segunda-feira, 30 de janeiro de 2017

Marcos Ferreira de Jesus

Foto reproduzida do site: academiamaconicadesergipe.com.br
Publicada por MTéSERGIPE, para ilustrar o presente artigo.

Marcos Ferreira de Jesus.

Marcos Ferreira de Jesus nasceu em Simão Dias (SE) no dia 24 de março de 1893, filho de Marcos Ferreira de Jesus e de Maria de Araújo Ferreira.
Cursou o Colégio Bizarria e o Ginásio da Bahia, em Salvador, antes de ingressar na Faculdade de Medicina da Bahia, concluindo o curso de farmácia em 1915.

Farmacêutico e professor, colaborou na imprensa sergipana, tendo chegado a diretor do Diário de Sergipe. Foi inspetor-geral do ensino primário e normal, diretor de um grupo escolar e prefeito de Simão Dias por duas vezes. Ocupou ainda a diretoria do Departamento de Municipalidades, a subsecretaria e o cargo de secretário-geral do estado. Entre 1946 e 1947, durante a interventoria de Antônio de Freitas Brandão, ocupou interinamente o governo estadual. Em janeiro de 1947, elegeu-se deputado à Assembléia Legislativa de Sergipe e suplente de senador pelo mesmo estado, na legenda do Partido Social Democrático (PSD). Presidente da Assembléia Legislativa, logo depois renunciou ao mandato para assumir a prefeitura de Aracaju, durante o governo de José Rollemberg Leite (1947-1951).

Em outubro de 1950, elegeu-se suplente de deputado federal por Sergipe na legenda do PSD. Assumiu uma cadeira na Câmara em abril de 1954, com a morte de Antônio Manuel de Carvalho Neto, nela permanecendo até o final da legislatura (31/1/1955). Abandonando a vida pública, passou a dedicar-se a atividades intelectuais e à maçonaria.

Marcos Ferreira foi ainda membro e vice-presidente da Academia Sergipana de Letras, presidente da Associação Sergipana de Imprensa, do Instituto Histórico e Geográfico Sergipano e do Conselho Regional de Farmácia, secretário-geral de cultura artística e executivo da Caixa Econômica Federal de seu estado.

Faleceu em Sergipe, no dia 1º de dezembro de 1983.

Era casado com Olga de Sá Ferreira, com quem teve três filhos.

FONTES: CÂM. DEP. Deputados; CISNEIROS, A. Parlamentares; INF. Cordélia de Sá Ferreira e Luís Antônio Barreto.

Texto reproduzido do site: fgv.br/cpdoc/acervo

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Publicado originalmente no site do Jornal da Cidade, em 08/04/2016.

Maçonaria alça voo na cultura sergipana.
Por: Clarêncio Martins Fontes

Nossa abordagem, sob o título acima, nasceu como decorrência da leitura que fiz do Discurso do escritor Cleiber Vieira Silva, quando de sua posse na Cadeira nº 29, da Academia Maçônica Sergipana de Artes, Ciências e Letras, acontecimento que se deu em 18 de dezembro do transato 2015, em Aracaju.

Conheci muito de perto o Patrono do Fundador empossado nessa Cadeira, o intelectual, farmacêutico, e homem público, Dr. Marcos Ferreira de Jesus, que foi prefeito, inclusive, de Simão Dias, município que leva o nome do maior criador e latifundiário que Sergipe já teve, na sua História D’antanho, e que antes de emprestar o seu nome àquelas terras próximas à velha Bahia, antes daquele solo ser reconhecido como reduto de expressiva criação de bodes e cabras, antes da povoação passar à vila, e depois cidade, o heróico e indômito desbravador Simão Dias já se impusera como senhor de uma área avultada pela dimensão territorial, pela vegetação nativa, aproximando-se essa ambição de posse, quem sabe, com a possessão impressionante de Dias D’ Ávila na Bahia, conquistador que hoje empresta o seu nome a um município próximo à Salvador, e cujos domínios chegavam a incluir terras sergipanas, depois cobiçadas, e tomadas pelo vizinho Estado...

Marcos Ferreira de Jesus foi um protótipo, um emblema, uma bandeira desfraldada da nossa Maçonaria, e hoje aí está, em reconhecimento à sua indelével memória, à Loja Maçônica que leva o seu nome, aliás uma das mais novas, na ordem institucional do cadinho lojístico dessa Fraternidade Esotérica e Exotérica, espalhada por todo o mundo. Essa Maçonaria que é uma Sociedade secreta de origem remota, cujos membros, que professam o princípio de igualdade e fraternidade, se dão a conhecer entre os sinais esotéricos emblemáticos, ou petrechos do pedreiro (esquadro, compasso, fio de prumo) e divide-se em grupos regionais. Sua fração moderna – franco-maçonaria – parece ter se delineado na Inglaterra nos fins do século 18. Exerceu grande influência no espírito da Revolução Francesa, cujo lema Liberdade, Igualdade, Fraternidade - é de inspiração maçônica. No século 19, a maçonaria deixou-se influenciar pelas ideias republicanas e racionalistas.

A ideia de fundação, em Aracaju, de uma Academia Maçônica que iça voo ao cenário artístico, científico e literário da nossa grei erudita, cultural, intelectual, foi, é, e será, a preservação de Instituição voltada para o Saber e para o predomínio espiritual do homem. É a existência doutra instituição, no seio de uma Instituição mãe! E logo de sopetão, transcrevemos aqui, o que enfático, disse o empossando Cleiber Vieira, atual presidente da Associação Sergipana de Imprensa: “...quero começar dizendo que, comunicar ideias, transmitir crenças e experiências por meio de palavras, é o papel principal de quem adentra para uma Academia que nada mais é que uma escola de intelectuais. No nosso caso, de intelectualidade maçônica. A Academia original, ou primeira, foi uma escola fundada em 387 a.C., próxima à Atenas, pelo filosofo Platão. Confirmamos assim que a Academia é realmente uma escola, e que fora fundada na Grécia Antiga, num jardim chamado “Jardim da Academia”. Mas qual a origem dessa palavra? Academia vem de Academos ou Academus, herói grego e mítico da Ática. E Platão, ao fundar a sua Escola, denominou-a “Jardim de Academus” numa homenagem a esse herói...”

Quem leu o breve opúsculo que traz no seu bojo o primoroso Discurso de Cleiber Vieira, logo depreende que foi um reconhecimento tácito e justo conduzi-lo ao cenário acadêmico-maçônico sergipano num elo de ligação às Artes, Ciências e Letras. Pois Cleiber, além de ser um dos grandes valores da Cultura do nosso Estado, possui méritos suficientes para esse ingresso, autor de livros com qualidade relevante e além de incansável perquiridor das searas referidas, erudito, ele já é dono de um cabedal prestigioso de trabalhos ao sabor do bom uso que faz da ferramenta da palavra, e sob a égide da pesquisa e do estudo refletido e visão acurada...

É verdade que ele faz bom uso dos recursos literários das citações, eclético ao beber o licor deleitoso de conceitos e reflexões da sabedoria dos mestres, dos clássicos da linguagem, como ventura suprema, e de magnânimos cultores da Ciência do Conhecimento. Cleiber é um intelectual devotado ao desbravamento de saberes, mas não perde, em nenhum momento, os seus laços, os seus vínculos, com o mais fino Espiritualismo, como o ocultismo, o esoterismo, e as ideias inspiradoras de autores que ficaram na imortalidade, da memória da posteridade, e cujos nomes estão simbolicamente gravados com estilete de ouro, na vida racional, paradigmática e prenhe de virtudes éticas e espelhantes da humanidade hodierna, herdeira de toda uma cordilheira de ideias e princípios salutares que levam ao aprimoramento existencial...

