sexta-feira, 17 de abril de 2020

A morte de um homem bom, por Edvar Freire

Estácio Bahia, esposa Aurélia, a filha Sílvia e o
 genro Marco. Imagem reproduzida de arquivo 
de Diego Bittencourt, postada pelo blog,
 para ilustrar o presente artigo.

Texto publicado no site do jornal CINFORM, em abril e 2020

A morte de um homem bom
Por Edvar Freire

Alguém falou, acho que foi Ernest Reminguay “A morte de qualquer homem me diminui, porque sou parte do gênero humano. E por isso não perguntes por quem os sinos dobram; eles dobram por ti”.

Então, conheci Dr. Estácio, era assim que as pessoas o tratavam, há algumas décadas. Era um entre os grandes empresários das outrora exuberantes indústrias têxteis e de malharia.

Surpreendentemente, deparei-me com um homem de postura e vocabulário requintados, homem de fino trato e de sorriso espontâneo, e que tratava a todos com muita atenção e até com ternura. Eu era do Banco do Brasil e ele era cliente.

Visitei uma ou duas vezes o seu empreendimento, e ele esteve outras tantas vezes no banco. Na Guimatex, sua malharia, montada com o que havia de mais moderno no mundo, todos os equipamentos importados da Alemanha, percebia-se a forma como os empregados o respeitavam e como nutriam admiração por ele.

Naqueles dias, descobri que Dr. Estácio cultivava orquídeas, e fiquei encantado pela forma com que um sujeito se dedica ao mundo competitivo, árido, dos negócios, sem abrir mão da convivência com a beleza e o com o perfume das flores.

Com a decadência do ramo de têxteis e malharias pelo Brasil afora, vítimas indefesas das importações de tecidos asiáticos, perdi o contato direto com o nobre amigo, mas nunca deixei de acompanhar, de longe, as incursões de Dr. Estácio.

Foi quando me deparei com o lançamento do seu primeiro livro e descobri que, além de amante das flores, o surpreendente Dr. Estácio era nada mais nada menos que um fino poeta, um escritor, um artista.

Há pessoas que por onde passam, no decorrer da vida, deixam impressões positivas, tanto isso é verdade que, mesmo com o relacionamento mínimo que mantive com o Dr. Estácio, senti o desejo de escrever essa modesta homenagem póstuma.

Homem de sonhos, homem de família, homem que sugou a essência da vida e deixa muitas saudades entre os seus familiares e amigos. Portanto, no momento das últimas despedidas, não perguntem por quem os sinos dobram, eles dobram de tristeza, porque se vai com Dr. Estácio um pouco de cada um de nós. 
  
Texto reproduzido do site: cinform.com.br

segunda-feira, 13 de abril de 2020

Ah, que falta nos fará o amigo Estácio Bahia Guimarães!

Foto:Jornal da Cidade e postada pelo blog

Texto publicado originalmente no site JLPOLÍTICA, em 09 de Abril de 2020

Opinião - Ah, que falta nos fará o amigo Estácio Bahia Guimarães!

Por Simpliciano Fontes* (Da Coluna Aparte)

Você, meu caro leitor, precisava ter tempo para ouvir os papos longos de Estácio Bahia Guimarães, o escritor falecido nesta quinta-feira, 9. Eu tive.

Diversas vezes eu me encontrava com ele no Calçadão da 13 de Julho e caminhávamos juntos, conversando longamente.

Certa vez, como meu tempo era curtíssimo, usei da estratégia de passar por ele correndo, dando um salve de soslaio. Estácio Bahia Guimarães ficou impressionado com a minha disposição física.

Como tínhamos idades próximas, se sentiu deprimido com a comparação que lhe veio à mente entre nós dois, fisicamente.

O amigo Estácio Bahia Guimarães caminhava cadenciado e tinha até tempo para recitar seus poemas - cá pra nós, muito bons e cheios de vida e de um ótimo lirismo.

No dia seguinte, encontrando-se com Thiago, meu filho, de quem era amigo, indagou curioso: “Thiago, quantos anos tem mesmo o Simpliciano?”. Thiago responde que eram 70.

Estácio tinha 73. Ele prossegue a conversa: “Rapaz, o cara está em forma! Passou ontem por mim no Calçadão correndo, parecia um foguete”.

