terça-feira, 28 de fevereiro de 2017

Monsenhor José Carvalho de Souza

 Monsenhor Carvalho, moço (Acervo Pessoal).

 Posse na Academia Lagartense de Letras (2013 Acervo da ALL).

 Uma das inúmeras Missas celebradas em 60 anos 
de Sacerdócio (2012-Acervo Pessoal).


Publicado originalmente no site do Portal Lagarto Notícias, em 4/12/2016.

Monsenhor José Carvalho de Souza : A Voz da fé católica em Sergipe.

Por Claudefranklin Monteiro.

A História do Catolicismo em Sergipe foi marcada por inúmeras passagens que atestam a sua fé no legado de Jesus Cristo. Parte disto, pode ser atribuída a trajetórias de vida de leigos e, sobretudo, de pessoas do clero que pontuaram, com suas ações e a representação que construíram na sociedade, um nível de referência digno de nota.

Nesse cenário, um nome e uma voz se destacam, em que pese a sua importância histórica, teológica e moral. Alcançando, por obra e graça de Deus, uma notável longevidade, Monsenhor José Carvalho de Souza, certamente, está entre os grandes nomes do catolicismo sergipano.

Órfão de mãe (Maria Carvalho de Souza), natural de Lagarto, no dia 24 de novembro de 1926, ainda muito cedo e sob os cuidados do avô, o Cel. Zacarias, José Carvalho de Souza resolveu ser sacerdote a ser fazendeiro (função social que dava notoriedade na cidade pelos idos dos anos 40 e 50).

Logo, não tardou a inserir-se no Seminário, sob a orientação do Padre João Marinho, onde se destacou sem demora, indo estudar Filosofia na Paraíba, na Universidade Católica de Pernambuco e no Seminário Maior de São Leopoldo, no Rio Grande do Sul, considerado, à época, uma das melhores instituições de formação de sacerdotes do Brasil.

Teve, ainda, uma passagem pela Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras de São João Del Rei-MG, onde recebeu o Diploma de Administração Escolar (outra vocação latente que lhe serviria de base para mais tarde implantar uma das mais renomadas escolas de Sergipe – O Arquidiocesano).

Marcado pela sábia e profícua retórica e por uma voz inconfundível e muito peculiar, certamente recebeu influências de seu Mestre espiritual, o padre Frederico Loufer, do qual herdou ainda o interesse pelos estudos bíblicos.

Não tardou para que seus méritos fossem reconhecidos. Ao longo de 60 anos de Sacerdócio, Monsenhor Carvalho ocupou e aceitou as honrosas, como também desafiantes, missões sacerdotais.

Foi ordenado presbítero, em 1956, por Dom Fernando Gomes, na matriz de Lagarto, já foi vice-Reitor e Reitor do Seminário Arquidiocesano Sagrado Coração de Jesus.

Porém, sua história sacerdotal se confunde com a do Colégio Arquidiocesano. Pelos idos de 1957, quando assumia a reitoria do Seminário Arquidiocesano Sagrado Coração de Jesus, o Monsenhor Carvalho enfrentou a duras penas o desafio de zelar pela parte espiritual, pedagógica, e por contingências contextuais, a financeira também.

Em 1959 nascia, numa das dependências do seminário na Praça Camerino, o então Educandário Sagrado Coração de Jesus (denominação dada à época para instituições de ensino mantidas pela Igreja Católica, a exemplo do Educandário Nossa Senhora da Piedade, em Lagarto). Mais tarde, em 1960, à Rua Dom José Thomaz, o Educandário se transforma em Ginásio Diocesano Sagrado Coração de Jesus.

Com os anos, o Arquidiocesano se transformou, sob sua direção, numa das maiores e melhores instituições de ensino particular do Estado de Sergipe, com destaque especial para o excelente desempenho de seus alunos em competições esportivas e no vestibular, carregando a marca registrada do determinismo e garra de Monsenhor Carvalho, seu fundador. Em 2012, afastou-se da instituição deixando marcas inesquecíveis e insuperáveis.

Desse modo, com destacada passagem pela educação e pela cultura, ele foi nomeado Conselheiro do Conselho de Cultura do Estado de Sergipe, em 1968. Tendo sido, também, Diretor-Presidente da Rádio Cultura de Sergipe.

Em 1975, foi nomeado Cônego Catedrático do Cabido Metropolitano da Arquidiocese de Aracaju, pelo arcebispo de Aracaju, Dom Luciano José Cabral Duarte.

Orgulho da gente lagartense, Monsenhor Carvalho é presença assídua no novenário dedicado a Nossa Senhora da Piedade, por quem devota apreço especial. Nas últimas festas da padroeira de sua querida terra natal, ao longo de seus 90 anos de vida, tem tido a honra (como gosta de frisar) de encerrar as festividades da Padroeira.

Em 2002, foi nomeado monsenhor pelo Papa João Paulo II, por solicitação de Dom José Palmeira Lessa, Arcebispo de Aracaju. Título que ostenta com galhardia e mérito.

Em 2006, publicou seu primeiro livro, ‘Presença Participativa da Igreja Católica na História dos 150 anos de Aracaju’, um opúsculo que condensa passagens importantes do catolicismo da capital sergipana, desde os primórdios da Capitania de Sergipe D´El Rei.

Pelas mãos do saudoso Governador Marcelo Déda, recebeu, em 2007, a Medalha da Ordem do Mérito Parlamentar, honraria da Assembleia Legislativa de Sergipe.

Por ocasião das comemorações do centenário de falecimento de Monsenhor Daltro, em Lagarto, na Administração do Prefeito Valmir Monteiro, em 2011, ele recebeu a Comenda Daltro.

No âmbito das academias literárias, em 1998, foi nomeado membro titular da Academia Brasileira de Arte, Cultura e História de São Paulo. Desde o dia 19 de abril de 2013, tornou imortal da Academia Lagartense de Letras, ocupando a cadeira de número 10, cujo Patrono é Monsenhor João Batista de Carvalho Daltro.

Ainda em 2013, foi tema da dissertação de Mestrado de Educação, pela UNIT, de Cristiane de Souza Santana Lima, sob a orientação da Prof. Dra. Raylane Andreza Dias Navarro Barreto, que traça seu perfil à luz da História da Educação em Sergipe.

Em 2015, pelo conjunto da obra, o Conselho Estadual de Educação de Sergipe concedeu-lhe o título de Honra ao Mérito Educacional.

Em que pesem as considerações aqui expostas, pode-se dizer que Monsenhor Carvalho faz jus a diversas passagens da Bíblia Sagrada que discorrem sobre a longevidade. Sua trajetória vai ao encontro das palavras de Deus, que prometeu alongar os anos daqueles que seguissem seus preceitos e procurasse fazer de seu viver um gesto concreto de amor ao seu próximo.

Texto e imagens reproduzidos do site: lagartonoticias.com.br

Especial UFS 40 anos (2008)

 Dom Luciano ministrando aula (Crédito: Acervo Muhse).

 Construção da Cidade Universitária (Crédito: Acervo Muhse).

A historiadora Terezinha Oliva mostra álbum dos primeiros docentes da UFS.

Publicado originalmente no site do Portal Infonet, em 12/05/2008.

Especial UFS 40 anos (2008).
Por Glauco Vinícius e Gabriela Amorim.

A Fundação.

Primeira das quatro reportagens da série especial UFS 40 Anos aborda a fundação da instituição.

No dia 15 de maio de 1968, Sergipe celebrava um marco na sua história. Neste dia, o único Estado brasileiro que ainda não possuía uma universidade festejava a fundação da Universidade Federal de Sergipe (UFS), acontecimento que além de marcar o início de uma maior autonomia intelectual do Estado, mudava os rumos da história do Estado em diversos aspectos.

A inauguração.

Antes da existência da UFS, havia seis faculdades em solo sergipano, todas na capital. Os diretores das Faculdades de Química, Direito, Economia, Serviço Social, Medicina e Filosofia viram a necessidade de reunir aqueles cursos aleatórios em uma única instituição e lutaram junto às lideranças políticas da época para que isso acontecesse.

Neste processo, teve destaque o bispo Luciano José Cabral Duarte, diretor da Faculdade Católica de Filosofia de Sergipe. “Dom Luciano com certeza foi uma figura central, já que ele coordenou as ações e sustentou a posição considerada polêmica à época, já que existia a discussão sobre a universidade como símbolo de autarquia”, explicou a historiadora Terezinha Oliva.

Solenidade.

O evento que marcou a inauguração da UFS contou com a presença de 500 pessoas em uma Aracaju que não ultrapassava os 60 mil habitantes à época. “Contamos com 1% da população na solenidade”, comenta aos risos Terezinha, que ainda falou sobre o que aquele momento representava. “Era um momento especial, que mudaria os rumos da história sergipana a partir de então, sob a ótica cultural, econômica, política e social”, opinou.

Mas o clima de euforia gerado pela inauguração da UFS mesclava-se ao conturbado período político nacional. O regime militar, que estava no comando da nação brasileira, disseminava repressão à sociedade, revoltando principalmente os estudantes. “A UFS foi inaugurada em um momento delicado da história do país, mas teve a felicidade de manter as lideranças estudantis ilesas”, disse o atual reitor da instituição, Josué Modesto dos Passos Subrinho.

Cidade Universitária.

Apesar da fundação da universidade, os cursos continuaram funcionando em seus antigos prédios quando ainda eram faculdades, apenas foi instituída a reitoria, que funcionava em um prédio na rua Pacatuba. Na gestão do reitor Aloísio Campos, foi inaugurada a Cidade Universitária em São Cristóvão, local que até hoje abriga as atividades da UFS.
“A cidade universitária melhorou muita coisa, principalmente em termos de comunicação e de referência à sociedade, já que você tinha toda a estrutura da universidade concentrada em único lugar”, disse a historiadora Terezinha.

Reestruturação

Em uma história ainda composta por longas greves de professores, protesto de alunos e destaque científico, a Universidade Federal chegou ao século XXI com respaldo e estrutura física semelhante aos que tinha na década de 80. A UFS tem o vestibular mais concorrido do Estado, comportando cerca de 11 mil alunos em um espaço precário, sem muitas reformas e adaptações ao longo do tempo.

O atual reitor Josué Modesto falou sobre a estrutura da UFS. “A universidade não recebeu uma grande reestruturação desde quando foi inaugurada. Agora ela passa por uma modificação não só física como de posicionamento, tornando-se uma universidade voltada à inclusão. Divido a história da UFS em três momentos: o primeiro foi a inauguração, o segundo foi a construção da cidade universitária, e o terceiro momento é esta reestruturação”, afirmou.

Este terceiro momento, como classifica o reitor, uma entrevista com o próprio e um apanhado sobre a atual situação da UFS será tema da segunda reportagem da série especial produzida pelo Portal Infonet em homenagem aos 40 anos da principal instituição de ensino superior do Estado.

Texto e imagens reproduzidos do site: infonet.com.br/noticias/educacao

O homem que me ensinou a ser bispo, por Dom Edvaldo

Foto: arquivo Lineu Lins.

Publicado originalmente no jornal Gazeta de Alagoas, em 01/01/2016.