Para conhecimento do universo de leitores, citamos aqui os demais nomes de empossados na bemvinda Academia Maçônica de Artes, Ciências e Letras: Alexandre de Albuquerque Franco, Breno Melo de Aguiar, Daniel Gomes da Costa, Domingos Pascoal de Melo, Flávio Protázio Vasconcelos, Francisco Bezerra de Lima, Jilvan Pinheiro Monteiro, José Garcez Góes, José Lauro de Oliveira Filho, Marcelo Faria Lima, Marcos Aurélio de Andrade Silveira, Osvaldo Novaes, Valdir Feitosa Nunes, Valtênio Paes de Oliveira.

O surgimento de uma instituição acadêmico-maçônica voltada para o construtivismo e maior valorização da cultura sergipana, veio preencher uma lacuna das mais nobres na existência filosófica e fundamental da existência e das virtudes cívico-criativas não só da nossa intelectualidade, mas também de toda gente sergipana, não deixando de migrar os seus projetos e iniciativas para além-fronteiras do Estado, e quiçá chegando esses ecos às redes sociais e focos grupais da Inteligência de outras nações próximas, ou inter-continentais...

Texto reproduzido no site: jornaldacidade.net/artigos

Os Garcia Moreno de Sergipe – Uma saga a perquirir V

 Monsenhor João Batista de Carvalho Daltro em sua maturidade.

 Marcos Ferreira de Jesus, Garcia Moreno e Zózimo Lima.

O intelectual e jornalista João Oliva Alves, grande memorialista sergipano.

Publicado originalmente no site do Portal Infonet, em 24/01/2011.

Os Garcia Moreno de Sergipe – Uma saga a perquirir V.
Por Odilon Cabral Machado.

A crônica, leve e engraçada, surgiu dos comentários acontecidos numa conversa informal entre Moreno, Zózimo Lima e Marcos Ferreira de Jesus, “um milionário” das anedotas e casos atribuídos ao velho Monsenhor.

I. O Vigário na Doce Província.

No livro “Doce Província” (1960), Livraria Regina Aracaju - SE, o Médico e Psiquiatra João Batista Peres Garcia Moreno, o neto mais famoso do Padre João Batista de Carvalho Daltro, manifesta na crônica “O Vigário”, grande vontade de conhecer maiores detalhes da vida de seu avô.
Pelo que parece, o texto “O Vigário” surgiu em data bem posterior à inauguração do monumento homenagem ao Monsenhor João Batista de Carvalho Daltro, erigido na cidade do Lagarto em sete de setembro de 1947, solenidade em que Moreno presenciou como um dos seus oradores, oração que não foi inserido no seu livro de discursos “Letras Vencidas” (1955), restando, por certo, inédito ou perdido.
Talvez, por uma questão de recolhimento, receio de mergulhar em águas muito pessoais e túrbidas, Moreno evitou adentrar neste terreno íntimo e bastante sentimental, preferindo que outrem o fizesse, sem paixões, norteado por melhor imparcialidade científica e testemunhal.
É ele quem afirma “seria um grande livro a existência romanceada do Monsenhor com suas virtudes e seus pecados, desenrolada em largo trecho da história lagartense”.

II. O texto de Garcia Moreno.

O Vigário.

A figura do Monsenhor João Batista de Carvalho Daltro está pedindo um biógrafo, que reconstrua, aos olhos da atualidade sergipana, os seus traços mais representativos e as suas cores mais verdadeiras. O esboço biográfico, pintado em conferência por Gervásio Prata, reclama ampliação que o ilustre jurista poderia e deveria fazer, com indiscutível autoridade e elegância estilística, sob a inspiração da paisagem do retiro encantador da serra da Miaba. Meu pai encheu os seus últimos dias de vida, pesquisando sobre o velho vigário do Lagarto, redigindo páginas incompletas de uma biografia, que encontro nos papéis que me tocaram por herança. Seria um grande livro a existência romanceada do Monsenhor com suas virtudes e seus pecados, desenrolada em largo trecho da história lagartense. Enquanto não chega a retratação fiel da grande figura humana, as deformações fatais das estórias gizam os traços caricaturais, na boca do povo, de um perfil rústico em que a verdade e a lenda se condensam na mais típica aliança sincrética.
O zelo pelos rigores litúrgicos, a franqueza do sacerdote, a intuição do destino agrário de Lagarto que se atribui ao vigário, continuam a circular, mais de 50 anos transcorridos de sua morte, no bojo das anedotas. Marcos Ferreira é um milionário delas. Ontem, numa pequena roda do Instituto Histórico, em que Zózimo Lima nos serviu uma saborosa amostra oral das memórias que está escrevendo, Marcos nos deu, com a mesma parcimônia como empresta o dinheiro da Caixa Econômica, algumas moedas das que se forma a riqueza anedótica da vida do “Padre DATA”.
Casamento.
O cortejo vem de longe. Noivos, padrinhos e convidados penetram na igreja, na hora aprazada. O padre se encontra no altar. A cerimônia começa. Os nubentes, mais do que a repisada afinidade eletiva goeteana, têm uma verdadeira afinidade química. Quando Monsenhor lhes indaga a respeito do clássico “leva gosto”, a noiva tabaroa quer ser fiel aos seus sentimentos e traduzir, da melhor maneira, suas apetência pelo tabaréu com quem está se casando. Para responder e exprimir a plenitude do consentimento, procura, no vocabulário pitoresco de sua linguagem, uma voz que nasça do fundo de sua biologia.
- Deseja casar com Fulano?
- Tou miando, seu Vigário!
Padre Data levanta a sobrancelha e pigarreia. Dirige-se ao noivo, que também vai responder mais com uma imagem do que com palavras.
- É de sua vontade casar com Fulana?
- Tou aos botes, seu Vigário!
- Pois não caso, explodiu o Monsenhor. Como posso casar gato com cobra?
Passou-se um mês. – Os noivos melhoraram a linguagem, quiseram e voltaram. Casaram. Viveram longos anos e deram às malhadas de Lagarto muitos braços.
Confissão.
O Vigário já andava perto dos oitenta. Cansado, com as deficiências da arteriosclerose generalizada. Deu para cochilar no confessionário, em meio às indagações dos pecados das almas. Muitos pecadores percebiam, no silêncio inesperado do padre, uma traição do sono invencível e se afastavam, sem barulho, com a alma mal lavada. Vendo a retirada, outra ovelha ia ajoelhar-se aos pés do pastor e abria o coração. Um dia, mal uma beata começou a contar o pecado pouco asseado do furto de um tacho, o vigário adormeceu. A mulher deixou o confessionário. A imediata chega barulhenta e desperta o confessor. Inicia o debulhamento de faltas, totalmente desligadas do furto. Monsenhor, sem perceber que era outra a paroquiana, indaga:
- Mas como foi o furto?
- Que furto, seu Vigário?
O confessor encara a mulher e verifica o engano. Sai do confessionário e grita para a velha que lesara a propriedade do próximo, já à porta da matriz:
- Ô senhora que furtou o tacho, Volte! Venha contar o resto.
O apelo já era a penitência. Publicamente.

III. O contexto e a circunstância de “O Vigário”.

O texto de Garcia Moreno, pela leveza e humor, procura contar algo que bem se encaixaria no cotidiano de um Cura de aldeia, tentando apaziguar as almas, elevando-as para o enaltecimento do ser, evitando em luta renhida, a bestialização do existir e conviver.
A crônica, leve e engraçada, surgiu dos comentários acontecidos numa conversa informal entre Moreno, Zózimo Lima e Marcos Ferreira de Jesus, “um milionário” das anedotas e casos atribuídos ao velho Monsenhor.

