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sexta-feira, 21 de abril de 2023

REGISTRO notícia de 09/08/2006 > Prof. resgata 1ª. revista literária do Estado


Antiga Fachada do Gabinete de Leitura de Maruim.

Atual fachada do Gabinete de Leitura, reformada em 1953.

Legenda da foto: Uma das edições da Revista Literária.

REGISTRO de notícia publicada pelo Portal Infonet em 09/08/2006

Professora resgata primeira revista literária do Estado

Publicação compartilhada do Portal INFONET, de 9 de agosto de 2006

Ao estudar o Gabinete de Maruim para defender uma tese de Mestrado, a bióloga e pesquisadora Maria Lúcia Marques Cruz e Silva encontra a Revista Literária que foi publicada para divulgar o centro de leitura. Mesmo tendo sua primeira edição datada há 118 anos, a obra fala sobre temas atuais. Com colaboradores de outros países e idéias avançadas para a época, a revista chegava a vapor em 75 cidades por todo o país. Nesta entrevista ao Portal Infonet, a estudiosa relata os principais temas, os maiores autores e a importância histórica e cultural deste achado.

Portal Infonet – Por que a escolha do estudo do Gabinete de Leitura do município de Maruim?

Maria Lúcia Marques –Além de estudar Maruim há 25 anos, publicando o Inventário Cultural da cidade em 1994, sou filha da cidade. A intenção foi recuperar a história da imprensa sergipana, por Maruim ser considerado um centro livreiro. Maruim teve seis tipografias no século XIX e editou 21 jornais. Eu estudo Maruim há muito tempo, entro no Mestrado estudando o Gabinete e, nestas buscas, descubro que ele teve uma revista literária.

Infonet – Fale-nos um pouco da história deste Gabinete.

MLM – Este gabinete é de 1877 e é a única instituição do gênero que perdurou até hoje no Estado. Aracaju, Tobias Barreto e Laranjeiras, por exemplo, tiveram gabinetes literários, mas com vida efêmera. O de Maruim funciona hoje como uma biblioteca municipal. Segundo os estatutos, este gabinete nasceu como um espaço para recreio e instrução dos sócios. E diferente dos gabinetes portugueses de leitura de Salvador, onde o espaço era reservado aos portugueses, os que nasceram na segunda metade do século 19 são espaços de contestação da ordem, que era Monárquica e Escravocrata. Ele foi uma iniciativa de um grupo formado por pessoas com idéias político-liberais. Eles queriam levar a educação a todos e atingir as massas, que é todo um discurso dos ideais republicanos que eclodem com a República. O Gabinete de Leitura é tido como uma instituição popular. E em 24 de outubro de 1890 nasce a Revista Literária, com o propósito de divulgar o Gabinete e incentivar o gosto e amor às letras. 

Infonet – Além de um lugar para leitura, o Gabinete tinha outro fim?

MLM – Era um clube social fechado. Era tipo uma reunião de maçonaria. Uma sociedade fechada e tinha estatuto rígido. Com isso, sabe-se que não era para o povo. O estatuto dizia ‘Criar uma biblioteca para recreio e instrução dos sócios’ e os discursos dos oradores diziam que “queriam criar a biblioteca para difundir o gosto e o amor às letras por todas as classes sócias”. Mas o povo não tinha acesso, e há indícios de uma ligação com a maçonaria, porque a maioria dos sócios teve passagem por ela. Eu encontrei discursos e um signo tipográfico. São 26 sócios que aparecem numa moldura tipo corrente, característico de maçom. Encontrei a ata de fundação do Gabinete onde aparecem 60 sócios, mas na revista só aparecem 26 nomes como se muitos deles não a apoiassem.

Infonet – Quem estava à frente da Revista?

