Mostrando postagens com marcador - ANDRÉ VIANA. Mostrar todas as postagens
Mostrando postagens com marcador - ANDRÉ VIANA. Mostrar todas as postagens

sexta-feira, 10 de maio de 2019

Sua Vida Cabe Num Livro?

André Viana proprietário da Editora Livros de Família 
Foto: Fabiano Accorsi

Publicado originalmente no site do jornal CINFORM, em 8 de abril de 2019

Sua Vida Cabe Num Livro?
Por Suyene Correia/redacao@cinform.com.br

Carioca de nascimento, sergipano de coração, o jornalista e escritor André Viana- filho do contista Antônio Carlos Viana-, morando em São Paulo, desde 1997, decidiu investir no mercado editorial, a partir de 2011, depois de acumular experiência como editor e diretor na Trip. Na época, criou a Jerimum Biográfico, atualmente Livros de Família, especializada em publicações produzidas, exclusivamente, para famílias biografadas, com tiragens reduzidas, onde o objetivo maior é proporcionar às novas gerações de uma determinada família, o resgate de valores e a construção de uma memória, a partir do conhecimento de suas origens.

 Agora, a Editora Livros de Família, localizada na Vila Madalena, conta com cerca de 30 livros no seu catálogo e parte para uma nova empreitada: a venda de um produto no circuito de livrarias. O primeiro livro vendável será “O Diabo na Casa do Terço” da jornalista mineira Cássia Miguel, com lançamento previsto para o dia 27 de abril, na Livraria da Vila, no bairro paulistano de Vila Madalena. Mas Viana esclarece, logo: “a editora não fica com nenhuma porcentagem sobre a venda. O dinheiro volta inteiramente para a família como uma forma de recuperar o dinheiro investido na produção do livro”.

 Aliás, assim como a tiragem de um livro dessa natureza varia muito- já houve cliente que solicitou apenas um exemplar, mas a média é de algumas dezenas- também os preços para a execução de um projeto biográfico variam de R$ 30 a 100 mil (sem os custos da gráfica), a depender da natureza da pesquisa e dos profissionais envolvidos.

 Atualmente, ainda são poucas as editoras no Brasil, que se dedicam a essa vertente literária. Com perfil similar à Livros de Família há a Memorabília (RJ) e a Artesão de Memórias (PR). Mas André Viana, que lançou “O Doente” em 2014, pela Cosac Naif e foi finalista do Prêmio São Paulo de Literatura 2015, é otimista não só com o futuro da sua modesta editora, como também com o futuro do livro. Um pouco disso, pode ser conferido na entrevista abaixo, onde Viana também conta como foi aprimorando sua maneira de abordar os biografados, além de revelar algumas curiosidades sobre essas publicações tão singulares.

Qual metodologia você utilizou para escrever “Tchô!”, o primeiro livro da Editora, ligado à família de Zoé Silveira D’Ávila? Fale um pouco sobre esse processo de encontros, entrevistas e como é editar todo esse material num livro prazeroso de se ler.

De modo geral, até hoje, os livros de família não têm uma metodologia específica. Cada livro é escrito de um jeito. Quem comanda mesmo é o processo de interação com a família. Dificilmente, a família sabe, já de saída, que tipo de livro ela quer. Eu também não sei, até conhecer aquela família mais a fundo. Então, vamos construindo juntos, de acordo com o que vai aparecendo. É um processo inteiramente orgânico. É por isso que não existe um livro igual ao outro, nem mesmo o projeto gráfico. Nesse sentido, a Livros de Família é uma editora artesanal, que traz como resultado uma pequena joia lapidada especificamente para aquela família.

No caso de Tchô!, feito em 2010/2011, eu cheguei apenas com minha experiência como jornalista. Achava que tinha que seguir os manuais de biografias e escrever o livro na terceira pessoa. Precisei escrever quatro versões do primeiro capítulo até entender que Zoé queria, ele mesmo, contar a própria história. Quando reverti o que havia escrito para a primeira pessoa, Zoé leu e disse: “É isso!”. Ali entendi que não adiantava chegar com fórmulas. Que era preciso sentir o terreno antes de começar a caminhar.