IV. Um pouco de Zózimo Lima.

De Zózimo Lima (1889-1974), o inigualável cronista de “Variações em Fá Sustenido”, neto do Padre Francisco José da Silva Porto, há muitos escritos dispersos, inclusive abordando temas de erros e virtudes de alguns reverendos daqui e de fora.
Nada encontrei, porém, quanto ao Monsenhor Daltro do Lagarto, no livro “Variações em Fá Sustenido”, coletânea coligida por Zózimo Lima Filho em 2002 dos escritos de seu pai.
Segundo o relato acima de Moreno, Zózimo estava preparando um livro de Memórias que muito seria bem vindo hoje se viesse a lume, bem como outras “Variações” que não foram incluídas no livro homônimo publicado.

V. Outro tanto de Marcos Ferreira de Jesus.

Quanto a Marcos Ferreira de Jesus (1893-1983), o “milionário” de anedotas do velho Padre, este por certo as conhecia de comentário e folclore.
Marcos, embora fosse natural de Simão Dias, convivera pouco ou quase nada com o Padre Daltro. Era muito jovem ainda e já Daltro era vigário no Lagarto.
E Marcos, que se destacaria como Político, Administrador e Maçom, era ainda um pré-adolescente, quando em 1905, com doze anos apenas, foi residir no estado do Amazonas, acompanhando o Padre Filadelfo Macedo, seu companheiro de viagem pelo Solimões, só retornando a Sergipe em 1918, oito anos após o falecimento do velho Monsenhor.
De Marcos Ferreira, uma memória realçada pelos que o conheceram, nenhum escrito restou. Quanto a Zózimo Lima, muita coisa ainda merecia a publicação. E neste particular o poder público deveria estimular e promover, um bom serviço à nossa história.

VI. A sempre difícil missão do Padre.

A despeito do tônus anedótico do texto de Garcia Moreno vê-se quanto é exaustiva a ação sacerdotal e profética de um Vigário; repelir a atração pelo vulgo e sua desorganização entrópica, evitar a atração pelo sensorial do bruto e sua irracionalidade. Eis tarefa assaz difícil tanto de educadores quanto de sacerdotes, e do agricultor em sua luta para desbastar o joio, o fungo e a praga, inimigas eternas do bom plantio.
Mas, a despeito dos atuais tempos joios de indiferença em termos de procedimento e crença, o texto do Padre Daltro, “Missão no Riachão”, publicado no Jornal Correio Sergipense de sete de janeiro de 1864, revela quão notável fora o ministério da Igreja no processo de formação da nossa atual cidadania, que finge tudo esquecer e jamais recapitular ou perquirir o passado, como se o hoje, enquanto atual, tivesse surgido por geração espontânea de efeito sem causa.

VII. O resgate histórico de João Oliva Alves, memória viva sergipana.

Este texto “Missão no Riachão”, referido por Armindo Guaraná no seu, monumental e jamais imitado, Dicionário Biobliográfico Sergipano, foi-me agora resgatado pelo Jornalista, Memorialista e Escritor, João Oliva Alves, um grande filho de Riachão do Dantas, membro da nossa Academia Sergipana de Letras.
João Oliva é autor do livro “Sobretudo a Imprensa” e de uma inumerável, por abundante e copiosa quantidade de escritos espalhados.
Dispersos no tempo e no espaço, os textos de Oliva foram e estão jogados às mancheias, por décadas, na imprensa pátria, seja no anonimato editorial, seja em coluna assinada, seja ainda em programas radiofônicos em pseudônimos variados.
Textos semeados ao léu e ao vento como assim devem ser aos de boa palavra, lançando-as a todos os terrenos, férteis, áridos, desérticos ou indiferentes, desafiando-lhes a germinação e o eco, o desenvolvimento e o fruto, tudo sem visar retornos e encômios.
Igual a este escrito do Padre Daltro, uma preciosidade guardada por João Oliva, e que agora é resgatado, quando tantos a ele se referiam, sem conhecê-lo, por longínquo e inacessível.
E o texto, por seu caráter testemunhal, constitui uma profissão de fé de um Sacerdote Cura em sua pequena Freguezia do Riachão, realçando a importância das suas escolhas, enquanto homem e ministro do altar; um chamado à conversão ainda agora, por testificadora e edificante.

Texto e imagens reproduzidos do site: infonet.com.br/blogs/odilonmachado

Lina Sousa festeja 60 anos de carreira com show no museu

Lina Sousa: show autoral.
Foto: Alberto Reina/Assessoria do evento.

Publicado originalmente no site do Portal Infonet, em 25/01/2017.

Lina Sousa festeja 60 anos de carreira com show no museu.

Show completamente autoral acontecerá nesta sexta-feira.

Nesta sexta-feira, 27 de janeiro, a cantora e compositora sergipana Lina Sousa comemora seus 60 anos de carreira no Café da Gente, a partir das 20h, pela primeira vez em um show completamente autoral. Acompanhada dos músicos Denisson Cleber, Diego Lima e Rafael Júnior, Lina apresenta ao público, além das suas composições, seus alunos Rebecca Melo, Lygia Carvalho, Sullyvan Pirajaí, Miriane Mangata, Sergio Lopes e a Banda Bossa & Tal.

Intitulado 'Lina Sousa em outros tons', o show celebra a trajetória marcante da artista, que iniciou sua carreira musical ainda aos sete anos. Cantando ao lado das irmãs Adi, Bel e Dina, integrou o grupo musical As Moendas, que teve ascensão nacional nas décadas de 1970 e 1980, e impulsionou a música sergipana para além dos seus limites territoriais. Durante muito tempo, o grupo fez shows com Vinícius de Morais e Toquinho em turnês pelo Brasil, gravando com eles os discos '10 anos de Toquinho e Vinicius' e 'Um pouco de Ilusão', ao lado de Tom Jobim e Chico Buarque; além da faixa 'Cio da Terra' de Milton Nascimento.

Na Europa, e especialmente na Itália, as sergipanas participaram de programas musicais em TVs como a RAI e Canale 5. Foi também quando Lina gravou e dirigiu o primeiro CD junto ao grupo As Moendas, 'Brasil Brasileiro', lançado com exclusividade na Itália, onde morou nos anos 1990, realizando trabalhos ao lado de músicos consagrados, e em temporadas diversas ao lado das irmãs Adi e Bel também pela França e Suíça. Desde que voltou ao Brasil, Lina vem contribuindo com a produção cultural sergipana, e hoje, é Licenciada em Música pela Universidade Federal de Sergipe, sendo professora de música, violão, canto popular e teclado.

Segundo ela, foi essa veia educacional acrescida mais fortemente à sua produção musical nos últimos anos que motivou o convite aos seus alunos para que a ela se juntassem em um show tão significativo na sua carreira. "Hoje eu não consigo mais me imaginar completa sem os meus alunos. Sou muito feliz por poder compartilhar aquilo que acumulei de técnica e conhecimento ao longo da minha trajetória e, com isso, poder contribuir com a formação de novos artistas para a nossa cena", conta Lina - que também apresenta o programa Compasso Brasil, na Aperipe FM.

O repertório do show abarca um apanhado das suas principais composições – muitas delas apenas presentes no CD 'O jeito da Volta', gravado em 2011 por ela e sua irmã Adi, numa versão duo do grupo As Moendas. Lançado em 2013 na Itália, o CD ainda não teve distribuição no Brasil. "Achei que era a hora de mostrar algumas músicas que nunca apresentei ao público, compostas com parceiros, a exemplo de Tânia Mariaque. Tenho certeza, será uma noite memorável e muito emocionante para mim", conclui.

