domingo, 31 de janeiro de 2016

“Anistia não deveria valer para torturadores” (Bosco Mendonça)


Publicado originalmente no site do Jornal da Cidade, em 29/01/2016.

“Anistia não deveria valer para torturadores”.

Bosco e sua esposa, Ana Côrtes, foram sequestrados e torturados por 60 dias. Bosco foi condenado e ficou preso por quase cinco anos.

Por: Valter Lima/Da equipe JC.

A Comissão Estadual de Verdade ouviu ontem Bosco Rollemberg no segundo dia de depoimentos de pessoas que sofreram tortura, em Sergipe, durante o período da ditadura militar. Bosco e sua esposa, Ana Côrtes, foram sequestrados e torturados por 60 dias. Bosco foi condenado e ficou preso por quase cinco anos. Ao JORNAL DA CIDADE, ele definiu o tempo em que foi alvo das agressões dos militares como “um inferno” e se disse contrário à anistia dos torturadores.

“Vivemos o inferno. Como o ser humano é capaz de coisas maravilhosas e atos de amor e solidariedade, o ser humano também é capaz de muitos crimes, de muita maldade. Fui amarrado, espancado. Eles me encapuzaram, algemaram meus braços, colocaram uns óculos de borracha que apertava muito a cabeça, me deram murros, pontapés, choques elétricos na orelha, na língua, no pênis e nas nádegas, além da tortura psicológica. Me ameaçavam de morte. Torturaram minha esposa que estava grávida”, relatou Bosco.

Ele pontuou que não perdoa os torturadores. “O perdão o Estado já me pediu, mas eu não perdoo os torturadores. Acho um erro da experiência do povo brasileiro a Lei de Anistia ter perdoado esses animais bárbaros selvagens. Acho que é um erro que ainda deve ser reparado. Vamos lutar para mudar isso”, disse.

Para Bosco Rollemberg, o depoimento prestado ontem tem como principal significado tirar lições para os dias atuais. “Não tem aqui o espírito de mágoa, revanchismo ou sofrimento. Mas de tirar lições, pois um País que tem um projeto autônomo de desenvolvimento só alcançará êxito se fizer o balanço das suas experiências. Qualquer cidadão com menos de 35 anos não tem a consciência crítica nem informação do que foi o período da ditadura e por isso não consegue ter a noção exata da importância da liberdade democrática, da liberdade política, do direito e segurança de opinar livremente, de organizar um partido, disputar eleições, respeitar os mandatos”, afirmou.

Comissão.

Os depoimentos para a Comissão Estadual da Verdade foram iniciados na última quarta-feira, 26, quando Milton Coelho apresentou o seu relato. Hoje será a vez de Wellington Mangueira. Pouco mais de 20 pessoas falarão à comissão estadual. “Todos aqueles que foram presos durante a Operação Cajueiro, processados ou não, e até quem participou e conviveu, será chamado para prestar depoimento”, explica o coordenador do grupo, Josué Modesto.

Texto e imagem reproduzidos do site: jornaldacidade.net

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