O homem que me ensinou a ser bispo.
Por Dom Edvaldo G. Amaral*

O homem que me ensinou a ser bispo foi Dom Luciano José Cabral Duarte, figura exponencial do episcopado brasileiro nos anos 1970 a 2005. O ser Arcebispo Metropolitano de sua terra natal, Aracaju, é caso mais único que raro na história dos Bispos do Brasil. Quando padre, doutorou-se em filosofia pela Sorbonne de Paris, com brilhante tese escrita em francês que, infelizmente, só recentemente, após sua doença, foi publicada por sua irmã Carminha Duarte, com a tradução portuguesa. Grande Arcebispo, foi notável no campo da educação, como membro do Conselho Federal de Educação e presidente do MEB (Movimento de Educação de Base), criado pela Igreja do Brasil no combate ao analfabetismo, nos difíceis tempos do regime militar. Empenhou-se com todas as veras e conseguiu, após muita luta com o Ministro da Educação, Jarbas Passarinho, a criação da Universidade Federal de Sergipe que, infelizmente, nunca soube reconhecer e ser-lhe devidamente grata por esse seu esforço decisivo para a educação em Sergipe.

O seu clero estava bem unido e solidário com sua ação pastoral. Alguns, de outras nacionalidades, que o combateram antes de sua promoção de bispo auxiliar para Arcebispo, retiraram-se quando ele assumiu o governo pastoral pleno de Aracaju. Cada ano tinha a grande alegria de promover pessoalmente a tradicional romaria a Divina Pastora, cuja igreja matriz era o santuário mariano da Arquidiocese. Na sua esclarecida ação social, criou a PROHCASE (Promoção do Homem do Campo de Sergipe), com terras de cinco fazendas, compradas ou recebidas em doação e nas quais número expressivo de agricultores trabalhavam para seu honesto sustento, mediante pequena contribuição para a Arquidiocese. Depois da experiência de alguns anos, as terras destas fazendas foram doadas aos que as cultivavam. Foi autêntica e sábia reforma agrária, tão apregoada e mal realizada pela esquerda brasileira.

Dom Luciano exerceu como poucos o ministério da Palavra. Suas homilias aos domingos, na igreja de São Gonçalo, transmitidas pela Rádio Cultura, eram autênticas lições de sábia teologia pastoral. O mesmo se pode dizer de seus programas na mesma rádio da Arquidiocese ao meio-dia dos domingos, seguidos por imenso número de ouvintes em todo o Sergipe.

Fui nomeado seu bispo auxiliar pelo Beato Paulo VI, que me elegeu bispo titular de Zallata, cidade antiga da Algéria. Foi Dom Luciano quem me sagrou bispo em Natal, em 20 de abril de 1975. Trabalhei ao seu lado por cinco anos e foi ele com sua experiência quem me reintroduziu na pastoral. Eu vinha do trabalho na educação, como diretor de escola, membro do Conselho Estadual da Educação e presidente da Associação de Educação Católica e do Sindicato dos Estabelecimentos de Ensino do Rio Grande do Norte.

Muito aprendi de sua inquebrantável fidelidade ao Papa, sua irrestrita adesão ao ensinamento da Igreja de Jesus, sua decidida defesa do ensinamento pontifício, nos tempos difíceis, em que ele viveu e exerceu seu ministério. Tempos difíceis na política nacional e tumultuados dentro da Igreja, com posições teológicas equivocadas.

Enfim, foi Dom Luciano Duarte o homem que me ensinou a ser bispo...

* Arcebispo Emérito de Maceó

Texto reproduzido do site: gazetaweb.globo.com/gazetadealagoas

domingo, 26 de fevereiro de 2017

Bombeiros orientam banhistas sobre como evitar afogamentos em Aracaju


Publicado originalmente no site F5news, em 13/01/2016.

Bombeiros orientam banhistas sobre como evitar afogamentos em Aracaju.

Da Redação.

A faixa de praia que vai do que vai do bairro Coroa do Meio até as proximidades dos Arcos da Orla, na praia de Atalaia, zona Sul de Aracaju (SE), é considerada a região mais perigosa para os banhistas pelo corpo de Bombeiros de Sergipe. O especialista em salvamento aquático capitão Márcio Fábio Silva Caldas confirma que o local possui os maiores registros de afogamento na capital sergipana. Os mergulhadores dos Bombeiros já identificaram pontos com quase 30 metros de profundidade na área.

Para evitar os afogamentos, o Corpo de Bombeiros coloca bandeirolas vermelhas para indicar a existência de buracos e forte correnteza, mas muitos ignoram os avisos de perigo. Segundo o capitão Fábio Silva, o que torna essa faixa de mar tão perigosa é a forte influência do rio no comportamento da areia da praia. “A areia é transportada pelas águas que provocam aquelas “piscinas”, que são formadas quando a maré está baixa, onde as crianças geralmente ficam. Mas quando a maré está alta, aquela “piscina” se torna um perigo”, explica.

Além de princípio de afogamento, o número de crianças perdidas nas praias sergipanas também cresce consideravelmente no verão, segundo os Bombeiros. No ano passado foram 19 ocorrências desse tipo, 12 casos ocorreram entre setembro e novembro. Para evitar esta situação, desde o dia 1º de janeiro, o Corpo de Bombeiros está distribuindo pulseiras de identificação das crianças para os familiares.

Primeiros socorros.

O capitão Márcio ressalta que é muito comum um banhista querer ajudar alguém que está se afogando, sobretudo quando se tratam de idosos e crianças. “Contudo, solicitamos que os banhistas entrem em contato com o bombeiro porque sempre haverá uma dupla de guarda-vidas nos arcos da orla e na Coroa do Meio. Se algum banhista entrar para fazer o socorro de alguma pessoa, ele deve ter conhecimento para não se colocar em risco. Tem que saber nadar, conversar com a vítima para ela não entrar em pânico e precisa ter algum apoio como uma boia ou uma toalha para não ter contato direto com a vítima. No mais, se a pessoa não tiver nenhum tipo de conhecimento, é recomendado que não entre, pois poderá se tornar outra vítima”, orienta.

O capitão alerta que a falta de conhecimento para prestar socorro pode ocasionar sérios problemas e afeta até mesmo profissionais com larga experiência. “Já aconteceu comigo que sou experiente, mas eu tenho um bom preparo físico e soube controlar a situação, deixando a vítima me “afogar” e depois, peguei a mão dela, entrei em contato visualmente e falei: “olha, tenha calma. Você está segura”. Mas uma pessoa que não tem experiência pode entrar em pânico e se tornar outra vítima”, afirma.

Atendimento ao afogado.

Cerca de 90% das vítimas que são atendidas pelos bombeiros não precisam de atendimento médico porque foram resgatados no princípio do afogamento. “Normalmente, a vítima está falante, pedindo socorro e ele chega de imediato, seja pelos bombeiros ou por banhistas que estejam no local. Na maioria das vezes, as vítimas são crianças ou idosos. Como aqui os buracos estão próximos das margens, as pessoas que têm menos agilidade motora são as principais vítimas”, pontua o capitão.

Os princípios de afogamento sem óbito ocorrem, normalmente, nos finais de semana, pois há um grande fluxo de pessoas no entorno. Já os casos com afogamento fatais acontecem nos dias da semana. “São pessoas que normalmente não conhecem ou não respeitam a sinalização colocada no local e que entram mesmo assim. Como não há muitas pessoas na região, mesmo que a vítima solicite o socorro, provavelmente não será atendida, pois há poucas pessoas na praia”, enfatiza o especialista.

Treinamento.

Todos os dias são feitos treinamentos de natação com os bombeiros na piscina do Clube do Banese e na própria da Coroa do Meio para que os socorristas conheçam o local e saibam acompanhar a maré e utilizá-la a seu favor. Os bombeiros também fazem corrida funcional em toda extensão da praia. “Fazemos todo tipo de treinamento aeróbico para mantermos o físico da melhor forma possível”, acrescenta o capitão Fábio.

Cuidados que as pessoas precisam tomar quando vão à praia:

- Os responsáveis devem verificar o local onde vão ficar na praia.

- Nunca deixar as crianças sem supervisão e não ficar muito longe delas, pois elas podem ter o impulso de entrar na água se ocorrer um princípio de afogamento.

- Observar se há guarda-vidas no local. Se não houver, verificar se aquele local é propício para banho. Como? Entrando na água, de forma lenta, e observando.

- Existe um local onde as ondas se quebram, deixando aquela espuma branca. Mas, se você observar, existem locais onde não tem a quebra da onda. Esses locais são mais profundos que o restante ao redor”, conclui o capitão.

*Com informações da SSP/SE.

Texto e imagem reproduzidos do site: f5news.com.br

sábado, 25 de fevereiro de 2017

O carnaval de antigamente tinha encantos

Carnaval em Aracaju/SE., Década de 80.
Clube do Povo, Largo da Praça Fausto Cardoso.
Foto reproduzida do blog: aracajusaudade.blogspot.com.br
De: Eudo Robson.

Publicado originalmente no site Infonet/Blog Ivan Valença, em 22/02/2017.

O carnaval de antigamente tinha encantos.
Por Ivan Valença.

Se fosse possível ter congelado um sergipano há quarenta anos atrás e o trouxesse à vida agora, nesta semana de pré-carnaval, certamente ele ficaria surpresa com as transformações da nossa maior festa popular. Aí por volta dos anos 80, só havia carnaval em clubes – praticamente na antiga Associação Atlética, que ficava ali na rua Vila Cristina (o prédio da AAS já foi derrubado), e no Iate Clube de Aracaju, na praia 13 de julho. Também havia festa nos salões do Vasco Esporte Clube, no bairro Industrial, e em outros clubes menores localizados em bairros como Siqueira Campos. O Zé Povão que não podia comprar mesas em clubes sofisticados ia para a praça Fausto Cardoso, notadamente em dias de desfile, no que se chamava de “escola de samba” – ou um arremedo delas. Quem tinha posses, como ainda hoje, se mandava para Salvador, onde o carnaval sempre foi uma delícia. Em bairros, como Siqueira Campos, havia sempre o desfile de blocos, composto por pelo menos sessenta pessoas. Quando os relógios marcavam 10, 11 horas da noite, os observadores iam logo embora. Ou seja, não era um carnaval que atraísse a atenção popular. Por isso, Aracaju ganhou a fama de “cemitério do carnaval”: ele atraia muitos baianos que vinham para Aracaju, a fim de descansar. O carnaval deste ano promete repetir o do ano passado, ou seja, com poucas atrações. Não haverá sequer passagem de blocos pela praça Fausto Cardoso. Quem quiser brincar é melhor ir para a Atalaia – não que lá vá ter alguma coisa, mas é melhor do que ficar no centro da cidade, onde não ocorre nada.

Texto reproduzido do site: infonet.com.br/blogs/ivanvalenca

segunda-feira, 20 de fevereiro de 2017

Moacir Freitas: um cirurgião de escol


Publicado originalmente no site do Portal Infonet, em 30/01/2017.

Moacir Freitas: um cirurgião de escol.
Deixou seu nome gravado, indelével, na Medicina sergipana.

Por Lúcio A Prado Dias/Blog Infonet.

Nascido em 19 de abril de 1934, em Salvador, filho de Ângelo Basílio e Djanira Pinto da Silva, Moacir José da Silva Freitas colou grau como médico pela vetusta Faculdade de Medicina da Bahia, primaz do Brasil, em 1961, especializando-se desde então na área da cirurgia geral.

Alto, esguio, elegante, médico humanista e muito caridoso, começou a operar os primeiros casos na sua cidade natal, mais diretamente no Hospital Prof. Edgar Santos, até meados de 1963, quando então se transferiu para Aracaju, atendendo ao convite do colega Wilson Franco Rocha, então diretor do Hospital Sanatório de Aracaju.