MLM – Não consegui achar um diretor, são vários editores e colaboradores. Todos do Estado de Sergipe. Da cidade de Maruim, consegui identificar o jurista Deodato Maia, que colaborou com poesias. Eles eram intelectuais na área jurídica, médica e empreendedores do açúcar, da indústria e do comércio. Um dos maiores colaboradores da revista foi N. Júnior, que escreveu textos políticos em uma coluna chamada ‘A lápis’, trazendo 23 artigos exclusivamente políticos. Como eles queriam levar um periódico que tivesse feição educacional, eles ‘batizaram’ a coluna de uma forma que driblasse a censura. Outro colaborador foi Nogueira Cravo, que era o chefe de redação e do telégrafo de Maruim, e Leonídio Porto, que era de Capela e escreveu nove artigos sobre Educação.

Infonet – Qual a periodicidade da Revista?

MLM – A revista era semanal e teve 34 edições, sendo 20 com um formato e 14 num tamanho menor. E a revista tem o cunho liberal político, mas também cultural, porque publicava muitos folhetins, poesias e literaturas. Isto para que ela não fosse censurada, já que a revista fazia oposição ao Governo de Deodoro da Fonseca. Cerca de 39% do corpo textual da revista é composto por poemas em folhetins, o que seria a nossa novela de hoje.

Infonet – Esta revista era comercializada? E chegou a ser vendida em outros Estados?

MLM – Sim, a assinatura mensal da revista custava 500 réis. Eu a rastreei e descobri que permutou com 75 jornais do país, inclusive a cidade de Uruguaiana, no extremo Sul do Brasil. Imagine a dificuldade de transportar esta revista via vapor para cidades como RJ, RS, SP e PA. Eu acredito que a revista foi uma estratégia para atrair o leitor ao Gabinete, porque os jornais ficavam à disposição do público nas mesas de leitura e traziam notícias recorrentes do país. E esta permuta com 75 jornais faz com que eu acredite que a obra não trouxe muito lucro. Percebe-se que ela passa por uma crise, porque nos primeiros 20 exemplares têm propaganda e nos outros 14 não têm, e diminui também de tamanho do papel da revista. Existem indícios que ela parou de ser publicada por causa da censura.

Infonet – A senhora encontrou algum motivo para o nome da obra ser Revista Literária?

MLM – Eu acho que este título era para mascarar a proposta política deles, porque ela nasce com a idéia para divulgar a instituição, mas pelo meu estudo eles só falam dela em somente 5% do corpo textual da revista. Falam 39% de poemas e folhetins, uma grande quantidade de política e temas gerais, mas o motivo da criação da Revista que era divulgar o Gabinete só é lembrado em 5% dos textos. Nela, a maioria dos textos são assinados, mas encontrei alguns pseudônimos.

Infonet – Qual o valor deste achado para a história atual?

MLM – Esta revista é subsídio para a história da imprensa em Sergipe, visto ser a primeira do gênero no Estado. A revista do Instituto Histórico de Aracaju é de 1913 e esta do gabinete é de 1890. A minha esperança é que o valor deste achado faça com que o Gabinete de Leitura seja recuperado. Pretendo recorrer a algumas instituições para ajudar a melhora do espaço que teve este passado tão importante na História Cultural de Sergipe. 

Infonet – Tem algum poema que mais lhe chamou atenção nestas 34 edições?

MLM – Tem uma poesia de Martins Jr. chamada ‘Receita’, que é uma das mais bonitas, e um folhetim chamado ‘Os Morangos’, de Emílio Zolar, que é encantador. Ele é tratado com uma literatura de época, em que a maioria das poesias é parnasiana, em que vemos a riqueza do poema. As obras deste último foram proibidas, porque ele escrevia folhetins e uma ‘moça de família’ não podia ler. Suas obras eram inspiradas em paixão, violência, trama de amor e isto podia corromper a moral e os bons costumes da época. E por isso o Gabinete era censurado e suas leituras não eram bem vistas pela sociedade, pelo Estado e pela Igreja.

Infonet – Qual a sua opinião sobre os temas das notícias abordadas nas 34 edições?

MLM – Esta revista está tão presente, que observamos que muitos dos temas são discutidos em jornais atuais. Em um dos textos, é discutida a importância de levar para o menino o trabalho manual já no primário e atualmente um ministro está propondo levar que os meninos tenham uma profissão ainda no primário. E este discurso está vivo na revista.

