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terça-feira, 18 de abril de 2023

Os sergipanos presos, torturados, mortos

Publicação compartilhada do site INFONET/BLOGS, de 22 de janeiro de 2023

Os sergipanos presos, torturados, mortos
Por Marcos Cardoso* (in blog Infonet)

O relatório da Comissão da Verdade revelou que três sergipanos foram assassinados pela ditadura militar. Muitos outros sofreram por terem lutado contra o regime de exceção e a favor da liberdade de expressão, ou simplesmente por discordarem do governo dos generais, imposto durante 21 anos a partir de abril de 1964. Alguns guardaram para sempre marcas indeléveis como um registro da coragem de se manifestar contra o arbítrio.

Desde sempre mal digerida pelas Forças Armadas, a Comissão Nacional da Verdade foi um colegiado instituído pelo governo de Dilma Rousseff para investigar as graves violações de direitos humanos ocorridas entre 18 de setembro de 1946 e 5 de outubro de 1988.

O caráter reacionário da ditadura militar configurou-se em Aracaju no dia 1º de abril após a prisão do deputado federal Euvaldo Diniz e do delegado regional do trabalho, que ousaram se manifestar contra o golpe. Lideranças do Sindicato dos Ferroviários também foram conduzidas ao quartel do 28º BC. Mas na manhã seguinte todos foram liberados.

Mesma “sorte” não teve o governador João de Seixas Dória, que retornou do Rio de Janeiro na noite daquele “dia da mentira” e na madrugada do dia 2 foi arrancado do Palácio Olímpio Campos e deposto. Passou meses preso, boa parte do tempo em degredo no arquipélago de Fernando de Noronha. Esses foram os primeiros a sentir a mão pesada da nova ordem institucional.

O primeiro sergipano morto pela ditadura foi o sargento do Exército Manoel Alves de Oliveira, 30 anos incompletos, natural de Aquidabã. Pouco antes do golpe militar, ele foi candidato a presidente do Clube de Subtenentes e Sargentos do Exército, atividade política que certamente o condenou às torturas que sofreu no Regimento Andrade Neves – Escola de Cavalaria, localizado na Vila Militar do Rio de Janeiro, e consequente morte no Hospital Central do Exército (HCE), na mesma cidade, no dia 8 de maio de 1964. Pesquisas apontam que seu assassinato está inserido no quadro de repressão instaurado no país com a chamada “Operação Limpeza”, segundo o relatório da CNV.

A viúva Norma Conceição Martorelli de Oliveira, afirmou que Manoel foi detido em casa, por homens em trajes civis que o conduziram em um automóvel Kombi sem identificação oficial. Ele respondia a Inquérito Policial Militar e foi conduzido para um “interrogatório especializado”. Ao buscar informações junto ao I Exército a respeito do paradeiro, recebeu informações desencontradas. Apenas dois dias depois obteve a confirmação de que o marido estava no HCE. Após um mês de buscas, Norma conseguiu autorização para visitar o marido. Ao vê-lo, percebeu “que o seu corpo estava coberto de marcas, que mais tarde soube serem de ferro quente”.

Também assassinado, o sergipano de Laranjeiras Lucindo Costa, servidor público em Santa Catarina, onde militava no PCB, desapareceu após fazer uma viagem a Curitiba em julho de 1967. Ele tinha 48 anos, era casado e pai de seis filhos. Já havia sido preso duas vezes como subversivo. Posteriormente, a esposa Elisabeth Baader recebeu a informação de que ele morreu atropelado e foi enterrado como indigente. Era mentira, claro. Foi provavelmente detido, torturado e morto.

Preso anteriormente pelos órgãos da repressão, Lucindo mantinha contato com opositores da ditadura militar, como o major Cerveira, mais tarde morto pela repressão, e o professor Vieira Neto, militante do Partido Comunista Brasileiro. À época de seu desaparecimento, Lucindo morava com a família em Mafra (SC) e trabalhava no Serviço de Classificação de Rio Negro (PR), do Ministério da Agricultura.

Therezinha Viana de Assis

Também considerada assassinada pelo Estado brasileiro foi a aracajuana Therezinha Viana de Assis, economista que concluiu o curso na Universidade Federal de Sergipe em 1965. Mudou-se para Belo Horizonte, onde foi funcionária da Caixa Econômica Federal. Militante da Ação Popular (AP), Therezinha foi presa e torturada por agentes da repressão entre os anos de 1968 a 1972.

No início de 1973, ela exilou-se no Chile, onde fez um curso de pós-graduação na Universidade de Santiago. Passou a militar no Movimiento de Izquierda Revolucionaria (MIR). Após o golpe militar que depôs Salvador Allende, Therezinha buscou asilo político na Holanda. Morou inicialmente em Rotterdam e depois em Amsterdã. Cursou o doutorado em Economia e trabalhou, até setembro de 1977, na área de planejamento da prefeitura de Amsterdã. Therezinha Viana de Assis morreu em 1978, aos 36 anos de idade, naquela capital dos Países Baixos, como resultado das sequelas da tortura a que foi submetida.

Durante o período em que residiu em Amsterdã, Therezinha manteve correspondência com sua irmã, Selma Viana de Assis Pamplona, por meio de cartas. Em depoimento, Selma contou que, em 1977, Therezinha viajou por vários países da Europa. Em algumas correspondências, contou à irmã que se sentia perseguida, pois mesmo viajando para outros países via as duas ou quatro mesmas pessoas, que, segundo ela, estariam seguindo seus passos.

Nessa época em que Therezinha passou a se sentir perseguida, um de seus amigos exilados lhe recomendou que tivesse cuidado, pois sabia que policiais do Chile e do Brasil estavam perseguindo exilados em diversos países. Em setembro ou outubro de 1977, desconfiando que suas correspondências estavam sendo violadas e que suas ligações eram interceptadas, ela interrompeu a comunicação com a irmã.

Therezinha Viana de Assis foi encontrada agonizante no dia 3 de fevereiro de 1978, sobre a calçada do edifício onde morava em Amsterdã, e levada, ainda com vida, para o Academische Ziekenhuis da Vrije Universiteir, onde foi operada, mas não resistiu. Ela era irmã do político e empresário Antonio Fernandes Viana de Assis, que foi deputado estadual cassado pela ditadura e, posteriormente, entre os anos de 1988 e 1989, foi prefeito de Aracaju. Ele morreu em junho de 2010, aos 75 anos.

Deputados e estudantes

Viana de Assis (PR), Cleto Maia (PRT), Nivaldo Santos (PR) e Baltazar Santos (PSD) foram os deputados cassados um mês e meio após o golpe. Também foi cassado o deputado federal João Machado Rollemberg, da Arena. No recrudescimento da repressão, e já no bipartidarismo, em 1969 também foram cassados os deputados estaduais Gilton Garcia, Rosendo Ribeiro, Aerton Silva, Chico de Miguel, Edson Mendes de Oliveira, Santos Mendonça, Baltazarino Santos e Jaime Araújo.

Estudantes, quase todos militantes e oriundos da UFS, sofreram nessa fase do chamado novo ciclo repressivo iniciado após o AI-5. Principalmente Bosco Rolemberg, Ana Côrtes, Wellington Mangueira e Laura Marques, que penaram nas mãos de sádicos torturadores. João Augusto Gama, Benedito Figueiredo e o poeta Mário Jorge Vieira também foram presos.