"Lina Sousa em outros tons" tem o apoio cultural da Secretaria de Estado da Cultura (Secult) e da Fundação Aperipe, e acontecerá no Café da Gente, que funciona em anexo ao Museu da Gente Sergipana, localizado na Av. Ivo do Prado, 398. O acesso custará R$20.

Fonte: Assessoria do evento.

Texto e imagem reproduzidos do site: infonet.com.br/noticias/cultura

sábado, 28 de janeiro de 2017

Aracaju, mais um ano de vida e sobrevida

 Inauguração Jardim Olímpio Campos na década de 1910.

 Foto recente da Praça Fausto Cardoso no centro comercial de Aracaju, 
núcleo inicial da cidade, o antigo Plano de Pirro.

 Vista aérea de Aracaju na década de 1920, 
onde é possível observar o Plano de Pirro.

 Processo de verticalização nas áreas que margeiam o Rio Sergipe, 
onde na foto, é possível observar inclusive seu encontro
 com o mar Av. Beira Mar,  que na realidade beira o rio, 
e Bairro Jardins são as zonas mais nobres, de solo mais caro.

 Av. Beira Mar, que na realidade beira o rio, 
e Bairro Jardins são as zonas mais nobres, 
de solo mais caro e com grande adensamento da cidade.

O Rio Poxim corta a cidade de Aracaju,  na foto, 
observa-se uma grande área de preservação do manguezal 
e imensos vazios urbanos decorrentes 
das antigas políticas de urbanização da cidade.

Aracaju SE Brasilano 08, out. 2007.

Aracaju, mais um ano de vida e sobrevida.
Por Maíra Campos.

Aracaju completou mais um ano oficial de vida em 17 de março. Uma cidade de contrastes desde a sua fundação, onde temos: de um lado prédios altos e verticalidade, do outro a horizontalidade; de um lado barracos, do outro a estrutura sólida; de um lado avenidas cruzam e ligam ao restante da cidade, do outro as ruas são esburacadas e de barro, quem dirá ter avenidas ligando à cidade...

Num resgate histórico, é possível observar que a paisagem urbana da cidade já se configurava com muitos contrastes desde a sua fundação, em 1855. A passagem de tantos anos apenas reforçou os contrastes e distanciou mais a realidade de quem vive na cidade e de quem vive na periferia.

Foi Inácio Joaquim Barbosa quem escolheu o então Povoado de Santo Antônio do Aracaju para ser a nova sede da Província de Sergipe del´Rey, vindo a substituir São Cristóvão. A transferência da capital produzia condições mais favoráveis para o funcionamento de um bom porto e assim tornar fácil o escoamento dos produtos. As águas do Rio Sergipe, mais profundas e de longo estuário, tornavam a navegação mais fácil e segura, pois a região do Cotinguiba, amplo recôncavo produtor de cana-de-açúcar, necessitava de um bom porto.

A capital foi transferida em 1855. Os motivos que levaram à escolha de Aracaju como nova sede foram encabeçados por diversos fatores, mas o preponderante foi sua situação geográfica, próxima à foz do rio Vaza-Barris, enquanto São Cristóvão possuía difícil acesso até para as embarcações de pequeno porte.

Para a fundação da nova cidade, Inácio Barbosa encarregou o Eng. Sebastião José Basílio Pirro de planejá-la de forma a representar o “espírito progressista da época”. O “Plano de Pirro”, como ficou conhecido o projeto urbanístico de Aracaju, resumia-se a um traçado em xadrez, extremamente geometrizado, o que facilitaria a demarcação das ruas, atitude justificada pela pressa em se tornar Aracaju uma realidade, pois existia ainda o perigo de a mudança de capital não ser aprovada pela Corte.

Mesmo existindo o quadrado de Pirro (32 quadras de 110mx110m cada uma), ocorreu outra expansão paralela, originada pela falta de recursos da população pobre para atender às exigências do Código de Posturas Municipal, o qual determinava: o alinhamento dado pelos Fiscais da Câmara estabelecia o pé-direito mínimo, dimensões para esquadrias, mandava caiar as frentes das casas duas vezes por ano e vedava a cobertura de palha. Fazia-se apenas questão das fachadas. Logo, a população pobre começou a construir casebres no lado norte da cidade.

A partir de 1862, com a criação da Praça da Matriz e o lançamento da pedra fundamental da Igreja Nossa Senhora da Conceição (atual Catedral Metropolitana de Aracaju), a cidade começou a crescer rumo ao oeste. Logo o entorno da igreja foi demarcado por construções de edifícios públicos e residenciais.

Nascendo a cidade não de forma espontânea, mas de uma vontade política, competia ao Governo Provincial criar condições para sua existência. Por isso, durante os primeiros vinte anos o poder público teve uma atuação decisiva no desenvolvimento da cidade. Preocupava-se com a abertura de ruas, problemas de aterros, incentivava e financiava construções de casas sem exigir dos proprietários, no primeiro ano de fundação da cidade, o cumprimento das leis do código de posturas.

Após 1870, o crescimento da cidade é quase paralisado porque ficou à mercê da iniciativa privada. E é fora do Plano de Pirro que a cidade continua a crescer intensamente, abrigando os negros recém-libertos e outros grupos de baixa renda. Aglomerações caracterizadas como verdadeiras “cidades livres”, onde a população não era absorvida pelo mercado de trabalho da cidade, fulminando nos primeiros problemas urbanos. Enquanto isso, no centro comercial da cidade está localizada a nova burguesia. Tal confronto evidencia que nessa época já se constituía uma estrutura espacial estratificada em termos de classe social e segregação urbana.

A partir de 1910, com a Lei nº 168 de 2 de julho de 1914 para embelezamento das praças, começou a se investir mais em arborização, calçamento, etc. Então surge o jardim Olympio Campos. Dá-se o primeiro embelezamento de espaço público, com uso de vegetação na composição urbana da cidade. Porém o mais marcante é a instalação de um coreto de ferro, o primeiro existente num espaço público da cidade, representando a projeção da cidade européia da segunda metade do século XIX. E, a exemplo da maior parte das capitais brasileiras, Aracaju importou o coreto europeu.

Para acompanhar as tendências urbanísticas da época, o jardim é contornado por um gradil de ferro, com acesso controlado por um jardineiro que ficava com as chaves dos portões. Ao público era determinado um horário de acesso e, através do regulamento nº 12 de 10 de outubro de 1911, ficou determinado que o ingresso somente fosse permitido para aquele decentemente vestido. O contraponto do Jardim é a Praça da Matriz, que tem toda a área livre e aberta às manifestações populares. A praça é palco dos folguedos populares nas tradicionais festas de Natal que acontecem ali desde épocas remotas, possivelmente quando implantam o carrossel em 1900. O local começa a ser ocupado por uma classe mais abastada da sociedade e bancos privados também se instalam ali.

Orgulhava-se o Governo por ter obtido a beleza tão almejada para os espaços públicos e ainda ter conseguido servir a cidade de estrutura urbana, registrando ainda a passagem do famoso Eng. Saturnino de Brito: “todas as ruas são corretamente calçadas a paralelepípedos e fartamente iluminadas, sendo algumas já arborizadas. Possui lindas avenidas e atraentes jardins e parques, onde dizem os visitantes ser a arborização mais bem cuidada do Brasil! Existem para quase todos os bairros bondes elétricos, lotações e ônibus. As construções obedecem as mais belas e harmoniosas linhas da engenharia contemporânea. É regular sua rede de telefones, possuindo água encanada limpa e esgotos que foram reconstruídos pelo Eng. Saturnino de Brito” (Cadastro de Sergipe, nº 4, ano 1953).