E é assim até hoje. Zoé já estava com 90 anos, então nossas conversas não duravam mais do que meia hora. Estabelecemos dois encontros semanais. E assim fomos durante um ano inteiro. As lembranças da infância estavam todas intactas, mas a certa altura, vi que muitas histórias da fase adulta precisavam ser completadas com a ajuda de amigos, conhecidos e parentes. Viajei até uma cidade de Santa Catarina onde ele fez fama como médico e empresário e passei uma semana entrevistando algumas pessoas. Depois incorporei as informações coletadas à voz do Zoé, o que faz do livro Tchô! um mosaico de memórias alheias escrito na primeira pessoa.

Ainda que existam poucas editoras especializadas nessas histórias familiares no Brasil, a procura vem crescendo nos últimos anos? E o interesse dos leitores também?

A procura vem crescendo à medida que a Livros de Família se torna conhecida, no boca a boca. Uma pessoa conta para outra, que conta para outra, que me procura e depois conta para uma terceira e, por aí, vai. Embora eu não soubesse que existia esse nicho editorial quando criei a editora, há outras pessoas fazendo a mesma coisa. Recentemente, saiu uma reportagem em O Globo falando sobre essas “biografias afetivas”, termo que eu não conhecia e que adorei. Ali, você tem um apanhado abrangente sobre esse nicho. Sobre a tiragem, cada família escolhe a sua. Já teve família que imprimiu um exemplar só e já teve outra que imprimiu 500 exemplares.

A novidade do momento é o lançamento do primeiro livro de família que estará à venda. Chama “O Diabo na Casa do Terço” da jornalista Cássia Miguel Baldauf. Ela reescreveu histórias que desde pequena ouvia o pai contar sobre personagens reais que passaram pela venda da família, em Guaranésia, no interior mineiro. É um livro muito saboroso, com histórias que vão interessar e divertir um público maior do que os parentes. Propus a Cássia que o livro fosse vendido. Ela topou e o lançamento será agora, no dia 27 de abril, na Livraria da Vila, na Vila Madalena.

Como você avalia esse nicho dentro do mercado editorial no Brasil de hoje? E no exterior, esse mercado tem demanda?

De forma muito simples, até porque nunca fiz nenhuma pesquisa a esse respeito, é um nicho que vem aparecendo de forma tímida e gradual. Digo isso pelas reportagens da Livros de Família que têm saído a esse respeito. Não faço a mínima ideia de como é esse mercado no exterior. O que sei, é que livrarias e bibliotecas na Espanha e nos Estados Unidos já me procuraram querendo exemplares desses livros de família.

Quando você é contratado para esmiuçar a vida familiar de alguém, conta com auxílio de historiadores? Ou você mergulha fundo, solitariamente, na pesquisa, tendo que contextualizar essas histórias com fatos históricos?

Geralmente, quem pesquisa sou eu ou o escritor/jornalista que contrato para cuidar de determinado livro. Para mim, na verdade, é a fase mais divertida do processo: ler sobre História do Brasil e do mundo pra poder contextualizar as histórias da vida privada. Teve um livro em especial, sobre uma fazenda aqui do Vale do Paraíba, que me levou a ler sobre história do Brasil durante nove meses para só, então, começar a pesquisa do livro propriamente dita. Eu sabia que entraria em contato com informações que demandariam uma base histórica para entender o contexto. Para a concepção desse livro, contratei uma historiadora/paleógrafa que me ajudou a ler documentos do século 17/18 que estavam guardados no arquivo histórico de Taubaté. Descobrimos preciosidades que mais tarde seriam importantes até para historiadores da USP que estudam as rotas bandeirantes. Fora essa experiência, no mais das vezes mergulho sozinho nas pesquisas. É um bom jeito de seguir aprendendo.

Como se dá a participação dos contratantes na hora de editar o livro? Eles deixam você a vontade para colocar o que quiser ou interferem no que vai ser publicado?