No mesmo ano, levado também por Franco, passou a operar no Hospital Santa Isabel, à época dirigido pelo Dr. Gileno Lima, que subitamente assumiu o comando da instituição em substituição ao Dr. Carlos Firpo, tragicamente assassinado.

O hospital passava, naquela oportunidade, pela maior transformação de sua história, modernizando-se e montando um corpo clínico do mais alto nível, centrado no conhecimento científico desenvolvido a partir dos debates e discussões que ocorriam no Centro de Estudos “Dr. Carlos Firpo”, cuja atuação rivalizava de forma espetacular com o Centro de Estudos do Hospital Cirurgia. Não foi sem motivo que o 1º Congresso Médico de Sergipe, reconhecido pela Sociedade Médica e ocorrido em 1966, teve como organizadores principais a equipe do corpo clínico do Hospital Santa Isabel, liderada pelo Dr. Gileno Lima.

Nos primeiros anos da década de 60, a equipe cirúrgica do mais antigo hospital de Aracaju voltou ao cenário médico com toda a pujança, depois do triste episódio que motivou a saída traumática do Dr. Augusto Leite da instituição, na década de 20, em função de decisão equivocada do Conselho Administrativo da Associação Aracajuana de Beneficência, mantenedora do hospital, que suprimia as cirurgias de grande porte do hospital, num golpe fatal para as pretensões do eminente cirurgião.

A inauguração do Hospital Cirurgia em 1926, no governo de Graccho Cardoso, cuja pedra fundamental foi batida em 1922, foi uma resposta ( e uma vitória) do velho cirurgião contra seus desafetos, mandatários do Santa Isabel, ao “oferecer a Sergipe, finalmente, uma meio cirúrgico adequado, moderno e preparado para os novos procedimentos que surgiam”, nas palavras dele. A saída dele do Santa Isabel fez com que a instituição parasse no tempo, passando a realizar, após sua saída, apenas cirurgias de baixa complexidade.

A retomada veio somente a partir da segunda metade da década de 50, nas administrações de Carlos Firpo e Gileno Lima. Graças a doações de organismos internacionais, eles começaram a empreender transformações substanciais na estrutura física do prédio, inaugurando um novo centro cirúrgico ( que Gileno Lima habilmente denominou de “Centro Cirúrgico Dr. Augusto Leite”), ampliando as enfermarias, implantando serviços modernos de diagnóstico, criando assim um ambiente favorável para a prática moderna da Medicina.

Nesse contexto, quando Moacir Freitas chegou ao hospital, já encontrou uma equipe cirúrgica formada por médicos do porte de Wilson Rocha, Hugo Gurgel, Juliano Simões, Aristóteles Augusto, Francisco Rollemberg, Adelmar Reis, entre outros. E o seu nome foi se destacando como um exímio cirurgião, habilidoso, rápido nas decisões, sem perder o porte elegante ao operar. Formou uma dupla (que fez história) com outro cirurgião de escol, o Dr. José Augusto Bezerra, que treinou uma plêiade de novos médicos, como Marcos Prado, Fernando Maynard, Eduardo Bastos, Sérgio Lopes.

Moacir Freitas (Moca, como era conhecido pelos colegas) foi ainda cirurgião do Pronto Socorro do Hospital de Cirurgia por onze anos. A partir de 1964, passou a atuar na Companhia Leste Brasileira onde permaneceu até 1991. Foi mestre do Colégio Brasileiro de Cirurgiões e manteve-se atuante por muitos anos. Teve a sua atuação profissional reconhecida pela Academia Sergipana de Medicina, numa solenidade que ficou conhecida como A Noite dos Cirurgiões, recebendo dos seus pares o “Bisturi de Prata”, pelos relevantes serviços prestados à população e a todos que dele precisaram para resolver os seus problemas de saúde, a maioria deles equacionados.

Esse “gigante” baiano sergipano da cirurgia faleceu nas primeiras horas do dia 18 de janeiro de 2017, deixando o seu nome gravado, de forma indelével, na história da nossa Medicina.

Texto e imagem reproduzidos do site: infonet.com.br/blogs/lucioapradodias

Obras da artista plástica Rosa Faria




Obras da artista plástica Rosa Faria, expostas no Memorial de Sergipe,
 da Universidade Tiradentes - UNIT, em Aracaju/SE.
Imagens reproduzidas do blog: preciosidadesdesergipe.blogspot.com.br

Laura Amazonas


Nasceu em 03 de maio de 1884, em Aracaju, fruto da união do casal Manoel Amazonas e Josefa da Silveira Amazonas. Após a conclusão do curso primário, mudou-se para a cidade de Santos, São Paulo, em companhia de seu irmão Cleobo Amazonas, advogado. Graduou-se em Odontologia, em um período em que ser professora seria a única maneira da mulher exercer uma atividade profissional fora do lar; com apenas vinte e um ano de idade, recebeu o seu título de cirurgiã-dentista pela Faculdade de Pharmácia de São Paulo em 08 de fevereiro de 1905, sendo a primeira sergipana diplomada em um curso superior e em uma profissão liderada por homens. Tendo tornado pública sua identificação com a Doutrina Espírita, Laura Amazonas enfrentou diversos preconceitos, o que contribuiu para o esquecimento em torno da sua vida e obra, que acabaram por não receber destaque. Educadora, pedagoga por natureza, participou diretamente da fundação da Casa do Pequenino, Escola Amelie Boudet e o Lar Meimei, primeiro projeto integral de Escola Espírita em Sergipe, a partir dos ideais da União Espírita Sergipana, um espaço educacional voltado à evangelização e educação de crianças em situação de vulnerabilidade social. Sua didática pedagógica guarda uma vasta produção literária de músicas, poesias, peças teatrais, de cunho espírita, utilizadas no processo de ensino-aprendizagem infanto-juvenil. A Doutora Laura Amazonas, mostrou que em uma época na qual a mulher era colocada de lado, foi possível quebrar paradigmas e estabelecer novos conceitos para atuar na sociedade.

Texto e imagem reproduzidos do site: academiagloriensedeletras.org

Iara Santos Vieira


Sergipana de Aracaju, onde nasceu em 09 de abril de 1949. Formou-se em Letras pela Universidade Federal de Sergipe. Desenvolveu importantes projetos na área cultural do Estado, promovendo cursos seminários e coordenando oficinas literárias. Estreou na poesia em 1977 com o livro "Ruínas". A partir daí, publicou outros livros: "Interiores" (1982); "Esses tempos ad/versos" (1984); "A fome do paraíso" (1994) e "O coro da Serpente" (2001). Participou das seguintes antologias: "Ensaios V", SP (1981); "Poesia Jovem: anos 70", SP (1982); "Antologia da Nova Poesia Brasileira", RJ, (1992); "Poesia livre", Ouro Preto (1982) e "Poesia Sergipana no Século XX", RJ (1998). Foi premiada nos seguintes concursos: "Veia Poética", SP (1981); "2° Concurso Mackenzie de Poesia", SP (1981); "XII Concurso de Poesia Falada do Norte/Nordeste", Aracaju, 1983; "Prêmio Escriba de Poesia Piracicaba", 1999; "2° Concurso Internacional de Poesia Mulheres Emergentes", Belo Horizonte (1999). Iara Vieira faleceu em 19 de setembro de 2003, antes de vir a lume sua obra "ÍNTIMA HUMANIDADE" - editado pela Secretaria de Estado da Cultura de Sergipe em dezembro de 2003. Sua obra apresenta valor inconteste e presta relevante contribuição à cultura das letras no Brasil, por meio de sua criação poética e inovações de estilo e linguagem.

Foto e texto reproduzidos do site: academiagloriensedeletras.org

sábado, 18 de fevereiro de 2017

A História de Sergipe Decantada em Cordel

Viés militante guia obra do cordelista Zé Antonio.
Foto: Segrase.

Publicado originalmente no site do Portal Infonet, em 15/02/2017.

Nova obra da Edise conta a história de Sergipe em cordel.
Livro tem viés militante de defesa das coisas populares.

Uma das mais tradicionais representações da cultura popular nordestina, o cordel, é destaque em nova obra lançada pela Editora do Diário Oficial de Sergipe - Edise. Escrito pelo cordelista José Antônio dos Santos, o “Zé Antônio”, o livro “A História de Sergipe Decantada em Cordel” retrata a história do Estado a partir de um viés militante de defesa das causas populares. O lançamento acontece no dia 18 de fevereiro, às 18h, no Centro de Cultura e Arte J. Inácio, na Orla de Atalaia, em Aracaju.

Em sua primeira obra no formato de livro, o cordelista faz um passeio na história desde os tempos primórdios, passando por temas como o extermínio da população indígena, escravização negra, bem como a violência da época do coronelismo.

Formado em História, pela Universidade Federal de Sergipe (UFS), o cordelista já foi premiado nacionalmente com o Prêmio Nacional de Literatura de Cordel, promovido pela Fundação de Cultura do Estado da Bahia. O escritor também foi contemplado pelo programa BNB de cultura, do Banco do Nordeste com o projeto: “O Nordeste em Cordel”. “Escrevo cordel há quase 40 anos, ao todo são mais de duzentos folhetos publicados. Geralmente costumo escrever sobre política, história e as manifestações culturais de todo o país, especialmente da região Nordeste”, explica o cordelista.

Para o diretor-presidente em exercício da Segrase, Ricardo Roriz, a obra de José Antônio dos Santos reafirma o posicionamento do Governo do Estado em dar visibilidade a autores sergipanos. “Nosso acervo conta com mais de 70% de títulos de escritores sergipanos, levamos essas obras para grandes feiras no Brasil e no exterior, essa é a nossa forma de contribuir com a disseminação da cultura sergipana”, destacou.

O autor

José Antônio dos Santos ( Zé Antônio) nasceu no povoado de Oiteros, Moita Bonita –SE, em 09 de agosto de 1955. Filho de Emiliano Antônio dos Santos e Maria Francisca dos Santos, é professor de história, filosofia e sociologia da Rede Estadual de Educação de Sergipe, e também militante de movimentos populares.

Fonte: Segrase.

Texto e imagem reproduzidos do site: infonet.com.br/noticias/cultura

sexta-feira, 17 de fevereiro de 2017

Mais uma ação de Gilfrancisco

Foto reproduzida do blogdogutemberg.blogspot.com.br

Publicado originalmente no site do Jornal do Dia, em 30/07/2016.

Mais uma ação de Gilfrancisco.
Por Luiz Eduardo Costa.

Há um laborioso e incansável pesquisador das coisas e das gentes sergipanas. É o seguidor da trilha percorrida pelo inesquecível Luiz Antônio Barreto. Esse seu émulo tão primorosamente dedicado a seguir a trilha do mestre, infelizmente interrompida, é o baiano sergipanólogo Gilfrancisco. Pródigo nas revelações que faz em seus livros e ensaios sobre a História, cultura, arte e vida dos sergipanos, Gilfrancisco lançou na 'sexta Feira Cultural do Tribunal de Contas' o seu último trabalho, a organização e publicação do romance Simão Dias, da escritora Alina Paim, uma estanciana que viveu na terra que gerou tantos políticos ilustres e outros tantos intelectuais. Alina Paim, segundo Gilfrancisco, representa para a literatura brasileira a visão social do romance que escapa ao engajamento enjoativo do ¨realismo socialista¨, mas traduz, à maneira de um Graciliano, um Jorge Amado, um Lima Barreto, todo o drama da opressão, injustiças e lutas que permeiam a sociedade brasileira e nordestina. As Sextas Culturais do TC, uma criação do conselheiro Carlos Pinna de Assis ainda em 1997, foi mantida e prestigiada por todos os presidentes que o sucederam, e agora merece também a atenção especial de Clóvis Barbosa. O romance Simão Dias, que recebeu o apoio de Marcelo Déda, Jackson Barreto e a dedicação de Jorge Carvalho e Milton Alves, finalmente, já está nas livrarias, com a marca da pertinácia do mobilizador cultural Gilfrancisco.