No entanto, as melhorias obtidas pela gestão municipal e estadual não chegavam às zonas mais periféricas da cidade. Lá faltava todo tipo de infra-estrutura básica. Isso se devia ao fato de que ao redor da área ocupada pelo Plano de Pirro havia vários sítios e chácaras dos burgueses que residiam na cidade e, apenas após esse vazio urbano, estava a periferia, o que dificultava e encarecia a chegada de serviços como iluminação e saneamento.

Como maior centro urbano do Estado, Aracaju será portadora dos grandes males encontrados nas cidades industrializadas do século XIX, em conseqüência do rápido crescimento populacional imprimido pela Revolução Industrial. Determinados tipos de problemas urbanos, como ruas estreitas para circulação e falta de espaço para lazer, não aconteceram dentro do Plano de Pirro, mas sim fora de seu limite.

Na década de 1970, inicia-se o processo de metropolização de Aracaju impulsionado por políticas públicas. O período foi marcado pela presença de migrantes motivados pelo início da exploração de recursos minerais sergipanos, pela transferência da sede da Região Nordeste de Maceió para Aracaju, pela criação da Universidade Federal de Sergipe, pela implantação do Distrito Industrial de Aracaju e pela política habitacional desenvolvida pela COHAB – Companhia de Habitação Popular em Sergipe.

Foi a COHAB-SE que em trinta anos financiou mais de 15.000 unidades habitacionais para as classes menos favorecidas. Na década de 1980 foram construídas 62,65% dessas unidades, fase em que se construíam conjuntos com mais de 1.000 unidades. Já o INOCOOP – Instituto Nacional de Cooperativas Habitacionais construiu cerca de 6.000 unidades habitacionais destinadas à população de classe média.

Como a COHAB construiu seus conjuntos habitacionais distantes da malha urbana consolidada, tal procedimento exigia uma ampliação dos serviços de infra-estrutura, valorizando ainda mais os espaços vazios localizados entre a malha e as novas áreas ocupadas. Com o solo valorizado, a especulação imobiliária se fortalece e, na década de 1970, surgem várias empresas imobiliárias e construtoras.

Por conta de sua própria política habitacional, valorizou-se o solo urbano e atiçou-se o interesse dos grandes empreendedores da construção civil e do mercado imobiliário, que logo adquiriram os terrenos remanescentes. E, assim, a cidade começa a ser empurrada para áreas mais distantes, em terrenos nos municípios limítrofes, onde ficou estabelecido pela COHAB que a administração municipal seria a responsável pela manutenção dos mesmos, porém ocorria que somente após os planejamentos o Prefeito era convidado a assinar um termo de compromisso para a sua manutenção.

Em 1980 o processo de metropolização avança seus limites, invadindo os municípios limítrofes. Na década de 1980, Nossa Senhora do Socorro apresentou um crescimento em torno de 35%, São Cristóvão de 95% e Barra dos Coqueiros cresceu 60%. Semelhante ao processo de ocupação de outras capitais brasileiras, o aglomerado de Aracaju passou a possuir mais da metade da população urbana do Estado, com mais de 50% do total em 1991.

A partir da metade da década de 1970, Aracaju inicia um processo de verticalização que irá definir uma nova paisagem urbana. Esse processo começa na parte central da cidade, direcionando-se para o sul e ocupando as áreas dos antigos casarões. O processo de verticalização foi desenvolvido inicialmente através de empresas imobiliárias.

Essa verticalização que tende a se acentuar de forma concentrada em áreas da cidade vem causando problemas, uma vez que há descompasso entre o adensamento e o serviço de infra-estrutura disponível. Outro efeito é o comércio que começa a se desenvolver junto a esses aglomerados humanos, que dinamiza essas áreas e diminui suas relações de dependência com o centro comercial da cidade. Eis o “Jardins”, bairro mais recente e mais “nobre” da cidade, como exemplo.

sobre o autor

*Maíra Campos é Arquiteta e Urbanista, pós-graduanda em Reabilitação Ambiental Arquitetônica e Urbanística pela Universidade de Brasília – UNB e em Artes Visuais pela Universidade Federal de Sergipe – UFS.

Texto e imagens reproduzidos do site: vitruvius.com.br/revistas

quarta-feira, 25 de janeiro de 2017

Exposição ´Aracaju de Outrora´




Fotos: Sílvio Rocha

Publicado originalmente no site da PMA, em 28/03/2007.

Exposição ´Aracaju de Outrora´.

(...) A mostra revela Aracaju por meio de reproduções fotográficas de cartões postais do Centro da cidade. Assim, o público tem a oportunidade também de conhecer a evolução arquitetônica do município. ´Aracaju de Outrora´ está dividida em blocos. A primeira década do século XX representa a tímida formação urbanística e arquitetônica do local. A segunda década, quando a cidade se configura enquanto centro urbano e industrial significativo do Estado. A terceira década evidência o Centro Histórico alcançando o 'apogeu de modernidade'. E um bloco de retratos do Centro relativos à década de 1940, demonstrando que naqueles anos não houve grandes transformações. (...) O técnico de som, Jorge Roberto, avaliou como importantes informações a respeito do ontem e do hoje da cidade onde reside. Já o auxiliar técnico Jailton Cruz, descreveu como algo único e emocionante poder conhecer a cidade em que seus avós tiveram a chance de ver e viver. “É muito interessante para quem mora e visita a cidade poder ter a disposição um trabalho que se transforma em arte expondo nas fotos o que foi Aracaju. Nunca tinha visto nada do tipo e percebi como tudo era tão diferente antigamente”, explica Laiz Cristina. A fotógrafa e historiadora, Naide Barbosa, foi quem realizou o trabalho de pesquisa histórico-fotográfica (...).

Trechos de reportagem publicada no site: aracaju.se.gov.br

Fotos da Exposição Aracaju de Outrora

Imagem reproduzida do site: institutomarcelodeda.com.br

Exposição Aracaju de Outrora

Exposição Aracaju de Outrora.
São 20 totens com fotos de Aracaju da década de 1930.
Foto: divulgação.
Reproduzida do site: infonet.com.br/entretenimento

Aracaju, terra dos cajueiros e papagaios


Publicado originalmente no site Alô Sergipe, em 25/03/2016.

Aracaju, 17 de março de 1855

Há 161 anos (2016), era inaugurada a primeira cidade planejada, com sua, tão comentada, forma estruturada em um tabuleiro de xadrez. Nossa cidade veio crescendo, ano após ano, e completou mais uma primavera (...).

Terra tão amada por seus filhos legítimos, e pelos adotivos, Aracaju, mesmo ainda tão pequena, é enorme em sua gentileza, receptividade, belezas naturais e em sua imponência. E pensando nisso, a Biblioteca Epifânio Dória cedeu algumas imagens do seu acervo, para essa que é, uma das mais belas exposições que homenageiam nossa capital. "Aracaju de Outrora - Revivendo o Passado", nos traz alguns registros fotográficos de vários locais importantes, durante os anos 1930, para nos deleitarmos e descobrirmos como era a nossa pequena Aracaju, para entendermos como ela se apresenta, hoje em dia, aos nossos olhos.

Aracaju, terra dos cajueiros e papagaios, de belezas incríveis e, ao mesmo tempo, singelas e discretas, terra forte, que a cada novo ano, impõe-se em sua história, arquitetura, ornamentos e grandiosidade, nossa Aracaju, os sinceros parabéns de cada um dos seus filhos, que aqui vivem, viveram e desejam retornar. Vida longa a ti, Aracaju!

