglesa, sala de jantar, sala verde, quarto de dormir, closet e banheiro. No auditório com capacidade para 80 pessoas, será exibido o filme “O Prisioneiro da Passagem” (Hugo Denizart, 1982), onde é possível conferir depoimentos e imagens exclusivas de Bispo do Rosário.

“’Flutuações’ nos traz dois personagens que viveram em uma mesma época, numa mesma cidade, atravessaram o mesmo tempo, mas que eram totalmente distintos. Com diferentes perspectivas e percepções do mundo que os cercava, criaram suas próprias realidades, que podem ser interpretadas a partir de suas particularidades e diferenças sociais, nos deixando um legado singular de suas passagens pelo mundo. Hoje, duas grandes potências espirituais, Eva Klabin e Arthur Bispo do Rosário, se encontram, sem se encostar, como foi assim em vida, em uma intervenção reflexiva e emocionante, marcando a 22ª edição do Respiração”, disse o curador Marcio Doctors.

O artista

Arthur Bispo do Rosário nasceu em 1909, na cidade de Japaratuba, em Sergipe. Nordestino, negro e semianalfabeto, alistou-se como marinheiro no Quartel Central do Corpo de Marinheiros Nacionais, no Rio de Janeiro, em 1926. Sete anos depois, foi desligado da Marinha por indisciplina.

Em 1938, teve seu primeiro surto. Na noite de 22 de dezembro daquele ano, saiu em uma espécie de peregrinação para uma apresentação na igreja da Candelária. Foi dado como louco e encaminhado ao Hospital Nacional dos Alienados, na Praia Vermelha, onde o diagnosticaram como portador de esquizofrenia paranoide. Tempos depois, foi transferido para a Colônia Juliano Moreira, em Jacarepaguá, e alojado em uma ala reservada aos pacientes mais agressivos e agitados.

Após uma série de idas e vindas a instituições psiquiátricas diversas, Bispo retornou definitivamente à Colônia em 1964 e, a partir daí, iniciou sua extensa produção de objetos. Ainda naquele ano, após ser preso em uma solitária, ouviu uma voz, que lhe deu sua missão: a de representar “os materiais existentes na Terra para o uso do homem”. Com o aumento de sua produção, expandiu seu espaço para as dez solitárias do pavilhão.

Ao longo de 50 anos, Bispo produziu mais de 800 objetos em um processo contínuo. Em seu processo criativo, aproveitou-se de tudo que tinha à mão para a produção de bordados, objetos e esculturas. Em um trabalho meticuloso, desmanchava os uniformes dos internos, retirando deles as linhas que serviriam como matéria-prima para a trama de suas peças. Talheres, tênis e garrafas - tudo era reaproveitado pelo artista que, ordenado por um deus, era incumbido a inventariar o mundo.

Texto e imagens reproduzidos do site: jornaldacidade.net

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