Em fevereiro de 1976, na Operação Cajueiro, 25 sergipanos foram presos arbitrariamente no quartel do 28º BC, alguns foram torturados e 18 foram processados. Wellington Mangueira estava outra vez dentre estes, além dos ferroviários Antônio Bitencourt, Carivaldo Lima Santos, Pedro Hilário dos Santos e Virgílio de Oliveira, dos advogados Jackson de Sá Figueiredo, João Santana Sobrinho, Elias Pinho e Carlos Alberto Menezes, do estudante e bancário Antônio José de Góis, do comerciante Faustino Alves de Menezes, do jornaleiro Gervásio Santos, do funcionário público Marcélio Bonfim, do agrônomo Rosalvo Alexandre, do petroleiro Milton Coelho de Carvalho, que ficou cego, e outros.

O então deputado estadual Jackson Barreto, MDB e ligado ao PCB, sofreu a segunda prisão na Operação Cajueiro, foi logo liberado, mas respondeu a Inquérito Policial Militar.

Em maio de 2009, a Caravana da Anistia do Ministério da Justiça julgou, na sede da OAB em Aracaju, 34 processos de sergipanos que se declararam vítimas do regime militar: 22 processos foram deferidos, as vítimas declaradas anistiadas e o presidente da Comissão de Anistia, em nome do Estado brasileiro, desculpou-se pelo sofrimento causado a cada um desses cidadãos que ousaram lutar pela democracia. Dezoito anistiados tiveram reconhecido o direito de serem indenizados ou de terem corrigidas indenizações anteriormente conquistadas. Um deles foi Antônio José de Góis, o Goizinho, que foi torturado e permaneceu 21 dias encarcerado.

Em quatro processos, os requerentes ou familiares deles pediam apenas que o Estado declarasse reconhecer o sofrimento causado e os anistiasse. Dentre esses, processos do radialista e deputado estadual cassado Santos Mendonça e do poeta Mário Jorge, ambos falecidos. Também foram indenizados Jugurta Barreto, Agamenon de Araújo Souza, José Alexandre Felizola Diniz, Rosalvo Alexandre, José Côrtes Rollemberg Filho, Delmo Naziazeno, Antônio Vieira da Costa, Zelita Correia, Walter Oliveira Ribeiro, João Augusto Gama, Benedito Figueiredo, Wellington Mangueira e Milton Coelho.

* É jornalista.

Texto e imagens reproduzidos do site infonet.com.br/blogs

sexta-feira, 24 de julho de 2020

Segrase lançará e-book sobre a Comissão da Verdade


Publicado originalmente no site DESTAQUE NOTÍCIAS, em 24 de julho de 2020

Segrase lançará e-book sobre a Comissão da Verdade

Milton Coelho foi o primeiro ex-preso político a ser ouvido pela Comissão

Até o dia 15 de agosto próximo, Empresa de Serviços Gráficos de Sergipe (Segrase), concluirá a edição do Relatório final da Comissão Estadual da Verdade “Paulo Barbosa Araújo”. Segundo o presidente da editora estatal, jornalista Milton Alves, inicialmente o relatório será disponibilizado no e-book, com acesso livre. Não há previsão para a impressão do livro conforme previa o projeto inicial da Segrase. O Relatório deverá ter cerca de 800 a 900 páginas com textos, imagens, tabelas e documentos oficiais, resultado de uma ampla pesquisa.

Milton Alves informou que o e-book trará mais de 30 depoimentos de vítimas e testemunhas da violenta repressão militar ocorrida em Sergipe no período de 1946 a 1988, quando ocorreram flagrantes violações aos Direitos Humanos. Entre os depoentes na Comissão destacam-se o ex-governador Jackson Barreto (MDB) e os ex-presos políticos Marcélio Bomfim, Wellington Mangueira e o petroleiro Milton Coelho, este último cego pelas torturas que sofreu no quartel do Exército, durante a “Operação Cajueiro”.

Criada em 2015 pelo ex-governador Jackson Barreto (MDB), a Comissão Estadual da Verdade homenageia o militante e pesquisador das ações da Ditadura Militar no Estado, jornalista Paulo Barbosa de Araújo. Em fevereiro de 1976, Paulo era correspondente do jornal O Estado de São Paulo. Ele e o jornalista Milton Alves, à época correspondente do Jornal da Bahia, foram os primeiros a divulgarem as prisões efetuadas pela Operação Cajueiro. Barbosa, que também foi preso durante o golpe militar, era formado em Ciências Econômicas, foi professor de Economia da Universidade Federal de Sergipe, editor do extinto jornal aracajuano Gazeta de Sergipe e, além do Estadão, foi correspondente do Jornal do Brasil.

A Operação Cajueiro

A ditadura militar implantada a partir do golpe de março de 1964 atingiu o máximo da brutalidade em Sergipe com a Operação Cajueiro, assim cognominada pelo Exército. No dia 20 de fevereiro de 1976, uma força especial vinda da Bahia prendeu arbitrariamente 25 sergipanos, processando 18 deles. Os torturadores eram oriundos do temível DOI-CODI, do DOPS e da Polícia Federal e agiram em Aracaju sob as ordens do tenente-coronel Oscar Silva.

A acusação, que nem cabia a alguns deles, era de serem ligados ao proscrito Partido Comunista Brasileiro (PCB). A operação realizada a partir de uma tarde de 1976, véspera de Carnaval, obedecia na verdade a uma ordem nacional que era a de acabar com o Partidão, a exemplo das demais siglas clandestinas. O comandante do quartel, o coronel Osman de Melo e Silva, havia sido afastado pelo general Fiúza de Castro, um explícito defensor da tortura, que queria ver seus homens à vontade para “trabalhar”.

Texto: Destaquenoticias, com informações do blog História/UFS

Texto e imagem reproduzidos do site: destaquenoticias.com.br

segunda-feira, 25 de novembro de 2019

A queima de arquivos do "Centro Acadêmico Sílvio Romero"

Imagem - Acervo UFS 
Reproduzida pelo blog, para ilustrar o presente artigo

Texto publicado originalmente no site PRIMEIRA MÃO, em 27 de março de 2016

A queima de arquivos do "Centro Acadêmico Sílvio Romero" da Faculdade de Direito da UFS

Por Afonso Nascimento*

Em 1964, no primeiro sábado depois do golpe militar, aconteceu um fato que merece registro para os interessados na história da Faculdade de Direito (atual Departamento de Direito da UFS) e do regime militar em Sergipe. Segundo revelou, na última quarta-feira, à Comissão Estadual da Verdade a advogada Laete Fraga, teve uma queima de arquivos do Centro Acadêmico Silvio Romero (CASR) na residência do diretor da faculdade, o professor Gonçalo Rollemberg Leite.

A importante advogada sergipana tinha sido convidada pela referida comissão para relatar sobre a sua participação como advogada de Edgar Odilon na Justiça Militar em Salvador. Livreiro, ele não era membro do PCB, mas, como tinha emprestado a sua caixa postal para receber e repassar correspondências e jornais procedentes da direção da organização clandestina sediada no Rio de Janeiro. Por conta disso, foi preso e torturado no Quartel do 28 BC, em 1976, por ocasião da Operação Cajueiro. Fazendo curta uma longa história, ele foi absolvido.

Adiante, no seu depoimento, a advogada Laete Fraga falou que era muito próxima do professor Gonçalo Rollemberg Leite e que, como estudante, frequentava a sua casa, de onde muitas vezes saía com pilhas de livros para ler, emprestadas do diretor. Disse também que não se interessava por política. Pois bem, com o golpe militar, o diretor lhe pediu que fosse, juntamente com um funcionário chamado “Seu” Jonas e o estudante de Direito Ildo Nascimento (então funcionário do Banco do Nordeste), buscar arquivos estudantis do centro acadêmico da Faculdade de Direito, os quais foram queimados nas dependências da casa do citado diretor. Não foi lhe perguntado nem informou a advogada sobre o conteúdo dos arquivos, nem como foi feita a sua seleção ou se recebeu qualquer orientação a respeito do que selecionar.