A exposição "Aracaju de Outrora: Revivendo o Passado" é resultado da junção entre a Secretaria do Estado da Cultura, a Biblioteca Epifânio Dória e o Museu Palácio Olímpio Campos (...).

Redação Alô Sergipe.

Fonte: Equipe Alô Sergipe.

Trechos e reportagem reproduzidos do site: alosergipe.com.br

Aracaju de Ontem

 Parque Teófilo Dantas, no centro da cidade de Aracaju.

Praça Fausto Cardoso, em Aracaju.
Imagens de arquivo: @sj_bruno
Reproduzidas do site: imgrum.net/media

segunda-feira, 23 de janeiro de 2017

XVI Festival de Artes Arthur Bispo do Rosário, em Japaratuba

Foto: divulgação.

Publicado originalmente no site do Portal Infonet, em 19/01/2017.

Apresentações do Festival de Artes encantam público
Público lotou as escadarias da Igreja Matriz de Japaratuba

A terceira noite do XVI Festival de Artes Arthur Bispo do Rosário foi marcada pelo grande público que lotou a escadaria da Igreja Matriz de Nossa Senhora da Saúde, em Japaratuba. Nesta terça-feira, dia 17, turistas e japaratubenses puderam prestigiar, em cada apresentação cultural, diversas manifestações tradicionais do município que fica localizado a 54km de Aracaju. O evento é organizado pela Prefeitura Municipal, através da Secretaria Municipal de Cultura, Turismo e Eventos.

A edição de 2016 [que segue até o próximo sábado, dia 21] conta com uma programação vasta, incluindo grupos de dança, teatro e folclóricos -- além de shows musicais que atraem centenas de pessoas por dia. Higor Hernandes é natural da cidade, mas, há muitos anos, mora fora do País. Porém, basta o mês de janeiro chegar, que ele vem à cidade natal para rever a família e participar do Festival. “Eu venho justamente nessa época porque amo nossa tradição e faço questão de valorizar aquilo que vem de minha terra”, destacou.

E o amor pela cultura local é tanto que, este ano, o japaratubense trouxe alguns amigos para conhecer a festividade. Um deles é o produtor de eventos Fábio Domingos, de São Paulo. “É a primeira vez que venho ao Festival e adorei. Amo tudo que é relacionado à cultura, sobretudo, àquelas que são ligadas às tradições do povo”, disse.

Feira de Artesanato

Para o XVI Festival, a Secretaria Municipal de Cultura, Turismo e Eventos, montou uma estrutura para receber os turistas. São barraquinhas ornamentadas onde são vendidos produtos variados, no qual, quase tudo é feito por japaratubenses. Magnólia Góis, responsável pelo setor, conta que a ideia da feira é valorizar o artesão local e mostrar aos visitantes as produções da terra.

“Temos barracas de comidas e bebidas típicas, bordado, renda irlandesa, materiais em tricô e crochê, e obras em cerâmica. O material comercializado aqui é, em sua maioria, produzido por nossa gente e o lucro é do próprio artesão. Dessa forma, divulgamos artesanato da cidade e valorizamos os nossos produtores”, explica.

Fonte: Prefeitura de Japaratuba.

Texto e imagem reproduzidos do site: infonet.com.br/noticias/cultura

domingo, 22 de janeiro de 2017

Silvério Fontes: o defensor dos direitos humanos

Foto reproduzida do site: silveriofontes.com.br
Postada por MTéSERGIPE, a fim de ilustrar o presente artigo.

Publicado originalmente no site de Osmário Santos, em 15/12/2005.

Silvério Fontes: o defensor dos direitos humanos.
Por Osmário Santos.

Sergipe perdeu um dos seus ilustres intelectuais e, pelo seu valor na história cultural do Estado, republicamos o relato de sua vida em matéria do dia 12/06/1992.

José Silvério Leite Fontes nasceu a 6 de abril de 1924, na cidade de Aracaju (SE). Seus pais: Silvério da Silveira Fontes e Iracema Leite Fontes.

O pai era um homem modesto, moderado e cumpridor das obrigações. "Um exemplo de pessoas humana".

Conta que sua mãe era bastante compreensiva, dedicada aos filhos e passou a todos eles belos exemplos, principalmente, o de fé cristã.

Na casa da rua Itabaianinha, brincando com os meninos da vizinhança, passou seu período de infância e chegou a ir, em períodos de férias escolares, até a cidade de Salgado, cidade escolhida pelos pais para aproveitar o tempo de veraneio. "Foram momentos inesquecíveis, pois conseguia um espaço com maior liberdade para gastar minhas energias e me envolver com a meninada em mil brincadeiras".

Em Salgado, era comum uso de tamancos pelos veranistas que tomavam conta da cidade. Porém, Silvério deixou os tamancos de lado e não largou a sua inseparável sandália. "Ainda hoje uso".

Antes de entrar no colégio, primeiramente passou por um tempo de aprendizagem em casa, recebendo as primeiras lições de sua avó materna, que residia com seus pais.

Numa escola particular, localizada à rua José do Prado Franco, já nas imediações do Mercado Antônio Franco, passou a ter um relacionamento maior com os livros.

Foi sargento

Matriculado no Colégio Tobias Barreto, do professor Zezinho Cardoso, entrou com muita disposição para prosseguir o curso primário. Gostou do Tobias Barreto e lá estudou até o fim do curso ginasial. Um colégio militarizado, que o menino Silvério convivia, mas confessou não ter entusiasmo pelo regime: “porém, não reagia contra ele. Não era tão entusiasmado; tanto que só fui promovido no último ano do curso secundário a sargento"(risos).

Aluno de Artur Fontes, Abdias Bezerra, Garcia Moreno, Francisco Tavares Bragança e outros nomes de peso, foi beneficiado por uma geração de mestres que marcaram época na educação em Sergipe. Artur Fontes, na sua maneira eloqüente de transmitir seus conhecimentos de História, despertou em Silvério um interesse maior para esta disciplina.

No tempo em que estudou no Tobias, o relacionamento entre professores e alunos só existia em sala de aula e com muita distância. “A gente viva muito controlado. Quando havia um horário sem aula, ficavam os alunos sentados em determinado lugar, mas tinha um guarda tomando conta para ninguém conversar. Naturalmente, eles deixavam uma conversa moderada, mas, na verdade, lá estava o guarda. E o professor Zezinho era mestre na reguarda. Naturalmente, batia nos alunos indisciplinados. Naquele tempo, havia uma certa distância entre professor e aluno; porém, quando o professor chegava na sala de aula, todos, por hábito, se levantavam. Hoje em dia, quando chego para meus alunos na faculdade, quando entro e dou bom dia, um ou outro responde”.

Quando entrou no Atheneu, a fim de fazer o curso complementar, não sentiu grandes diferenças no ensino, pelo fato de encontrar os mesmos professores do Tobias. Só sentiu diferença na flexibilidade da disciplina, que era mais rígida somente em sala de aula.

Do Rex ao Guarani

Deixava as horas de folga dos estudos para ir ao cinema. Era um freqüentador assíduo das sessões vespertinas no Rex, Rio Branco e Guarani. “Pegava bang-bang, pegava tudo”.

Indo estudar em Salvador, passou por várias pensões. Na primeira, rua do Bispo, foi colega de Antônio Garcia e José Garcia. Chegou na Bahia no ano de 1941.