Texto reproduzido do site: jornaldodiase.com.br

quinta-feira, 16 de fevereiro de 2017

Libertas de Lara Aguiar é a nova publicação da Edise


Publicado originalmente no site do Portal Infonet, em 13/02/2017.

Libertas de Lara Aguiar é a nova publicação da Edise.

Obra será lançada na próxima sexta-feira, dia 17, às 17h

“É um livro para sentir”. Assim a jornalista aracajuana Lara Aguiar descreve a sua primeira obra publicada em formato de livro. Intitulado “Libertas”, a obra que é permeada pela subjetividade é a mais nova publicação da Editora do Diário Oficial de Sergipe – Edise e será lançada na próxima sexta-feira, dia 17, às 17h, no Museu da Gente Sergipana Gov. Marcelo Déda, em Aracaju (SE).

Através do poema em prosa ou prosa poética [gênero contemporâneo que a cada dia tem ganhado mais espaço entre as novas gerações de escritores], a autora brinca com as palavras, fazendo uso de símbolos, signos e da musicalidade, permitindo assim que os leitores mergulhem profundamente em cada um dos 64 textos presentes na obra.

Como boa parte dos autores, Lara começou escrevendo para si. Preferia guardar a expor seus rabiscos. Assim, desde 2003 ela vem depositando a essência do que sente no papel, ora publicando, ora arquivando, para quem sabe futuramente publicá-los. “Libertas” é exemplo disto. Nele, estão gravados diversos textos escritos há mais de uma década, alguns alterados, outros preservados com as mesmas palavras para proteger a memória dos sentimentos que àquela época se faziam presentes.

Sem narrativas fixas, os textos impressos na sua obra remetem a uma ideia de catarse, onde os sentimentos se confundem e dão margem para que os leitores tenham várias interpretações a partir do que foi descrito. “Brincando com as palavras eu tento deixar os textos em aberto para que cada um interprete e sinta sem nenhuma interferência da minha parte”, descreve.

Edise

Assim como todas as obras da Edise, o “Libertas” também passou pela avaliação do Conselho da Editora, para que assim pudesse ser publicado. Para a jornalista, a notícia da aprovação foi um momento de emoção. “Esse livro é como se fosse um filho, tem uma representação muito forte. É a materialização de algo que nem eu imaginava que iria virar realidade”, afirma.

A autora

Lara Aguiar é membro da Academia de Letras de Aracaju
Nascida em Aracaju (SE), Lara Aguiar é jornalista, licenciada em Letras/Português e pós-graduada em Filosofia. É membro da Academia de Letras de Aracaju (ALA) e morre de amores pela palavra, falada e escrita, com todo seu simbolismo, sinestesia e literariedade. Atualmente é revisora do Jornal da Cidade e editora do Caderno Revista da cidade, suplemento do mesmo jornal.

Leitora voraz de escritoras como Clarice Lispector, a autora se destaca pelo ineditismo dos seus textos, como bem lembra o jornalista Marcos Cardoso, responsável por descrever no prefácio da obra o trabalho desenvolvido pela sergipana. Além do livro, ela possui desde 2008 o blog artscritta, onde disponibiliza todo o sentimentalismo dos seus poemas em prosa, além de textos com gêneros diferentes, como análises de filmes, livros, músicas ou ainda acontecimentos do cotidiano.

Texto e imagem reproduzidos do site: infonet.com.br/noticias/cultura

Fonte e foto: ascom Segrase.

quarta-feira, 15 de fevereiro de 2017

Carnaval Cultural do Carro Quebrado 2017


Livro do poeta sergipano Mário Jorge Menezes Vieira.


Publicado originalmente no site F5 News, em 23/11/2016.

Livro resgata memória do poeta sergipano Mário Jorge Menezes Vieira.

Por Fernanda Araujo.

O poeta Mário Jorge Menezes Vieira estaria completando 70 anos nesta quarta-feira (23/11/2016), se não fosse sua morte repentina aos 26 anos. Tendo até o nome em uma avenida importante no bairro Coroa do Meio, em Aracaju (SE), com o pouco tempo em que viveu ele conseguiu se expressar através de sua obra poética, influenciando artistas brasileiros até os dias de hoje.Considerado como um homem além de seu tempo, uma grande referência cultural sergipana e até além-divisas, Mário Jorge foi o primeiro poeta concretista sergipano, com uma trajetória de poesia e luta por uma sociedade mais justa e igualitária. Militante do Partido Comunista e do movimento estudantil, com seus poemas questionava a sociedade brasileira de seu tempo, em plena Ditadura Militar, o que o levou a ser preso por causa das suas atividades consideradas como subversivas perante o governo da época, e absolvido em 1972.Como forma de homenageá-lo, seu livro “De Repente Há Urgência” será relançado... no Cultart, em promoção da deputada Ana Lúcia Menezes Vieira, irmã de Mário Jorge. Além disso, também haverá uma exposição de algumas de suas obras, com influência das Poesias de Vanguarda, destacando-se mais a poesia concretista, práxis, social, marginal e pop, e também influências da Tropicália.

F5 News ouviu alguns admiradores de sua obra.

Amaral Cavalcante - poeta e jornalista"O poeta Mário Jorge foi uma espécie de antena, transmitindo sinais de rebeldia e coragem entre nós. Ele nos ensinou a explodir os limites provincianos da poesia e a inventar novos horizontes de afirmação cidadã. Mário Jorge foi o poeta visionário da nossa geração".

Aglacy Mary – poeta e educadora“Quando ele surgiu e começou a se mostrar poeta no nosso estado eu era uma menina ainda. Mário Jorge viveu na década de 70 e então eu só vim ter a dimensão de quem era Mário Jorge na faculdade. Felizmente, hoje se resgata a obra dele. Eu sempre tive o material dele comigo e a importância é enorme porque é um poeta que se destaca no cenário sergipano como alguém que trouxe uma forma de fazer poesia diferente. Escreveu sempre se mostrando com um olhar que poucos tinham, sempre dando um passo à frente. Uma forma de escrever que inaugurava um modo concretista de ser a poesia. A poesia de Mário Jorge se podia tocar, porque se falava muito ao social, escreveu muito em função de como percebia o mundo, as questões sociais eram muito abordadas, isso naquele tempo já era uma coisa importante. Hoje é como história, como elemento, como alimento para a poesia sergipana, eu acho fundamental. Tem um eterno compromisso, não só a lembrança do homem, essa coragem e como cidadão atuante, mas como poeta. Para as nossas letras Mário Jorge tinha presença. A poesia dele era muito ligada também à arte visual, então teve uma veia de artista plástico também. Mário Jorge é uma figura que precisa ser lembrada, uma poesia que pode-se ler e pode-se ver”.

Jeová Santana – professor de literatura e escritor“Ele morreu cedo, a gente não tinha uma boa ideia até onde sua obra chegaria. Ele teve uma presença muito forte no concretismo, tinha muito por onde caminhar, passar para outras vertentes, mas aí a morte dele veio e deixou isso em aberto. Ele tem uma importância cultural, porque estava nos anos 70, um momento bastante singular, numa cidade pequena como Aracaju, num estado pequeno que conseguiu com um pouco deixar obras que estão em sintonia com o nosso tempo até agora. Só acho que às vezes há certo exagero sobre o pouco material que ele deixou de acordo com a genialidade. É uma obra em formação, em crescimento, teria muito a dar ainda se não fosse a interrupção. Gosto muito de um poema dele que é bem pequeninho, ‘Aracaju arca azul senão se sul caminhos do Sul não são para mim’; Gosto muito desse poema porque é aquela história de ‘como dizer , como fazer a partir do lugar em que você está’. Ele tem uma importância, mas as vezes há uma supervalorização por pessoas até que conviveram muito com ele. Mas é preciso ter esse distanciamento, tem muita coisa bacana, mas tem outras que ficaram ainda e poderiam ser melhores resolvidas se ele tivesse tempo para isso”.

“Quem vê que veja”, por Jozailto Lima.

O bicho-homem arranha
a teia-terra, aranha
estradando surdos
dados
Amargos arte físseis
metralha fósseis
meta : mito
e morte.

Mário Jorge.

Texto e imagem reproduzidos do site: f5news.com.br

Elites sociais sergipanas: Os fazendeiros

Capa do livro (imagem: divulgação).

Publicado originalmente no blog Primeira Mão, em 16/03/2014.

Elites sociais sergipanas: Os fazendeiros
Por Afonso Nascimento*

Recentemente, o historiador Ibarê Dantas publicou um novo livro que enfoca a trajetória de quatro membros de sua família, todos eles fazendeiros de lá das bandas de Riachão, em Sergipe. É uma obra de memórias familiares que recebeu três resenhas positivas publicadas neste mesmo jornal. Em razão disso, resolvi não escrever mais uma, porém fazer um comentário geral sobre esse que é o seu décimo livro (DANTAS, Ibarê. Memórias de Família. O Percurso de Quatro Fazendeiros. Aracaju: Editora Criação, 2014).

Nada direi sobre o seu autor - a não ser no último parágrafo deste texto - pois se trata de um intelectual assaz conhecido dos leitores interessados em história política sergipana. Entrarei diretamente no livro. Ele tem duzentas e sessenta e seis páginas, contendo quatro anexos. Na capa e na contracapa são expostas duas fotografias da Fazenda Boqueirão, uma tomada pelos fundos e outra que mostra a frente da casa alta e com telhas romanas. A foto da capa, além da casa e do curral, exibe um rio e vastas extensões de terras com árvores esparsas. A outra foto expõe, no alpendre da casa, cinco gaiolas de passarinhos, uma porta e quatro janelas. O livro está estruturado em quatro capítulos correspondentes aos quatro fazendeiros cujos percursos são revelados. O terceiro capítulo, referente ao pai do autor, é, de longe, o mais alargado. A sua filha Sílvia Dantas escreveu o prefácio.

O livro é uma mistura de obra de historiador e de memorialista. Além de narrador, Ibarê Dantas é personagem e, naturalmente, fonte, pois, num tipo de trabalho que se quer de memórias, deve ter ouvido muitas histórias de sua família ao longo de sua vida - como acontece com qualquer família de qualquer classe social. Enquanto membro de uma família de fazendeiros, como era de se esperar, o autor mostra um grande conhecimento sobre como vivem os fazendeiros, os quais menciona como "elite local", o que, dito com outras palavras, significa "aristocracia rural" sergipana do gado. Voltando a falar de fontes, Ibarê Dantas recorre a fontes orais na forma de depoimentos de parentes seus e de outras pessoas, do seu arquivo privado sobre a sua família, de documentação familiar e de instituições públicas a que teve acesso, de jornais, entre outras.