Qual é o significado desse gesto do conhecido diretor? Vários autores o descrevem como um homem conservador, mas sempre acrescentam o seu papel na proteção dos estudantes de direito nos tempos do regime militar. O falecido historiador Luiz Antônio Barreto chegou mesmo a chamá-lo de “portal moral”.

Tomando essa iniciativa, o velho diretor temia, pode-se concluir, que a faculdade de direito – em cujas dependências estava o CASR - pudesse ser invadida pelos militares e que nos arquivos estudantis poderiam ser encontrados documentos comprometedores na leitura que os militares poderiam fazer deles. Havia razões para pensar assim? É muito razoável pensar que sim. Em 1964, era presidente do centro acadêmico o mais tarde governador Albano Franco.

Como devemos interpretar esse gesto do professor Gonçalo Rollemberg Leite? Como um ato de um homem conservador que, ainda assim, estava preocupado com o que poderia acontecer a estudantes de faculdade de que era diretor e professor e que, por isso, queria protegê-los? Pensamos que sim. Ou o que mais poderia significar?

Olhando retrospectivamente, porém, temos que admitir um problema: foi queimada a memória da instituição estudantil relativa a um período de treze anos (1951-1964). Nesse caso, a nobreza do seu gesto nos parece mais importante do que a referida documentação. Parece que o mencionado diretor teve de lidar com o seguinte dilema: era mais importante preservar estudantes de direito contra possíveis ameaças as suas vidas ou tocar fogo na documentação cujo conteúdo, sabe-se lá, poderia trazer dificuldades para a estudantada? Ele fez sua escolha.

PS: Outro caso de queima de arquivos foi realizado por estudantes da UFS, ligados ao PC do B nos estertores do regime militar. Segundo registros escritos, esses arquivos diziam respeito ao trabalho da Assessoria Especial de Segurança e Informação comandada pelo senhor Hélio de Souza Leão.

* Professor de Direito da UFS

Texto reproduzido do site: primeiramao.blog.br

domingo, 24 de novembro de 2019

Depoimento de Laete Fraga para a Comissão Estadual da Verdade de Sergipe

Comissão Estadual da Verdade de Sergipe 
Depoimento completo de:
 Laete Fraga para a Comissão Estadual da 
Verdade de Sergipe Paulo Barbosa de Araújo no dia 
23 de março de 2016 no auditório do Museu da Gente Sergipana.

sexta-feira, 2 de agosto de 2019

‘Comissão da Verdade não é balela’, diz Bittencourt


Publicado originalmente no site FAN F1, em 01 de agosto de 2019

‘Comissão da Verdade não é balela’, diz Bittencourt

Por Célia Silva

Filho de preso político, o secretário municipal da Assistência Social de Aracaju, Antônio Bittencourt disse no Jornal da Fan desta quarta-feira, 1º, ao se referir às recentes falas do presidente Bolsonaro sobre à Comissão da Verdade e a morte do pai do presidente da OAB, que ele precisa ter uma postura mais equilibrada e respeitar a dor alheia.

Antônio Bittencourt foi secretário de Estado e coordenador de Direitos Humanos e membro da Comissão Estadual da Verdade, instalada em 2015 para apurar violações aos Direitos Humanos envolvendo sergipanos entre o período de 1946 a 1988. O pai dele foi o sindicalista Antônio Bittencourt, 93 anos, preso em 1953. “Participei da instalação da Comissão criada pelo então governador Jackson Barreto e o que as comissões de Verdade não são é balela”, reagiu o professor.

São falas desconexas”, “disse Bittencourt. 
Foto: Fan F1

“São falas desconexas que vindas de um presidente, acabam levando o povo a desdenhar da dor alheia, de um filho de um torturado e esse tipo de dor não deve ser tratada com desrespeito.  Ele, enquanto presidente, independentemente da tendência, seja de esquerda, direita, centro, liberal, precisa ter uma postura mais equilibrada e perceber que o respeito à vida há muito tempo, já vem instituído ao poder do Estado como elemento fundamental”, afirmou Bittencourt.

Na semana passada (29 e 30) o presidente Jair Bolsonaro atacou Felipe Santa Cruz, e disse: “Um dia, se o presidente da OAB quiser saber como é que o pai dele desapareceu no período militar, eu conto”. No dia seguinte, Bolsonaro , questionou a atuação da Comissão da Verdade e disse que aquilo tudo era uma balela.

Comissão da Verdade, instalada em 2015.
 Foto: Arquivo/Secom

Comissão da Verdade – A Comissão Estadual da Verdade foi instalada em junho de 2015, três anos após a instalação da Comissão Nacional da Verdade, e possui cerca de 30 mil documentos envolvendo graves violações aos Direitos Humanos a sergipanos no período de 1946 a 1988.

Membros da Comissão Estadual da Verdade: jornalista, pesquisador e professor Gilfrancisco; o doutor em Sociologia, pesquisador sobre a Ditadura Militar no Brasil e professor da Faculdade Sergipana, Hélder Teixeira; o pesquisador, doutor em História e professor da Universidade Federal de Alagoas (UFAL), José Vieira da Cruz ; a pesquisadora em Direitos Humanos, doutora em Sociologia e professora da UFS, Andréa Depieri; a doutora e professora do Mestrado em Direitos Humanos da Universidade Tiradentes (Unit), Gabriela Rebouças e o doutorando em Ciências Sociais e professor de Direito da UFS, José Afonso do Nascimento e  Antônio Bittencourt.

O acervo está à disposição para pesquisa no primeiro andar do prédio do Banese, na avenida Augusto Maynard, no bairro São José, em Aracaju (SE).

Texto e imagens reproduzidos do site: fanf1.com.br

terça-feira, 19 de março de 2019

Depoimento de Pascoal Nabuco para a Comissão Estadual da Verdade de Sergipe


Depoimento de Pascoal Nabuco para a Comissão Estadual da Verdade de Sergipe

Publicado em 29 de out de 2018, no YouTube

Depoimento de Pascoal Nabuco para a Comissão Estadual da Verdade de Sergipe Paulo Barbosa de Araújo no dia 17 de maio de 2016 no auditório do Museu da Gente Sergipana.

sexta-feira, 14 de setembro de 2018

Luta pela democracia: Valeu a pena Sim!

Testemunhos da Comissão da Verdade precisam ser
 vistos pelos estudantes (Foto Marcelle Cristinne/ASN)

 Publicado originalmente no site Infonet/Blogs/Cláudio Nunes, em 25/02/2016

Luta pela democracia: Valeu a pena Sim!

Por Cláudio Nunes

O blog está acompanhando sim os depoimentos na Comissão da Verdade em Sergipe. Ainda não esteve presente no depoimento por alguns motivos: compromissos na Justiça (como foi o caso de ontem, 24) e outros, como nos depoimentos de Wellington Mangueira e Milton Coelho porque tinha a certeza que a emoção iria transbordar. Mangueira porque na década de 80 ele foi o responsável pela formação do então militante estudantil (este jornalista) da antiga ETFSE (chegando a fundar a Umesa em 85) no PCB. Já Milton Coelho teve uma ligação próxima a dois membros da família Nunes, quando jovem no PCB. Em 1954 ajudou na campanha de José Nunes a deputado estadual e depois substituiu Célio Nunes no jornal Folha Popular, também do PCB.

