sábado, 31 de dezembro de 2022

Prefeitura da Barra dos Coqueiros inaugura seu primeiro Mercado Municipal

Publicação compartilhada do site JLPOLÍTICA, de 29 de dezembro de 2022

Prefeitura da Barra dos Coqueiros inaugura seu primeiro Mercado Municipal 

Foram investidos quase R$ 1,5 milhão para construção do mercado na Barra

Coluna APARTE (JLPolítica)

Com 69 anos de história, a Barra dos Coqueiros ganhou, oficialmente, nesta quinta-feira, 29, o seu primeiro mercado público municipal – uma obra para dar mais dignidade aos feirantes e consumidores. 

A Prefeitura da Barra dos Coqueiros realizou nesta quinta a solenidade de entrega do mercado, que ganhou o nome Vereador Zé de Sate. A obra, erguida no local onde antes funcionava a feirinha, eterniza o nome do saudoso José Pereira dos Santos, o Zé de Sate. 

Com investimento de quase R$ 1,5 milhão, o mercado possui uma estrutura moderna, com ilhas, lojas e box com bancas padronizadas para comercialização de verduras, legumes, frutas, carnes bovinas, aves, pescados, mariscos, grãos e cereais, comidas típicas, além de produtos de utilidade doméstica e eletrônicos. A obra inclui ainda salas administrativas e estacionamento para carros, motos e veículos pesados.

"Para encerrar o ano em grande estilo, nós estamos presenteando os barra-coqueirenses e turistas com esse mercado que conta com uma estrutura moderna. A partir de agora, as pessoas poderão realizar as suas compras com mais conforto, e não mais expostas ao sol como era até pouco tempo atrás. Esse mercado construído e entregue na nossa gestão reafirma o compromisso que nós temos com o povo", destacou o prefeito Alberto Macedo.

A obra foi aprovada por comerciantes. "Antes, aqui era tudo de lona, era um mangue, uma favela. Trabalhávamos numa banca de madeira com uma lona e não tinha banheiro. Há 27 anos que eu trabalhava nessas condições. Agora, está bem melhor, tem um espaço ótimo, tem onde eu guardar as coisas e tem banheiro", comemorou a feirante, Kátia Nascimento.

O também feirante, Valdemir Ferreira, contou que enfrentava dificuldade porque necessitava organizar a estrutura diariamente.  "Nós tínhamos que montar e desmontar as lonas todos os dias. Foi essa luta por mais de 25 anos, agora, a situação é outra. Agradeço primeiro a Deus e segundo à administração do prefeito Alberto", disse.

"Estou feliz porque fizeram o mercado e agora as pessoas sairão das ruas. Hoje dá gosto de ver um espaço desse. É amplo e confortável. Está aprovado", relata a vendedora, Aparecida Rodrigues.

FUNCIONAMENTO - O Mercado Público Municipal Zé de Sate entrará em funcionamento a partir do dia 3 de janeiro de 2023, das 6h às 17h.

HOMENAGEADO – José Pereira dos Santos, o Zé de Sate, nasceu em 1931, na cidade de Santo Amaro das Brotas e se mudou para a Barra dos Coqueiros na década de 1950. Zé começou a comercializar coco e depois entrou na área pública, virando político - seguindo os passos do sogro, que já foi vereador no município. 

Em um novo pleito, Zé de Sate foi candidato a vice-prefeito e venceu, mas não assumiu o mandato. Com o falecimento do prefeito eleito, ele não se sentiu confortável em assumir o cargo de chefe do executivo da Barra e abdicou. 

Zé de Sate atuou na comercialização de coco, frutas, e ampliou o seu trabalho na área da agricultura. Faleceu no dia 26 de novembro deste ano, deixando três filhos – Silvana, Solange e Gilson dos Anjos, ex-prefeito da Barra; e três netos –Eric, Felipe e Lucas, sendo o último, atualmente, vereador do município.

Texto e imagem reproduzidos do site: jlpolitica.com.br

sexta-feira, 30 de dezembro de 2022

A AMO no Natal Iluminado 2022, na Pça. Fausto Cardoso, em Aracaju

A AMO no NATAL ILUMINADO

A noite de ontem foi realmente iluminada. O Coral Vozes da AMO - Associação dos Amigos da Oncologia, apresentou-se no palco do Natal Iluminado promovido pela FECOMERCIO, na Praça Fausto Cardoso. Formado hoje por Voluntários e Pacientes, o coral foi criado em 2011, com 40 componentes, sua missão é promover a motivação necessária para o trabalho em equipe e levar a harmonia através da música, buscando elevar a autoestima, principalmente, daqueles que se encontram em tratamento contra o câncer. Para a apresentação, selecionou um repertório diversificado, considerando que ainda estamos a viver a semana do Natal e a expectativa de um novo ano que se avizinha. 

Sob a regência do Maestro Jairo Melo, apresentou 6 músicas:

- Benedzione a frater Leo

- Por um mundo bem melhor

- A paz

- Isto aqui o que é

- Espumas ao vento 

- O que é o que é

E assim, desejamos um Ano Novo de muita paz!

Texto e imagem reproduzidos do Facebook/LygiaPrudente.

quinta-feira, 29 de dezembro de 2022

Belivaldo entrega complexo cultural em Simão Dias













 










Fotos: Arthuro Paganini.

Publicação compartilhada do site GOVERNO DE SERGIPE, de 28 de Dezembro de 2022

Belivaldo entrega complexo cultural em Simão Dias

Foram inaugurados o Centro de Memória Digital e o Clube Caiçara, somando mais de R$ 5 milhões em investimentos

O município de Simão Dias recebeu nesta quarta-feira (28) novas e importantes obras de valorização da cultura e da história sergipanas. Foram inaugurados com a presença do governador Belivaldo Chagas, o Centro de Memória Digital de Simão Dias Professora Enedina Chagas e o Clube Cultural Caiçara. Os espaços são resultado da parceria entre o Governo do Estado e o Grupo Banese, por meio do Instituto Banese.

Os dois equipamentos buscam oferecer à população um ambiente de pesquisa, interação e lazer, trazendo suporte às atividades culturais, educativas e turísticas. A partir do Centro e do Clube, o município passará a contar com um projeto contínuo de preservação do patrimônio e fortalecimento da identidade simãodiense e sergipana.

Belivaldo falou que tomou conhecimento que o prédio histórico corria o risco de ser demolido e reuniu esforços com outros gestores da prefeitura e Estado para recuperar o espaço. "Aqui estava totalmente entregue às baratas. Sabíamos da boa vontade dos gestores para dar uma boa destinação a esse prédio. Mas, entre a vontade de fazer e a condição de fazer, há uma distância muito grande. Por isso foi preciso união e corremos atrás para preservar o valor cultural e histórico desse espaço", garantiu.

O presidente do Banese, Helom Oliveira, salientou a relevância dos espaços entregues em termos arquitetônicos e culturais. "Esse é um legado de valorização e fomento à cultura sergipana. Com essa construção em Simão Dias, o Grupo Banese, por intermédio do Instituto Banese, e do Governo do Estado, realizaram um marco histórico na região Centro Sul de Sergipe. Aqui em Simão Dias, cidade de grande importância política, cultural e com um grande desenvolvimento, esse complexo arquitetônico e histórico, integralmente restaurado, se transforma em instrumento de educação, cultura, empreendedorismo e turismo, que podem potencializar o fomento da economia, através dos seus valores históricos e artísticos, como também através da força laboral dessa gente que tanto contribuiu para todo o estado. A restauração dessas duas edificações reforçam o compromisso com a preservação do patrimônio material e imaterial de Sergipe", frisou.

O superintendente do Instituto Banese, Ézio Déda, descreveu os esforços que estimularam o projeto. "Ambos são provenientes do Governo do Estado, junto com o Banese, um histórico de legítima gestão pública voltada para trazer o melhor para nossa Simão Dias. O resultado disso é que hoje entregamos, em tempo recorde, duas obras simbólicas e necessárias, e vetores de novas perspectivas de crescimento através da educação, da arte, da cultura, do turismo e do entretenimento. Deparei-me com imprevisibilidades e descobertas e também com o empoderado, precisei olhar amplamente para esse todo que nos forma, identifica e assemelha: o orgulho e a paixão de fazer parte dessa nação simãodiense", pontuou.

Para o prefeito Cristiano Viana, os investimentos do Governo de Sergipe trazem mais qualidade de vida ao povo simãodiense. "Quero agradecer ao governador Belivaldo Chagas por tudo que tem feito à nossa querida e amada terra de Simão Dias. Ao longo desses meses, a gente vem assistindo e presenciando várias inaugurações no nosso município. Então, parabéns governador, fico muito satisfeito pois, sempre que procurei o senhor, fui prontamente atendido. Na última vez aqui, este prédio fazia vergonha e o governador restabeleceu nossa cidade", agradeceu.