O livro trata de um universo social que me é completamente desconhecido, ou seja, o mundo dos fazendeiros sergipanos. Quem são pessoas que compõem essa fração da classe dominante sergipana mais antiga, posto que Sergipe nasceu como uma grande fazenda que produzia gado para abastecer, no período colonial, aos mercados de Pernambuco e da Bahia? Cuja importância econômica foi diminuída quando o território sergipano foi transformado numa grande plantation de cana de açúcar? E que voltou a ter a sua relevância no PIB sergipano quando a economia canavieira perdeu espaço na competição com a produção de cana de São Paulo nos anos 1930 e 1940?

Pelo que entendi (se entendi) da leitura do livro, as famílias dos fazendeiros lembram "empresas" ou "organizações" com fins lucrativos. Com efeito, os fazendeiros, além de venderem as mercadorias produzidas em suas terras (gado, leite, cavalos, produtos agrícolas diversos, etc.), também compram e vendem fazendas. Existe, mesmo, um mercado de fazendas. Aqueles fazendeiros bem sucedidos aumentam seu patrimônio adquirindo propriedades rurais de outros membros desse grupo social. É por conta disso que, na narrativa de Ibarê Dantas, há um grande espaço dedicado às heranças, aos cartórios, à transmissão de terras de parentes para parentes e não parentes, aos inventários, etc. Não deixou de chamar a minha atenção o seu recurso feito por fazendeiros aos bancos públicos para empréstimos, os lucros e as perdas, bem como a necessidade de lidar com problema como secas, estiagens, doenças dos animais, etc.

O problema da mortalidade infantil entre as famílias de fazendeiros não passou desapercebido. A ideia que eu tinha era a de que essa questão tinha a ver somente com as classes trabalhadoras rurais. Todavia, com leitura do livro de Ibarê Dantas, ficou a impressão de que a mortalidade infantil também afetava as classes abastadas sergipanas. Nessa mesma linha, a existência de grandes proles entre famílias de fazendeiros era algo muito corrente, no período tratado pelo livro, a saber, da primeira metade do século XIX a fins do século XX. Por conta disso, posso imaginar o problema que deveria ser a questão da transmissão de bens aos herdeiros - muitas vezes realizada antes da morte desses grandes latifundiários. Se os futuros herdeiros não se casassem com pessoas da mesma classe, inevitavelmente ocorreria um relativo empobrecimento dessas pessoas. Embora não coubesse num trabalho de memórias, o livro poderia ficar muito mais rico se pudesse explicar as estratégias matrimoniais dos fazendeiros para seus filhos e suas filhas, como formas de manter ou aumentar os seus patrimônios e reproduzir a sua classe social.

Ibarê Dantas pouco fala sobre os vaqueiros desses fazendeiros. Em relação ao primeiro parente cujo percurso é reconstituído, o autor diz que ele tinha uma escravaria e sobre isso mostra documentação. Na parte do livro em que trata de seu pai, disse que teve pequenos problemas com vaqueiros na Justiça do Trabalho. Vale lembrar que os vaqueiros somente neste século XXI estão sendo reconhecidos como profissão, ou seja, quase quinhentos anos depois de se firmarem como classe oposta àquela dos fazendeiros. Nada também escreveu sobre a questão da reforma agrária tão importante que foi nos anos 1950 e 1960 no Brasil. Mas menciona antes o problema da falta de braços advindo com o fim da escravidão em Sergipe - um problema também abordado por Josué M. dos Passos em seus dois livros sobre a história econômica de Sergipe.

A política dos fazendeiros é tratada nos três capítulos – embora ele tente minimizar o papel de sua família na política sergipana. O maior destaque dado por Ibarê Dantas é a respeito de seu pai, político ligado à UDN. Faz, a respeito dele, uma longa prestação de contas documentada de desempenho como prefeito da cidade que carrega o seu sobrenome, ou seja, Riachão do Dantas. Por outro lado, Ibarê Dantas insiste sobre a atenção dada por seus parentes fazendeiros à educação de seus filhos. Isso merece uma reflexão alongada que não pode ser feita aqui. Penso que a educação superior passa a ser central na socialização de pessoas de sua classe e de sua geração, quando Sergipe entra num rápido processo de modernização nos anos 1950 e 1960,momento em que o diploma universitário adquire um alto valor numa sociedade que vai se tornando muito competitiva. Membros de sua classe que não souberam fazer essa transição, perderam o trem da história.

Aparentemente sem ter tido essa pretensão, Ibarê Dantas escreveu um livro sobre as elites sociais sergipanas, colocando-se ao lado do trabalho de Orlando Dantas (A vida patriarcal em Sergipe), que se refere às elites ligadas às plantations de cana-de-açúcar, ao passo que o historiador consagrado aborda as elites sociais criadoras de gado. Em minha opinião, Ibarê Dantas memorialista aparece menos que o Ibare Dantas historiador. Notei muito bem o memorialista quando ele descreve a sua casa ou as brincadeiras de meninos. Esse aspecto da narrativa surge com força quando ele traça perfis de pessoas queridas dele. Aí Ibarê Dantas, sempre reservado e contido, mostra quais os valores que ele aprecia nas pessoas, logo os seus valores. Na biografia de seu pai, ele se deixa aparecer várias vezes, torna-se personagem da história familiar que conta, inclusive através de fotografias. Isso me fez pensar: por que ele não escreve suas próprias memórias como indivíduo, como professor, como pesquisador, como intelectual, etc., na primeira pessoa? Tenho certeza que tem muito a dizer. A sua participação tímida na biografia de seu pai foi um bom começo. Os seus amigos, leitores e admiradores já estão no aguardo.

*Professor de Direito da UFS.

Texto reproduzido do blog: primeiramao.blog.br

Ainda sobre o saudável hábito de servir sucos naturais às crianças


Publicado originalmente no Facebook/Amaral Cavalcante, em 12/02/2014.

Ainda sobre o saudável hábito de servir sucos naturais às crianças

Tenho dezenas de cumbucas de plástico, dessas de vender 200 gramas de manteiga da terra, onde acondiciono o sumo grosso das frutas depois de passadas na urupema.

Quando quero boto o torrão inteiro na suqueira com água e deixo fora da geladeira até mais tarde. Vai se desmanchando, até resultar num refresco geladinho e gostoso. Passar no liquidificador não é uma boa, resultando, muitas vezes, em melação generalizada e o gosto que fica é de sorvete derretido.

Dia desses fiz uma jenipapada igualzinho a como fazia minha mãe. na encantada cozinha da nossa casa, em Simão Dias. Bati numa tábua de corte o jenipapo em picadinho miúdo e o deixei numa vasilha com água até amanhã. Resultou naquela beberagem substanciosa que fazia do meu lanche da tarde... uma experiência inesquecível.

Outro refresco ancestral preparado pelo meu pai, era o Aluá, feito com cascas de abacaxi fermentadas. Trata-se de uma herança da culinária indígena, muito simples de preparar: descascado o abacaxi coloque as cascas bem lavadas num recipiente com água e as deixe fermentar por dois dias. Dá um refresco picante e azedinho, de propaladas qualidades digestivas, mas que deve ser tomado com parcimônia porque embebeda. Lá em casa ele só era servido em dias de festa num enorme jarra de Ágata, onde se acrescentava bicarbonato de sódio para espumar.

Imaginem a festa!

Amaral Cavalcante - 2014.

Texto e imagem reproduzidos do Facebook/Amaral Cavalcante.

O Crime da Rua Campos

Antigo casarão, onde funciona a (ASES), Associação Sergipana 
de Supermercados. Rua Campos, no Bairro: São José, em Aracaju/SE.
Foto reproduzida do site: ases-se.com.br/ases
Casa que pertenceu a Dr. Carlos Firpo.

Publicado originalmente no site do Portal Infonet, em 22/05/2009.

Luiz Eduardo Costa e o crime da Rua de Campos.
Por Odilon Cabral Machado/Blog Infonet.

Quando eu soube dos fatos, o tema me parecera distante, afinal eu não conhecia o assassinado, que alguns pronunciavam Dr. Firpo e outros Dr. Filtro.

Quando o jornalista Luiz Eduardo Costa escreveu no Jornal do Dia uma série de artigos sobre o crime da Rua de Campos, eu não consegui acompanhar a publicação em sua totalidade. Agora, fruto de um encontro fortuito com o escritor, consegui ler a totalidade do seu trabalho numa única sentada.

São 36 capítulos cheios de dados, conclusões e interpretações, evidenciando um trabalho minucioso de pesquisa de documentos e livros, entremeados de depoimentos dos que conviveram mais de perto com o tema, seja como partícipes dos fatos, seja mediante testemunhos incompletos de feitos “dantescos” mas observados, por bem assistidos e melhor interpretados. E que permanecem tão incompletos quão insuficientemente explicitados, porque desvestidos não foram ainda do pouco ora apurado.

Porque o tempo segue inconcluso, havendo ainda espaço para se mascarar a cena e contaminar o tema, como se fora um enredo de cinema, às avessas, mal feito ou feito às pressas. Só para dizer, que na impossibilidade de concluir que o crime não compensa, é sempre possível, rapidamente solucionar um problema, apurar, julgar e punir, em perfeita sanidade, matando-se logo o culpado por ter já o crime confessado.

Valendo tudo, tudo valendo a pena, aplaudindo inclusive o braço armado estatal quando exercendo uma crueldade inquisitorial, digna da crueldade medieval, “silenciava” o que confessava, na pancada e no cacete sem compressa, tudo arrimado por geral aparato judicial, legal e republicano, como se valesse e prevalecesse no bestiário sergipano daquele tempo, um endosso quase total, geral e inequívoco, de modo a coonestar que o crime sempre pode compensar desde que a alma do infeliz seja pequena.

Na verdade a alma sergipana se apequenara sobremodo, naqueles tempos de ódios e impunidades, e o crime da Rua de Campos serviria de desfecho, uma espécie de chave de cobre azinhavrado a concluir momentos de barbárie e violência, jamais apurados e nunca esquecidos.

E o trabalho de Luiz Eduardo resgata, com equilíbrio, sensatez e seriedade, um tema que está a suscitar pesquisas e discussões, afinal talvez não se conheça um crime de maior repercussão local, desde o assassinato de Fausto Cardoso em 1906, aí seguindo as momentosas incursões revolucionárias de Maynard Gomes, de 1924 e 1926, liderando as insatisfações tenentistas, e o nosso 13 de Julho.

Acontecido no mesmo céu e quase na mesma luz, o cenário do crime do médico Carlos Firpo não descortina um tempo dos sonhos românticos, nutrido no sangue generoso, heróico e libertário vertido por Fausto, nem a quadra de luta e de glória do movimento tenentista. Ali não se tenta sublevar as classes oprimidas para a construção de uma pátria mais justa, mais fraterna e mais repartida.

No cenário do crime da Rua de Campos há uma degradação de idéias e de sonhos. Os móveis podiam ser os mesmos, as edificações sem maiores mudanças, mas os homens se apequenaram e se fizeram bem miúdos. E como pigmeus morais, se tornaram vergonhosos e permanecem envergonhados, encenando personagens trágicos, quanto cômicos, desprovidos de grandeza, por degradantes no agir, demonstrando que já não vigia em Sergipe, um procênio de luzes e esperança.