Thiago, sem entender a observação, me telefona preocupado com minha saúde, até porque não sabia o que se passava, pois eu nunca foi adepto de corrida.

Esclareci que foi uma corrida de Estácio, por pura falta de tempo naquele dia em acompanhá-lo em seu bom papo, face a compromissos profissionais. Hoje, por certo, eu optaria pelo papo e pela poesia de Estácio Bahia Guimarães.

Conforta-me e a muito mais gente a sua produção literária, imortal que é, para quando quisermos a sua agradável companhia. Grande figura, nosso Estácio!

* É ministro aposentado do Tribunal Superior do Trabalho e advogado na ativa.

Texto reproduzido do site: jlpolitica.com.br

sábado, 11 de abril de 2020

A escrita de Estácio Bahia Guimarães

Foto reproduzida do Google e postada pelo blog

Texto publicado originalmente no site DESTAQUE NOTÍCIAS, em 10 de abril de 2020

A escrita de Estácio Bahia Guimarães
Por José Anderson Nascimento *

A Academia Sergipana de Letras amanheceu, hoje, surpreendida com a notícia do falecimento do poeta Estácio Bahia Guimarães, que ocupou a Cadeira Nº 29 do Sodalício, vítima de complicações pós-operatórias, deixando saudades entre os seus pares, sua família e admiradores. A sua imagem estará sempre marcada no Sodalício sergipano e nos diversos centros culturais em que atuava, com a lembrança da sua palavra culta, participativa e solidária.

Quando o recebemos na Academia, numa Sessão Solene do Cenáculo, realizada no dia 25 de outubro de 2001, destacamos, no nosso discurso, as suas qualidades literárias que justificavam o seu ingresso no ambiente literário. Para reforçar as nossas palavras, valemo-nos dos ensinamentos do acadêmico Afrânio Coutinho, que  ocupou a Cadeira Nº 33 da Academia Brasileira de Letras, ao anotar que  “o artista literário cria ou recria um mundo de verdades que não são mensuráveis pelos mesmos padrões das verdades factuais . Os fatos que manipula não têm comparação com os da realidade concreta. São as verdades humanas gerais, que traduzem antes um sentimento de experiência, uma compreensão e um julgamento das coisas humanas, um sentido da vida, e que fornecem um retrato vivo e insinuante da vida”.

Dessa estirpe bem-aventurada, emergiu o poeta homenageado, misto de anjo e de rouxinol, revelada nas suas manifestações poéticas e nas suas produções literárias e artísticas, pontilhadas em livros, revistas e em jornais.

Na escrita de Estácio Bahia Guimarães é difícil escolhermos a criação entre as suas produções literárias e criações artísticas, a que preferimos.

Em Respingos, a sua primeira obra publicada, o poeta reuniu uma centena de poemas, artisticamente ilustrados com os seus bicos de pena, mostra o amadurecimento do pensador. A obra está dividida em seis partes: respingos, marinhas, visões, eixos, temas e formas e sonetos. É uma composição poética moderna, de maneira conjunta e integrada no seu verso a verso, inclusive com alguns sonetos, o que não comprometem a contemporaneidade da forma e do estilo em seu todo.

Na verdade, essa naturalidade de expressão que caracteriza o estilo de Estácio Bahia Guimarães, sobretudo quando a construção da sua poesia reforça, também, a unidade temática, não está, por assim dizer, diretamente vinculada a regras acadêmicas, senão, e às vezes, com o propósito de enxertar a esperança e o amor, como no Soneto do Amor Maior: Há em ti, um amor maior/despontando como algo grandioso/majestoso sol a mostrar-se luminoso/delicada lua a banhar-me em candura/Há em ti, sobretudo,/um amor tagarela, bem falante/a sonorizar este meu viver mudo/despertando-me para um mundo amante/Maior amor, sei eu não existe/que mais mostre o que mostra o teu/chama eterna que tão terna se acendeu/Fazendo-me sentir leve como pluma/no suave corpo de um colibri/ao sentir que sentes, este amor por mim.

Respingos é um livro de amor. A homogeneidade das imagens revela imagens líricas, quase uma saudação de amor e esperança.