Novos espaços

Os dois novos espaços, que compõem um complexo cultural, contemplam o Cine Theatro Ypiranga, a Casa do Artesão Simãodiense, o Memorial Paulinha Abelha, a Galeria de Exposições Temporárias Retratista Guimarães Barbosa, a Praça de Alimentação e o Departamento Municipal de Cultura. A intervenção realizada é resultado de um investimento da ordem de R$ 5 milhões.

O Centro de Memória Digital de Simão Dias Professora Enedina Chagas está instalado em uma edificação arquitetônica secular de estilo eclético que foi restaurada e ampliada para se tornar um museu. Nele, através de tecnologia de última geração e de interatividade, será possível conhecer a trajetória do município de Simão Dias desde a sua fundação até os dias atuais, abordando aspectos sociais, políticos, econômicos e culturais.

O prédio recebe o nome da professora Enedina Chagas Silva, que lecionou para centenas de estudantes da região e obteve destaque no município. É avó de Belivaldo Chagas, e também possui uma rua e uma escola em seu nome, como forma de homenagem pelos serviços educacionais prestados.

O Clube Cultural Caiçara é resultado de um projeto de retrofit e de ressignificação do prédio, considerado patrimônio do município. A edificação já abrigou a antiga Casa de Mercado e um espaço recreativo. A nova proposta mantém sua função cultural, evidenciando a vocação artística simãodiense. Trata-se de um ambiente de entretenimento inspirado em referências locais. O clube faz homenagens a personalidades de Simão Dias, reúne artesãos e comerciantes locais e é palco para artistas da terra.

Novidades

Na solenidade, foi mencionado o andamento de obras estruturantes em curso no município: a unidade do Ipesaúde de Simão Dias, a Praça do Estacionamento e a pavimentação em paralelepípedo do povoado Lagoa Seca e do Assentamento Maria Bonita. No total, R$ 3.546.470,61 estão sendo investidos nas quatro obras.

O governador Belivaldo Chagas também anunciou que em breve deverá ser iniciada a pavimentação em paralelepípedo dos povoados Salobra, Lagoa Grande, Caraíba e Estrada do Conjunto Sasac. As obras têm extensão aproximada de 2,53 km, com investimento estimado em mais de R$ 1,5 milhão.

Texto e imagens reproduzidos do site: se.gov.br

sábado, 24 de dezembro de 2022

Entrevista - Professor Josué Mello, um sergipano que quebrou paradigmas...

Legenda da foto: Josué Mello, na foto oficial quando reitor da UEFS (1991-1995) - (Crédito da foto: Galeria de reitores/UEFS)

Texto publicado originalmente no site SÓ SERGIPE, em 11 de dezembro de 2022 

Entrevista - Professor Josué Mello, um sergipano que quebrou paradigmas e é embalado por sonhos e projetos

Professor Josué Mello: "Fui acusado pelos militares de comunista, porque quem se preocupa com o pobre é comunista"

Por Antônio Carlos Garcia 

Natural de Lagarto, o professor e pastor evangélico Josué da Silva Mello, 87 anos, construiu uma sólida carreira na área de educação em Feira de Santana, a maior e mais importante cidade do interior baiano, uma metrópole em pleno sertão, com uma população estimada em pouco mais de 614 mil pessoas – Aracaju tem mais de 664 mil. Desde cedo, Josué Melo quebrou paradigmas, sacolejou a ordem estabelecida e foi o dono do seu próprio destino. Criado para seguir a sina dos 22 irmãos, que pegaram na enxada e na foice, Josué se rebelou e disse queria estudar. Mas o pai, terrivelmente evangélico presbiteriano, não achava justo, pois não deu oportunidade aos outros estudarem, não seria “correto” aos olhos de Deus que Josué tivesse chance.

Ele pediu à mãe que lhe comprasse um ABC e passou a se alfabetizar sozinho. Depois uma pessoa o matriculou no Grupo Escolar Sílvio Romero, o único estabelecimento de ensino em Lagarto; e ao concluir o curso primário, ficou novamente sem ter o que fazer e foi trabalhar na roça. Mas, eis que uma oportunidade lhe bate à porta, ele arruma as malas e vai estudar no Colégio Dois de Julho, em Salvador. Detalhe: ele só avisou ao pai na véspera da viagem. “Saí de casa praticamente fugido aos 16 anos”, contou Josué Mello.

Por conta dessa rebeldia, o pai não o aceitava em casa, tanto que nas férias escolares ele foi passar na casa de um amigo, em Governador Mangabeira.  Sempre se correspondendo com a mãe, e passado algum tempo, teve a notícia de que a situação estava mais amena em casa e lá foi passar um outro período de férias. “E aí meu pai me recebeu com abraços e passei a ser o herói da família”, contou.

Fato como esse e muitos outros estarão num livro biográfico de Josué Mello, que está sendo escrito pelo professor Claudefranklin Monteiro, que em janeiro será o chefe do Departamento de História da Universidade Federal de Sergipe (UFS). “A ideia do livro foi minha. Eu tentei escrever, mas não achei bom eu falar de mim mesmo”, disse.

No início da tarde de ontem, Claudefranklin, procurado pelo Só Sergipe, informou que já entregou as primeiras 60 páginas do livro para que Josué as lesse e em janeiro fará uma nova entrevista com o biografado. Até março, o livro, que ainda não tem título, deverá ser lançado.

Mesmo residindo há muitos anos em Feira de Santana, Josué Mello mantém suas raízes em Lagarto e Aracaju, onde moram alguns dos seus irmãos. O mais velho deles, Daniel, tem 102 anos e vive em Aracaju.  Está nos planos do professor uma visita a Sergipe em janeiro de 2023.

O professor Josué Mello é um cidadão embalado por sonhos e projetos, todos eles até o momento transformados em realidade, a exemplo do Serviço de Integração do Migrante (SIM) e do Centro Universitário de Cultura e Arte (Cuca), da Universidade Estadual de Feira de Santana (UEFS), uma das maiores obras quando ele era reitor da instituição. O seu mais recente sonho é levar para Feira de Santana uma universidade federal, que será uma referência, não só para a região, mas para o Nordeste. O processo está sendo encaminhado.

Na última semana de novembro, o Só Sergipe foi conversar com Josué Mello, em Feira de Santana. Foi quase uma manhã inteira de bate papo agradável com ele, que atualmente preside a Academia de Educação, e o resultado é esta entrevista de fôlego.

Confira, você vai gostar.

SÓ SERGIPE- O senhor é sergipano, nascido em Lagarto, mas que fez história na educação e na política em Feira de Santana, na Bahia. O que o trouxe para a cidade cujo codinome é “Princesa do Sertão”?

JOSUÉ MELLO – Olha, primeiro, sair de Lagarto foi uma atitude rebelde. Desde a minha infância, desde pequenininho, desejei estudar. Depois, eu demorei muito tempo para descobrir o motivo pelo qual nenhum irmão meu estudou. Eles foram todos semialfabetizados, criados na roça, no trabalho rural, e se acomodaram. Mas eu, desde cedo, revelei o interesse pelo estudo e pedi à minha mãe que comprasse um ABC, uma cartilha de alfabetização, e eu mesmo me alfabetizei. Depois, alguém vendo meu interesse me matriculou num grupo escolar em Lagarto chamado Sílvio Romero, a única instituição de ensino que existia naquele momento, que dava ensino primário completo, da primeira à quarta série. Mas, com um pouco de rebeldia pois meu pai era de uma tradição religiosa presbiteriana muito conservadora, muito calvinista, com uma preocupação muito grande com a ética, com a justiça. Como ele não deu estudo aos outros filhos e principalmente aos do primeiro casamento, então não poderia dar também aos do segundo casamento, caso contrário ele seria injusto e teria que prestar contas disso a Deus. Então o caminho foi o trabalho da roça para os outros. Seria também para mim, mas eu disse que esse caminho eu não queria. Eu quero é estudar.  Enxada não, eu quero é escola. E fui por minha conta e risco.

SÓ SERGIPE – E depois do primário, em Lagarto?

JOSUÉ MELLO – Terminei o primário e não tive mais condição de avançar, porque em Lagarto só havia até a quarta série. Fiquei sem estudar uns cinco anos depois que terminei o meu curso primário, que foi muito bom. Um colégio de qualidade, fui até o orador da turma. Eu tenho impressão de que a igreja que me despertou para o estudo, porque eu frequentava a igreja evangélica quando criança. Eu via as pessoas mais idosas do que eu recitando poesia, declamando textos da Bíblia. Puxa, eu dizia, quero um dia fazer isso. Então, acho que a igreja me inspirou muito nos meus estudos.