Pelo contrário, os idos de 1958 se caracterizariam por um retorno aos ruídos abissais por deletérios, dos vitupérios inquisitoriais, de crimes institucionais. Parecia que uma bula demoníaca erigira um extrato original do Santo Ofício ou do vandalismo medieval, e de tantos outros ofícios nunca santos, mas em maldade descomunal, em alvedrios de arrepios, de desvios e de desbrios, em calafrios de maldade, minudência de monstruosidade, incidência que a humanidade já pensava carcomida e roída, afinal era o tempo do pós-guerra e do descortino do Holocausto, mas que no encausto daquele tempo, permanecera como monstruosa mancha, tisnando permanentemente no âmago desses homens, que no mando ou na execução, quando não falseavam ou materializavam, contemplavam e assistiam com dolosa omissão e culposa indiferença, em muita ciência e contemplação.

Sim, porque houve momento para tudo. Momento de ficção, invejando Agatha Christie e Conan Doyle, com bigode, mas sem a pança de Hercule Poirot, inquiridores e investigadores de sagacidade e premonição superiores a Dr. Watson e a Sherlock Holmes, sem lupa e sem cachimbo, com direito até a um alemão não teutão, mas glutão e espancador, detetives burlescos e rocambolescos a invejar Yrving Le Roy e Shell Scott, Tin Tin, Dupont e Dupond, os desenhos da revista X9, entremeados por ocultação de cadáver, em meio ao léu e à escuridão, e até as memórias sensuais de Giselle, a espiã nua que abalou Paris.

Tudo, porque, safados e caluniadores contumazes, junto a muitos incapazes e outros muito capazes de tudo, ousaram até desenhar como libertina a esposa do assassinado, D. Milena Mandarino, uma mulher até então reverenciada e bem educada, e bastante respeitada na sociedade de então, e que assim sempre permaneceu em retidão e em caráter.

E o relato de Luiz Eduardo Costa não tira nem acrescenta, narrando os fatos, agora municiado de provas e documentos, num estudo rigoroso e pormenorizado. História eivada de muitas estórias, que relembro auscultando também o meu passado, afinal bem mais jovem que ele, eu também vivera intensamente aqueles tempos, ouvindo muitos relatos políticos da minha circundância e lendo os inúmeros jornais assinados em minha residência.

Porque naquele tempo, em fato raro àquela época, e que ainda em mim persiste, recebia-se na minha residência, por assinatura, todos os jornais locais, começando pelo Diário de Sergipe do PSD, o partido da oposição, o Correio de Aracaju da UDN, o partido do Governador Leandro Maciel, A Cruzada, o semanário da Diocese, O Nordeste do PTB e do Deputado Francisco Macedo, o Sergipe Jornal do Dr. Paulo Costa e a Gazeta, então Socialista de Orlando Dantas.

Por outro lado, e porque não se falava de uma melhor ocupação, o rádio virara a única diversão, com os seus relatos ouvidos por homens, mulheres e meninos, seja na estatal PRJ-6 - Rádio Difusora, a mais moderada com a voz terna de Santos Santana, seja nos exageros da ZY-20 - Rádio Liberdade com Silva Lima e o seu “Informativo Cinzano” das 12h25min destacado por trinado Wagneriano: “No ar o informativo Cinzano, com as primeiras notícias da tarde de hoje e as última da manhã que passou” e com Santos Mendonça no seu famoso programa “Calendário”, programa político, entremeado por variedades e curiosidades, de provérbios e santos do dia, que se iniciava às vinte horas, após o término de “A voz do Brasil”, que naquele período até exibia audiência integral em todos os receptores sergipanos.

E o crime da Rua de Campos ocupara todos os rádios e jornais daquela época. O assassinado, logo se soube, fora o médico Carlos Firpo, homem de muitos méritos e bons conceitos, diretor do Hospital Santa Isabel, morto com requintes de crueldade e covardia, justamente quando dormia no recesso de seu lar, sendo esfaqueado no abdome, sendo-lhe expostas as vísceras em incontrolável hemorragia.

A cidade acordara em polvorosa. O assassinato ocorrera na madrugada do dia 29 de abril de 1958, uma terça-feira, e logo a notícia se espalhou tendo eu tomado conhecimento quando encontrei alguns colegas em demanda do Educandário Brasília, colégio das professoras Helena Barreto, Alaíde e Lourdinha Oliveira, onde eu concluía o curso primário.

Quando eu soube dos fatos, o tema me parecera distante, afinal eu não conhecia o assassinado, que alguns pronunciavam Dr. Firpo e outros Dr. Filtro.

Mas, a notícia vagarosamente decantou e foi filtrada. O médico, esfaqueado covardemente, fora Prefeito de Aracaju num tempo passado e manifestara alguma pretensão política, filiado que era à União Democrática Nacional (UDN) que governava o estado, conjugando realização e perseguição. Realidades discutidas amplamente na minha casa, sempre cheia de correligionários e políticos, afinal meu pai, Cabral Machado, era neste tempo um Deputado Estadual de muita importância, discursando diariamente na Assembléia Legislativa, como líder da oposição e do Partido Social Democrático (PSD), fustigando com eloqüência, elegância e cultura os desmandos violentos perpetrados pelos liderados do então Governador, Leandro Maynard Maciel.

No relato de Luiz Eduardo, pode-se perceber muitos destes ensaios de violência e de desmando, como o assassinato impune de Campos na Barra dos Coqueiros, a perseguição aos Cearás (Baltazar, Zezé, Fenelon, Adolfo e Percílio) em Ribeirópolis, o cerco a Pititó e a destruição da Usina Várzea Grande pertencente a seu pai o industrial, Pedro Ribeiro, o abrigo dos perseguidos no município de Serra Negra na Bahia, feudo do Cel. João Maria e do General Liberato Carvalho, enfim diversos nomes a traduzir e sofrer violências e perseguições políticas.

Mas, a despeito de tanta violência, o crime da Rua de Campos não se inseria no contexto político de polarização RABO BRANCO X CARA PRETA, como assim se tratavam pessedistas e udenistas.

Sobre o tema o escritor Ariosvaldo Figueiredo, citando o “Sergipe Progressista” de João Sales de Campos, assim escreveu: “o rocambolesco e brutal crime deixou perplexa a ordeira e pacata gente sergipana”.

E a pacata gente sergipana é bem citada no texto de Luiz Eduardo, desde o grito de dor do ferido até os erros desferidos no processo e na sua apuração.

O ferido, dizem os depoimentos desencontrados, homem forte e destemido agarrara-se com o sicário esfaqueador que fraquejara e quase não conseguira lograr tento ao cruel intento, fugindo atabalhoadamente pela Rua de Campos, em demanda do rio Sergipe, sendo testemunhado por vizinhos do médico, acordados por seus gritos e de seus familiares.

Entre os primeiros a socorrer, estavam o médico Aloísio Andrade e o comerciante Antônio Barreto Fontes, por vizinhos e amigos mais próximos.

Tentam socorrer, mas o caso envolve presteza de atendimento, requer ajuda cirúrgica e urgente, não é trabalho para clinico ou cardiologista.

“Barreto, chame Machado, peça que ele cuide das minhas filhas, diga a Milena que eu gosto muito dela.”, repete angustiado o ferido.

Machado era o médico José Machado de Souza, então Vice-Governador do Estado, seu grande amigo, dedicado pediatra e humanista de escol.

“Chame Canuto”, dirá depois, reconhecendo a necessidade da presteza operatória do cirurgião Canuto Garcia Moreno, que se apressara junto ao anestesista Fernando Sampaio para realizar a cirurgia.

Mas, o chamado e o socorro se faziam difíceis; os fios do telefone tinham sido cortados pelos matadores, o SAMDU – Serviço de Assistência Médica Domiciliar de Urgência não fora tempestivamente avisado e no sufoco da agonia, ninguém se lembrara, que na própria garagem da casa do ferido estava guardada uma ambulância.

O fato é que não houve salvação para o médico Carlos Firpo, que faleceu exangue aos 49 anos de idade, às 03h20min segundo relato citado do joalheiro Antônio Fontes um dos primeiros a socorrê-lo. Não houvera tempo de “estancar a hemorragia, costurar os intestinos rasgados e recuperar um rim atingidos pela faca do assassino.”

O enterro do médico, segundo Luiz Eduardo, fora carregado no ombro pelos amigos transladando o féretro da Rua de Campos para o cemitério Santa Isabel.

Nas minhas lembranças infantís de residente à Rua de Pacatuba 192, vi o cortejo passar no velho carro fúnebre de véus violáceos e penachos arroxeadas, resquício de beleza lúgubre da belle epoque, uma espécie de carro alegórico operístico, bastante extravagante e de profundo mau gosto, que Aracaju naquele tempo exibia.

Neste tempo Aracaju chamava a atenção por estas três relíquias: A primeira era o “santo cabelão”, a resistente imagem do Senhor dos Passados, abrigada ainda hoje no altar lateral da Igreja São Salvador, que muito triste e bem mais medonha, transmite o sofrimento de Jesus carregando a cruz nas “procissões do encontro”. A segunda, o cadilac de Jusse Faro,carregando o governador de plantão nos desfiles de Sete de Setembro e a terceira era este carro fúnebre de funesta memória.

Pois bem! Em minhas memórias, vejo este carro funerário trazendo o caixão do Dr. Carlos Firpo que enguiçando frente a minha casa, ali se imobilizou, apagando o fogo e necessitando ser empurrado por falha de ignição, tendo eu ouvido de um circunstante, que isso se devia à presença do matador assistindo a passagem do cortejo.

Como conseqüência da dor a cidade parara, as escolas liberaram os alunos, as emissoras de rádio tocaram exclusivamente músicas clássicas e o cortejo fora seguido por mais de uma centena de automóveis, um recorde logo esquecido, igual às falas dos oradores à beira do túmulo.

Mas, se havia muita comoção, surgiam logo as primeiras suspeitas. Fora um crime político?! Fora uma morte por vingança? Alguma motivação relacionada com herança! Teria sido um crime passional?! Cherchez la femme! - peroravam doutos e canalhas, para ampliação do mistério em burburinho.

E o desfecho se deu rápido, misturando tudo sem elucidar quase nada. Pelos relatos agora bem reavivados tinham sido dois os matadores. Eles tinham sido vistos assistindo a passagem do ataúde em demanda do Cemitério Santa Isabel.

Testemunhas ouviram o espanto dos dois forasteiros ao constatar o sofrimento do povão que carpia o excelente conceito do médico assassinado. Tinham matado um homem importante, muito bom e caridoso, um homem destinado só a minorar o sofrimentos dos pobres e a recuperar as suas vidas. E o remorso e o medo começaram a assolar os matadores.

Os assassinos não são daqui, saber-se-á depois. São de fora, são sertanejos de Itapicurú D’Água, em Jeremoabo, lá pras bandas do Raso da Catarina, não muito distante da usina recém construída de Paulo Afonso na Bahia.

Estão hospedados na pensão de Dona Estela, saber-se-á também, na Rua Itabaianinha entre Santa Rosa e Florentino Menezes, e queriam viajar logo, retornar para casa com urgência, porque a curiosidade e o jeito de ambos já estão despertando suspeitas, sendo quase descobertos por Manoel Pereira de Figueiredo, Diretor do Departamento de Trânsito e de seu motorista, o guarda civil José Bispo dos Santos.

Para fugir, alugam um carro de praça, como assim se chamavam os táxis de então. O contratado é Daniel, motorista sediado na Praça Serigy para levá-los ao desertão baiano em viagem noturna.