O conteúdo de modo geral, acentua o homem simples, sensível e humano que procura buscar a paz, acreditando em Deus e no próximo com veemência.

Em outro momento da sua poesia encontramos um forte sentimento de solidão, muito característico dos poetas que, por suas vezes, sentem-se solitários, incompreendidos na sua concepção da vida e do mundo, como se revela no poema Solidão, onde se vê a marcante influência do poeta Mário Cabral.

O autor foi também influenciado pelo poeta Santo Souza, com quem mantinha fortes laços de amizade. Mostra nessa quadra poética vários aspectos da sua poesia simbolista.

O livro “Tecidos de Arco-Íris”, é composto com poemas repletos de ternura, reveladores do seu permanente estado de lirismo. Alguns têm o sabor da íntima saudade como a confirmar a sua incoercível vocação lírica.

A explosão das suas emoções está registrada nos poemas Ternura, Passarela de Estrelas e Barco de Ilusões.

No seu último livro de poemas Pedras e Avencas, Estácio Bahia Guimarães pura, cristalina, clara. Em seus versos livres o poeta exibe o produto final dos seus sentimentos.

Aliás, ao apresentar uma breve resenha publicada na Coluna Educação, de Matheus Batalha,  no Jornal da Cidade, a confreira do Movimento Cultural Antônio Garcia Filho, anotou: Pedras e Avencas é o mais novo livro de poemas do poeta Estácio Bahia Guimarães, que compôs o seu livro em duas seções, cada uma com cinco capítulos, assim dispostos: Pedras da cidade, Pedras noturnas, Pedras das lembranças e saudades, Pedras e reflexões e Avencas da natureza, Avencas da natureza romância, Avencas românticas, Avenca marinha, Avencas e sonetos e Avencas sevillanas e madrileñas, poemas líricos, românticos e cheios de ternura e de amor. Essa coleção de admiráveis poemas está ilustrada com vinhetas coloridas e matizadas de autoria do poeta, criadas para adornar cada página do livro, além de reproduções de pinturas que representam movimentos das artes plásticas e decoram as galerias de artes, produções que aguçam os olhares dos seus espetadores, desde as épocas em que foram levadas ao publico e por ele  apropriadas, diante dos momentos temáticos em que foram concebidas, mundializando-se, como Guernica, de Pablo Picasso e o Grito de Munch, ou sócias como Cidade, de autoria do próprio autor, ou   Meninos de rua, de Florival Santos, A mulher de azul e Cabeça de pescador, ambos do consagrado pintor sergipano Álvaro Santos, estão no seio de outras  importantes contribuições artísticas. Nessa apreciação entre o poema e a arte está  a   fotografia de Ana Clara Franco Guimarães Pinto, ilustrando o poema  Crepúsculo. Já o poema Ciranda, está acompanhado da pintura   Brincando de roda, um exemplar da arte de Ana Maria. Pedras e avencas se insere no campo dos mais notáveis livros de poemas cheios de  lirismo, uma exemplar sonoridade, um dos atributos indeléveis da poética de Estácio Bahia Guimarães. A fortuna crítica está marcada nas  palavras de Ana Maria Fonseca Medina e de Carlos Britto, além do Imortal Santo Souza, todos da Academia Sergipana de Letras, Pedras e Avencas é um livro que deve ser lido, interpretado e divulgado como uma das joias da Literatura Sergipana.”

Além da produção poética, Estacio Bahia Guimarães notabilizou-se como cronista, contista, jornalista  e escritor, publicando o livro Justiça do Trabalho: evolução histórica no Brasil e em Sergipe e, ultimamente, o livro Falando dos outros e de outras coisas.

Como se vê, Estácio Bahia Guimarães se incorporou entre os poetas e escritores contemporâneos, com uma escrita leve e repleta de conceitos cristãos, solidários e democráticos, sempre defendendo os princípios da cidadania e dos direitos humanos, o que dignifica a Academia Sergipana de Letras.

* José Anderson nascimento é presidente da Academia Sergipana de Letras

Texto reproduzido do site: destaquenoticias.com.br

"O imortal Estácio Bahia", por Lucio Prado Dias


Publicado originalmente na Linha do Tempo do Facebook de Lucio Prado Dias, em 10 de abril de 2020

O imortal Estácio Bahia
Por Lucio Prado Dias

Do carnaval à Semana Santa, foram dias de angústia e sofrimento, até chegar a notícia que jamais gostaria de ler, às duas horas e quarenta e nove minutos da madrugada da última quinta-feira, 9 de março, na tela do celular. Na solidão do nosso quase que compulsório “isolamento social”, as noites têm sido eternas!