Depois essas igrejas presbiterianas cresceram, se desenvolveram em várias cidades, como Estância, Propriá, Aracaju, e elas começaram a se reunir, se juntaram com as igrejas da Bahia e fundaram um concílio Bahia e Sergipe. Uma vez por ano essas igrejas se reuniam para traçar planejamento em conjunto, discutir, ouvir os pastores distantes, receber as inspirações uns dos outros. E um desses encontros ocorreu em Lagarto, e foi até lá um professor de Salvador, do Colégio Dois de Julho. Ele me viu declamando, discursando, fazendo saudação, e me perguntou se eu estava estudando, disse-lhe que estava na roça, pois tinha terminado meu curso primário.

Contei a ele minha história, dizendo que queria estudar e pedi que arranjasse um jeito para eu estudar na Bahia. Eu disse que queria sair de Lagarto. Ele me pediu para aguardar, pois tentaria conseguir uma bolsa de estudos. Era o colégio presbiteriano, que tinha internato e era caro.  Disse a ele que se conseguisse alguma coisa não mandasse a comunicação para minha casa, mas para o pastor da igreja. Com 15 dias veio uma resposta, informando que ele havia conseguido uma bolsa e que eu fosse imediatamente para Salvador.

Eu tinha umas economias e me arrumei todo, comprei mala e enxoval. Na véspera da viagem, peguei um ônibus de Lagarto a Salgado e de lá, um trem maria fumaça que me levou até Salvador, no bairro Calçada. Ali peguei um bonde e fui para o Colégio Dois de Julho. Sai de casa praticamente fugido.

SÓ SERGIPE – O senhor contou ao seu pai que viajaria?

JOSUÉ MELLO – Na véspera da viagem. Ele quis impedir, não podia mais. Eu já estava com passagem comprada. Eu tinha na época 16 anos, e fiquei um ano sem poder voltar para casa. Em uma das minhas férias de julho, um colega de Governador Mangabeira me convidou para ficar na casa dele, quando lhe contei minha história.  Cheguei lá, a família dele me recebeu como se fosse mais um filho. Fiz uma amizade imensa com aquelas famílias de Governador Mangabeira e hoje é minha segunda cidade. Conservo até hoje a minha amizade com aquele povo. Até me homenagearam, criaram colégio e colocaram meu nome. Fui pastor lá, construí um templo, foi uma relação muito boa com aquela população.

Bom, eu sempre me correspondia com minha mãe e, nas férias daquele final de ano, ela disse que a situação estava mais tranquila e eu poderia voltar. E aí meu pai me recebeu com abraços e passei a ser o herói da família. Assim cheguei à Bahia, estudando no Dois de Julho.

SÓ SERGIPE – E o senhor continuava na igreja presbiteriana?

JOSUÉ MELLO – Sim. Nesse meio tempo, com a igreja presbiteriana, sempre me dediquei ao trabalho com a juventude. Ela tem uma organização interna que reúne os jovens, que se chama União de Mocidade Presbiteriana, quando local; quando regional é Federação da Mocidade Presbiteriana do Brasil; e nacional, Confederação que reúne todos os jovens presbiterianos do país. Passei a me dedicar e isso me ajudou desenvolver uma liderança. Tornei-me presidente da Federação Bahia e Sergipe, fiz um trabalho intenso e me destaquei.

Quando estava terminando o terceiro ano no Dois de Julho, fui participar de um congresso nacional da Mocidade e lá fui eleito presidente da Confederação Nacional, com sede em São Paulo, onde fui morar. Reunia 25 mil jovens, tinha um jornal e me tornei diretor. Fiz um curso breve de jornalismo e peguei até uma carteira, que tenho até hoje. Isso me deu oportunidade imensa, viajei pelo Brasil inteiro. Abriu portas para o trabalho de liderança.

SÓ SERGIPE – A Igreja Presbiteriana foi fundamental em sua vida, não é?

JOSUÉ MELLO – Sim.  Desde o início tive conversão espiritual dentro da igreja. Explicando: a Igreja Presbiteriana do Brasil vem da linha de João Calvino. A Reforma do século XVI teve duas grandes vertentes, sendo uma de Martinho Lutero, que criou a Igreja Luterana, e outra de João Calvino. Ela fez a reforma em Genebra, na Suíça, sendo uma linha diferente de Lutero. Calvino tinha mais profundidade teológica, bíblica, uma outra visão da fé cristã com maior compromisso com a realidade. De João Calvino vem a Igreja Reformada, e no Brasil se chama Presbiteriana. Eu sou da linha da Igreja Presbiteriana Calvinista.

Mas no Brasil, a Igreja Presbiteriana deixou de seguir a linha de Calvino, passou a radicalizar para o puritanismo, conservadorismo, fundamentalismo imenso. De forma que para ser um cristão presbiteriano da época tinha que não beber, não fumar, não mexer com a mulher dos outros, era não fazer isso ou aquilo. Isso era ser cristão para eles. Era um Cristianismo na linha do Bolsonaro, negacionista. Não fazer isso, não fazer aquilo, você se afastar das coisas do mundo era ser cristão. Mas tivemos alguns teólogos que questionaram isso. Lendo direito a Bíblia, vendo direito quem foi Jesus Cristo, o Cristianismo não é isso. E nós recebemos aqui, na época, um teólogo americano chamado Richard Scholl e a palavra dele me converteu ao novo pensamento cristão, a mim e a toda a Juventude na América Latina.

Foi uma renovação teológica, vem ele dizer o que preciso para ser cristão, é precisamente o contrário. Você tem que fazer, você tem que ser.  Ser cristão é amar, não é odiar. Olha o que o Cristo fez, pega uma toalha e vai lavar os pés dos apóstolos. O cristianismo vem para tornar o ser humano mais feliz. Então, ser cristão é contribuir para a felicidade dos outros, para que os outros tenham vida de qualidade e vida em abundância. É isso. Isso é que é ser cristão.

SÓ SERGIPE – Aí, o senhor foi quebrar paradigmas.

JOSUÉ MELO – Quebrei todos esses paradigmas, e como presidente da Confederação fui incutir essas ideias na cabeça dos jovens. Teve choque, mas a Confederação da Mocidade era o canal, o instrumento para divulgar esse novo pensamento ideológico.

SÓ SERGIPE – Isso em que década, professor?

JOSUÉ MELO – De 1958 a 1960 para cá. Eu fui eleito em 1959 e estava em São Paulo, com dedicação integral a esse movimento. Eu tinha um jornal da entidade nas mãos e fazia uma imprensa com credibilidade, porque o jornal era mensal. Mas o de dezembro, por exemplo, eu fazia em novembro; eu fazia um mês antes, um mês adiantado para que ele chegasse no Amazonas em dezembro. Recebendo o jornal com o correio daquela época, imagina; loucura, né?  Agora meu mandato como presidente era de três anos; mas com um ano e meio, a igreja nacional me tirou, acabou a Confederação, pois não tinha como me tirar porque eu fui eleito pelo voto direto de toda a juventude. Acabou com a Confederação, com o jornal, e foi com mais poder que um militar. Fechou a sala, não pude mais entrar, não peguei documento. Nós não pudemos nem reagir porque ficamos sem os dados nas mãos. Não tenho nem um exemplar do jornal, porque eu jamais poderia imaginar isso.

SÓ SERGIPE – E o que o senhor fez depois disso?

JOSUÉ MELO – Foi o que me perguntei naquela época. O que é que eu vou fazer? Eu tinha intenção de ser pastor e na época surgiu uma terceira faculdade no Brasil, que era da Igreja Presbiteriana, criada pelo teólogo Richard Scholl para formar nova geração de teólogos, de pastores. E eu entrei nessa.

Era uma faculdade de teologia, com um novo pensamento teológico. Fui da segunda turma, e depois da minha turma não houve mais. A Igreja Presbiteriana também fechou, porque achou que era um seminário muito avançado. Terminei meu curso e fiquei me perguntando para onde iria. Aí escolhi Feira de Santana.

SÓ SERGIPE – Por quê?

JOSUÉ MELO – Primeiro, como estudante do Colégio Dois de Julho, eu vinha muito aqui nas férias e sempre me impressionou muito a agitação, o desejo de progresso. Depois que eu vivi em São Paulo, isso se solidificou porque eu sentia Feira de Santana como uma miniatura de São Paulo.  A outra coisa que me fez vir, é que tive um professor no Dois de Julho que escreveu um livrinho respondendo a um padre aqui de Feira, que havia escrito um livro contando um sonho de que quando chegou ao céu não encontrou nenhum protestante, nenhum evangélico, somente católicos. E esse padre, ao olhar para baixo, viu fogo, tachos de enxofre e os crentes gritando para sair, sem poder. E aí esse professor deu uma resposta dizendo “Cochilo de um sonhador”, ao contrário do que o padre viu lá, citando versículos da Bíblia etc. E ouvindo aquelas histórias lá na sala de aula e, puxa, se viesse a ser pastor, eu queria ir para essa cidade, acabar com essas divisões.