Foi despertado para o mundo da cultura quando estudou no Colégio da Bahia, já em preparativos para fazer vestibular na Faculdade de Direito. “Quando fazia o segundo ano pré-jurídico, estudei Sociologia e História da Filosofia, com o professor Hebert Parentes Fortes. Não foi somente pelo que ele me ensinou de filosofia e sociologia, mas pelo modo dele expor, porque a aula que dava era representada e tocada em todos os assuntos. De modo que, abriu para mim, o mundo da cultura”. Viveu na Bahia todo clima da Segunda Guerra e diz que nunca foi integralista. “Embora na faculdade, devido talvez à influência do professor Hebert Fortes, minhas idéias eram idéias fascistas. Coube ao professor Hebert, desfazer as dúvidas que eu tinha em matéria de religião. Primeira dúvida: não crer em Deus. Segunda, crer em Jesus Cristo, filho de Deus. Nesse período, passei a crer em Jesus e não tive mais problemas. Daí em diante, segui na mesma rota. Acho que o professor Hebert, contribuiu indiretamente para tirar minhas dúvidas, pois era uma pessoa muito tímida. Eu nunca falei com ele, porém na aula, respondia e pronto”.

No fascismo, sua empolgação era pelas idéias em favor do sistema autoritário. “Entendia que não havia ordem no mundo político e isso vinha das concepções liberais. Entendia que devia voltar ao regime autoritário. Muito depois é que descobri o valor da liberdade. Não pessoalmente assim, mas, contemplando os fatos, os acontecimentos da guerra, mesmo. Tinha idéias, por causa do tradicionalismo, do autoritarismo, que eram transmitidos pelos pensamentos católicos da época. Mudei de posição lendo as obras de Jacques Maritain e Alceu de Amoroso Lima.

Juventude Católica

Em Salvador, foi membro da Juventude Universitária Católica. “Participava de reuniões para estudar religião etc. Me lembro que, uma vez, Getúlio Vargas introduziu o divórcio no Brasil. Introduziu, só para permitir o divórcio de Lourival Fontes. Lourival se divorciou; dias depois, devido à pressão da Igreja, Getúlio revogou o divórcio. Então, nós fizemos uma campanha, mandamos imprimir folhetos, fomos distribuir até em entrada de cinema, etc”.

Em dezembro de 45, juntamente com Hélio Ribeiro, Antônio Fagundes, Luiz Rabelo Leite e padre Avelar Brandão, participou da formação de um grupo de jovens, em Aracaju, para trabalhar pela doutrina social da igreja. Foi esse grupo que formou o núcleo que colaborou com Hélio Ribeiro na Liga Eleitoral Católica, que teve um desempenho importante nas eleições de 1947, porque o candidato da UDN, que era Luiz Garcia, rejeitou o apoio da Liga, que exigiu dele, uma declaração de repulsa ao comunismo, já que o candidato era apoiado pelo Partido Comunista. Depois foi criada a Juventude Universitária Católica (JUC).

Pecado mortal

Quando o repórter perguntou da história da distribuição do manifesto do bispo, dizendo que, quem voltasse em Luiz Garcia, seria excomungado respondeu: “Excomungado não! Era considerado pecado mortal. Então, era uma ordem do bispo, para que todos votassem nos candidatos apoiados pelo Partido Comunista (PC). O PC, hoje, não é como naquela época. Hoje, até mudou de nome, não é? Ele era agressivo. Nós não dizíamos que ele era considerado o bicho-papão. O pessoal da burguesia era que dizia”.

Formou-se em bacharel em Direito no ano de 46, voltando para Aracaju, quando iniciou sua carreira no magistério. “Não advoguei logo; inscrevi-me na Ordem dos Advogados em 52 ou 53. Não tinha entusiasmo pela advocacia. Gostava era de ensinar”.

Primeiramente, seu contato com alunos foi na Escola de Comércio, quando ensinou Economia Política. A convite de José Rollemberg Leite, aceitou convite para ser professor interino na Escola Normal. Em 54, fez defesa de tese, sendo efetivado como professor de História do Brasil. Ensinou na Escola de Comércio, no Colégio Patrocínio São José. Em 59, defendeu tese no Atheneu, para ser professor de História Geral, quando tornou-se catedrático daquele colégio.

Assumiu o cargo de diretor técnico administrativo do Serviço Social Rural. Depois desse emprego, foi nomeado técnico de educação, quando, graças à interferência de Arnaldo Garcez com quem trabalhou como seu secretário particular durante os quatro anos do seu governo. “Naquela época, era eu quem administrava o palácio”.

Em 1962, ingressa na Escola Técnica Federal. Também participa da fundação da Faculdade de Filosofia. “Assinei a ata de fundação e passei a ensinar na faculdade. Isso foi entre 52 e 53. Em 55, passei a ensinar na Escola de Serviço Social e, no ano de 1957, na Faculdade de Direito. Ainda continua na ativa na Universidade Federal de Sergipe. “Gosto de continuar trabalhando, mas quando completar 70 anos, automaticamente serei forçado a deixar de ensinar na Universidade. Na UFS, fui chefe do Departamento de História e dei início ao Programa de Levantamento das Fontes Primárias da História de Sergipe, que foi uma abertura para os trabalhos de pesquisa que, hoje, os colegas da universidade vêm desenvolvendo”.

Partido Republicano

Filiou-se ao Partido Republicano (PR) e a escolha do partido deveu-se por ser mais pacífico do que o PSD na época. Do tempo em que participava da política, o fato mais marcante foi a reação popular à morte de Getúlio Vargas.

Sócio antigo do Instituto Histórico e Geográfico de Sergipe (IHGS), após a gestão de Epifânio Dória, num momento de crise do IHGS, participa da diretoria do instituto e convence a professora Thetis Nunes a aceitar à presidência do entidade cultural.

Na Ordem dos Advogados do Brasil, Secção Sergipe (OAB/SE), registra passagem na presidência e inaugura a sede da Ordem e marca época por envolver a OAB/SE nas diversas situações em que se fazia necessário a sua presença em defesa da causa da sua categoria e mais ainda às de interesse da comunidade.

Da sua luta para conseguir recursos para a compra da sede da OAB, conta um episódio interessante no momento em que foi falar com o governador da época. “Havia uma greve de professores e eles me pediram eu fosse falar com o governador João Alves para saber dele se me aceitava como mediador. Na verdade, quando fomos falar com ele, me esqueci do encargo que me tinha sido dado e, em vez de falar da proposta dos professores, falei com o governador sobre o problema da sede da OAB/SE.

Conta que, no seu tempo de presidente da Ordem dos Advogados, a OAB não era acomodada. “Lutamos muito pelos direitos humanos, mesmo com a sede da OAB instalada em prédio do governo. Todas as vezes que a polícia praticava abusos, a OAB se fazia presente em defesa do cidadão. Cheguei a receber ameaças indiretas de policiais. Mandavam recados para eu ficar quieto e que estava mexendo com algo perigoso, mas nada me intimidou”.

Com o apoio do Desembargador Luiz Rabelo Leite, muito trabalhou para a criação das varas da Justiça gratuita.

Família

Casou com Elze Silveira, em 5 de fevereiro de 1954. Lua de Mel no Rio de Janeiro, com viagem no avião da Real, que decolou do antigo aeroporto de Aracaju, no bairro Matadouro. Do casamento, sete filhos. Netos, diz que tem sete.

Um temido homem da esquerda na época do Golpe de 64. “Já é por causa das minhas posições na OAB, pois sempre lutei contra a ditadura militar e pela volta do regime democrático” .