Seria verdade mesmo ou apenas um engano, na forma de um tormento, um pesadelo talvez? Não, infelizmente não, belisquei, estava ainda acordado, no momento limite entre a vigília e o sono. Poderia ser mais um pesadelo, como este que estamos vivendo, real, que nos afasta das pessoas que mais amamos.

Não era pesadelo. Era muito pior! Estácio Bahia Guimarães de fato havia partido, deixando-nos aqui, na planície, tristes e mais pobres, por não mais poder doravante conviver com a sua esplêndida humanidade, de poeta, cronista e artista plástico, de um ser pleno de vida, de emoção, de gentileza, do seu molejo ao caminhar, com passos curtos mas firmes, que pareciam que não o levaria ao seu destino, pura ilusão, pois lá estava ele, altivo, na raia de chegada, triunfante, com o sorriso que não se apaga, o afeto que não tem limite, o olhar meigo que conforta e traz muita paz.

Apreciava demais as suas intervenções nas sessões da Academia, nos momentos que se dividiam entre a pura contemplação e o cochilo distraído ( ou seria apenas uma breve meditação silenciosa?) Ficava a imaginar o que não estaria passando pela sua cabeça naquele momento, no mínimo seria um poema em formação, entre tantos que a sua inteligência, criatividade e sensibilidade produziram! Suas crônicas, publicadas no Jornal da Cidade, quando não lidas nas nossas sessões literárias, possuíam um brilho invulgar. Gostava demais de lê-las ou ouvi-las!

Você partiu, amigo Estácio, mas a sua vida e os seus versos ficarão eternos na nossa lembrança, como um facho de luz que o tempo jamais apagará!

Texto e imagens reproduzidos do Facebook/Lucio Prado Dias

quinta-feira, 9 de abril de 2020

"Meu Encontro com Estácio", por Jorge Carvalho do Nascimento


Publicado originalmente na Linha do Tempo no Perfil do Facebook de JorgeNascimento Carvalho, em 9 de abril de 2020

Meu Encontro com Estácio
Por Jorge Carvalho do Nascimento *

Em 1995, quando voltei a viver em Aracaju, depois de um estágio que cumpri durante dois anos pesquisando na Universidade de Frankfurt, na Alemanha, uma das primeiras visitas que fiz foi ao meu amigo Luiz Antônio Barreto. Ele vivia a plenitude da sua carreira de intelectual, jornalista e gestor público. Ocupava o cargo de Secretário de Estado da Cultura (logo depois, deixaria a Secretaria da Cultura para assumir a Secretaria de Estado da Educação) e era um dos nomes mais destacados dentre os membros da Academia Sergipana de Letras.

Foi no gabinete de Luiz Antônio que conheci Estácio Bahia Guimarães. Um gordinho leve, simpático e de uma conversa que nos remetia à vida boêmia de cidades como Salvador e Brasília, que falava da vida como professor na Universidade Católica de Salvador e de reminiscências e curiosidades sobre a política baiana. Mas, os olhos de Estácio brilhavam e ele ficava aceso quando o assunto descambava para o cultivo de flores (principalmente as orquídeas), a literatura, a poesia e as artes plásticas. Eram as suas paixões.

Ninguém imaginava estar diante de um homem formado em Administração de Empresas pela Universidade de Brasília – UnB, nem de um bacharel em Direito graduado pela Universidade Federal da Bahia. Muito menos de alguém que se especializara em Engenharia da Produção pela Escola de Organização Industrial, em Madri, na Espanha. Um Jornalista Profissional com atuação na imprensa da Bahia, além de ostentar uma bem sucedida carreira docente de professor universitário, tendo sido vice-diretor e diretor da Escola da Administração da Universidade Católica de Salvador – UCSAL, onde atuou nos Conselho Universitário, de Editoração e de Auditoria. Onde foi também superintendente administrativo e financeiro, vice-reitor e por duas vezes integrou a lista tríplice para escolha do reitor da instituição.