Essas duas coisas me motivaram vir para Feira de Santana e aí cheguei para ser pastor. Vim com o ideal de unir católicos e evangélicos. A separação era grande no século XIX, início do século XX. Para você ter uma ideia, um missionário americano tentou vir para Feira no final do século XIX, foi o que criou o Mackenzie, em São Paulo, para criar uma unidade aqui em Feira. Ele veio com os dois filhos, que depois foram acometidos de febre amarela. E nenhum médico se dispôs a atendê-los, nenhuma farmácia quis vender o remédio para eles.  E eles morreram aqui, e esse dia foi um Deus nos acuda em Feira. Você pode imaginar a crise nesta cidade? O que fazer com os corpos desses dois hereges?

No final do dia alguém teve a ideia de sepultar no final do Cemitério Piedade, depois se faz uma separação e deixa eles lá. Ainda hoje tem lá o mausoléu com os nomes dos jovens e sobrenome Chamberlain. E em torno disso, fizeram um muro separando esse lugar que ficou conhecido como ‘cemitério dos protestantes’. Colocaram coluna de concreto armado com três correntes de ferro ligando uma a outra. Nenhum católico podia ser sepultado ali e nenhum protestante podia ser sepultado fora dali. Quando eu cheguei aqui em feira, em 1965, foi isso que encontrei. Aquilo me trazia uma angústia, porque as pessoas eram separadas até depois da morte. Eram poucas igrejas evangélicas na época.

SÓ SERGIPE – E o que o senhor fez?

JOSUÉ MELO – Eu, então, criei uma associação de pastores evangélicos, e como as Igrejas Batistas eram maioria, um pastor ficou na presidência. Dois anos depois me deram a presidência e quando eu me senti preparado, coloquei dois trabalhadores com picaretas no meu Fusquinha e fui para o Cemitério Piedade. Passei o dia inteiro lá e derrubamos as colunas que separavam protestantes e católicos. No final do dia, eu fui à Santa Casa de Misericórdia e disse que a partir daquele momento só existia um cemitério e que eles tomassem conta.  Foi um ato de coragem meu.

SÓ SERGIPE – O senhor criou a Afas – Associação Feirense de Assistência Social?

JOSUÉ MELLO– Sim, em 1968 a mendicância era gritante. Chegávamos a contar uns 200 pontos marcados com mendigos ali na praça J. Pedreira, próximo aos Correios. Eram muitos problemas sociais em Feira. O que fazer para resolver esse problema? Como pastor, levei o assunto à igreja e comecei a desenhar uma proposta, um projeto inovador que precisaria da ajuda de todos. O prefeito era João Durval Caneiro na época e ele apoiou e nos deu uma sala. Na época, o que se fazia era retirar os mendigos da rua.

SÓ SERGIPE – Como é que foi a habilidade do senhor para reunir Igreja Presbiteriana, Católica, Maçonaria, Lions etc.?

JOSUÉ MELO – Foi muita costura. Não reunimos instituições, reunimos pessoas. Na Maçonaria teve o venerável da Loja Luz e Fraternidade, que fica na Getúlio Vargas, que precisou casar um filho evangélico cuja noiva era uma moça católica. E houve um impasse.  O pai da menina não permitia o casamento em igreja evangélica, e ele não queria um filho casando-se na igreja católica. Então teve a ideia de casar-se na Maçonaria e me chamou. Eu aceitei dizendo que era necessário trazer um padre para celebrar um casamento ecumênico. Quem estava chegando também na cidade era o monsenhor Renato de Andrade Galvão, e eu tinha vontade imensa de ter um contato com ele,  mas não havia tido oportunidade.  Foi feito o convite, ele aceitou e fizemos esse casamento. Depois desse casamento, nos abraçamos, ficamos amigos e amigos irmãos.

A partir daí nós nos unimos para criar a Afas. Em sete anos conseguimos humanizar os mendigos da cidade. Colocamos cego, aleijado, todos, para aprender uma profissão. Trabalhando com tecido, trabalhando com cerâmica. Montamos uma barraquinha onde hoje é o Mercado de Arte Popular para vender os produtos deles, e com esse dinheiro eles começaram a ter renda, complementada com a ajuda do comércio, pois fizemos um acordo. Em Feira não se dá mais esmola, encaminhe o pedinte à Afas. E sete anos deixou de ter mendigo em Feira, esse foi um trabalho ecumênico.

SÓ SERGIPE – Nessa integração, o Senhor foi convidado para a Maçonaria?

JOSUÉ MELLO – Convidaram e terminei entrando. Fui até o venerável da Loja Harmonia, Luz e Sigilo que fica lá próximo ao Fórum Desembargador Filinto Bastos.

SO SERGIPE – Mas continuemos a falar sobre esse trabalho na Afas.

JOSUÉ MELLO –Todo mendigo que era atendido, preenchia uma ficha:  de onde é que você veio? Por que é que você está aqui?

Eles eram fruto da migração. O êxodo rural. É um problema de feira, não era mendicância, era muito mais sério. Foi o êxodo rural que ocorreu no Brasil. Sem planejamento nenhum, a população rural deixou o campo e quis viver na cidade, porque na cidade tinha esperança do emprego, tinha luz, tinha energia, tinha esperança de uma melhor qualidade de vida. Então, quem era jovem e corajoso, inteligente, crescendo e chegando aos 18 anos ia embora. E nós acolhemos essas pessoas na Afas.

SÓ SERGIPE – O senhor assumiu um cargo na gestão do prefeito João Durval Carneiro, mas ficou pouco tempo. O que aconteceu?

JOSUÉ MELLO– Foi por causa do trabalho que fizemos na Afas. Ele me convidou para ser diretor de serviço social. Fiquei menos de um mês, porque o meu serviço era justamente entregar uma passagem para o migrante ir à cidade mais próxima.

SÓ SERGIPE – Tudo ao contrário do que o senhor pensava.

JOSUÉ MELLO – Eu disse ao prefeito que isso era desumano e que eu não tinha coragem de fazer isso. Agradeci e disse a ele que ia pensar num projeto para essa população. E pensei algo inédito: montar um centro de capacitação profissional do migrante, preparando esse homem. E só pedi à prefeitura o terreno, 70 mil metros quadrados, e o dinheiro fui buscar todo fora. Aí nascia o Serviço de Integração do Migrante (SIM).

SÓ SERGIPE – E como foi o projeto?

JOSUÉ MELLO –Foi um projeto pastoral, e foi a maneira que senti que poderia ser pastor, lavando os pés, agindo para os mais necessitados, os excluídos. E o monsenhor Renato Galvão topou, assim como Jónatas Carvalho, representando a Maçonaria, e o representante do Lions etc. Hora eu era presidente do SIM, outra hora o monsenhor Galvão. Fiz o projeto e mandei para o Conselho Mundial de Igreja, em Genebra, órgão que reúne todas as igrejas protestantes do mundo. Foi aprovado e a igreja da Alemanha mandou dinheiro para construirmos oito prédios. O migrante teria que passar três meses interno. Eu dizia que preferia gastar um milhão a um tostão com a pessoa. Chegamos a formar 23 mil migrantes em 25 anos.  Nós seguíamos o método do ensino de Paulo Freire em plena ditadura militar.  E o fazíamos escondido.  Hoje temos um colégio de referência chamado Tecla Mello, que é o nome da minha esposa.

SÓ SERGIPE – Fazendo um parêntese, como estão seus vínculos com Lagarto?

JOSUÉ MELLO-   Continuo mantendo. Tenho irmãos e irmãs. Do primeiro casamento do meu pai, cuja esposa morreu de parto, ele teve 12 filhos, só se salvaram seis. Desses seis, só há um vivo com 102 anos, se chama Daniel, e mora em Aracaju. Do segundo casamento foram 11 filhos, se salvaram cinco e tem eu e mais três irmãos vivos. Duas vezes por ano vou a Lagarto e a Aracaju.

SÓ SERGIPE – O livro contando sua história, de quem foi a ideia?

JOSUÉ MELLO – A ideia foi minha.  Eu tentei escrever, mas não achei bom eu falar de mim mesmo. E eu escolhi o lagartense Clauderfranklin Monteiro, porque ele vê toda a história onde nasci, como foi minha infância, faz o contexto histórico, conhece tudo aquilo ali e é mais fácil. Ele pretende em março estar com o livro pronto.

SÓ SERGIPE – O senhor foi reitor  da Universidade Estadual de Feira de Santana. Como foi esse processo?