A combinação inicial com as famílias biografadas é de que não haverá tema-tabu durante a fase de entrevistas. Tudo será abordado, as lembranças boas e as ruins. Com isso, esses livros não deixam de ser um processo psicanalítico para todos. Muitos temas e situações e mágoas que haviam sido jogadas para debaixo do tapete são revolvidas com a ajuda de alguém de fora (no caso, o autor ou autora do livro). Isso feito, eu processo tudo e tento contar tudo da maneira mais cuidadosa possível. O que acontece bastante em qualquer família, incluindo a minha e a sua, é que uma história pode ter mais de uma versão — e aprendi que todas são verdadeiras, afinal de contas, é a versão que aquela pessoa ouviu, guardou e transmitiu. Não é raro eu ter que entrar num acordo coletivo para definir que versão vai ser escrita. Suicídio na família, por exemplo, é um tema que não é raro aparecer. Como abordar — ou se deve abordar — eu sempre deixo a cargo da família. No fim, a história é dela, não minha. Talvez seja isso que diferencie as biografias de família das biografias comuns, já respondendo sua pergunta. Por ser uma encomenda, acordos devem ser firmados —nem para que a família se sinta exposta e nem para que eu me transforme num biógrafo chapa branca, que só vai publicar o trigo e deixar o joio de fora. Mas eu sei que mesmo um Ruy Castro, com toda a sua autonomia, qualidade e prestígio como biógrafo, toma cuidado com certos assuntos na hora de escrever. Nada é tabu. Só depende do jeito que se coloca. Isso é algo inerente ao profissional, independentemente, se o trabalho é uma encomenda ou não.

Das histórias que você já escreveu, qual a que mais te emocionou e porquê?

Não posso falar o nome da família, mas enquanto fazia as entrevistas para um livro, apareceu uma mágoa profunda de uma filha em relação ao pai. Era uma mágoa que persistia por mais de 40 anos. O episódio tinha acontecido quando ela tinha 7 anos e determinaria uma distância silenciosa entre eles ao longo da vida, e a família inteira precisou se encaixar nesse esquema. Quando ouvi o relato emocionado dela, achei o episódio tocante e resolvi começar o livro por ele. O texto mexeu com a família inteira porque era uma ferida exposta. Quem não sabia ficou sabendo, quem sabia precisou enfrentar fantasmas enterrados. Pai conversou com filha, filha conversou com mãe, todos choraram, se perdoaram e fizeram as pazes. Fiquei feliz com o desfecho: não só do livro como da nova relação da família. Agora, já com alguma experiência, posso dizer que não é incomum esse tipo de transformação na família depois de ver sua própria história refletida num livro.

Algum sergipano já te procurou para esse trabalho? E se ainda não, teria alguma personalidade daqui que gostaria de biografar a trajetória familiar?

Já, mas as negociações não foram adiante. Era para contar a história de um grande empresário. Uma família sergipana que eu gostaria muito de biografar é a Mangueira Viana.

Hoje, você vive, exclusivamente, de sua editora?

Sim, hoje vivo exclusivamente da minha editora. A Livros de Família está entrando em outra fase agora que é a de livros vendidos em livraria. Até então, os livros eram feitos apenas para consumo interno. Mas chegou em minhas mãos o livro escrito pela Cássia Miguel e achei que ali, tinha algo que podia interessar mais gente. Propus a ela vender “O Diabo na Casa do Terço” e ela topou. A editora não fica com nenhuma porcentagem sobre a venda. O dinheiro volta inteiramente para a família como uma forma de recuperar o que foi investido na produção do livro. Tem um próximo passo que eu quero dar, mas ainda não sei como, que é fazer livros para famílias que não têm dinheiro para pagar pela produção, mas gostariam de ver suas histórias espalhadas por aí. Recebi dois originais recentemente, um do Pará e outro da Bahia. O primeiro é o relato de uma senhora que passou muitos anos num hospital de hanseníase. O segundo é o relato de uma senhora que trabalhou a vida inteira como boia-fria e escreveu sua história de vida a lápis, num caderno. A filha transcreveu e me mandou. São dois pequenos tesouros que eu gostaria de oferecer aos leitores. Pode ser através de patrocínio de alguém ou uma empresa. Pode ser um livro digital. Não sei ainda.

Na sua opinião, qual o futuro da editoras brasileiras, tendo em vista a realidade econômica do país, atualmente?

Sobre o futuro das editoras, meu palpite, que não vale nada, é que as grandes corporações vão cada vez mais dar lugar a pequenas casas editoriais produzindo livros artesanais, lindos e de tiragem baixa. Pelo menos no Brasil, que é o um país onde se lê pouco ou quase nada. Na verdade, é isso o que já está acontecendo. Em resumo, o livro não vai morrer, as editoras não vão acabar. Tudo muda para continuar igual. É nisso que acredito. Mas é só um palpite otimista esse.