Nos tornamos amigos, sempre discutindo questões em torno da literatura e das artes. No ano 2000 conheci de perto a sua generosidade. Luiz Antônio Barreto lançou meu nome como candidato à Cadeira 34 da Academia Sergipana de Letras, vaga decorrente do falecimento da acadêmica Núbia Marques. Outros acadêmicos fizeram Estácio candidato na mesma vaga. Um dia, Luiz Antônio me convidou para ir à casa de Estácio conversar com ele sobre a possibilidade de um dos dois retirar a candidatura e aguardar uma outra vaga. Estácio, logo no início da conversa, afirmou: tem pouco tempo que eu vivo em Aracaju. Você está muito mais enraizado que eu na cultura sergipana. A vaga é sua. E retirou a candidatura. Um ano depois, em 2001, votei em Estácio para ocupar a vaga da Cadeira 29, decorrente do falecimento do acadêmico Luiz Rabelo Leite.

Artista plástico e poeta detentor de muitos prêmios e homenagens. Membro de Academias: a Sergipana de Letras, a Sergipana de Educação, ABROL e a de Letras de Aracaju. Membro do Rotary Club de Aracaju-Norte, do Instituto Histórico e Geográfico de Sergipe e da Associação Sergipana de Imprensa. Premiado pelos seus trabalhos como poeta, escritor, artista plástico e jornalista em Aracaju, Salvador, Brasília, Feira de Santana, Rio de Janeiro e São Paulo. Autor de seis livros.

Partiu para a eternidade. Fica imortalizado entre nós pelo registro dos seus trabalhos, pela obra que soube legar.

* Doutor em Educação, Jornalista Profissional, Membro da Academia Sergipana de Letras, Presidente da Academia Sergipana de Educação e professor aposentado da Universidade Federal de Sergipe.

Texto e imagem reproduzidos do Facebook/JorgeNascimento Carvalho

"O Sultão das Arábias" por Amaral Cavalcante

Imagem - Edise Instagram Posts

Texto publicado originalmente no site DESTAQUE NOTÍCIAS, em 9 de abril de 2020

O Sultão das arábias
Por Amaral Cavalcante *

Nunca consegui me fantasiar. Morria de inveja dos primos que vestiam as anáguas das irmãs no carnaval e saiam por ai, de calçola rota e sutiã de concha, arastando o xibiu no chão. O estreito gosto carnavalesco do meu pai – Seu Liminha – só admitia aos filhos usar um velho chambre mijado para acompanhar o bloco de sujos que percorria as ruas de Simão Dias, batendo lata e azucrinando os ouvidos dos mais velhos. Era assim que eu ia, menino grandão, brancão das canelas finas, me juntar à turma da Rua Cônego Andrade para curtir a batucada.

Fantasia, nem pensar. Aliás, em termos de maricagens, nada me era permitido. No dia em que mamãe Corina comprou uma camisa de listinhas azuis e um chinelo Havaianas para mim, foi um bafafá dos diabos! que filho dele não ia sair por aí como uma mulherzinha com esta camisa de fresco, inda mais com um chinelo de plástico verde enganchado no dedão. Nem pensar! Camisa de homem era branca ou caqui – de preferência – admitindo-se o cinza escuro ou o preto para luto fechado. Sapato, somente Fox, de cadarço e com o bico normal. Já o cabelo era Príncipe Danilo, sem muita brilhantina.

Mãe Corina se vingava desse enquadramento comprando roupas caras para nós na loja “Dernier Cri”, do conterrâneo Zé Rico, em Aracaju, onde mantinha uma caderneta de débitos. Mas ficasse sabendo: nada fantasioso para os meninos que filho meu eu quero é muito macho.