JOSUÉ MELLO –  No meu primeiro ano como pastor, eu entendia que para fazer  este tipo de pastorado diferente, ecumênico,  voltado para as questões sociais, a igreja não suportaria isso. Sofri muita reação,  perseguição, fui até cassado na igreja, que se dividiu por causa disso. E temos um outro ramo, que é a Igreja Presbiteriana Unida do Brasil, à qual eu pertenço.  A Presbiteriana não adotava aproximação com a Igreja Católica, não tinha essa preocupação social.

Fui acusado pelos militares de comunista, porque quem se preocupa com o pobre é comunista. E eu tinha ideia de que ia passar por isso. Na Igreja Católica os irmãos me abraçaram, eu pregava lá. Padre nenhum sofreu pelo ecumenismo. Eu fui pregador de uma das trezenas de Santo Antônio.  Eu sabia que a Igreja que eu pertencia, era muito radical.

Como o mundo vai crer num Deus que separa? Como vem um evangélico agora defender arma, defender um candidato, um presidente cujo projeto principal é armar a população?  O Cristo é outro, é amor.

SÓ SERGIPE – Voltando à questão da UEFS.

JOSUÉ MELLO – Sim. Fui para a Educação. Só ganhei salário como pastor no primeiro ano.  Fiz concurso para professor aqui na Bahia, me tornei professor do Colégio Estadual, do Municipal Joselito Amorim, e fui o primeiro pastor a lecionar no Colégio Santo Antônio, dos frades Capuchinhos.  A Fundação Universidade Estadual de Feira de Santana proporcionou, para aqueles que quisessem ser professor, um curso de pós-graduação de 700 horas. Eu me especializei em Ciência Política e fui o primeiro professor da UEFS. Depois do período do reitor Geraldo Leite, entrou José Maria Nunes Marques e fui pró-reitor acadêmico, com dois mandatos: um como fundação e outro como universidade.   Eu era pró-reitor de ensino, pesquisa e extensão.   Depois disso, fiz mestrado em Educação na UFBA.  Depois teve Yara Cunha como reitora, mas não foi feliz na administração e a UEFS quase fecha. Eu me candidatei a reitor, ganhei e fui de 1991 a 1995, não existia reeleição. Tive boas experiências.

SÓ SERGIPE – Quais por exemplo?

JOSUÉ MELLO – Primeiro, unir. A comunidade estava muito dividida. Houve um funcionário que me fez campanha cerrada, ele tinha mestrado em Engenharia e quando tomei posse ele foi até mim e disse que iria se afastar da universidade. Eu disse que ele não ia sair, porque eu ia precisar de cérebros para dirigir essa universidade, que estava quase fechando.  Quanto a salário não podia melhorar muito, mas um pouco. Disse que ele iria coordenar todos os laboratórios de engenharia civil, que faria um estágio na Universidade São Carlos, São Paulo, com levantamento de tudo que existe nos laboratórios de lá para adquirirmos aqui. Disse que ele continuasse me criticando, pois quanto mais você me criticar mais me ajuda.  A partir daí, o muro que nos separava acabou. Esse rapaz veio a ser vice-reitor e se chama Washington Moura.

Depois fui convocar a turma para avaliar a universidade, que naquela ocasião tinha 15 anos. Chamei os professores mais da esquerda, eram os que tinham pensamento. Nomeei formalmente a comissão. Isso produziu uns três livros grandes que ofereceram as coordenadas que temos hoje aí.

Outra coisa foi criar o Cuca, no prédio da Escola Normal. Precisava de dinheiro e fui ao governador Antônio Carlos Magalhães, que me ofereceu a restauração.  Ele me deu arquiteto do Iphan, mas eu disse que não queria só restaurar, queria construir um prédio com várias salas e um teatro, fazer dali um centro de cultura. O projeto ficou caro.

Estava no meu terceiro ano de mandato e era meu projeto principal como reitor. Resolvi lançar mão da minha maior ousadia. Consultei intelectuais de Feira e pedi o apoio. Fui ao governador e disse a ele que entendia a situação do governo, mas estava comunicando que ia fazer a obra. Aí ele anotando alguma coisa, soltou a caneta e perguntou: ‘Fazer como?’  Eu lhe falei que nossa universidade possui um museu de arte e cada quadro vale milhões de dólares. Afirmei que ia leiloar um deles e com esse dinheiro fazer a obra. Ele se assustou e com aquele jeito dele me perguntou se eu estava maluco. Eu disse que não, que tinha o apoio da classe artística e intelectual – eu tinha conversado somente com uma pessoa. Quando eu disse isso, ele pediu calma.

Depois tratei de assuntos corriqueiros da universidade, no fim ele me levou até a porta e disse: são quatro universidades estaduais e quatro reitores, não é? Disse que sim. E falou que eu era um reitor retado e que  estava no coração dele. Antonio Carlos disse que eu fosse embora e garantiu que no dia seguinte ia licitar a obra. Assim nasceu o Cuca.

SÓ SERGIPE – Finalizando, além do livro com sua biografia, quais são seus projetos para o futuro?

JOSUÉ MELLO – Estou presidindo a Academia de Educação que criamos aqui em Feira e realizamos seminários. Agora nós estamos integrando um fórum nacional de educação, reunimos as diversas academias de educação do país e constituímos uma organização nacional que é o fórum. Estou me dedicando a isso aí. Continuo presidindo o SIM. Fizemos uma parceria com a Universidade Federal do Recôncavo da Bahia (UFRB) e lá funciona uma unidade chamada Centro de Tecnologia e Sustentabilidade, que tem oito curso de graduação reconhecidos e quatro de pós-graduação, sendo dois mestrados.  Ao todo, 1.200 alunos. O desafio é que a universidade ceda esses cursos para eles constituírem a base de uma universidade federal de Feira de Santana. Acontecendo isso, nós vamos doar todo patrimônio do SIM para ser o campus desta universidade, para servir a todo o Nordeste brasileiro. Esse é um projetão e nunca teve tão fácil. Em 2022 nós divulgamos isso na periferia, imprensa e já conseguimos convencer o reitor da universidade federal.

Texto e imagem reproduzidos do site: sosergipe.com.br

sexta-feira, 23 de dezembro de 2022

Irrigação pública estadual produz 132.601 toneladas de alimentos em 2022




Fotos: Paulo Ricardo

Publicação compartilhada do site do GOVERNO DE SERGIPE, de 19 de dezembro de 2022

Irrigação pública estadual produz 132.601 toneladas de alimentos em 2022

Quiabo sergipano atende Salvador. A acerola abastece indústria de sucos, sorvetes e farmacêutica. Já o sorgo é substituto proteico ao milho na ração animal

Os seis perímetros públicos de irrigação administrados pelo Governo do Estado de Sergipe produziram, juntos, 132.601 toneladas de alimentos em 2022, incluindo os 1.826.478 litros de leite gerados no Perímetro Irrigado Jabiberi, em Tobias Barreto. O registro é o resultado do trabalho e investimento dos irrigantes atendidos com o fornecimento de água para irrigação e assistência técnica fornecida pela Companhia de Desenvolvimento de Recursos Hídricos e Irrigação de Sergipe (Cohidro). A produção utilizou uma área irrigada de 5.902 hectares (ha) e propiciou uma renda bruta de R$ 173,7 milhões a estes empreendedores rurais. Os produtos mais colhidos e que ao mesmo tempo estão presentes em todos os cinco perímetros irrigados de aptidão agrícola da Cohidro, foram a batata-doce (10.799 t) e o quiabo (7.839 t).

O irrigante José Humberto – do Perímetro Irrigado Jacarecica II; que fica situado entre Areia Branca, Malhador e Riachuelo – planta exclusivamente batata-doce com a água de irrigação, que vai por meio de adutoras da barragem até seu lote por gravidade. Sem custos para o Estado com bombeamento. “Água aqui é uma coisa que nós temos muito. A Cohidro dá o apoio e a gente tem. A irrigação aqui é boa, não paga energia e não falta. A batata-doce sai para São Paulo, Rio de Janeiro, Rio Grande do Sul, Belo Horizonte, Curitiba, mas o lugar que eu mais vendo é Salvador, que são essas batatas roxas e brancas, da massa amarela. Já as roxas da massa branca, eu vendo para Maceió”.

Destacaram-se, isoladamente, as produções de cana de açúcar (50 mil t) dos lotes empresariais do Jacarecica II e o sorgo (7.200 t), para alimentação animal, colhido no perímetro Califórnia, em Canindé de São Francisco. Outro destaque, com ocorrência nos perímetros Califórnia, Jacarecica II e Piauí (Lagarto), é a acerola (5.193 t). O milho verde (4.688,5 t) e a macaxeira (3.463,5 t), produtos tradicionais da mesa nordestina e destaque nas festas juninas, também estão presentes em quase todos os perímetros da Cohidro, companhia vinculada à Secretaria de Estado da Agricultura, do Desenvolvimento Agrário e da Pesca (Seagri). Aos quais ainda se incluem os perímetros Jacarecica I e o Poção da Ribeira, em Itabaiana.