O titular deste espaço, apesar de ser uma criança quando ocorreu a Operação Cajueiro em Aracaju na década de 70, mas teve o prazer de conviver na década de 80 – com o retorno do PCB a legalidade, e antes mesmo – com camaradas como Jackson Figueiredo de Sá (já falecido), Wellington Mangueira, Laura Marques, Delmo Naziazeno, Carivaldo, Faustino Alves, Asclepiades José (Bengala). Além de conhecer outros envolvidos como Goisinho, Marcélio Bomfim e Rosalvo Alexandre, o Bocão (também falecido). Sem falar que por conta das atividades no partido do avô, José Nunes (principalmente no Centro Operário Sergipano) e do pai Célio Nunes conheceu alguns sergipanos que lutaram pela liberdade democrática, como os líderes Manoel Vicente, Gervásio Careca, Antônio Bitencourt, Durval Santana, Agonalto Pacheco entre outros.

Por ter vivido plenamente este período, Jackson Barreto deixou a emoção tomar conta ontem. Jackson, no MDB, foi um militante do PCB. Ele e Jonas Amaral eram os candidatos do partido em Sergipe.  E a memória de cada um tem detalhes enriquecedores. Parece que foi ontem. Como esquecer a crueldade que sofreram?

Alguns radicais são contra a Comissão da Verdade. Pensam que é perseguição, mas a função dela é, sobretudo, restaurar um período da história do país que precisa ser lembrada sempre. E os mais jovens precisam saber que muitos morreram, foram presos e torturados para que eles hoje possam viver a democracia plena, inclusive defendendo o radicalismo de direita e o retorno da ditadura.

Os testemunhos destas pessoas devem ser passados nas escolas públicas, assim como o curta-metragem “Operação Cajueiro, um Carnaval de Torturas.”  É preciso que o governo passe em cada escola o resumo destes testemunhos e promova o debate com os estudantes.

A ditadura foi maléfica para o país. E as ações da ditadura em Sergipe, com estes depoimentos, ficarão para sempre nas memórias dos sergipanos.

Estes depoimentos tem um valor histórico incalculável. E a emoção de cada depoimento é porque as testemunhas sabem que a crueldade que eles sofreram não foi em vão.

Valeu à pena sim!  O Brasil respira hoje a liberdade democrática.

Texto e imagem reproduzidos do site: infonet.com.br/blogs

quinta-feira, 21 de julho de 2016

Benedito de Figueiredo revela memórias à Comissão Estadual da Verdade


Publicado originalmente no site Na Política, em 20/07/16. 

Benedito de Figueiredo revela memórias à Comissão Estadual da Verdade

“Vivíamos na expectativa de como seria o amanhã. Não cheguei a ser torturado fisicamente, mas psicologicamente. Essas coisas precisam ser ditas para conscientizar a juventude de que, por pior que pareça um sistema político, a democracia ainda é o melhor regime”, disse o secretário de Estado de Governo, Benedito de Figueiredo, ao depor em mais uma sessão de oitivas da Comissão Estadual da Verdade, realizada na manhã desta terça-feira, 19, no auditório do Museu da Gente Sergipana. Também vítima do Regime Militar, ele contou a experiência vivida, iniciando o relato com sua ligação com o movimento estudantil que lutou contra a repressão da época, quando ingressou na faculdade de Direito da Universidade Federal de Sergipe (UFS), em 1966.

Benedito afirmou que, apesar da ligação com amigos do PCB (Partido Comunista Brasileiro), não era filiado, mas um simpatizante. O grupo sergipano do qual fazia parte incluía componentes do movimento estudantil. Ao participar do Congresso da UNE (União Nacional dos Estudantes), em Ibiúna, São Paulo, foi preso junto com os também estudantes sergipanos Antônio Vieira da Costa; Elze Maria; João Augusto Gama, Bosco Rolemberg; José Alves do Nascimento; José Jacob Dias Polito, Laura Maria Tourinho, Wellington Mangueira; Tina Correia e Ancelmo Gois. Na ocasião, eles fizeram greve de fome por três dias, para que pudessem ser soltos, já que foram presos sem nenhuma explicação ou motivação aparente.

“Em Ibiúna, joguei fora a minha carteira de funcionário público. Não queria correr o risco de ser identificado nessa condição. Lá em São Paulo, ficamos presos no presídio Tiradentes. Passamos por humilhações. Os agentes davam chutes e nos agrediam verbalmente”, disse Bendito. Aqui em Sergipe, o fato se repetiu. Desta vez, ele e os demais colegas de luta foram levados para o 28º Batalhão de Caçadores (28º BC), onde ficou preso por 29 dias, durante as festas de final de ano.

“Tive minha casa invadida por policiais sem qualquer mandado de prisão. O coronel Gildasio Barbosa, secretário de Segurança Pública da época, ordenou que essas ações acontecessem. Invadiu as casas de muitos, arbitrariamente. Peguei meus livros, também fornecidos por Wellington [Mangueira], coloquei em uma sacola, fui para a casa da minha avó e enterrei. Em termo de ‘material subversivo’, nada encontraram. Gama [João Augusto] também escondeu os livros, mas atrás da geladeira. Era com sentimento de terror que vivíamos. Todos nós sabemos a desgraça que foi a revolução de 1964 e a turma de 1966 da faculdade de Direito marcou a história de Sergipe”, ressaltou Benedito.

O secretário contou ainda, sobre a sua amizade e admiração pelo companheiro de jornada, Wellington Mangueira. “Estávamos presentes em tudo que dizia respeito à política. Fomos ao Congresso da União Sergipana dos Estudantes Secundaristas (USES), em Lagarto. Lá houve um incidente que marcou ainda mais a minha amizade, admiração e respeito por ele. Ocorreu uma desavença com um rapaz, que, de maneira traiçoeira e covarde, o apunhalou pelas costas. Um momento de trauma. As forças políticas se dividiram e aconteceram diversas brigas ideológicas entre as facções. Terminamos esse congresso em Propriá. Minha participação mais efetiva na política estudantil partiu daí, quando me tornei tesoureiro da Uses”.

De acordo com a Comissão da Verdade, a rodada de oitivas de julho é destinada às vítimas que atuaram com mais intensidade no período entre 1964 e 1968. Para o presidente da Comissão, Josué Modesto dos Passos Subrinho, o ano de 1968 foi o ápice das grandes mobilizações, nas quais os militantes eram estudantes secundaristas ou universitários. “O ano terminou com a publicação do Ato Institucional número cinco (AI-5) e, a partir desse momento, algumas entidades políticas radicalizaram, partindo para a luta armada. Os casos mais predominantes em Sergipe passaram a atuar na via política legal, através do MDB (Movimento Democrático Brasileiro), mas tentando solapar as bases de legitimação política do Regime. É um contexto de depoimento interessante, especialmente para a nova geração entender como funciona a construção de um processo democrático dentro de um regime ditatorial”, explicou.

Da ASN.

Texto e imagem reproduzidos do site: napolitica.com

segunda-feira, 23 de maio de 2016

Comissão da Verdade ouve depoimento de Ilma Fontes

Foto: seidh.

Infonet > Cidade > Noticias > 17/05/2016.

Comissão da Verdade ouve depoimento de Ilma Fontes.

A jornalista e escritora foi ouvida nesta terça-feira, 17.

Na quinta rodada de audiências públicas para oitiva das testemunhas que foram vítimas do Regime Ditatorial Militar entre 1964 a 1985, a Comissão Estadual da Verdade “Paulo Barbosa de Araújo” ouviu, nesta terça-feira, 17, a jornalista, escritora cineasta, ativista cultural e médica psiquiatra Ilma Fontes, que, apesar de não ter sido presa, sofreu fortes perseguições e ameaças. A Secretaria de Estado da Mulher, da Inclusão e Assistência Social, do Trabalho e dos Direitos Humanos (Seidh) é responsável pela interlocução entre os membros da Comissão e o Governo de Sergipe.