Por volta dos 12 anos, macomunado com a minha tia Anete – a da pá virada – comprei uma seda verde e ordenei a confecção de uma camisa de mangas bufantes com elástico na cintura para encarnar um sultão no carnaval do Caiçara Club. No turbante, estaria pregado um velho broche encastoado em rubi falso surrupiado da minha avó Terezinha e dois dragões guarnecidos de lantejoulas que seriam aplicados em cada lado do peito. Para brilhar em criatividade e fulgor, um largo cinto em napa dourada e fivelão trabalhado, na cintura. Uma maravilha que me custou semanas de planejamento e dedicação, ora a riscar os dragões em papel de debuxo, ora a acompanhar o seleiro Oscar Prata na confecção do cinto, a quem tive que recompensar com duas semanas de trabalho durocom um martelinho de ferro e um furão, bordando estrelinhas em selas. Tardes e tardes a escolher lantejoulas no Armarinho de Seu Guerra, sem contar a trapalhada que era fazer tudo isso escondido de Seu Liminha.

No primeiro dia de carnaval, cada um de nós já com sua caixa de lança perfume Rodouro, Corina toda pronta com um diadema de strass e dois berloques no pulso, Liminha em mangas de camisa com o sobrolho carregado de má vontade, ai apreço eu, o irradiante sultão das arábias, inda pingando areia prateada do olho do dragão, certo de que estava abafando.

Liminha tirou o cinto e avançou como um cruzado sobre este Saladino de araque, com ira santa e bastante força; lapada a lapada gritando cê é besta, filho meu tem que ser é homem.

Doeu tanto que até hoje eu não consigo nem botar um chapeuzinho de malandro na cabeça; nunca botei brinco nem uso penduricalhos, que dirá fantasia de mouro para brincar o carnaval.

 * Amaral Cavalcante é jornalista, poeta e cronista de mão cheia.

Texto reproduzido do site: destaquenoticias.com.br

Luto - Estácio Bahia Guimarães morre aos 76 anos

Foto reproduzida do site g1.globo.com/se 
e postada pelo blog

Texto publicado originalmente no site do Jornal da Cidade, em 9 de abril de 2020

Luto - Estácio Bahia Guimarães morre aos 76 anos

O escritor, poeta, empresário e jornalista Estácio Bahia Guimarães, faleceu na manhã desta quinta-feira (9). Ele era membro da Academia Sergipana de Letras e autor de vários livros.

O escritor, poeta, empresário e jornalista Estácio Bahia Guimarães, faleceu na manhã desta quinta-feira (9). Ele era membro da Academia Sergipana de Letras e autor de vários livros, a exemplo de ‘Respingos’, ‘Tecidos de Arco-Íris’, ‘Cinco Talentos da Arte’, ‘Justiça do Trabalho – Evolução Histórica no Brasil e em Sergipe’.

Estácio Bahia Guimarães nasceu em Salvador (BA), no dia 9 de fevereiro de 1943. Ele também era membro do Instituto Histórico e Geográfico de Sergipe e Associação Sergipana de Imprensa.

Estácio Bahia deixa esposa, filhos, noras e genro.

Texto reproduzido do site: jornaldacidade.net

domingo, 5 de abril de 2020

Fábio Dantas fará lançamento on-line de livro sobre o Arcanjo Miguel

Fábio Dantas vai lançar seu 10º livro
Foto: divulgação

Publicado originalmente no site do Portal INFONET, em 4 de abril de 2020

Fábio Dantas fará lançamento on-line de livro sobre o Arcanjo Miguel

Uma leitura voltada para a fé e espiritualidade. É com esse objetivo que o escritor Fábio Dantas vai lançar o livro ‘O Poder do Arcanjo Miguel. O lançamento on-line acontece neste sábado, 4, a partir das 16h, na fanpage do autor, (@fabiodantas) e na página no facebook @aguasdearuanda.

O autor explica que os anjos e arcanjos são mensageiros de Deus e estão entre o céu e a terra servindo à vontade divina. “O Arcanjo Miguel é um dos arcanjos mais próximos do reino físico e está profundamente empenhado em ajudar a humanidade a evoluir e a elevar a vibração”, conta.

Ainda de acordo com o autor, o livro se propõe a ser um manual diário para momentos de reflexão com a hierarquia angelical. “O leitor vai se conectar por meio do estudo de chacras, cromoterapia, cristais, musicalidade celestial, afirmações positivas, geometria sagrada, dimensões, rituais e invocações sagradas”, explica.

Fábio Dantas. O livro custará R$ 30 e a renda será revertida para a Casa de Sossego Vó Tereza.