Texto e imagem reproduzidos do site: cinform.com.br

segunda-feira, 1 de maio de 2017

André Viana estreia na literatura com romance que explora o tragicômico

André Viana (Foto: Arquivo Pessoal).

Publicado originalmente no site do G1 SE., em 05 de agosto de 2015.

André Viana estreia na literatura com romance que explora o tragicômico.

'O doente' narra trajetória de um homem que sofre perda na infância.

Thiago Barbosa
Do G1 SE

O que mais poderia dar errado na vida de uma pessoa que, no aniversário de 11 anos, perde o pai, vítima de câncer? As repostas, o próprio protagonista desta história relata a um “ouvinte mudo” no romance de estreia de André Viana, O Doente (Cosac Naify, 128 páginas).

Carioca, o jornalista foi criado em Sergipe e é filho do escritor sergipano Antonio Carlos Viana, que publicou recentemente 'Jeito de matar lagartas'. Pai e filho vão lançar em Aracaju os dois livros, neste sábado (8), na Livraria Escariz, na Avenida Jorge Amado, Bairro Jardins em Aracaju.

Considerado uma das apostas da nova literatura brasileira, André Viana usa o jornalismo para “se comunicar” com o protagonista do livro. O autor construiu em 'O Doente' um personagem avesso à psicanálise, que por isso, troca o divã por um gravador e registra, em uma série de entrevistas, uma vida inteira permeada por sucessivos dramas familiares, sem perder a marca do tragicômico.
   
“Sem dúvida, a estrutura do livro vem da minha formação como jornalista. O Doente é a transcrição de uma entrevista, algo que faço sistematicamente há 15 anos. A diferença é que se trata de uma entrevista inteiramente inventada. Nas faculdades, nas redações, sempre se fala de jornalismo literário, no qual as técnicas da ficção estão a serviço da realidade. Minha brincadeira com 'O Doente' foi fazer justamente o contrário, uma espécie de literatura jornalística, em que tudo o que eu havia aprendido na prática agora estava a serviço da invenção. A transcrição como um gênero literário: essa foi minha maneira de conciliar jornalismo e ficção”, disse André Viana.

O livro começou a ser escrito em 2002 e só foi finalizado 12 anos mais tarde. Durante o processo de escrita, nem um pouco contínuo, as várias histórias captadas com o ouvido de repórter foram adaptadas e se transformaram em ficção.

“Nunca tive a pretensão de publicar um romance, pelo menos não conscientemente. Um dia, ouvi de uma pessoa próxima a história do irmão que ela tinha perdido bem no dia de seu aniversário. Fiquei muito impressionado com os detalhes daquele relato. Juntei isso com a história de outro amigo, que havia perdido o pai ainda criança, e da fusão desses dois relatos reais surgiu a ideia de um personagem que tinha perdido o pai no dia de seu próprio aniversário. Que tipo de repercussão esse fato poderia ter na vida de uma criança? As perguntas foram se sucedendo e eu senti que ali tinha um fio de novelo a ser puxado. O narrador do livro é tragicômico. Aí talvez esteja a visão de mundo do autor. A fórmula não é nova: comédia = tragédia + tempo” contou.

Em entrevista especial ao G1, André Viana falou ainda sobre a influência que teve em casa para se tornar um escritor e sobre a relação do jornalismo com a literatura.

Confira a entrevista:

G1- O personagem trata a psicanálise com escárnio e sugere que ao roteirizar o próprio drama, a vida estará liberta do que a aprisiona. A ficção, assim, é a única forma de libertação?
André Viana- Antes de mais nada, é bom lembrar que estamos diante de um personagem contraditório. Ao mesmo tempo em que ele trata a psicanálise com escárnio, ele denota um temor profundo do que poderia encontrar caso se submetesse a ela: o famoso medo do desconhecido, que muita gente transforma em ironia como forma de autopreservação. Vale lembrar também que o escárnio com a psicanálise está no início do livro, quando o personagem tenta justificar de saída a conversa que está prestes a começar. Já a ideia de que roteirizar o próprio drama é libertar a vida do que a aprisiona está na segunda carta, no fim do livro. Entre um ponto e outro, podemos imaginar que o personagem passou por um processo transformador de autoanálise. Para ele, contar sua própria história para um colega jornalista, ou seja, roteirizar, dar uma ordem, um sentido ao seu drama, pode ter sido uma forma de libertação. Mas talvez não fosse a única.