O diretor-presidente da Cohidro, Paulo Sobral, faz uma avaliação do resultado da produção anual, levando em consideração os diversos ramos que ela atende. “Desta amostra das culturas agrícolas mais produzidas, podemos estabelecer que os perímetros atendem à demanda da indústria (cana e acerola), abastecem outros estados (batata-doce e quiabo), têm foco nas nossas feiras livres e consumidor local (milho verde e macaxeira) e está fornecendo alimento para a produção pecuária (sorgo). Nos últimos quatro anos, investimos na revitalização das estações de bombeamento e desassoreamento de barragens; em métodos de aproveitar melhor a água e superar as estiagens; chamamos o agricultor para contribuir com a tarifa d’água. Tudo para que esses perímetros tivessem continuidade. Tamanha é a sua relevância socioeconômica para Sergipe”.

Cesta básica

Durante todo ano de 2022, Aracaju despontou como a capital, dentre as 17 pesquisadas pelo Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (Dieese), da cesta básica com custo mais baixo de todo país. Sete, dos 12 itens pesquisados no Norte e Nordeste do Brasil, tem sua produção direta ou indiretamente influenciada pelos perímetros irrigados: banana, tomate, farinha de mandioca, açúcar, leite, manteiga e carne bovina.

No perímetro Jabiberi, o cálculo da produção sempre foi medido pelos litros de leite retirados das vacas alimentadas nos pastos ou pelo material forrageiro, produzidos a partir da irrigação com água fornecida pela Cohidro. “Todos os perímetros irrigados têm um enorme potencial para a produção de alimentação animal, para produção de leite e carne. Vai do aproveitamento de folhas, talos e ramas, da sobra das colheitas; até o plantio de sorgo e milho para produção de silagem, no nosso perímetro que fica no Alto Sertão. A região que mais produz leite no estado. É a integração irrigado-sequeiro que já ocorre e tem potencial para crescer mais”, destacou o diretor de Irrigação da Cohidro, João Fonseca.

Um dos três produtos da cesta básica que hoje ainda tem o preço mais barato do que há 12 meses, segundo a pesquisa mensal do Dieese, é o tomate. Renilson Araújo é um irrigante assistido pelo perímetro Piauí que aposta no fruto. Em área de 0,4 ha em Lagarto, ele pretende colher tomate entre dezembro e janeiro do próximo ano. Época de demanda por tomate maior, mas em que só é possível plantar na irrigação. “Digamos que é 80% chance para ele dar bom. Em questão de praga, de dar menos bichado. E em questão do preço, como é final de ano, ele é mais procurado. Eu só gosto de plantar [tomate] no fim de ano”.

Engenheiro Agrônomo da Cohidro, Arício Resende informa que, por conta do clima, houve uma redução de 10% na produção anual de oleícolas em 2022. “Passamos pela suspensão da irrigação no Perímetro Irrigado Poção da Ribeira, durante três meses deste ano. Por conta do baixo nível da água na barragem de irrigação que abastece aqueles agricultores. A barragem voltou a encher com as chuvas de inverno e, agora, as reservas de água de todos os perímetros, foram novamente reforçadas pelas chuvas de trovoadas em dezembro”, destacou.

Texto e imagens reproduzidos do site: se.gov.br

terça-feira, 20 de dezembro de 2022

Governo e Grupo Banese vão inaugurar complexo cultural em Simão Dias

Legenda da foto: A inauguração do Centro de Memória Digital de Simão Dias Professora Enedina Chagas e do Clube Cultural Caiçara será no dia 28 de dezembro, às 19h - (Crédito da foto: Instituto Banese).

Publicação compartilhada do site do Portal INFONET, de 20 de dezembro de 2022

Governo e Grupo Banese vão inaugurar complexo cultural em Simão Dias

O Governo do Estado de Sergipe e o Grupo Banese, através do Instituto Banese, irão inaugurar no dia 28 de dezembro, às 19h, no município de Simão Dias, duas importantes obras de valorização da cultura e da história simãodiense e sergipana: o Centro de Memória Digital de Simão Dias Professora Enedina Chagas e o Clube Cultural Caiçara.

Resultado de um projeto de preservação do patrimônio e fortalecimento da identidade, os dois equipamentos foram criados para exercerem funções culturais, educativas e turísticas, oferecendo à população de Simão Dias e de outras regiões de Sergipe, além de outros estados, um ambiente de pesquisa, interação e lazer.

O Centro de Memória Digital de Simão Dias Professora Enedina Chagas está instalado em uma edificação arquitetônica secular de estilo eclético que foi restaurada e ampliada para se tornar um espaço museal. Nele, através de tecnologia de última geração e de interatividade, será possível conhecer a trajetória do município de Simão Dias desde a sua fundação até os dias atuais, abordando aspectos sociais, políticos, econômicos e culturais.

O Clube Cultural Caiçara é resultado de um projeto de retrofit e de ressignificação do prédio, onde já funcionou a antiga Casa de Mercado e um espaço recreativo e social. A nova proposta mantém sua função cultural, evidenciando a vocação artística dos simãodienses. Trata-se de um ambiente de entretenimento inspirado em referências locais. O clube faz homenagens a personalidades de Simão Dias, reúne artesãos e comerciantes locais e é palco para artistas da terra. A edificação que agora abriga o Clube Cultural Caiçara é patrimônio do município, cuja administração apoiou o projeto.

De acordo com o diretor-superintendente do Instituto Banese, Ezio Déda, o complexo cultural prestes a ser inaugurado reforça a importância da interiorização de ações que fortalecem a sergipanidade.  “Ao longo de sua trajetória, o Grupo Banese, através do Instituto Banese, juntamente com o Governo do Estado, já realizou diversos projetos estruturantes para a valorização e o fortalecimento da nossa sergipanidade. Com esse novo complexo cultural, ampliamos, diversificamos e fortalecemos a interiorização de ações em prol da nossa história e da nossa cultura”.

O Centro de Memória Digital e o Clube Cultural estão localizados na Avenida Coronel Loyola, 127, Centro, Simão Dias. O evento de inauguração é aberto ao público.

Texto e imagem reproduzidos do site: infonet.com.br

Nova edição da CASACOR Sergipe já está confirmada para 2023

Foto: Gabriela Daltro

Publicação compartilhada do site do Portal INFONET, de 19 de dezembro de 2022

Nova edição da CASACOR Sergipe já está confirmada para 2023

A 2ª edição da CASACOR Sergipe chegou ao fim e foi um sucesso. Os 46 profissionais entregaram projetos incríveis, evidenciando o infinito particular de cada um. Durante os 37 dias da mostra, o público pode conferir ambientes originais, cheios de identidade e emoção.  A boa notícia é que a CASACOR Sergipe 2023 já está confirmada e acontece no segundo semestre do próximo ano.

O lançamento oficial da CASACOR Sergipe 2023, a entrega do Troféu Serigy – premiação que coroa os melhores profissionais desta edição – e o lançamento do anuário, serão no dia 12 de janeiro, no Restaurante Prainha. O diretor da mostra em Sergipe, Carlos Amorim, adianta que o Castelinho será novamente palco do maior evento de arquitetura, paisagismos e designers de interiores das Américas.

“O lugar é maravilhoso, mas ficou esquecido por um tempo. O bairro Industrial do ponto de vista urbanístico, ainda que não viva seus melhores momentos, é um bairro extraordinário, bem implantado, que está sendo redescoberto, então, sobre todos os aspectos urbanísticos, social e arquitetônico propriamente dito, a casa é um achado”, afirma Carlos que sem dar muitos detalhes, fala que a próxima edição terá muitas novidades.

“É provável que permaneça o mesmo número de ambientes, mas o layout será totalmente diferente. Estamos pensando também em promover intercâmbios de profissionais de outros estados, uma prática muito relevante, mas vamos dar início aos detalhes do planejamento no começo de 2023”, diz.

Sobre a edição deste ano, que desta vez aconteceu em seu formato tradicional, Amorim conta que o evento mobilizou a indústria do estado e as grandes cidades sergipanas. Que diferente da CASACOR em outros estados, os planejados e o mobiliário foram feitos em Sergipe, e não importados.

“Foi um grande sucesso. Primeiro porque os profissionais se engajaram e houve uma resposta que não é comum em outros estados, que foi o engajamento da indústria local. Além dos lojistas e das empresas do segmento, a indústria local participou com surpresas incríveis, a exemplo de uma pedreira feita com uma pedra super especial, que foi usada na CASACOR. Então, a gente teve esse engajamento, profissionais excepcionais em qualidade e para o Brasil foi uma grande surpresa. Devo dizer que essa CASACOR Sergipe foi um dos eventos importantes do Brasil no ano de 2022. Das mostras que acontecem no país, a CASACOR Sergipe foi um evento tipo A”, enfatiza o diretor.

