Foto: arquivo Lineu Lins.
Publicado originalmente no jornal Gazeta de Alagoas, em
01/01/2016.
O homem que me ensinou a ser bispo.
Por Dom Edvaldo G. Amaral*
O homem que me ensinou a ser bispo foi Dom Luciano José
Cabral Duarte, figura exponencial do episcopado brasileiro nos anos 1970 a
2005. O ser Arcebispo Metropolitano de sua terra natal, Aracaju, é caso mais
único que raro na história dos Bispos do Brasil. Quando padre, doutorou-se em
filosofia pela Sorbonne de Paris, com brilhante tese escrita em francês que,
infelizmente, só recentemente, após sua doença, foi publicada por sua irmã
Carminha Duarte, com a tradução portuguesa. Grande Arcebispo, foi notável no
campo da educação, como membro do Conselho Federal de Educação e presidente do
MEB (Movimento de Educação de Base), criado pela Igreja do Brasil no combate ao
analfabetismo, nos difíceis tempos do regime militar. Empenhou-se com todas as
veras e conseguiu, após muita luta com o Ministro da Educação, Jarbas
Passarinho, a criação da Universidade Federal de Sergipe que, infelizmente,
nunca soube reconhecer e ser-lhe devidamente grata por esse seu esforço
decisivo para a educação em Sergipe.
O seu clero estava bem unido e solidário com sua ação
pastoral. Alguns, de outras nacionalidades, que o combateram antes de sua
promoção de bispo auxiliar para Arcebispo, retiraram-se quando ele assumiu o
governo pastoral pleno de Aracaju. Cada ano tinha a grande alegria de promover
pessoalmente a tradicional romaria a Divina Pastora, cuja igreja matriz era o
santuário mariano da Arquidiocese. Na sua esclarecida ação social, criou a
PROHCASE (Promoção do Homem do Campo de Sergipe), com terras de cinco fazendas,
compradas ou recebidas em doação e nas quais número expressivo de agricultores
trabalhavam para seu honesto sustento, mediante pequena contribuição para a
Arquidiocese. Depois da experiência de alguns anos, as terras destas fazendas
foram doadas aos que as cultivavam. Foi autêntica e sábia reforma agrária, tão
apregoada e mal realizada pela esquerda brasileira.
Dom Luciano exerceu como poucos o ministério da Palavra.
Suas homilias aos domingos, na igreja de São Gonçalo, transmitidas pela Rádio
Cultura, eram autênticas lições de sábia teologia pastoral. O mesmo se pode
dizer de seus programas na mesma rádio da Arquidiocese ao meio-dia dos
domingos, seguidos por imenso número de ouvintes em todo o Sergipe.
Fui nomeado seu bispo auxiliar pelo Beato Paulo VI, que me
elegeu bispo titular de Zallata, cidade antiga da Algéria. Foi Dom Luciano quem
me sagrou bispo em Natal, em 20 de abril de 1975. Trabalhei ao seu lado por
cinco anos e foi ele com sua experiência quem me reintroduziu na pastoral. Eu
vinha do trabalho na educação, como diretor de escola, membro do Conselho
Estadual da Educação e presidente da Associação de Educação Católica e do
Sindicato dos Estabelecimentos de Ensino do Rio Grande do Norte.
Muito aprendi de sua inquebrantável fidelidade ao Papa, sua
irrestrita adesão ao ensinamento da Igreja de Jesus, sua decidida defesa do
ensinamento pontifício, nos tempos difíceis, em que ele viveu e exerceu seu
ministério. Tempos difíceis na política nacional e tumultuados dentro da
Igreja, com posições teológicas equivocadas.
Enfim, foi Dom Luciano Duarte o homem que me ensinou a ser
bispo...
* Arcebispo Emérito de Maceó
Texto reproduzido do site:
gazetaweb.globo.com/gazetadealagoas
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