Em seu depoimento, Ilma relembrou a época que passou no vestibular de Medicina, em 1967. “Eu estava presidente do CEU (Clube do Estudante Universitário), momento em que nossos direitos estudantis foram cassados. Não tinha mais participação no Diretório Central dos Estudantes (DCE) e também não podia falar de política dentro da Faculdade de Medicina, mas consegui permanecer estudando. Fui perseguida, humilhada, postergada. Fui afastada dos meus projetos. Tive minha juventude roubada”, afirmou a vítima, que também falou sobre a censura vivenciada.

“Aqui em Sergipe, o movimento era mais ameno. A luta era mais intensa na Bahia. Em Salvador tinha os movimentos de rua. Era uma temeridade. Aqui nós tínhamos algumas divergências de pensamento, talvez pela característica rebelde da juventude. Nós éramos fichados e discriminados: ‘Fulano, beltrano e cicrano são comunistas’. Eu não era comunista. Até então não era filiada a partido nenhum. Mesmo porque eu adorava rock’n roll. A maioria dos comunistas não aceitava muito isso. Minha primeira filiação partidária foi ao Partido dos Trabalhadores (PT), em 1981, para fundar o diretório de Aracaju. E muito embora eu fosse amiga de Laurinha [Marques] e Wellignton Mangueira, não me filiei ao Partidão”, contou Ilma.

Ilma destacou ainda, que estudou psiquiatria no Rio de Janeiro e lá era outra realidade. “Havia características distintas. O movimento secundarista era muito forte, mas era a reboque de movimento universitário. Aqui em Sergipe era o contrário. Tínhamos muito mais estudantes ativistas, conscientes e destemidos no movimento secundarista do que na Universidade. Na faculdade de Medicina, quem partia para o enfrentamento era eu. Tinha mais duas, três pessoas, no entanto, eram mais comedidas”.

Para o coordenador de Direitos Humanos da Seidh, Antônio Bittencourt, o momento de repressão não se caracteriza apenas pela coerção de natureza física, mas sobretudo, por ser uma violência de natureza cultural e ideológica. “Ilma Fontes fez parte de um grupo de jovens ativos na prática da contestação cultural e que se rebelavam nesse campo. Portanto, acredito que o relato dela estimula a inserção de investigações voltadas à presença de repressão às manifestações culturais sergipanas”, pontou.

Também o presidente interino da Comissão da Verdade, Gilfrancisco, a participação de Ilma Fontes tem um caráter especial, devido à sua atuação no segmento cultural, principalmente ligada ao cinema, literatura e teatro. “Teremos outros, mas com militância político-partidária. Os próximos que irão depor nesta rodada foram presos”, disse. Ainda esta semana, serão ouvidos Manoel Pascoal Nabuco D’Ávila (18/05), Ana Maria Rolemberg Côrtes (19/05) e Benedito de Figueiredo (18/05), em sessões públicas realizadas a partir das 8h, no auditório do Museu da Gente Sergipana.

Sobre a Comissão

Instituída pelo governador Jackson Barreto através do decreto nº 30.030, em 26 de junho de 2015, a Comissão Estadual da Verdade tem caráter independente e visa o levantamento de informações relativas ao período de 1947 a 1985.

Fonte: ascom Seidh.

Texto e imagem reproduzidos do site: infonet.com.br/cidade

segunda-feira, 29 de fevereiro de 2016

Ditadura: Marcélio pede que governo realize seminários

Foto: Jadilson Simões/Equipe JC.

Publicado originalmente no site do Jornal da Cidade, em 27/02/2016. 

Ditadura: Marcélio pede que governo realize seminários
Ex-preso político lamentou que administração estadual não tome iniciativa.

Por: Valter Lima/ Equipe JC.

O ex-vereador de Aracaju, Marcélio Bonfim, prestou ontem seu depoimento à Comissão Estadual da Verdade. Ex-preso político que foi torturado durante a ditadura militar, em Sergipe, ele defendeu, durante entrevista ao JORNAL DA CIDADE, que o governo estadual, através da Secretaria da Educação, realize seminários em todas as escolas públicas para apresentar aos estudantes o que ocorreu durante o regime de exceção.

“Lamento profundamente que o governo de um resistente, de um militante, que também foi punido pela ditadura, não tenha determinado ao seu secretário da Educação a realização de seminários para discutir o golpe de 1964. Ontem, eu fui para a Universidade Federal falar para cerca de 500 estudantes sobre a minha história na ditadura, durante a Operação Cajueiro. Já o fiz também na Unit e em escolas particulares, mas nunca fui convidado, nem tenho conhecimento de que as escolas da rede estadual tenham organizando debates para contar este capítulo da história”, afirmou.

Marcélio pontuou que “as novas gerações precisam tomar conhecimento do que ocorreu no País para que se organizem e evitem que um dia a ditadura retorne a ocorrer no Brasil”. Para ele, é a “falta de informação” que faz com que setores da sociedade e parte da juventude defendam a volta dos militares ao poder como alternativa à crise política, econômica e moral que está instalada no País.

“Estou contando a minha história, esse é o nosso papel. Não carrego nem ódio nem rancor nem tenho espírito revanchista. Porque quem vence não pode ter esses sentimentos. Eu e todos os meus companheiros somos vitoriosos. Pois podemos passar por aqueles que nos torturaram sem vergonha, enquanto eles não têm coragem de assumir o que fizeram. Então, a gente só vai acabar com este sentimento de que a ditadura pode ser uma solução para o País quando as pessoas tiverem informações suficientes do que ocorreu no País durante aquele período”, ressaltou.

Ao comentar as duas ocasiões em que foi preso – tanto em 1964 quanto em 1976 –, Marcélio evitou detalhar como se deram as torturas. “Precisa ter um controle emocional muito grande. Começo a lembrar não das torturas que enfrentei, mas dos gritos dos meus companheiros sendo torturados. Isso é muito difícil”, pontuou. Ao relatar as duas ocasiões em que foi detido, o ex-vereador citou que os dois fatos ocorreram no mesmo local: no prédio onde funciona atualmente a Câmara de Vereadores de Aracaju.

“A Câmara tem um significado muito grande para mim. Eu era funcionário da Deso e fui preso em 1964 trabalhando onde hoje é o plenário da Câmara. Depois, em 1976, quando trabalhava no cartório do segundo ofício, no local onde hoje é a sala do presidente da Câmara, eu fui preso novamente. E a coincidência disso é que anos depois eu me tornei vereador e passei a ser colega de Câmara de um militar que em 1964 me prendeu”, destacou.

Comissão

Além de Marcélio Bonfim, outros presos políticos foram ouvidos pela comissão na última semana, inclusive o governador Jackson Barreto. Prestaram depoimento Delmo Naziazeno, Milton Alves, Carlos Alberto Menezes e José Elias Pinho de Oliveira. No final de janeiro já haviam participado das audiências públicas Milton Coelho, Wellington Mangueira e Bosco Rollemberg. Cerca de 20 pessoas serão ouvidas ao todo pela comissão.

Texto e imagem reproduzidos do site: jornaldacidade.net/politica

quinta-feira, 25 de fevereiro de 2016

Governador Jackson Barreto depõe à Comissão Estadual da Verdade.


Publicado originalmente no site G1 SE., em 24/02/2016.

Governador Jackson Barreto depõe à Comissão Estadual da Verdade.

Jackson disse que viveu na luta pela redemocratização do País.
Governador foi preso durante três vezes na ditadura militar.

Do G1 SE.

Na segunda fase das sessões públicas para registro de depoimentos, a Comissão Estadual da Verdade reúne, no período de até esta sexta-feira (26), em sessões públicas no Museu da Gente Sergipana, mais seis vítimas do regime militar instaurado no Brasil pelo Golpe de 1964.