Infonet – Isso quer dizer que os discursos só se repetem?

MLM – É verdade. Os discursos se repetem e as providências são poucas.

Infonet – E para senhora, qual o sentimento de ter encontrado uma parte da história de Maruim?

MLM – Para mim, que venho estudando Maruim há tanto tempo, foi uma felicidade encontrar esta revista. Eu revirei a Biblioteca Epiphaneo Dórea e foi um presente de Deus, pois esta revista é a alma do Gabinete e ele é a alma da cidade. Eu estudo um pensamento, o ideal de um grupo que sonhava salvar a comunidade pelas letras, num discurso tão presente.

Por Raquel Almeida

Texto e imagens reproduzidos do site: infonet com br

segunda-feira, 12 de agosto de 2019

De Maroim à Maruim - História Impressa


Wallace Nascimento; Maria Lúcia Marques 
e Mílton Alves

Publicado originalmente no site da SEGRASE, em 12/08/2019

De Maroim à Maruim - História Impressa 

‘Maroim (1836 – 1891)’ é a nova obra publicada pela Editora Diário Oficial de Sergipe - Edise. Com o lançamento marcado para hoje, 12 de agosto, às 18h, na Academia Sergipana de Letras, Sala dos Fundadores do Sodalício e no dia 27, o lançamento acontece em Maruim. O livro tem como autoria José Pinto de Carvalho (in memoriam), e é organizado pela professora, bióloga, jornalista e pesquisadora Maria Lúcia Marques Cruz e Silva.

Sendo esta a primeira obra de Maria Lúcia publicada pela Edise, a organizadora conta com mais de dez livros já lançados, e diz estar satisfeita com o serviço da Editora. “A equipe da diagramação foi muito cuidadosa, pessoas de profissionalismo, que trabalharam com afinco. Eles tinham consciência de que se trata de um documento histórico”.

José Pinto de Carvalho é o português que fundou a cidade e instalou a Vila de Maroim. Apenas a partir de 1970 a nomenclatura é alterada para ‘Maruim’, atribuída, pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística – IBGE. “Este livro é uma ata que mostra a fundação da cidade”, explica a autora.

A ideia e vontade de configurar e fixar na história documentos há muito esquecidos veio de seu pai, como conta a própria organizadora. “Desde criança escutava meu pai. Ele era um barbeiro, pobre, pessoa simples, mas que tinha uma consciência do valor cultural da cidade, e foi ele quem me motivou a conhecer a história de Maruim”.

No início era um estudo intuitivo. “Comecei a estudar sobre a história da cidade e a entender. Passei 10 anos conversando com as pessoas, desenvolvi uma metodologia intuitiva, criei um questionário e aplicava nas entrevistas”, relembra Maria Lúcia Marques Cruz e Silva.

Wallace Nascimento, historiador que contribuiu para que as fotos do documento fossem possíveis de serem expostas em boa qualidade, conta sobra a importância dessa pesquisa e de sua apresentação ao público. “A obra organizada é de suma importância, não somente pela informação histórica que ela carrega sobre a fundação de Maruim, a elevação da categoria de vila para cidade, como também a prática de exames paleográficos, leituras que contam com imagens de data da fundação, narrando e demonstrando a construção idealista do atual Município”.

Ricardo Roriz, presidente da Empresa de Serviços Gráficos de Sergipe – Segrase - Segrase, conta estar satisfeito com a contribuição histórica que a Editora vem desenvolvendo. “A Edise vem, ao longo de sua jornada, desenvolvendo o trabalho de manutenção histórica e cultural do Estado, disponibilizando ao público, através de suas obras lançadas, personagens e fatos importantes para Sergipe, para o Brasil, e para a história em geral”.

Para o diretor Industrial da Segrase, Mílton Alves, “Os documentos que retratam o processo de desenvolvimento e consolidação no que hoje conhecemos por Maruim deve, sobretudo, serem expostos para não somente fixar na história, mas também contribuir de alguma forma a futuras pesquisas e avanços sobre a cidade”.

Texto e imagens reproduzidos do site: segrase.se.gov.br