G1- Você é filho de um dos maiores contistas da literatura brasileira na atualidade, o Antonio Carlos Viana, mas estreia na literatura com um romance. Seu pai já disse que sempre foi mais inclinado a escrever contos. Você fará o caminho inverso? Tem pretensão de escrever contos também ou sua praia é o romance?
André Viana- Embora os livros sempre tenham dominado a cena em casa, graças a meus pais, segui pelo jornalismo porque achava que a literatura já estava dominada na família. Quando descobri que tinha fôlego para escrever algo maior que uma reportagem, optei pelo romance porque achava que o conto já estava dominado na família. Gosto do tempo no romance, do espaço ampliado para desenvolver uma personagem ou uma história. Nunca digo que dessa água não beberei, mas por enquanto deixemos o conto com o mestre.

G1- Em que o jornalismo ajuda na formação de um bom escritor?
André Viana- No jornalismo como na ficção, tudo é personagem. O personagem é um ponto de vista sobre o mundo, não necessariamente o mesmo do autor, que nada mais é do que outro personagem, assim como o leitor, ou a natureza, ou Deus. Se tudo é personagem, vida e arte não se imitam: elas são uma coisa só. O que, claro, não nos torna menos real. Ao contrário. Sendo assim, a primeira ajuda que o jornalismo pode dar ao escritor seria a colheita de histórias reais para serem posteriormente trabalhadas como ficção. A segunda contribuição seria a rapidez. No jornalismo, o tempo e o espaço reduzidos não permitem volteios. É preciso ser claro em cada frase, na escolha de cada palavra, e isso também vale para a literatura. O texto precisa ter um imã em cada frase, caso contrário o leitor derrapa para fora do livro. Mas é bom lembrar que não é preciso passar pelo jornalismo para ser um bom escritor. Já o contrário é impossível. A literatura é incontornável na formação de um bom jornalista.

G1- Você é considerado uma das grandes apostas da literatura contemporânea. Gosta do que vem sendo escrito hoje? O que anda lendo? Quais são os escritores e obras que ajudaram a formar o seu estilo?
André Viana- Tem muita coisa boa sendo escrita hoje. Escritores novos como Daniel Galera, Michel Laub e Vanessa Bárbara já têm livros sólidos na praça. Em relação ao estilo, trata-se de uma construção lenta. Acho que ainda estou bem no início para cravar desde já um estilo na minha escrita. Deixemos andar para ver se a tal aposta vinga ou se dá em água. Quanto aos escritores que me formaram, Antonio Carlos Viana é, inevitavelmente, um deles. Mas cada época da vida tem seu autor ou seus autores. Posso citar vários nomes que foram importantes para mim em algum momento, como leitor mais do que como escritor: Cortazar e seus volteios, João Cabral e sua secura, Drummond e seu lirismo cotidiano, Thomas Bernhard e seus fatalismos. Houve um tempo em que eu vivia com Pedro Páramo, de Juan Rulfo, debaixo do braço. Como jornalista, devo muito a Humberto Werneck, com quem trabalhei na revista Playboy logo que cheguei a São Paulo, em 1997. O convívio na redação se estendeu para o campo da amizade. Aprendi e aprendo sempre com ele, seja em conversas, seja em livros seus como O Santo sujo e O Desatino da Rapaziada.

G1- O doente foi gerado de 2002 a 2014. O que podemos esperar de André Viana em 2026?
André Viana- O que eu espero mesmo é estar vivo, com saúde e ter arrematado alguma Mega-Sena da virada. Nessa conjuntura, provavelmente estarei comiserando com outros personagens que vier a criar, o que quer dizer ao menos mais um livro na praça até lá.

G1- O álcool é “salvação e ruína”. E a ficção, quando lida ou escrita a fim de atenuar a realidade, onde se encaixa?
André Viana- Lida ou escrita, a ficção sempre vai ser salvação.

Texto e imagem reproduzidos do site: g1.globo.com/se/sergipe