Em 20 de fevereiro de 1976, a "Operação Cajueiro", desencadeada em Sergipe pelos militares no ápice da ditadura, teve como uma de suas vítimas o então deputado estadual e hoje governador Jackson Barreto. Para elucidar e tornar públicos os fatos ocorridos à época, o governador relatou, na manhã desta quarta-feira (24), à Comissão Estadual da Verdade (CEV), o que viveu na luta pela redemocratização do País.

Além de Jackson Barreto, nesta fase, já foram coletados depoimentos das vítimas, Delmo Naziazeno (servidor público) e do jornalista Milton Alves. O advogado Carlos Alberto Menezes, o promotor de Justiça, José Elias Pinho de Oliveira e Marcélio Bonfim serão os próximos a serem ouvidos.
“Sofremos na pele as consequências da luta pela liberdade e redemocratização do País. Na Operação Cajueiro eu não fui torturado, porque na época eu era deputado e imagino que eles estavam preocupados com a repercussão de torturar um deputado, foi mais uma tortura psicológica, com ameaças o tempo todo. O coronel gritava, batia na mesa e dizia: ‘Deputado, aqui as pessoas falam o que quer e o que não quer’, deixando claro que se alguém não falasse o que eles queriam, teriam meios persuasivos para coletar as informações. Mas eles não conseguiram nada da nossa parte. Da minha parte, na verdade, eles queriam justificar que meu mandato de deputado estadual era um instrumento de financiamento das atividades do Partido Comunista Brasileiro (PCB) do qual eu era militante, filiado do setor de Agitação e Propaganda, naquele momento. Sofri processo de Segurança Nacional e depois todos nós fomos absolvidos, ainda assim, tentaram rever minha absolvição. Era algo que, depois entendi, também de interesse político, já que eu seria candidato a deputado federal em 1978”, relatou o governador.

Em seu depoimento, Jackson recordou que além da Operação Cajueiro, onde foi detido por quase um dia completo para interrogatório, foi preso político por mais duas vezes, durante a ditadura militar. Quando estudante universitário, ao lado dos companheiros de movimento estudantil, também só não foi expulso da Faculdade de Direito pela coragem do então reitor, João Cardoso, que se negou a fazê-lo.

“Fui preso três vezes, primeiro com o grande jornalista sergipano, Ancelmo Gois, fomos presos no Quartel do 28º BC. A segunda vez, foi na sede da antiga Polícia Federal, na rua Capela, onde fiquei na mesma cela do major do Exército, João Teles de Menezes, muito ligado à figura de Luís Carlos Prestes. Era também meu companheiro de cela o geólogo Artemísio Resende e José Alves.

Nascimento, irmão da primeira dama da capital, Maria do Carmo. Depois fui preso e levado para o Quartel da Polícia Militar, na rua Itabaiana, onde passei 17 dias e recebíamos visitas de alguns companheiros e familiares e a todos orientávamos no sentido que a coisa mais importante que todos tinham que fazer era divulgar a nossa prisão, porque cada vez que um companheiro era preso o fundamental era que informássemos o máximo à opinião pública, para garantir a segurança e  a própria vida daquele que foi preso”, recordou.

Antes de iniciar os relatos à CEV, Jackson fez uma homenagem aos militantes da Universidade, já falecidos, que também viveram os duros tempos de repressão, a exemplo de Paulito, da Faculdade de Química, Vieira, da Faculdade de Economia, Urbano Jacinto, da Faculdade de Direito, Jackson Figueiredo, da Faculdade de Direito, Rosalvo Alexandre, militante desde o Colégio Estadual Atheneu Sergipense, Vivaldo Lima Sobrinho (irmão de Rosalvo e recentemente falecido) e Mário Jorge Menezes Viera.

Segundo Jackson, a Comissão Estadual da Verdade cumpre o papel de relembrar esses fatos que já pertencem à história para servir como exemplo às futuras gerações. “Seguindo uma orientação nacional, a Comissão Estadual da Verdade está aqui para que esses fatos não voltem mais a acontecer no Brasil. Para que a gente tenha consciência da necessidade de vivermos e defendermos a democracia”.

De acordo com o presidente da Comissão Estadual da Verdade, o professor Josué Modesto dos Passos Subrinho , o relato do governador  foi uma  importantíssima contribuição ao futuro acervo da Comissão Estadual da Verdade, pois ilustra bem a memória de uma geração que construiu à resistência ao regime e testemunhou os mecanismos de repressão e resistência. “O governador teve uma trajetória política que se inicia no movimento estudantil na resistência ao regime autoritário, o depoimento dele foi muito ilustrativo, já que ele tem uma memória impressionante e conseguiu relembrar fatos, pessoas e localidades. Depois analisaremos esses depoimentos, que estão sendo gravados, para ver as diferentes nuances, versões, eventualmente omissões, e poderemos novamente indagar os depoentes para detalhar, aprofundar algumas questões. Mas isso será um trabalho posterior da comissão”, explicou.

Para Subrinho, os relatos contribuem para reavivar um passado recente que por vezes trazem fatos imagináveis para aqueles que nasceram após o processo de redemocratização do Brasil e ainda realçam as conquistas obtidas neste pequeno espaço de tempo.

“Do ponto de vista da atual geração, são coisas impressionantes, porque felizmente vivemos uma normalidade democrática há muito tempo. O fato das pessoas serem presas sem mandado, de não ter direito a advogado, dos advogados terem medo de serem constituídos como defensores, de instituições silenciares, a imprensa sergipana, por exemplo, não noticiou nada a respeito da Operação Cajueiro, tudo isso constitui o que nós ganhamos. A geração que já nasceu no regime democrático às vezes só tem a percepção dos impasses, dos problemas da democracia e não têm a percepção dos ganhos em termos de direito, liberdade, de pensamento, de manifestação, de preservação da pessoa, dos seus bens. Esses depoimentos trazem também, a memória para pessoas da minha geração, que conviveram com isso, de como era diferente, e como isso é aterrorizante. Enfim, acreditamos que as conquistas democráticas que o País tem tido, que estão avançando, se contrapõem a este período de terror, elas ficam realçadas diante de tudo isso”.

*Com informações da ASN.

Texto reproduzido do site: g1.globo.com/se

domingo, 31 de janeiro de 2016

“Anistia não deveria valer para torturadores” (Bosco Mendonça)


Publicado originalmente no site do Jornal da Cidade, em 29/01/2016.

“Anistia não deveria valer para torturadores”.

Bosco e sua esposa, Ana Côrtes, foram sequestrados e torturados por 60 dias. Bosco foi condenado e ficou preso por quase cinco anos.

Por: Valter Lima/Da equipe JC.

A Comissão Estadual de Verdade ouviu ontem Bosco Rollemberg no segundo dia de depoimentos de pessoas que sofreram tortura, em Sergipe, durante o período da ditadura militar. Bosco e sua esposa, Ana Côrtes, foram sequestrados e torturados por 60 dias. Bosco foi condenado e ficou preso por quase cinco anos. Ao JORNAL DA CIDADE, ele definiu o tempo em que foi alvo das agressões dos militares como “um inferno” e se disse contrário à anistia dos torturadores.

“Vivemos o inferno. Como o ser humano é capaz de coisas maravilhosas e atos de amor e solidariedade, o ser humano também é capaz de muitos crimes, de muita maldade. Fui amarrado, espancado. Eles me encapuzaram, algemaram meus braços, colocaram uns óculos de borracha que apertava muito a cabeça, me deram murros, pontapés, choques elétricos na orelha, na língua, no pênis e nas nádegas, além da tortura psicológica. Me ameaçavam de morte. Torturaram minha esposa que estava grávida”, relatou Bosco.