Firmado o acordo do pagamento, Daniel abastece o automóvel, um Ford 1942, chapa 11-50 de cor preta, no posto de Berro Grosso na proximidade do cemitério Santa Isabel, segundo relato detalhado de Luiz Eduardo.

A viagem fora tranqüila, tendo Daniel desconfiado porque, rotineiramente, seus passageiros se comportavam de uma maneira muito esquisita, demonstrando algum temor, sobretudo na passagem do Posto Fiscal, quando o carro tivera que aguardar a liberação policial da corrente, que permanecia erguida interrompendo o fluxo da estrada.

Nada, porém, iria interromper a viagem, mesmo a vigilância do Posto Fiscal feita pelo Sargento Celso e pelo Cabo Mirabeau, ambos conhecidos do motorista Daniel que identificara os seus passageiros como comerciantes em Paulo Afonso.

Mas, a viagem cansativa e as conversas mal trocadas, com a preocupação de novos cercos policiais, tudo evidenciava uma suspeita crescente em Daniel que dirigia sem parar, chegando a Carira, depois das nove horas da noite, prosseguindo agora em sobressalto em plena noite clara de lua cheia, cenário desértico da Malhada Nova de então.

Em alguns momentos, dirá depois o motorista, pensara em pedir socorro a alguém. Mas, quem lhe socorreria?!

Finalmente o carro atingiu o Posto Fiscal de Jeremoabo onde Daniel encontrou um seu conhecido, o soldado Adalberto, que também conhecia os passageiros e com eles travou animada conversa.
E a viagem terminaria já bem mais calma, por volta da meia noite, quando chegaram ao povoado de Itapicurú D’Água, desprovido de iluminação elétrica.

Ali Daniel recusaria o pernoite, na única casada caiada do arruado, tendo o chofer acompanhado de longe os passageiros que ali adentravam.

Neste ponto da narrativa, vale destacar que o relato detalhista do jornalista toma formas beletristas de poeta, descrevendo o alívio do motorista, com a vida conservada e a carteira abastecida com os três mil e quinhentos cruzeiros do pagamento da corrida, ouvindo no exato tempo daquela hora “o canto sincopado e estridente de um bando de acauãs festejando a noite de luar esbranquiçada, luminosamente espalhando-se sobre a vastidão das caatingas”.

Para o poeta Aidenor Aires, nascido em Riachão das Neves - Bahia, membro da Academia Goiana de Letras e Presidente do Instituto Histórico e Geográfico de Goiás, o canto da acauã “Com sua voz de litanias e incelenças dá à tarde um tom de aflorada infância. Canta seu verso de prístina memória, que aos ouvidos dos avós soava como badaladas de réquiem. ‘Vai à cova!... Vai à cova!... Vai à cova! ’ Seu responsório não invoca mais as mortes humanas, que disto se encarrega o trânsito, as balas, as jovens e anciãs enfermidades. Sem necessidade de ajuda os desalentados viventes vão se deixando levar sem resistência. Mas a acauã, no entardecer, não desata inutilmente sua voz de quase invisível ventre, de fugaz instrumento de penas. Recorda um tempo pueril de matas, campinas, rios e córregos”.

E prossegue o poeta para quem a acauã captura “por retalhos ou relâmpagos de tempo, a memória da extinta floresta, os ecos dos ermos e uma remanescente infância.” E os homens alheados em suas certezas breves, com a alma encarcerada no concreto, no asfalto e na ganância recolhem nesta “interferência lírica” um arrepio de prístinos presságios.

“Que busca a acuada acauã no onomatopaico canto: “Vai à cova!... Vai à cova!... Vai à cova!..”?

Estaria o pássaro querendo “despertar os homens,... acordar os meninos asfixiados pela pressa, os compromissos e as gravatas,...”? Estaria a semear “no bochorno da tarde evocação de afetos, memento de que ainda gozamos mistérios”?

Seria um convite ao passado, ao “infantil temor agasalhável em cobertores e zelos maternais,...  infância que (só ela) pode resgatar o mundo”?

Sim, porque só os bardos compreendem o alarido solitário da acauã, afinal os vates também cantam sozinhos e “vão ao lado dos homens com suas liras rotas, suas amadas pálidas cantando para despertar as manhãs, a lembrança das amadas ceifadas pelo olvido e a morte.”

Iguais à acauã, os poetas “obedecem às estações, perscrutam vozes que se armam no silêncio, e crêem nas noites e nas alvoradas.”

Para Luiz Eduardo Costa, porém, o chilreio da acauã naquela madrugada, calara fundo na alma do motorista Daniel, abafando-lhe o sono e dirimindo o seu cansaço. Era preciso retornar a Aracaju, partilhar sua experiência de transportar homens tão misteriosos e circunspetos. Seriam eles os matadores do Dr. Carlos Firpo? Perguntava-se com as acauãs a repetir: “Vai à cova!... Vai à cova!... Vai à cova!”

Passando de volta pelo Posto Fiscal de Jeremoabo, e recuperando os seus documentos que ali tinham sido retidos, toma conhecimento pelo guarda Adalberto, que os seus passageiros eram pessoas bem conhecidas naquela região.

O mais alto, o troncudo e enfarruscado era Euclides Timóteo, “indivíduo de péssima fama, matador, pistoleiro de aluguel”, muito protegido na área, “que há menos de um mês assassinara um soldado em Paulo Afonso”, sem que nada lhe acontecesse.

Quanto ao outro, o matuto baixinho, de compleição franzina, gestos tolos e mãos calosas, tratava-se de Pereirinha, “trabalhador marteleiro da CHESF”, indivíduo gozando de bons antecedentes e tendo fama de pacato.

Estava então solucionada toda a charada; os dois apressados viajantes tinham algum envolvimento com a morte do médico Carlos Firpo. Era preciso retornar rápido, contar logo a estória e livrar-se de uma possível acusação de conluio.

E a notícia correu bem mais rápida do que se esperava. O motorista, que cansado resolvera dormir em Frei Paulo na casa de uma irmã ali residente, é acordado pela madrugada por uma caravana de jipeiros, comandados por Antônio Mendonça, filho do deputado e baluarte udenista, Euclides Paes Mendonça de Itabaiana, que vindo de São Paulo, soubera dos fatos, justamente quando cruzara o Posto Fiscal de Jeremoabo.

A notícia foi logo recebida em Aracaju, tendo o motorista contado o feito na Secretaria de Segurança Pública, naquele tempo chamada Chefatura de Polícia, na Rua Duque de Caxias, na presença do Deputado Filadelfo Dória, do Governador Leandro Maciel, dos Secretários de Estado Antônio Machado, da Segurança Pública, e Heribaldo Vieira, da Justiça, do Coronel Aviador Afonso Ferreira, amigos do assassinado, e de tantos outros.

O governador imediatamente solicita providências. Uma força tarefa policial é logo formada com a missão de prender e seqüestrar os suspeitos, numa providência secreta e incógnita em invasão territorial e jurisdicional ao Estado da Bahia, operação realizada com sucesso e sem traumas, comandada pelo então delegado, José Nolasco de Carvalho, um jovem nascido em Jeremoabo, que já prenunciava uma longa carreira de vitórias, culminando com a desembargadoria, sempre respeitado e muito considerado, por moderação, equilíbrio e eficiência.

Poder-se-á dizer que houve uma invasão territorial e jurisdicional da polícia sergipana às terras da Bahia. Poderia ser diferente, se um dos suspeitos era um indivíduo com amplo amparo da polícia baiana?

Assim, numa atuação semelhante àquela depois imitada pelo Mossad, o serviço de inteligência israelense, quando do seqüestro e captura do carrasco nazista Adolf Eichmann, em solo tangueiro, a guarda de Sergipe, sem milongas, nem delongas, invadiu o solo irmão, e menos forasteiro, e sem tisnar o sobrecenho, nem gerar conflito e protestos como o fizera a inteligência judia na Argentina, a polícia sergipana lograra melhor sucesso.

Sim, porque os agentes do Mossad tinham uma estrutura sofisticada envolvendo grande rede de investigação, enquanto a especializada sergipana usaria um jeep apenas, conduzido por um civil, o motorista Daniel, era comandada por um jovem delegado, o Dr. Nolasco de Carvalho, e consistia do Major Ananias, do Tenente Batista e do Sargento Feitosa; cinco homens sem maior especialização investigativa, apertados num jeep, percorrendo estradas incômodas de piçarra.

Mas, o sucesso foi total. Dois dias após o assassinato do Dr. Firpo, e sem a necessidade de realizar desforço ou violência, a polícia sergipana retorna a Aracaju, trazendo os suspeitos do assassínio, agora devidamente identificados; Euclides Timóteo de Lima e José Pereira dos Santos, o Pereirinha, perfazendo sete homens apinhados no mesmo jeep.

Se a estória terminasse aqui, só existiriam louvores a rememorar, no entanto, em pleno estado de Direito, com todas as instituições funcionando livre e republicanamente, foram banidos a impessoalidade do labor estatal e o livre inquérito jurisdicional, e Sergipe testemunhou cenas terríveis, comparáveis às investigações realizadas pela Tcheka e pela Gestapo recém-temporâneas, ou pelos DOPS e DOI-COI que ressurgiriam uma década depois, e até os recentes noticiários de abusos de tortura do Ex-Presidente Bush em Abu Ghraib e na prisão de Guantánamo.

Mas, se há fatos deletérios, depravados e desalmados, há também feitos engraçados que Luiz Eduardo relembra a exaustão. O secretário de Segurança Pública Antônio Machado, por circunstância de surdez, fora afastado do comando do inquérito, substituído pelo Secretário da Justiça, Heribaldo Vieira, um “peregrino lírico” segundo sua destacada obra poética, publicada e bem referida. Dizia-se que Vieira tinha o ouvido bem afinado e melhor captaria o “canto” dos meliantes.

Por outro lado uma multidão, e os nomes são citados aos montes pelo jornalista, um bocado de gente assistiu os inquéritos, conduzidos na estrada erma que em direção à Atalaia, atingia a Cerâmica Santa Cruz, porque a cidade, igual a hoje, era limitada pelo Rio Sergipe, mas acabava na Chica Chaves, no Oratório de Bebé e no fundo da Igreja São José, e o resto era um descampado de brancas areias, lodosas lagoas e viveiros de mariscos, acrescidos de marinha que por muito tempo ainda permaneceriam sem aterramento ou edificação.

De modo que os inquéritos foram conduzidos à noite, em terras ermas, onde os “cantos” podiam ser trinados em vibrato de pulmões e diafragma, a pleno grito de choro e sem socorro.

Uma “cena dantesca”, dirá um dos muitos circunstantes, que tudo assistira sobre os fachos de luz dos faróis dos automóveis, iluminando a arena e a perversidade de toda a cena. Depoimentos assim tomados não careciam de tabelião ou escrivão, afinal quem o poderia transcrever a plena escuridão?

Afinal desvendou-se tudo. O matador fora Pereirinha, o tolo matuto que nada sabia e ali só entrara para ganhar um troco, mas ao esfaquear o médico sem defesa ou piedade, matara um homem que jamais odiara ou conhecera.

Quanto a Euclides Timóteo, este sabia tudo. Sabia quem mandara, e a circunstância do acerto do crime. Mas, o depoente sabia muito mais. Ele houvera prestado seus bons serviços de matador a muita gente.

