Publicado originalmente no blog História Contemporânea UFS,
em 21/01/2013.
Um passeio de bonde na Aracaju dos anos 1930 e 1940
Artigo da integrante do GET, Débora Souza Cruz
Graduada em História pela UFS. Integrante do GET - Grupo de
Estudos do Tempo Presente (UFS-CNPq) e da Equipe Executora do Projeto “Memórias
da Segunda Guerra em Sergipe” (CNPq).
Entre as décadas de 1930 e 1940, a população aracajuana não
tinha muitas opções de transportes. Trabalhadores e estudantes aracajuanos
dependiam dos bondes para chegarem em seus trabalhos ou colégios, pois aqueles
eram o transporte mais utilizado na cidade durante este período. De longe, já
era possível ver uma placa que, com luzes coloridas, indicava a numeração dos
bondes. Eram seis linhas.
A linha 01 tinha como destino o Bairro Industrial, situado
na Zona Norte da cidade. O bairro era humilde e tinha uma forte concentração de
operários, pois as fábricas de tecidos Sergipe Industrial e Confiança estavam
lá localizadas. A concentração de indústrias no bairro fazia jus ao seu nome.
Porém, apesar de ser considerado um local precário, os memorialistas lembram do
Bairro Industrial com muita saudade, caracterizando-o como o mais romântico da
cidade. Murillo Melins, conhecido memorialista, por exemplo, caracteriza-o como
um “tradicional bairro, outrora brejeiro, romântico e festeiro”.
Se o destino desejado fosse o Bairro Santo Antônio, então o
passageiro tinha que ficar atento à chegada da linha 02. Considerado o bairro
mais antigo da cidade, o Santo Antônio estava na Zona Norte. Lá estava
localizada a Colina de Santo Antônio. Da colina era possível ter uma visão
geral da cidade, percebendo com nitidez que Aracaju estava organizada como um
tabuleiro de xadrez.
A linha 03 levava seus passageiros ao bairro mais populoso
da cidade, o Siqueira Campos. O bairro recebeu este nome como forma de
homenagem ao militar Antônio de Siqueira Campos, integrante do famoso grupo dos
Dezoito do Forte no ano de 1922. Localizado na Zona Oeste, assim como o
Industrial, tinha a maioria da sua população constituída de operários e
pequenos proprietários. Bairro movimentado e considerado pelo memorialista
Mário Cabral como “uma pequena cidade dentro da capital sergipana” (CABRAL,
2002, p. 179). Ainda segundo Cabral, o Bairro Siqueira Campos tinha vida
própria, pois possuía seu mercado, seus cinemas, suas padarias, suas casas
comerciais e centros esportivos.
A linha 04 era direcionada ao Bairro 13 de Julho. Situado na
Zona Sul, o local recebeu este nome como forma de homenagem à revolta dos
tenentistas em 1924. Foi por volta de 1937 que o bairro começou a perder seu
prestígio de lazer praiano, devido à construção da ponte do rio Poxim. E assim,
a Praia Formosa (assim como era conhecido o bairro) deixou saudades nos
moradores aracajuanos daquela época.
Mas para dar uma volta em toda a cidade era necessário
esperar a linha 05, com a denominação “Circular Cidade”. A linha 06 tinha como
destino o Bairro Dezoito do Forte. Situado na Zona Oeste, assim como o Siqueira
Campos, era um bairro populoso. O logradouro ganhou este nome devido ao seu
surgimento em volta do quartel-general do 28º Batalhão de Caçadores.
Como vimos, os bondes possuíam apenas seis linhas e, por
isso, ainda eram escassos. Além da escassez, frequentemente quebravam e eram
vagarosos. Por estes motivos, os trabalhadores que tinham hora certa para a
entrada nos seus serviços, muitas vezes preferiam fazer o percurso a pé.
Aqueles que tinham mais condições financeiras podiam optar por um automóvel
particular, como o do Sr. Euvaldo Diniz, com a numeração 004 ou do Sr. Raimundo
Carvalho, que tinha a identificação 005.
Texto e imagem reproduzidos do blog:
historiacontemporaneaufs.blogspot.com.br
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