Ele pontuou que não perdoa os torturadores. “O perdão o Estado já me pediu, mas eu não perdoo os torturadores. Acho um erro da experiência do povo brasileiro a Lei de Anistia ter perdoado esses animais bárbaros selvagens. Acho que é um erro que ainda deve ser reparado. Vamos lutar para mudar isso”, disse.

Para Bosco Rollemberg, o depoimento prestado ontem tem como principal significado tirar lições para os dias atuais. “Não tem aqui o espírito de mágoa, revanchismo ou sofrimento. Mas de tirar lições, pois um País que tem um projeto autônomo de desenvolvimento só alcançará êxito se fizer o balanço das suas experiências. Qualquer cidadão com menos de 35 anos não tem a consciência crítica nem informação do que foi o período da ditadura e por isso não consegue ter a noção exata da importância da liberdade democrática, da liberdade política, do direito e segurança de opinar livremente, de organizar um partido, disputar eleições, respeitar os mandatos”, afirmou.

Comissão.

Os depoimentos para a Comissão Estadual da Verdade foram iniciados na última quarta-feira, 26, quando Milton Coelho apresentou o seu relato. Hoje será a vez de Wellington Mangueira. Pouco mais de 20 pessoas falarão à comissão estadual. “Todos aqueles que foram presos durante a Operação Cajueiro, processados ou não, e até quem participou e conviveu, será chamado para prestar depoimento”, explica o coordenador do grupo, Josué Modesto.

Texto e imagem reproduzidos do site: jornaldacidade.net

quinta-feira, 28 de janeiro de 2016

Comissão da Verdade de Sergipe ouve ex-preso político


Publicado originalmente no site Destaque Notícias, em 26/01/2016.

Comissão da Verdade de Sergipe ouve ex-preso político

A Comissão Estadual da Verdade deu início nesta terça-feira (26) as audiências públicas para ouvir ex-presos políticos e outras vítimas do golpe militar em Sergipe. Realizada no auditório do Museu da Gente Sergipana, a audiência contou, em seu primeiro dia, com o depoimento de Milton Coelho, vítima de tortura durante a Ditadura Militar, e com a presença de expectadores da população.

Milton, que perdeu a visão durante a tortura infligida pelos militares participantes da Operação Cajueiro, contou relatos dos maus-tratos aos quais foi submetido. “Eu fui levado para as dependências laterais do 28º Batalhão de Caçadores aqui em Aracaju e fui estupidamente torturado. Tenho marcas no pulso, pois fui algemado, tomei choques elétricos, pontapés nas costelas, enfim, foi uma barbaridade inconfessável. Após 50 dias preso e depois de passar uma semana sendo torturado, perdi a visão imediatamente quando saí de lá”, pontuou.

História conhecida

Vítima das barbáries cometidas em 1976 durante a Operação, e carregando as marcas até hoje, Milton enfatizou a importância de dar luz a uma série de acontecimentos que nem sempre são tratados com o devido cuidado. “É necessário que a história seja conhecida. É preciso que sejam debatidos os fatos passados, que não puderam ser expostos e comentados, para que se criem condições democráticas e que, assim, não haja reversão no clima de democracia que estamos vivenciando hoje. É sabendo da história que se educa politicamente a população”, destacou.

Os seis integrantes da Comissão ouvirão ainda, durante esta primeira fase, cerca de 20 pessoas. As sessões públicas são, contudo, apenas uma das estratégias de coleta de material. Haverá ainda, se necessário, novas oitivas e o recolhimento de depoimentos daqueles que desejam depor de maneira privada ou por escrito, além do acesso aos arquivos públicos, para que assim seja construído um relatório final, como explica Antônio Bittencourt, coordenador dos Direitos Humanos da Secretaria de Estado da Mulher, Inclusão, Assistência Social, do Trabalho e dos Direitos Humanos (Seidh), responsável por estabelecer a interlocução entre o Governo de Sergipe e os membros da Comissão.

“Essas ouvidas caminham simultaneamente a todo processo de levantamento de documentos, ou seja, toda a pesquisa documental. Ao tempo que as audiências estão acontecendo, nós já temos informações de arquivos, como por exemplo, o Arquivo Público do Estado de Sergipe, onde temos algo próximo a 750 fichas do antigo DOPS de pessoas de Sergipe ou de fora do estado que passaram por aqui e eram fichadas pelos Órgãos de Repressão da Ditadura Militar”, detalhou. Ainda de acordo com ele, o papel da Comissão é “sobretudo um papel educativo e didático, já que são eles [testemunhas] que farão com que a sociedade enxergue tais acontecimentos para que jamais sejam repetidos. São tempos que nós precisamos conhecer para que não mais aconteçam”, pontuou.

As audiências públicas terão continuidade durante o decorrer da semana, quando serão ouvidos Bosco Rollemberg, na quinta-feira, 28, e Wellington Mangueira, na sexta-feira, 29. Para o presidente da Comissão, Josué Modesto dos Passos Subrinho, a expectativa é que com o acervo de depoimentos que serão colhidos, se forme um panorama sobre a repressão política em Sergipe, especialmente nesse período da Operação Cajueiro. “A ideia é termos materiais para a reflexão histórica. Na realidade, há uma lacuna muito grande, já que a imprensa sergipana à época não noticiou a Operação, então é como se isso não tivesse existido, mas ovorreu e foi muito importante. E é isso que queremos preservar na memória para a reflexão das futuras gerações”, enfatizou.

Sobre a Comissão

Instituída pelo governador Jackson Barreto através do decreto nº 30.030, em 26 de junho de 2015, a Comissão Estadual da Verdade visa o levantamento de informações relativas ao período de 1947 a 1985, e tem caráter independente, com a cooperação das Secretarias de Estado da Mulher Inclusão, Assistência Social, do Trabalho e dos Direitos Humanos e da Casa Civil.

Fonte e foto: ASN.

Texto e imagem reproduzidos do site: destaquenoticias.com.br

segunda-feira, 22 de dezembro de 2014

Comissão da Verdade revelou que três sergipanos foram mortos


Infonet - Blog Marcos Cardoso - 21/12/2014.

Os sergipanos presos, torturados, mortos.

Comissão da Verdade revelou que três sergipanos foram mortos.

O relatório da Comissão Nacional da Verdade revelou que três sergipanos foram assassinados pela ditadura militar. Muitos outros sofreram por terem lutado contra o regime de exceção e a favor da liberdade de expressão, ou simplesmente por discordarem do governo dos generais, imposto durante 21 anos a partir de abril de 1964. Alguns guardaram para sempre marcas indeléveis como um registro da coragem de se manifestar contra o arbítrio.

O caráter reacionário da nova fase política configurou-se em Aracaju no dia 1º de abril após a prisão do deputado federal Euvaldo Diniz e do delegado regional do trabalho, que ousaram se manifestar contra o golpe. Lideranças do Sindicato dos Ferroviários também foram conduzidas ao quartel do 28º BC. Mas na manhã seguinte todos foram liberados.

Mesma “sorte” não teve o governador João de Seixas Dória, que retornou do Rio de Janeiro na noite daquele “dia da mentira” e na madrugada do dia 2 foi arrancado do Palácio Olímpio Campos e deposto. Passou meses preso, boa parte do tempo em degredo no arquipélago de Fernando de Noronha. Esses foram os primeiros a sentir a mão pesada da nova ordem institucional.