Há quem diga, inclusive, que entre a assistência da tortura, o preso descobrira um seu conhecido, pessoa que num tempo anterior teria utilizado os seus préstimos. Mas agora, este novo dado o tornaria perigoso e imprestável. Era preciso “calar este menestrel” que poderia “cantar” demais.

E assim Timóteo morreu de pancada, na cilha e na trilha, no local que passaria a ser chamada de “Estrada Timoteana”, hoje perdida e esquecida, mas ainda facilmente localizada.

A chefia do aparato policial dirá que o custodiado falecera de cueca numa cela da chefatura por “ataque cardíaco”. Laudo equivalente ao “suicídio por enforcamento” do jornalista Wladimir Herzog, ou seja, há sempre um bom laudo para justificar o injustificável.

E aí eu lembro da célebre frase que Bertolt Brecht colocou no seu Galileu Galilei: “A soma dos ângulos de um triângulo não pode ser alterada segundo o interesse da cúria”. E é o mesmo Galileu que pontifica: “Quem não sabe a verdade é estúpido, é só. Mas quem sabe e diz que é mentira, é criminoso!” E o laudo restaria assim; “ataque cardíaco”, sem maior rigor de um exame necrológico.

A própria autoridade estatal dirá: “foi o corpo de Timóteo sigilosamente retirado do cubículo e mandado sepultar no Cemitério da Cruz Vermelha”, a fim de que não fosse prejudicado o processo investigativo.

Dirá ainda mais adiante: “O corpo de Euclides Timóteo foi retirado FURTIVAMENTE da Secretaria de Segurança.”

Seria este furtivamente documental uma reedição dos protestos da Anás e Caifás reclamando o corpo de um novo ressuscitado, ou teria o cadáver se esgueirado pela grade da jaula e saído ileso só vestido de cueca?!

Que nada! O cadáver de Timóteo fora enterrado como o de um indigente de nome Manoel dos Santos.

Ora, se a testemunha Timóteo não mais vivia para confirmar e assinar a sua confissão, que se tome o depoimento de quem o ouvira até a morte. E assim, em testemunhos rigorosamente iguais, eis o crime elucidado; fora um crime passional, encomendado pelo Coronel Aviador Afonso Ferreira Lima loucamente enamorado pela esposa do morto a Sra. Milena Mandarino Firpo, que no conceito popular fora transformada de esposa virtuosa, na mais degradante “Madalena, sobre a qual choveram pedras.”

E a estória virou um escândalo, ampliado sucessivamente no Informativo Cinzano de Silva Lima e no programa Calendário de Santos Mendonça, com depoimentos tomados a força e na pancada de Maria Conceição, a cozinheira, Eunice, a copeira, Paulo Rosa o jardineiro, e Gilena, uma afilhada, serviçais e residentes da residência dos Firpo, como Milena sendo linchada moralmente, sendo-lhe depois arrancadas confissões escabrosas, com assinaturas desprovidas de autenticidade, envolvimento de muitas pessoas ilibadas, e até denúncias de depoimentos sob efeito de drogas entorpecentes; os tais “soros da verdade”.

Dos chamados “soros da verdade”, hoje passados cinqüenta anos em avanço e tecnologia, o noticiário divulga uma série de torturas cometidas pelos americanos em Abu Ghraib e em Guantánamo. São martírios medievais, utilizadas a evidenciar que não há ainda “soros da verdade” confiáveis.

Na verdade, nunca houvera soro, nem a confissão de Milena fora verdadeira. Restara, contestando o todo declarado, um depoimento cuja assinatura não resiste a uma tola apreciação grafotécnica.

E Luiz Eduardo o prova, quer utilizando um laudo pericial do especialista grafotécnico Antônio Newton de Oliveira Porto bem como anexando para análise geral e irrestrita dos leitores, cópias das assinaturas de Milena Mandarino Firpo, onde se evidencia uma falsificação grosseira justamente naquele documento em que há uma descrição desabrida de sua paixão amorosa pelo Coronel Aviador Afonsinho.

O resto todo mundo já sabe: O promotor Aloísio Barbosa Porto pede a prisão preventiva de todos os que estavam dentro de casa no dia do crime, a esposa do morto, Milena Mandarino Firpo, junto com seu pai, Nicola Mandarino, Gilena Santana, uma empregada e o Coronel Aviador Afonso Ferreira Lima, o Afonsinho.

O juiz Serapião de Aguiar Torres, acolhendo parcialmente o pedido determina a prisão de Milena, do Coronel Afonsinho, liberando Nicola Mandarino e Gilena Santos.

Iniciada a fase processual, o Lyons Club contrata o advogado Achiles Lima para funcionar na acusação, depois será contratado também o grande causídico Sobral Pinto, destacado defensor de Luiz Carlos Prestes no período Vargas.

Na defesa de Milena funcionaria um outro grande luminar do Direito, Evandro Lins e Silva, enquanto defendendo Nicola atuou a grande advogada sergipana Maria Rita de Andrade.

Quando o processo começou a ser debatido, o auxiliar de acusação Achiles Lima começou a constatar falhas gravíssimas passíveis de anular toda instrução policial.

O mesmo constatou o grande advogado Sobral Pinto, ficando a acusação desprovida de maior embasamento para a condenação dos acusados que permaneceram presos, Milena e Pereirinha na penitenciária de Aracaju e Afonsinho na base aérea do Recife.

Destaque-se também a atuação da Sra. Edna Bento Faria Lima, esposa do Coronel Afonsinho, que toma a defesa do seu esposo, rejeitando a denúncia de adultério, conquistando a sociedade aracajuana pela sua coragem e inteligência, fustigando os maledicentes que se recolhiam acabrunhados.

Daí para frente, a sociedade sergipana, pelos seus jornais e figuras destacadas como o Bispo Dom Távora advertiam “sobre a impropriedade dos julgamentos antecipados”.

Milena começa a receber a visita de algumas amigas e de senhoras da sociedade, destacando-se as Professoras Bernadete e Mariá Galrão Leite, diretoras do Colégio do Salvador, que nunca abandonaram a amiga feita prisioneira, nem acreditaram na sua culpabilidade, amparando as alunas, Juju e Gracinha, filhas do casal Carlos Firpo e Milena.

E, só para caracterizar os exageros dos ânimos daquela época, é preciso destacar um fato não narrado por Luiz Eduardo Costa, mas que conheço por testemunho familiar de fidelidade e amizade. Trata-se Albertina Campos Nascimento, falecida em 2006 que era tia de minha esposa Tereza Cristina e grande amiga de Milena por toda a vida. Albertina, nunca abandonara a amiga naqueles anos tristes; indiferente às chacotas e humilhações, Albertina levava diariamente a alimentação de Milena, então custodiada na Penitenciária, evitando que se consumasse o que se propalava na cidade; que a presa seria envenenada.

Mas, é preciso encerrar o relato que já vai longo. Aqui está só um pequeno extrato do trabalho de Luiz Eduardo, que um dia será publicado, muito lido e comentado.

Preciso, porém, transcrever um trecho da lavra de dois desembargadores, quando do julgamento do recurso de pronúncia dos acusados, um a favor e outro contra.

No voto vencedor, aceitando a denúncia de Milena transcreve-se como um agravante: “Ter ainda esta acusada presenteado o chauffer José Airton com a roupa pertencente ao Dr. Carlos Firpo poucos dias depois da sua morte, numa demonstração a mais do desprezo que votava ao marido”.

No voto vencido, pronunciado pelo Desembargador Hunaldo Santaflor Cardoso, os novos tempos levantavam o véu de bruma e de treva: “Somente diante do clima de repúdio e de revolta da opinião pública em geral, se explica que as pessoas indigitadas de co-autoria intelectual unindo-se lendas e mistificações, que como castelo de cartas, não resiste ao mais leve sopro da verdade, quando se lhe examina a contradita que lhe opõem expressivos e esclarecedores elementos contidos nos autos , sua absoluta improcedência e a sua inelutável inconsistência. Se assim ocorre, não se poderá condescender como clamor da indignação geral ante a enormidade do monstruoso crime, aceitando as demasias, as incongruências e aos atentados às formas protetoras das garantias individuais que, em delírio, foram solenemente praticados em todo o decorrer do processo. Na conturbada atmosfera que empolgou a todos os espíritos, não foi difícil chegar a conclusões precipitadas e falsas. No caso sub judice o juiz a quo não fez o indispensável confronto, e daí sua sentença de pronúncia quanto aos presumidos autores intelectuais, ter caráter manifestamente unilateral. Não se fundamenta na prova contraditória produzida em juízo, mas em simples presunções.

A porta estava aberta para o recurso ao Supremo Tribunal Federal, tendo o ministro Nelson Hungria em julgamento de Hábeas Corpus do Coronel Aviador Afonso Ferreira Lima estendido a Milena Mandarino, decretado a liberdade dos dois, no dia 14 de setembro de 1960, reconhecendo que não se podia arrimar um processo judicial “em depoimentos prestados nos desvãos de delegacia policial e não reproduzidos em Juízo nem declarações de beleguins policiais apontados como assassinos de um dos réus pseudo-confidentes”.

Hoje, passados mais de cinqüenta anos dos fatos, em boa hora Luiz Eduardo Costa desenterra os feitos para que a história o analise sem ódios.

Não se trata de desenterrar a bela Inês de Castro pelo seu amado Dom Pedro I, o cru.

Não se trata do revanchismo triste aos carrascos insepultos, porque a história precisa ser sempre lembrada para não ser repetida, afinal se muitos erros aconteceram em 1958, deva-se sobretudo a intemperança dos homens que na pressa de agarrar os culpados, utilizaram mecanismos incompatíveis com o respeito à dignidade humana.

Igual à tortura dos prisioneiros de George Bush que no afã de se prevenir contra os ataques terroristas, erigiram a mortificação como método sacralizado, por necessário.

Nos tempos atuais, o noticiário já afirma, que o Presidente Obama recuou da sua política de divulgação da tortura realizada contra os prisioneiros terroristas. Tal divulgação iria constatar que a tortura evitara outros ataques iguais ao de onze de setembro, que foram descobertos e evitados.

É verdade! A tortura tem os seus encantos! Há muita gente boa que a defenda no interesse geral e coletivo.

Uma coisa perigosíssima, afinal qual é o limite do interesse geral e coletivo num clima de pânico incontrolável?

A sociedade sergipana reagira racionalmente às primeiras notícias do crime da Rua de Campos?

Não estaria aí um ponto a dirimir muitos erros?

Eis aí uma questão colocada, não para o olvido e a indiferença, mas para o perdão da falta de nós todos.

Para finalizar, volto ao poetar de Aidinor Aires e ao responsório onomatopaico da acauã: “Vai à cova!... Vai à cova!... Vai à cova!..” porque ninguém vai mais a cova de Carlos Firpo, desaparecida no tempo e no espaço, igual a tantos seus circunstantes, como Euclides Timóteo, que morrendo de pancada virou o indigente Manoel dos Santos, todos na indiferença da litania acauã.

Mas o livro de Luiz Eduardo Costa, não agradando a tantos, segue como os “Poetas acauãs (que) vão repetindo na surdez dos homens encolhidos um sussurrar de alívio para as dores da desesperança, um entoar de cantos para exorcizar a morte e cobrir de alvíssaras o flamejar da vida que, afoita, nos mira na esquina da próxima manhã. A bênção, acauã”.

Texto reproduzido do site: infonet.com.br/blogs/odilonmachado