Sobre o autor

Sergipano, nascido em Frei Paulo, Fábio Dantas é formado em Direito e Letras, Doutor em Ciências Jurídicas e Sociais e em Neuropsicanálise. Pós-Graduado em Ciência das Religiões. É Presidente do Centro de Formação Espiritual Águas de Aruanda. Tem formação em Hipnose, Ativismo Quântico, Fitoterapia, Constelação Estrutural, Coaching Sistêmico e ThetaHealing. É palestrante e autor dos livros “Aspectos Criminais da Lei Maria da Penha”, “Religião e Legislação: Uma questão de direito”, “Águas de Aruanda”, “A Força do Perdão”, “Cura pela Fé”, “O Milagre da Oração”, A Magia das Cartas Terapêuticas”, “Tarô dos Orixás” e “Cartas Alquímicas Animais de Poder”.

Com informações da organização do evento

Texto e imagem reproduzidos do site: infonet.com.br

sexta-feira, 3 de abril de 2020

Artigo de Marcos Cardoso > "A literatura sergipana está viva — e tem humor"


Texto publicado originalmente no site do Portal INFONET, em 29 de março de 2020

A literatura sergipana está viva — e tem humor
Por Marcos Cardoso (Do Blog Infonet)

A literatura sergipana está viva, provocando sensações, produzindo efeitos estéticos e nos permitindo compreender melhor as verdades da condição humana. Nos últimos anos, novos e velhos autores venceram o medo da exposição pública e tiveram coragem de lançar aos livros a originalidade de suas criações literárias.

Originalidade, sim, aquilo que Arthur Schopenhauer (1788-1860) definiu com lirismo: “Os eruditos são aqueles que leram coisas nos livros, mas os pensadores, os gênios, os fachos de luz e promotores da espécie humana são aqueles que as leram diretamente no livro do mundo”.

Depois que foi profetizada a morte do livro, parece que as editoras proliferaram. Na grande Aracaju, existem hoje a Editora UFS, a Editora Universitária Tiradentes, a Infographics, as gráficas que produzem livros e outras. Mas duas editoras estão na vanguarda dessa onda que mantém o movimento no mundo das letras e atiça o desejo de tornar conhecidos os que escrevem: a Edise, editora oficial do Estado, presidida por Ricardo Roriz e dirigida por Milton Alves, e a Criação Editora, da expedita programadora visual Adilma Menezes.

A Edise publicou 24 livros em 2019, sendo que a maioria dessas obras são textos de não-ficção, poucos de literatura. Ainda assim dois títulos literários merecem referência: o muito aguardado “A vida me quer bem — Crônicas da vida sergipana”, de Amaral Cavalcante, e “O tatu de Pirakê”, do contista revelação Djenal Gonçalves Filho. Um ano antes, é imperativo mencionar, a Edise lançou o segundo livro de contos de Zeza Vasconcelos, “Suíte dos viventes”.

Já a Criação Editora publicou impressionantes mais de 60 livros no ano passado, mas igualmente pouca coisa no campo literário, como o livro de crônicas “Ranhuras do tempo”, do também poeta Inácio Loiola. Mas merece destaque um romance, “O caderno de Tântalo”, de Augusto de Melo, um veterano escritor, inédito até então.

A vida me quer bem

Há uma marca em comum nessas obras, além da originalidade: o humor. As crônicas de Amaral convidam à felicidade, o bom-humor respira dos episódios mais comezinhos narrados sem pieguice e nos tipos caseiros descritos sem piedade. Talvez não seja coincidência que Djenal bordeje seus contos com pérolas de graça e pílulas de sorriso. Um é mestre e o outro é discípulo.

Tomo emprestado o prefácio de Jeová Santana para advertir que os textos de Amaral Cavalcante vão muito além do humor: “À leveza e à concisão, marcas proeminentes na crônica, Amaral ainda acrescenta o humor. Este advém tanto dos episódios quanto dos muitos tipos que atravessaram sua vida, quanto do próprio estilo, no qual incluem-se a valia do registro oral, a adjetivação equilibrada entre a imponência e o escracho, as pinceladas de poesia (‘Teimosa, só brota quando a chuva é festa na mata e, na aguada, o sapinho de rabo anuncia — danado de contente — que lá vem fartura de Deus molhando a plantação. Ploc, Ploc, o olho verde perruche espia’), o modo como articula as frases, a predisposição de tirar o leitor de sua zona de conforto e colocá-lo no redemoinho da cena — como se sabe, nesta última, foi useiro e vezeiro certo Machado de Assis.”
Já Zeza é de um sutil sarcasmo. Os contos deste “Suíte dos viventes” diferenciam-se dos textos daquele “O herbanário de tia Finha e outras curtas estórias”, de 2016, pelo humor embutido na situação mais dramática. É como ouvir uma boa piada no velório. Se lá é impossível não rir da circunstância, por aqui a cena beira a tragicomédia. Veja-se o conto “Atire a primeira pedra”:

“Agora estava só. Num ímpeto de raiva, quebrou todos os porta-retratos onde apareciam fotos do casal nos diversos lugares em que tinham viajado — resorts, ilhas paradisíacas, estações de esqui — em sucessivas luas de mel. Pegou seu revólver que estava guardado há muito tempo no guarda-roupa. Rodou o balão e deu um tiro no quadro da Santa Ceia, pendurado na parede da sala de jantar. Acertou em Judas”.

Os contos de Zeza estão impregnados de cotidiano, beirando o banal, por vezes resvalando na crônica. Problemas familiares, quase rodrigueanos, entremeados de perturbadores dramas de consciência. Há humor, há poesia e, mais importante, há verossimilhança. Às vezes ele flerta com o realismo fantástico, mas nada do que escreve contraria a verdade. Como convém a qualquer boa obra de ficção. E as possíveis previsibilidades são superadas pela sutileza dos desfechos, arrematados quase sempre por genuínas surpresas.

Zeza Vasconcelos, nome artístico do médico José Vasconcelos dos Anjos, também é autor de um romance, “Sara”, de 2017, e já tem no prelo novo livro no mesmo gênero.
  
O caderno de Tântalo

O humor no “O caderno de Tântalo”, de Augusto de Melo, está nos gestos e atitudes do protagonista, Abílio Marafuz. É um romance farsesco e epistolar, nesse caso monológico, obra composta pelos textos do diário do personagem-narrador, um gráfico aposentado que vive entre a capital e quase recluso no sítio em Laranjeiras.

“A criatividade e o tom de sátira permeiam a narrativa. O autor retrata, entre outras coisas, a Aracaju dos idos de 1990, apressadamente ocupada por prédios residenciais, para tratar de um ‘intrigante’ segredo: quem escolhia os nomes pomposos de todos esses prédios?”, indaga a professora Denise Gaujac, que assina a orelha do livro.

“Abílio Marafuz veio para ficar e já tem um cantinho reservado na galeria de personagens da nossa literatura. Não há como esquecer do seu suplício e da sua obsessão por conhecimento através da leitura e, principalmente, amor ao livro. Pode até ser um amor meio torto, safado, mas amor ao livro. No fundo, uma maneira bem-humorada de se homenagear o livro impresso”, observa o professor Herivelto Couto, que apresenta o romance de estreia de José Augusto Melo de Araújo, o também professor, agora Augusto de Melo, o escritor.

Escrevem porque pensam

Assim como Amaral Cavalcante, os escritores Zeza Vasconcelos e Augusto de Melo também leram no livro do mundo e enxergam além dos limites da aldeia. Alguém se habilita a ser um Amando Fontes, um Hermes Fontes, Gilberto Amado, Genolino Amado, Alina Paim, Nélson de Araújo, Mário Cabral, Francisco Dantas, Antonio Carlos Viana? Quem sabe?

A originalidade é exigência da caminhada e isso evoca, de novo, o rigoroso Schopenhauer: “Há três tipos de autores: em primeiro lugar, aqueles que escrevem sem pensar. Escrevem a partir da memória, de reminiscências, ou diretamente a partir de livros alheios. Essa classe é numerosa. Em segundo lugar, há os que pensam enquanto escrevem. Eles pensam justamente para escrever. São bastante numerosos. Em terceiro lugar, há os que pensaram antes de se pôr a escrever. Escrevem apenas porque pensam. São raros.”

(Texto publicado na revista Cumbuca Nº 26, março de 2020)

O texto acima se trata da opinião do autor e não representa o pensamento do Portal Infonet.

Texto reproduzido do site: infonet.com.br