A participação e a aceitação do público sergipano também foi outra marca positiva desta edição da CASACOR Sergipe. De acordo com Carlos, os sergipanos gostam de coisas bem executadas e o nível de acabamento dos projetos, gerou identificação entre os visitantes.

“A CASACOR é um evento num nível de acabamento e num padrão especial, e o sergipano reconheceu isso. O nível de acabamento da CASACOR Sergipe, Bahia, Rio de Janeiro e Minas Gerais é muito alto. E o sergipano gosta de coisas muito bem feitas, o capricho no fazer é uma regra e acho que ele se encontrou aqui. Outra coisa importante é que os ambientes tinham tendência, luxo, mas também tinha artesanato e arte local, arte erudita e popular de muito boa qualidade. Isso gera identificação, traz muito do viver cotidiano, contemporâneo e atual de Sergipe”, explica.

Experiência positiva

A professora, Vanessa Gonzaga, foi uma das visitantes da CASACOR e ficou encantada com a beleza e qualidade dos ambientes. “Eu sou natural de Santa Catarina e lá sempre visitei a CASACOR com minha mãe e minha irmã, e esse ano eu tive a oportunidade de visitar o evento aqui onde moro agora, e fiquei deslumbrada e muito feliz em ter esse evento aqui em Sergipe”, afirma.

Os profissionais também falaram da experiência única e desafiadora que viveram nesta edição da CASACOR. Gustavo Leão, arquiteto com mais de 10 anos de carreira, conta que a sensação é de dever cumprido e expectativas alcançadas.

“A CASACOR tem know how, tem uma história de 35 anos e quando ela chega em uma cidade, ela ratifica que aquele lugar tem uma arquitetura de qualidade, com padrão CASACOR, com bons projetos, e uma boa leitura de arquitetura. Chegar em Aracaju é afirmar que existem profissionais excelentes, de altíssimo grau, que podem fazer projetos de qualidade aqui e em qualquer lugar do mundo, para atender o mercado”, afirma Leão.

Quem também ficou realizada ao participar da CASACOR foi a arquiteta Aline Dantas. Ela, que é especializada em projetos corporativos, topou o desafio e espera ansiosa pela próxima edição. “Adequei minha agenda para participar da CASACOR, tive uma rede de apoio maravilhosa e fiquei muito satisfeita com o projeto que entreguei, mas o que foi melhor, foi o encontro com as pessoas. O elenco é muito eclético, tem muitos tipos de experiências e ao mesmo tempo o trabalho é muito alinhado. O nível é muito alto, eu já esperava isso, mas me surpreendi com o que vi aqui e me inspirei muito durante esses dias. Estar na CASACOR foi fantástico”, conclui Dantas.

CASACOR Sergipe

A segunda edição da CASACOR Sergipe aconteceu entre os dias 4 de novembro e 11 de dezembro no prédio do Castelinho, casarão do século XX, localizado no bairro Industrial, em Aracaju. Nesta edição foram 32 ambientes, assinados por 46 profissionais que se inspiraram no tema Infinito Particular, para criar projetos requintados, valorizando o bem estar físico e espiritual.

A CASACOR é reconhecida como a maior e mais completa mostra de arquitetura, designers de interiores e paisagismo das Américas. Anualmente, o evento reúne renomados arquitetos, designers de interiores e paisagistas em 27 praças nacionais e mais seis internacionais.

Texto e imagem reproduzidos do site: infonet.com.br

quarta-feira, 7 de dezembro de 2022

'Carta aos Cedrenses', por Ailton Rocha

Artigo publicado originalmente no blog Cláudio Nunes/Infonet, em 5 de dezembro de 2022

Carta aos Cedrenses

Por Ailton Rocha

Rochinha – Decano da Humildade*

Com alegria, entusiasmo e curiosidade li o livro “Rochinha – Decano da Humildade” escrito por Antônio Camilo e publicado pela Editora Diário Oficial de Sergipe (Edise), que conta a trajetória de José Francisco da Rocha, carinhosamente conhecido como Dr. Rochinha, decano da advocacia de Sergipe. Trata-se de um dos mais respeitados juristas do nosso Estado, gozando, inclusive, de reconhecimento em nível nacional, tendo desenvolvido estudos em conjunto com renomados juristas do nosso país.

O professor emérito da Universidade Federal de Sergipe, Antônio Fontes Freitas, na apresentação do livro, lembra que Rochinha dentre as várias atuações maçônicas, foi o grande responsável pela reaproximação da Igreja Católica e a Maçonaria, levando o então Bispo Auxiliar de Aracaju Dom Luciano José Cabral Duarte a fazer, de forma legitimada pelo Vaticano, uma brilhante palestra para o povo maçônico de nosso estado, na Loja Capitular Cotinguiba, onde e quando se formalizou um convênio de ação conjunta para implantação de novas metas de trabalho dentro do programa pioneiro de reforma agrária, à época em execução pela Igreja Católica no interior do estado.

No prefácio, o jornalista e literato Luiz Eduardo Costa destaca: “o menino de que trata este livro teve a benção e a sorte de nascer numa choupana onde recebia os cuidados da mãe, terna e zelosa, e o pai nunca deixou que lhe faltasse a comida. Os dois, pai e mãe, acompanhavam com permanente atenção as idas e vindas do menino à escola, que ficava longe, mas ele fazia à caminhada estafante com o entusiasmo de quem tinha a prematura consciência do que representavam aqueles passos iniciais; caminho único para uma vida melhor, para ele e sua família”.

José Francisco da Rocha, nasceu em 7 de novembro de 1926, na cidade de Cedro de São João (SE), fruto da união de Juvenal Francisco da Rocha (tio Jovem) e Maria da Conceição Rocha (tia Iaiá). Era o primogênito de uma prole de dois filhos, pois quatro anos após nasceria Francisco de Assis Rocha.

Tio Jovem era irmão do meu avô paterno Mindon de nome José Francisco da Rocha, portanto tio de meu pai, também José Francisco da Rocha (Zé de Mindon), atualmente com 90 anos de idade, poeta e teólogo autodidata. Não cheguei a conhecê-lo (faleceu antes do meu nascimento), mas de Tia Iaiá tendo doces recordações das vezes em que vinha a Cedro ficar conosco alguns dias na casa dos meus avós ou então quando na minha fase infantojuvenil em passeio a praia de Pirambu passava em sua residência em Japaratuba, parada obrigatória, para nós, membros da família. Em ambas as ocasiões éramos brindados com doces e deliciosas frutas colhidas do sítio da família e da sua contagiante alegria, carinho e carisma. Desde a primeira vez que a conheci, apesar da minha tenra idade, percebi que estava diante de uma mulher bondosa, decidida, forte e exigente com os bons costumes e no respeito ao próximo.

José Francisco da Rocha (Dr. Rochinha), casou-se com Ana Macieira Aguiar (Anita). Em 62 anos de vida conjugal, tiveram cinco filhos – Maria da Conceição Rocha Sampaio (poliglota casada com Roberto Silveira Sampaio); José Sérgio de Aguiar Rocha (advogado e engenheiro civil, casado com Maria Eulina Nascimento Rocha); Maria do Socorro de Aguiar Rocha Ribeiro (defensora pública, casada com Antônio Eduardo Silva Ribeiro); Ana Teresa de Aguiar Rocha; e Juvenal Francisco da Rocha Neto (advogado, casado com Maria José Santiago Rocha) — e dez netos — Rodolfo Rocha Sampaio, Roberto Rocha Sampaio e Thalia Sampaio Lopes da Silva (casada com Wenderson Lopes da Silva), filhos de Conceição e Roberto; Marianna de Aguiar Rocha Ribeiro e Clarisse de Aguiar Ribeiro Simas (casada com Pedro Freitas Simas), filhas de Socorro e Eduardo; André Francisco Nascimento Rocha, Alícia Nascimento Rocha e Ana Carolina Nascimento Rocha (casada com Isaías Santana dos Santos), filhos de Sérgio e Eulina; e Anita Santiago Rocha e Otávio Santiago Rocha, filhos de Juvenal e Maria José. Atualmente, são cinco bisnetas — Júlia Sampaio Lopes e Isabela Lopes da Silva, filhas de Thalia e Wenderson; Anatália de Aguiar Ribeiro Simas, filha de Clarisse e Pedro; Maria Eduarda Ribeiro de Oliveira, filha do casamento de Marianna; e Laura Rocha Santana, filha de Ana Carolina Nascimento Rocha e Isaías Santana dos Santos.