O primeiro sergipano morto pela ditadura foi o sargento do Exército Manoel Alves de Oliveira, 30 anos incompletos, natural de Aquidabã. Pouco antes do golpe militar, ele foi candidato a presidente do Clube de Subtenentes e Sargentos do Exército, atividade política que certamente o condenou às torturas que sofreu no Regimento Andrade Neves – Escola de Cavalaria, localizado na Vila Militar do Rio de Janeiro, e consequente morte no Hospital Central do Exército (HCE), na mesma cidade, no dia 8 de maio de 1964. Pesquisas apontam que seu assassinato está inserido no quadro de repressão instaurado no país com a chamada “Operação Limpeza”, segundo o relatório da CNV.

A viúva Norma Conceição Martorelli de Oliveira, afirmou que Manoel foi detido em casa, por homens em trajes civis que o conduziram em um automóvel Kombi sem identificação oficial. Ele respondia a Inquérito Policial Militar e foi conduzido para um “interrogatório especializado”. Ao buscar informações junto ao I Exército a respeito do paradeiro, recebeu informações desencontradas. Apenas dois dias depois obteve a confirmação de que o marido estava no HCE. Após um mês de buscas, Norma conseguiu autorização para visitar o marido. Ao vê-lo, percebeu “que o seu corpo estava coberto de marcas, que mais tarde soube serem de ferro quente”.

Também assassinado, o sergipano de Laranjeiras Lucindo Costa, servidor público em Santa Catarina, onde militava no PCB, desapareceu após fazer uma viagem a Curitiba em julho de 1967. Ele tinha 48 anos, era casado e pai de seis filhos. Já havia sido preso duas vezes como subversivo. Posteriormente, a esposa Elisabeth Baader recebeu a informação de que ele morreu atropelado e foi enterrado como indigente. Era mentira, claro. Foi provavelmente detido, torturado e morto.

Preso anteriormente pelos órgãos da repressão, Lucindo mantinha contato com opositores da ditadura militar, como o major Cerveira, mais tarde morto pela repressão, e o professor Vieira Neto, militante do Partido Comunista Brasileiro. À época de seu desaparecimento, Lucindo morava com a família em Mafra (SC) e trabalhava no Serviço de Classificação de Rio Negro (PR), do Ministério da Agricultura.

Também considerada assassinada pelo Estado brasileiro foi a aracajuana Therezinha Viana de Assis, economista que concluiu o curso na Universidade Federal de Sergipe em 1965. Mudou-se para Belo Horizonte, onde foi funcionária da Caixa Econômica Federal. Militante da Ação Popular (AP), Therezinha foi presa e torturada por agentes da repressão entre os anos 1968 a 1972.

No início de 1973, ela exilou-se no Chile, onde fez um curso de pós-graduação na Universidade de Santiago. Passou a militar no Movimiento de Izquierda Revolucionaria (MIR). Após o golpe militar que depôs Salvador Allende, Therezinha buscou asilo político na Holanda. Morou inicialmente em Rotterdam e depois em Amsterdã. Cursou o doutorado em Economia e trabalhou, até setembro de 1977, na área de planejamento da prefeitura de Amsterdã. Therezinha Viana de Assis morreu em 1978, aos 36 anos de idade, naquela capital dos Países Baixos, como resultado das sequelas da tortura a que foi submetida.

Durante o período em que residiu em Amsterdã, Therezinha manteve correspondência com sua irmã, Selma Viana de Assis Pamplona, por meio de cartas. Em depoimento, Selma contou que, em 1977, Therezinha viajou por vários países da Europa. Em algumas correspondências, contou à irmã que se sentia perseguida, pois mesmo viajando para outros países via as duas ou quatro mesmas pessoas, que, segundo ela, estariam seguindo seus passos.

Nessa época em que Therezinha passou a se sentir perseguida, um de seus amigos exilados lhe recomendou que tivesse cuidado, pois sabia que policiais do Chile e do Brasil estavam perseguindo exilados em diversos países. Em setembro ou outubro de 1977, desconfiando que suas correspondências estavam sendo violadas e que suas ligações eram interceptadas, ela interrompeu a comunicação com a irmã.

Therezinha Viana de Assis foi encontrada agonizante no dia 3 de fevereiro de 1978, sobre a calçada do edifício onde morava em Amsterdã, e levada, ainda com vida, para o Academische Ziekenhuis da Vrije Universiteir, onde foi operada, mas não resistiu. Ela era irmã do político e empresário Antonio Fernandes Viana de Assis, que foi deputado estadual cassado pela ditadura e, posteriormente, entre os anos de 1988 e 1989, foi prefeito de Aracaju. Ele morreu em junho de 2010, aos 75 anos.

Deputados e estudantes

Viana de Assis (PR), Cleto Maia (PRT), Nivaldo Santos (PR) e Baltazar Santos (PSD) foram os deputados cassados um mês e meio após o golpe. Também foi cassado o deputado federal João Machado Rollemberg, da Arena. No recrudescimento da repressão, e já no bipartidarismo, em 1969 também foram cassados os deputados estaduais Gilton Garcia, Rosendo Ribeiro, Aerton Silva, Chico de Miguel, Edson Mendes de Oliveira, Santos Mendonça, Baltazarino Santos e Jaime Araújo.

Estudantes, quase todos militantes e oriundos da UFS, sofreram nessa fase do chamado novo ciclo repressivo iniciado após o AI-5. Principalmente Bosco Rolemberg, Ana Côrtes, Wellington Mangueira e Laura Marques, que penaram nas mãos de sádicos torturadores. João Augusto Gama, Benedito Figueiredo e o poeta Mário Jorge Vieira também foram presos.

Em fevereiro de 1976, na Operação Cajueiro, 25 sergipanos foram presos arbitrariamente no quartel do 28º BC, alguns foram torturados e 18 foram processados. Wellington Mangueira estava outra vez dentre estes, além dos ferroviários Antônio Bitencourt, Carivaldo Lima Santos, Pedro Hilário dos Santos e Virgílio de Oliveira, dos advogados Jackson de Sá Figueiredo, João Santana Sobrinho, Elias Pinho e Carlos Alberto Menezes, do estudante e bancário Antônio José de Góis, do comerciante Faustino Alves de Menezes, do jornaleiro Gervásio Santos, do funcionário público Marcélio Bonfim, do agrônomo Rosalvo Alexandre, do petroleiro Milton Coelho de Carvalho, que ficou cego, e outros.

O deputado estadual Jackson Barreto, ligado ao PCB, sofreu a segunda prisão na Operação Cajueiro, foi logo liberado, mas respondeu a Inquérito Policial Militar.

Em maio de 2009, a Caravana da Anistia do Ministério da Justiça julgou, na sede da OAB em Aracaju, 34 processos de sergipanos que se declararam vítimas do regime militar: 22 processos foram deferidos, as vítimas declaradas anistiadas e o presidente da Comissão de Anistia, em nome do Estado brasileiro, desculpou-se pelo sofrimento causado a cada um desses cidadãos que ousaram lutar pela democracia. Dezoito anistiados tiveram reconhecido o direito de serem indenizados ou de terem corrigidas indenizações anteriormente conquistadas. Um deles foi Antônio José de Góis, o Goizinho, que foi torturado e permaneceu 21 dias encarcerado.

Em quatro processos, os requerentes ou familiares deles pediam apenas que o Estado declarasse reconhecer o sofrimento causado e os anistiasse. Dentre esses, processos do radialista e deputado estadual cassado Santos Mendonça e do poeta Mário Jorge, ambos falecidos. Também foram indenizados Jugurta Barreto (falecido posteriormente), Agamenon de Araújo Souza, José Alexandre Felizola Diniz, Rosalvo Alexandre, José Côrtes Rollemberg Filho, Delmo Naziazeno, Antônio Vieira da Costa, Zelita Correia, Walter Oliveira Ribeiro, João Augusto Gama, Benedito Figueiredo, Wellington Mangueira e Milton Coelho.

Texto reproduzido do site: infonet.com.br/marcoscardoso