Em 64, escapou por pouco da prisão e conta os motivos: “Fui diretor do Colégio Estadual de Sergipe (Atheneu), no governo de Sexias Dória, mas entreguei o cargo antes do Golpe de 64. Havia uma horrível situação do professorado. Salários abaixo do mínimo. Houve um movimento no meio dos professores. Na época, havia greve de professores em todo o Brasil e a gente participou do movimento grevista em Aracaju e já tínhamos participado de uma outra greve nacional no ano de 1955. Fui o presidente do comitê de greve. As greves que nós promovemos em Aracaju conseguiram adesão de todo o funcionalismo público do Estado. Foi isso que me pôs na mira dos militares. Fui depor por duas vezes. Não me prenderam por duas razões principais: tenho um irmão que era oficial do Exército em Aracaju. Só que ele era o chefe do presídio. Você acha que eles iam me prender para o meu irmão ser meu carcereiro?” (risos). A segunda razão, pela minha diabete, que já dura 42 anos”.

É membro da Academia Sergipana de Letras, na Cadeira Ivo do Prado. Durante alguns anos, colaborou na imprensa sergipana, tendo publicado constantes artigos nos jornais A Cruzada e Gazeta de Sergipe, de 55 a 64. Quando o Jornal de Sergipe pertenceu a José Carlos Teixeira, colaborou com alguns artigos. Publicou, em livros, três teses que defendeu e uma coletânea dos artigos publicados na imprensa sergipana.

Do atual contexto nacional, Silvério Fontes acha que o governo brasileiro, sob a pressão dos interesses capitalistas nacionais e internacionais, está correndo risco de uma dependência total das grandes economias: americana, européia e japonesa.

Texto reproduzido do site: osmario.com.br

Silvério Fontes e a esquerda católica

Imagem reproduzida do site: silveriofontes.com.br
Postada por MTéSERGIPE, a fim de ilustrar o presente artigo.

Publicado originalmente no Blog Primeira Mão, em 07/10/2012.

Silvério Fontes e a esquerda católica.

Por Afonso Nascimento*

Um dos professores de Direito da antiga Faculdade de Direito por quem sempre tive sempre grande admiração foi José Silvério Leite Fontes (1925-2005). Ele é natural de Aracaju e nessa mesma cidade morreu - tendo raízes na aristocracia rural de Riachão do Dantas. O seu pai era proprietário de uma salina pelos lados de Socorro, o que lhe dá, somente quanto a este aspecto, uma origem social no empresariado (médio?) sergipano.

Enquanto intelectual sergipano, Silvério Fontes se definia corretamente: era um polígrafo. Escreveu em muitas áreas e o fez sempre com grande competência e profundidade. Além de ter ensinado em escolas secundárias no começo da vida acadêmica, ele foi professor de Direito, com quem estudei Ética Jurídica na última sala do velho prédio, à esquerda de quem o adentra. Ainda dos meus tempos de estudante, lembro ter sido ele quem introduziu e coordenou a prática forense numa escola de Direito cujo treinamento profissional era - como ainda é - muito doutrinário ou "teoricista". A imagem que guardei dele foi aquela de um homem íntegro, de alguém sempre correndo, indo ou vindo, lidando com problemas de diabetes, e de um progressista cujas ações impunham respeito aos meios intelectuais, sindicais e políticos que frequentava.

Nos anos 1990, eu o conheci um pouco mais como professor perto de aposentar-se, desta vez como colega da mesma instituição. Por duas ou três vezes, cheguei a frequentar a sua casa, situada em frente à praça com nome de um construtor civil. Tinha uma grande biblioteca que parecia muito organizada. Quando se aposentou da UFS, o Departamento de Direito lhe fez uma muito pequena homenagem porque teria sido o professor que nunca perdera um dia de aula. Não faz muito tempo o mesmo departamento, felizmente, criou uma medalha para homenageá-lo com a cadeira de Sociologia Jurídica. Homenagem merecida já que ele, além de ter ensinado essa disciplina, escreveu um curto porém interessante ensaio sobre a Faculdade de Direito a partir desse enfoque. Escreveu ainda um belo trabalho sobre o pensamento jurídico sergipano, obra que seria mais bem enquadrada como pertencente à Filosofia Jurídica.

Além do magistério jurídico, foi um grande nome do magistério da área de História da UFS. No espaço dos historiadores sergipanos sem treinamento específico (ele teve formação jurídica na Bahia), o professor Silvério Fontes também conquistou respeito e admiração de outros historiadores, como seus ex-alunos José Ibarê Costa Dantas e Terezinha Alves Oliva. Na historiografia, a sua influência teria sido o francês Henri-Irinée Marrou, historiador católico, e não aquela de membros da Escola dos Anais, como quiseram lhe imputar. Foi uma pessoa fundamental no funcionamento do Departamento de História da UFS e na estruturação de fontes de pesquisa sobre Sergipe dentro e fora da instituição.

Ainda que tenha transitado por diversas áreas do conhecimento, o professor Silvério foi, sobretudo, um filósofo, e nessa condição foi professor do Departamento de Filosofia da UFS. Com efeito, foi da Filosofia que nasceu o intelectual multifacetado, atuante em muitos campos do magistério e escritor em esferas diversas. Era um filósofo com fundamentos cristãos ou católicos e que se considerava um neotomista. Estudando o seu pensamento e a sua trajetória, fui levado a concluir que, na sua vida, pensamento e ação se combinavam com muita coerência. A sua reflexão e a sua ação derivavam de sua fé e de seu embasamento em filósofos católicos como Jacques Maritain, Teilhard de Chardin e Emmanuel Mounier.

Ele fazia parte da esquerda católica, leiga, de Sergipe e dela foi militante em diversas trincheiras. Estava na oposição ao conservadorismo católico de Manoel Cabral Machado e outros nomes, dentro e fora da Faculdade de Direito. Ou seja, estava do lado de Dom José Vicente Távora e do Dom Brandão (da segunda fase) na esquerda católica com batina e no lado distinto ao do fundador da direita católica sergipana Jackson de Figueiredo (advogado e não membro do clero, residindo no Rio de Janeiro) e de seu continuador mais importante Dom Luciano Duarte, entre outros. A despeito disso, no campo da direita sergipana, Silvério Fontes teve passagem rápida no começo de sua vida pública quando foi filiado ao Partido Republicano (PR, uma espécie de PSD do B, na linguagem de hoje) e, depois de terminar seu curso de Direito na Bahia, aceitou o cargo de secretário do governador Arnaldo Garcez, do PSD em Sergipe. Enquanto líder sindicalista, ele esteve à frente de famosa greve de professores da rede estadual de ensino, foi fundador e militante do sindicato dos professores da UFS e foi presidente da OAB (o sindicatos dos advogados sergipanos), dando a esta instituição uma direção progressista, depois de muita omissão e silêncio durante a ditadura militar em Sergipe.

O professor Silvério teve alguns problemas com a ditadura militar em Sergipe. Na sequência ao golpe militar de 1964, foi um dos professores de Direito a "subir a colina" (28º BC) para depor - os outros foram Gonçalo Rollemberg e Bonifácio Fortes. Segundo escreveu Ibarê Dantas, ele teve a sua candidatura a juiz de Direito vetada pelo Tribunal de Justiça de Sergipe, em 1969. Excesso de zelo conservador da Suprema Corte sergipana ou "ordem de cima"?

De sua obra múltipla, destaco o ensaio intitulado "A formação do povo sergipano", no qual discute, entre outras coisas, em minha opinião, o pior dos males culturais sergipanos, o provincianismo. Esse é um assunto que, por si só, mereceria um espaço único e, fazê-lo aqui, me levaria a perder o foco sobre o professor Silvério. Por isso deixarei a sua discussão para outro momento. Não perco a ocasião, porém, para acrescentar que Silvério Fontes foi também, por merecimento, membro da Academia Sergipana de Letras e do Instituto Histórico e Geográfico de Sergipe.

*Advogado e Professor de Direito da UFS.

Texto reproduzido do site: primeiramao.blog.br