O autor estruturou a obra em 10 capítulos. No Capítulo I – Ilustre Filho de Cedro, narra a origem do biografado, de uma gente aguerrida, prendada e inteligente. E relata o movimento pela restauração política de Cedro de São João, que teve como líderes Antônio Batista do Nascimento, Manoel da Rocha, Antônio Santana e João de Deus da Rocha, afirmando que as pesquisas nos brindaram com a descoberta de que este último é primo em segundo grau de Juvenal Francisco da Rocha, genitor do doutor Rochinha. O Capítulo II – Nascimento, Infância e Adolescência; o Capítulo III- Início da Vida Profissional; o Capítulo IV – A Família; o Capítulo V – Ascenção Profissional; o Capítulo VI – O Maçom; o Capítulo VII – Cargos e Funções Públicas; o Capítulo VIII – Amigos e Histórias; Capítulo IX – Um Decano Que Foi Homenageado Como Merecia; Capítulo X – Um Homem Que Soube Homenagear Como Poucos. Incluindo a Apresentação, Prefácio, Prólogo e Epílogo.

Ainda criança, José Francisco da Rocha foi com os pais residir na cidade de Japaratuba (SE), eis a cronologia: 1926 – Nasce em Cedro de São João o primogênito de Maria da Conceição Rocha e Juvenal Francisco da Rocha; 1932 – Inicia os estudos na Escola Isolada I, no município de Japaratuba/SE, frequentando até 1935; 1936 – Passa a estudar no Colégio São José, onde permanece por 2 anos; 1938 – Matricula-se no Externato Jesus Cristo Rei, lá estudando por 4 anos; 1941 – Conclui os estudos primários; 1942 – Consegue vaga para matricular-se no Colégio Salesiano em Aracaju, onde estuda por 1 ano; 1943 – Assume seu primeiro emprego como caixeiro na Ótica Barrett o em Aracaju; 1943 – Inicia os estudos na Escola de Comércio Conselheiro Orlando; 1945 – Deixa o emprego da Ótica Barrett o e começa a trabalhar na Companhia Nordeste de Seguros; 1949 – Casa-se com Ana Macieira Aguiar (Anita);1949 – Inicia na Maçonaria pela Loja Simbólica Cotinguiba;.1950 – Passa a ocupar o cargo de Gerente da Companhia Nordeste de Seguros; 1950 – Forma-se em Contabilidade pela Escola Técnica de Comércio de Sergipe; 1950 – Inscreve-se no 1º Vestibular da recém-criada Faculdade de Direito de Sergipe, obtendo aprovação; 1951 – Participa da aula inaugural da 1ª Turma da Faculdade de Direito de Sergipe realizada no Instituto Histórico e Geográfico de Sergipe; 1952 – Deixa a Companhia Nordeste de Seguros e toma posse como escriturário do Banco do Brasil S/A, após aprovação em concurso público; Cola grau como Bacharel em Direito pela Faculdade de Direito de Sergipe; 1966 – Funda o Lions Clube Aracaju-Atalaia; 1968 – Coordena a 1ª Visita de Dom Luciano José Cabral Duarte à Loja Simbólica Cotinguiba; 1968 – Assume a presidência da OAB/SE para o biênio 1968/1969; 1968 – Preside a Junta Comercial do Estado de Sergipe (JUCESE) no período de 1968 a 1976; 1969 – Exerce o cargo de Vice-Presidente Regional do Lions Clube Aracaju-Atalaia para o biênio 1969/1970; 1972 – Coordena a 2ª Visita de Dom Luciano José Cabral Duarte à Loja Simbólica Cotinguiba; 1972 – Assume o cargo de Coordenador Regional de Projetos na Comunidade do Lions Clube Aracaju-Atalaia para o ano leonístico de 1972/1973; 1973 – Ingressa no quadro de advogados do Banco do Brasil S/A, após aprovação em concurso interno, passando a ser Assessor Jurídico da instituição; 1975 – Toma posse como Juiz Membro do TRE/SE para mandato de 1975/1977; 1975 – Começa a lecionar Direito Comercial nas Faculdades Integradas Tiradentes (FITS) no mês de fevereiro; 1975 – Passa a ensinar Direito Comercial na Universidade Federal de Sergipe (UFS) no mês de agosto, após aprovação em concurso público de provas e títulos; 1980 – É reconduzido ao cargo de Juiz Membro do TRE/SE para mandato de 1980/1982; 81982 – É reconduzido mais uma vez ao cargo de Juiz Membro do TRE/SE para mandato de 1982/1984; 1983 – Encerra  suas atividades como catedrático da UFS; 1984 – Encerra suas atividades como professor da UNIT; 1989 – É reconduzido mais uma vez ao cargo de Juiz Membro do TRE/SE para mandato de 1989/1991; 1992 – É reconduzido mais uma vez ao cargo de Juiz Membro do TRE/SE para mandato de 1992/1994; 1995 – É reconduzido mais uma vez ao cargo de Juiz Membro do TRE/SE para mandato de 1995/1997; 1995 – Preside o Conselho Penitenciário do Estado de Sergipe (COPEN/SE) no período de 1995 a 2003; 2003 – Preside o Conselho Penitenciário do Estado de Sergipe (COPEN/SE) no período de 2003 a 2007. 2007 – Preside o Conselho Penitenciário do Estado de Sergipe (COPEN/SE) no período de 2007 a 2011; 2020 – Encerra suas atividades como advogadas durante o período de restrições impostas pela pandemia do coronavírus.

Dentre inúmeras homenagens que lhe foram prestadas, destaca-se a mais alta condecoração concedida pelo Tribunal Regional Federal da 5ª Região, a Medalha Pontes de Miranda. O então presidente do TRF-5, desembargador Vladimir Carvalho, como sergipano que é, destacou a trajetória do seu conterrâneo: “José Francisco da Rocha não é só um advogado com 93 primaveras, mas é, antes de tudo, um pedaço vivo da história jurídica de Sergipe. Mais do que uma rocha, simboliza uma cordilheira de montanhas, dessas que engrandece o meio em que nasceu e em que vive”.

O atual Presidente do Asilo Rio Branco e Venerável da Loja Simbólica Cotinguiba, Orlando Mendonça, no seu depoimento acerca do  amigo e irmão maçom: “Rochinha é um homem íntegro, honesto acima de tudo, um amigo fiel, dedicado e atencioso com todos os que têm a oportunidade de convivência com ele. No Asilo Rio Branco ocupa até hoje a presidência de seu Conselho Diretor com relevantes serviços prestados à instituição, tendo como destaque a sua atuação quando a maçonaria assumiu a direção da instituição até os dias atuais. E continua: “Seu jeito afável, sereno e inteligente inspirou e inspira diversos colegas e amigos, servindo como parâmetro não só à advocacia, mas a outros segmentos profissionais, pois o equilíbrio, a sabedoria e o respeito, atributos inerentes a Rochinha, devem sempre nortear nossa convivência social. A sua capacidade de dialogar fraternalmente com todas as matizes sociais o faz uma grande referência para várias gerações da advocacia. Dentre as inúmeras qualidades de Dr. Rochinha, o seu maior exemplo é de honradez e trabalho”.

Flamarion D’Ávila Fontes apresenta o seguinte depoimento de admiração: “a sua inabalável postura ética, o seu compromisso com a verdade e a sua inquebrantável autoridade moral, qualidades que somente os grandes homens cultuam como modo de vida”.

Na opinião do escritor Antônio Camilo: “José Francisco da Rocha é mais um desses grandes homens que tenho a honra e a felicidade de perpetuar suas histórias e que particularmente me inspiram e encantam porque na simplicidade são grandes e na grandeza se fazem humildes… Procurei elaborar um texto leve, prazeroso, em muitos momentos divertido e bem humorado, assim como é José Francisco da Rocha, mas sem deixar de mergulhar na essência, ressaltando os fatos significativos de sua admirável história, que teve como pilares a humildade, a competência e o desejo de sempre realizar, quer como homem público quer como maçom, professor ou jurista”.

Para Rochinha, essa descrença na política que vivemos hoje, essa falta de esperança, mostra-nos que o momento atual é realmente muito difícil. Nunca vi tanta ausência de dignidade e vergonha no final das contas. Sou daqueles que defendem que mais vale um grama de exemplos do que uma tonelada de palavras.

O primogênito de Juvenal e Conceição, atualmente com 96 anos de vida terrena, além de ser uma pessoa bem humorada e detentor de uma admirável oratória, revelou-se um atento ouvinte e grande narrador quando se trata de uma boa história. Portanto patrimônio do povo sergipano e orgulho da gente cedrense.

(*) Com informações extraídas do livro “Rochinha – Decano da Humildade” escrito por Antônio Camilo.

Texto e imagem reproduzidos do site: infonet.com.br