Publicado originalmente no Facebook/Antônio Samarone, em
10/02/2017.
Perdemos Abrahão Crispim de Souza, neto de tia Zefinha. Um
homem que fez de tudo pela cidadania. Em minha infância, quando Itabaiana era
regida pelo Concílio de Trento, Abrahão aparecia com novidades laicas. Os
bailes, as festas, as músicas, as danças tudo partia dele. Um exímio dançarino,
um pé de valsa. Abrahão, com mais uma meia dúzia de gatos pingados, criou o
Serrano, jornal livre e inteligente. O mesmo grupo fundou o MDB, quando as
trevas da ditadura aprofundavam a escuridão de Itabaiana. Abrahão lançou uma
anti candidatura a Prefeito de Itabaiana, com cento e poucos votos, enfrentado
os tradicionais coronéis. Botou uma discoteca para levar os discos dos Beatles
para a Serra. Foi um torcedor apaixonado do Tremendão da Serra, chegando uma
vez a desafiar o temido Barreto Mota, chefe da polícia e cartola do Clube
Sportivo Sergipe. Claro, entre os jovens de minha época tinha outros mais
cultos, tinha até comunistas, mas ninguém superava Abrahão, no conjunto da
luta.
Quando veio estudar em Aracaju, Abrahão não se aquietou, foi
presidente do Centro Acadêmico Augusto Leite; Presidente do Sindicato dos
Bancários, Vereador de Aracaju, com um mandato centrado na decência. Onde quer
que houvesse uma manifestação de trabalhadores, lá estava Abrahão. Militou no
PT (o antigo), na CUT, nas lutas sociais, sempre disposto. Foi meu dentista,
não tenho o que falar, sempre resolveu meus problemas sem nada cobrar. Quando
criamos a Academia Itabaianense de Letras, ninguém teve dúvida, nem um porém,
um dos primeiros nomes convidados foi o de Abrahão. Eu e a minha geração
devemos muito a ele, pelo exemplo. Itabaiana e Sergipe devem muito a Abrahão.
Hoje a cidadania veste luto. Descanse em paz velho líder.
Texto e imagem reproduzidos do Facebook/Antonio Samarone.
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