quarta-feira, 15 de fevereiro de 2017

Livro do poeta sergipano Mário Jorge Menezes Vieira.


Publicado originalmente no site F5 News, em 23/11/2016.

Livro resgata memória do poeta sergipano Mário Jorge Menezes Vieira.

Por Fernanda Araujo.

O poeta Mário Jorge Menezes Vieira estaria completando 70 anos nesta quarta-feira (23/11/2016), se não fosse sua morte repentina aos 26 anos. Tendo até o nome em uma avenida importante no bairro Coroa do Meio, em Aracaju (SE), com o pouco tempo em que viveu ele conseguiu se expressar através de sua obra poética, influenciando artistas brasileiros até os dias de hoje.Considerado como um homem além de seu tempo, uma grande referência cultural sergipana e até além-divisas, Mário Jorge foi o primeiro poeta concretista sergipano, com uma trajetória de poesia e luta por uma sociedade mais justa e igualitária. Militante do Partido Comunista e do movimento estudantil, com seus poemas questionava a sociedade brasileira de seu tempo, em plena Ditadura Militar, o que o levou a ser preso por causa das suas atividades consideradas como subversivas perante o governo da época, e absolvido em 1972.Como forma de homenageá-lo, seu livro “De Repente Há Urgência” será relançado... no Cultart, em promoção da deputada Ana Lúcia Menezes Vieira, irmã de Mário Jorge. Além disso, também haverá uma exposição de algumas de suas obras, com influência das Poesias de Vanguarda, destacando-se mais a poesia concretista, práxis, social, marginal e pop, e também influências da Tropicália.

F5 News ouviu alguns admiradores de sua obra.

Amaral Cavalcante - poeta e jornalista"O poeta Mário Jorge foi uma espécie de antena, transmitindo sinais de rebeldia e coragem entre nós. Ele nos ensinou a explodir os limites provincianos da poesia e a inventar novos horizontes de afirmação cidadã. Mário Jorge foi o poeta visionário da nossa geração".

Aglacy Mary – poeta e educadora“Quando ele surgiu e começou a se mostrar poeta no nosso estado eu era uma menina ainda. Mário Jorge viveu na década de 70 e então eu só vim ter a dimensão de quem era Mário Jorge na faculdade. Felizmente, hoje se resgata a obra dele. Eu sempre tive o material dele comigo e a importância é enorme porque é um poeta que se destaca no cenário sergipano como alguém que trouxe uma forma de fazer poesia diferente. Escreveu sempre se mostrando com um olhar que poucos tinham, sempre dando um passo à frente. Uma forma de escrever que inaugurava um modo concretista de ser a poesia. A poesia de Mário Jorge se podia tocar, porque se falava muito ao social, escreveu muito em função de como percebia o mundo, as questões sociais eram muito abordadas, isso naquele tempo já era uma coisa importante. Hoje é como história, como elemento, como alimento para a poesia sergipana, eu acho fundamental. Tem um eterno compromisso, não só a lembrança do homem, essa coragem e como cidadão atuante, mas como poeta. Para as nossas letras Mário Jorge tinha presença. A poesia dele era muito ligada também à arte visual, então teve uma veia de artista plástico também. Mário Jorge é uma figura que precisa ser lembrada, uma poesia que pode-se ler e pode-se ver”.

Jeová Santana – professor de literatura e escritor“Ele morreu cedo, a gente não tinha uma boa ideia até onde sua obra chegaria. Ele teve uma presença muito forte no concretismo, tinha muito por onde caminhar, passar para outras vertentes, mas aí a morte dele veio e deixou isso em aberto. Ele tem uma importância cultural, porque estava nos anos 70, um momento bastante singular, numa cidade pequena como Aracaju, num estado pequeno que conseguiu com um pouco deixar obras que estão em sintonia com o nosso tempo até agora. Só acho que às vezes há certo exagero sobre o pouco material que ele deixou de acordo com a genialidade. É uma obra em formação, em crescimento, teria muito a dar ainda se não fosse a interrupção. Gosto muito de um poema dele que é bem pequeninho, ‘Aracaju arca azul senão se sul caminhos do Sul não são para mim’; Gosto muito desse poema porque é aquela história de ‘como dizer , como fazer a partir do lugar em que você está’. Ele tem uma importância, mas as vezes há uma supervalorização por pessoas até que conviveram muito com ele. Mas é preciso ter esse distanciamento, tem muita coisa bacana, mas tem outras que ficaram ainda e poderiam ser melhores resolvidas se ele tivesse tempo para isso”.

“Quem vê que veja”, por Jozailto Lima.

O bicho-homem arranha
a teia-terra, aranha
estradando surdos
dados
Amargos arte físseis
metralha fósseis
meta : mito
e morte.

Mário Jorge.

Texto e imagem reproduzidos do site: f5news.com.br

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