terça-feira, 10 de janeiro de 2017

Um passeio de bonde na Aracaju dos anos 1930 e 1940


Publicado originalmente no blog História Contemporânea UFS, em 21/01/2013.

Um passeio de bonde na Aracaju dos anos 1930 e 1940

Artigo da integrante do GET, Débora Souza Cruz

Graduada em História pela UFS. Integrante do GET - Grupo de Estudos do Tempo Presente (UFS-CNPq) e da Equipe Executora do Projeto “Memórias da Segunda Guerra em Sergipe” (CNPq).

Entre as décadas de 1930 e 1940, a população aracajuana não tinha muitas opções de transportes. Trabalhadores e estudantes aracajuanos dependiam dos bondes para chegarem em seus trabalhos ou colégios, pois aqueles eram o transporte mais utilizado na cidade durante este período. De longe, já era possível ver uma placa que, com luzes coloridas, indicava a numeração dos bondes. Eram seis linhas.

A linha 01 tinha como destino o Bairro Industrial, situado na Zona Norte da cidade. O bairro era humilde e tinha uma forte concentração de operários, pois as fábricas de tecidos Sergipe Industrial e Confiança estavam lá localizadas. A concentração de indústrias no bairro fazia jus ao seu nome. Porém, apesar de ser considerado um local precário, os memorialistas lembram do Bairro Industrial com muita saudade, caracterizando-o como o mais romântico da cidade. Murillo Melins, conhecido memorialista, por exemplo, caracteriza-o como um “tradicional bairro, outrora brejeiro, romântico e festeiro”.

Se o destino desejado fosse o Bairro Santo Antônio, então o passageiro tinha que ficar atento à chegada da linha 02. Considerado o bairro mais antigo da cidade, o Santo Antônio estava na Zona Norte. Lá estava localizada a Colina de Santo Antônio. Da colina era possível ter uma visão geral da cidade, percebendo com nitidez que Aracaju estava organizada como um tabuleiro de xadrez.

A linha 03 levava seus passageiros ao bairro mais populoso da cidade, o Siqueira Campos. O bairro recebeu este nome como forma de homenagem ao militar Antônio de Siqueira Campos, integrante do famoso grupo dos Dezoito do Forte no ano de 1922. Localizado na Zona Oeste, assim como o Industrial, tinha a maioria da sua população constituída de operários e pequenos proprietários. Bairro movimentado e considerado pelo memorialista Mário Cabral como “uma pequena cidade dentro da capital sergipana” (CABRAL, 2002, p. 179). Ainda segundo Cabral, o Bairro Siqueira Campos tinha vida própria, pois possuía seu mercado, seus cinemas, suas padarias, suas casas comerciais e centros esportivos.

A linha 04 era direcionada ao Bairro 13 de Julho. Situado na Zona Sul, o local recebeu este nome como forma de homenagem à revolta dos tenentistas em 1924. Foi por volta de 1937 que o bairro começou a perder seu prestígio de lazer praiano, devido à construção da ponte do rio Poxim. E assim, a Praia Formosa (assim como era conhecido o bairro) deixou saudades nos moradores aracajuanos daquela época.

Mas para dar uma volta em toda a cidade era necessário esperar a linha 05, com a denominação “Circular Cidade”. A linha 06 tinha como destino o Bairro Dezoito do Forte. Situado na Zona Oeste, assim como o Siqueira Campos, era um bairro populoso. O logradouro ganhou este nome devido ao seu surgimento em volta do quartel-general do 28º Batalhão de Caçadores.

Como vimos, os bondes possuíam apenas seis linhas e, por isso, ainda eram escassos. Além da escassez, frequentemente quebravam e eram vagarosos. Por estes motivos, os trabalhadores que tinham hora certa para a entrada nos seus serviços, muitas vezes preferiam fazer o percurso a pé. Aqueles que tinham mais condições financeiras podiam optar por um automóvel particular, como o do Sr. Euvaldo Diniz, com a numeração 004 ou do Sr. Raimundo Carvalho, que tinha a identificação 005.

Texto e imagem reproduzidos do blog: historiacontemporaneaufs.blogspot.com.br

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