Publicado originalmente no site F5 News, em 23/11/2016.
Livro resgata memória do poeta sergipano Mário Jorge Menezes
Vieira.
Por Fernanda Araujo.
O poeta Mário Jorge Menezes Vieira estaria completando 70
anos nesta quarta-feira (23/11/2016), se não fosse sua morte repentina aos 26
anos. Tendo até o nome em uma avenida importante no bairro Coroa do Meio, em
Aracaju (SE), com o pouco tempo em que viveu ele conseguiu se expressar através
de sua obra poética, influenciando artistas brasileiros até os dias de
hoje.Considerado como um homem além de seu tempo, uma grande referência
cultural sergipana e até além-divisas, Mário Jorge foi o primeiro poeta concretista
sergipano, com uma trajetória de poesia e luta por uma sociedade mais justa e
igualitária. Militante do Partido Comunista e do movimento estudantil, com seus
poemas questionava a sociedade brasileira de seu tempo, em plena Ditadura
Militar, o que o levou a ser preso por causa das suas atividades consideradas
como subversivas perante o governo da época, e absolvido em 1972.Como forma de
homenageá-lo, seu livro “De Repente Há Urgência” será relançado... no Cultart,
em promoção da deputada Ana Lúcia Menezes Vieira, irmã de Mário Jorge. Além
disso, também haverá uma exposição de algumas de suas obras, com influência das
Poesias de Vanguarda, destacando-se mais a poesia concretista, práxis, social,
marginal e pop, e também influências da Tropicália.
F5 News ouviu alguns admiradores de sua obra.
Amaral Cavalcante - poeta e jornalista"O poeta Mário
Jorge foi uma espécie de antena, transmitindo sinais de rebeldia e coragem
entre nós. Ele nos ensinou a explodir os limites provincianos da poesia e a
inventar novos horizontes de afirmação cidadã. Mário Jorge foi o poeta
visionário da nossa geração".
Aglacy Mary – poeta e educadora“Quando ele surgiu e começou
a se mostrar poeta no nosso estado eu era uma menina ainda. Mário Jorge viveu
na década de 70 e então eu só vim ter a dimensão de quem era Mário Jorge na
faculdade. Felizmente, hoje se resgata a obra dele. Eu sempre tive o material
dele comigo e a importância é enorme porque é um poeta que se destaca no
cenário sergipano como alguém que trouxe uma forma de fazer poesia diferente.
Escreveu sempre se mostrando com um olhar que poucos tinham, sempre dando um
passo à frente. Uma forma de escrever que inaugurava um modo concretista de ser
a poesia. A poesia de Mário Jorge se podia tocar, porque se falava muito ao
social, escreveu muito em função de como percebia o mundo, as questões sociais
eram muito abordadas, isso naquele tempo já era uma coisa importante. Hoje é
como história, como elemento, como alimento para a poesia sergipana, eu acho
fundamental. Tem um eterno compromisso, não só a lembrança do homem, essa
coragem e como cidadão atuante, mas como poeta. Para as nossas letras Mário
Jorge tinha presença. A poesia dele era muito ligada também à arte visual,
então teve uma veia de artista plástico também. Mário Jorge é uma figura que
precisa ser lembrada, uma poesia que pode-se ler e pode-se ver”.
Jeová Santana – professor de literatura e escritor“Ele
morreu cedo, a gente não tinha uma boa ideia até onde sua obra chegaria. Ele
teve uma presença muito forte no concretismo, tinha muito por onde caminhar,
passar para outras vertentes, mas aí a morte dele veio e deixou isso em aberto.
Ele tem uma importância cultural, porque estava nos anos 70, um momento
bastante singular, numa cidade pequena como Aracaju, num estado pequeno que
conseguiu com um pouco deixar obras que estão em sintonia com o nosso tempo até
agora. Só acho que às vezes há certo exagero sobre o pouco material que ele
deixou de acordo com a genialidade. É uma obra em formação, em crescimento,
teria muito a dar ainda se não fosse a interrupção. Gosto muito de um poema
dele que é bem pequeninho, ‘Aracaju arca azul senão se sul caminhos do Sul não
são para mim’; Gosto muito desse poema porque é aquela história de ‘como dizer
, como fazer a partir do lugar em que você está’. Ele tem uma importância, mas
as vezes há uma supervalorização por pessoas até que conviveram muito com ele.
Mas é preciso ter esse distanciamento, tem muita coisa bacana, mas tem outras
que ficaram ainda e poderiam ser melhores resolvidas se ele tivesse tempo para
isso”.
“Quem vê que veja”, por Jozailto Lima.
O bicho-homem arranha
a teia-terra, aranha
estradando surdos
dados
Amargos arte físseis
metralha fósseis
meta : mito
e morte.
Mário Jorge.
Texto e imagem reproduzidos do site: f5news.com.br
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