Mostrando postagens com marcador - RITA LEE. Mostrar todas as postagens
Mostrando postagens com marcador - RITA LEE. Mostrar todas as postagens

domingo, 21 de janeiro de 2024

Rita Lee, a Profecia Indomável

Publicação compartilhada do site MANGUE JORNALISMO, de maio de 2023

O ano era 2012, eu estava em êxtase com a programação do Projeto Verão, evento que reunia o melhor da música brasileira nos palcos espalhados por algumas cidades sergipanas.  Rita Lee era uma das atrações da arena musical no município da Barra dos Coqueiros, próximo a Aracaju. Rita estava se despedindo dos palcos, o show em Sergipe seria o último, e eu, fã de tudo que Rita representava, não podia perder a única oportunidade de vê-la nos palcos e na minha terra.

No carro, peguei carona com amigas tão empolgadas quanto eu, fomos ouvindo e cantando as músicas que nos representavam. Eram coros de “Agora só falta você”, “Lança-perfume”, “Doce Vampiro”, entre outras que atravessaram e ainda atravessarão gerações. Ficamos tentando adivinhar o que ela cantaria, como seria o show, o que ela estaria vestindo, afinal, era Rita Lee, a mulher mais icônica e transgressora do Brasil. Nessa época, eu tinha 26 anos, e conhecia toda a trajetória, história e músicas de Rita. Cresci numa família em que Rita era ouvida e celebrada na boca e nos ouvidos de todos.

Na Barra dos Coqueiros, o show começou, ela maravilhosa, com uma presença só dela, uma banda familiar, o puro suco do rock n’ roll brasileiro. Estávamos num ambiente de praia, um show gratuito de uma mulher sempre à frente do tempo, que sempre lutou e defendeu a liberdade de expressão como um lema de vida. Enfrentou uma época tenebrosa de nossa história, a ditadura militar, foi acusada de louca, de transgressora, e seguiu com força total em sua linha tortuosa de brilhantismo dentro de suas inúmeras facetas como cantora, compositora, multi-instrumentista, ativista, atriz e escritora.

Sergipe, do palco para delegacia

Rita tem o título de Rainha do Rock Brasileiro, a mulher que vendeu mais de 55 milhões de discos com suas músicas, saiu, em Sergipe, do palco à delegacia. O conservadorismo sergipano não conseguiu acompanhar a força de Rita, o pensamento crítico e a defesa atuante por uma sociedade justa, por uma polícia que não oprima e agrida. Afinal, Rita viveu a ditadura, e em 2012, violência policial em seu show, seria algo impossível de engolir.

Naquela ocasião, policiais agredindo dois jovens ao meu lado, eu estava lá, os dois garotos fumavam seu baseado curtindo o show, quando uma fila de capacetes brancos surge empurrando o que estivesse à sua frente e batendo de maneira truculenta nos garotos que estavam timidamente fumando. Gritei, minhas amigas gritaram, as pessoas ao redor gritaram, até que Rita viu e também gritou contra a violência policial. O governador era Marcelo Déda. Ele e seus representantes ficaram constrangidos e deixaram o palco, como vídeos que circulam até hoje na internet dão conta de provar.

O último show da carreira

Rita Lee saiu do palco à delegacia. O último show da carreira de Rita foi marcado pelo conservadorismo da polícia militar sergipana, que além de tirá-la para que ela prestasse depoimento por ter xingado os policiais que bateram nos garotos, ainda precisou enfrentar um processo por danos morais, o qual ela foi absolvida posteriormente. A polícia de Sergipe não aguentou a força de Rita, era mais fácil seguir batendo nos garotos ou em quem mais estivesse fazendo o mesmo, e eram muitos, do que refletir sobre a violência desproporcional que deita no berço da hipocrisia de uma sociedade que jamais esteve preparada para alguém como Rita Lee.

Em sua biografia, há uma parte profética em que ela dita: “Quando eu morrer, posso imaginar as palavras de carinho de quem me detesta. Algumas rádios tocarão minhas músicas sem cobrar jabá, colegas dirão que farei falta no mundo da música, quem sabe até deem meu nome para uma rua sem saída. Nenhum político se atreverá a comparecer ao meu velório, uma vez que nunca compareci ao palanque de nenhum deles e me levantaria do caixão para vaiá-los”. Em seu epitáfio, ela termina: “Ela nunca foi um bom exemplo, mas era gente boa”.

Para sempre, Rainha Rita!

----------------------------------

* Díjna Torres > é jornalista, repórter da Mangue Jornalismo, doutora em Antropologia pela UFSC, mestra em Sociologia pela UFS, especialista em religiosidades e cultura afro-brasileiras e estudos de gênero. É autora do livro “Mulher Nagô: liderança e parentesco no universo afro-brasileiro”.

Texto e imagem reproduzidos do site: manguejornalismo org

sexta-feira, 12 de maio de 2023

No show de despedida dos palcos, em 2012, cantora reagiu à abordagem da PM



Imagens: Reprodução > Redes Sociais e Tweet/Central Reality

Texto compartilhado do site F5 NEWS, de 9 de maio de 2023  

Último show da carreira de Rita Lee foi em Aracaju e rendeu polêmica

No show de despedida dos palcos, em 2012, cantora reagiu à abordagem da PM  

Por F5 News

Aracaju foi o cenário da despedida de Rita Lee dos palcos: o último show da carreira da artista aconteceu na capital sergipana, em 2012, quando ela tinha  64 anos.

O ato final de Rita em apresentação ao vivo foi marcado pelo talento, brilho e irreverência da cantora, mas também é lembrado por uma confusão com policiais, que começou na plateia, quando grupos foram abordados, suspeitos de estarem consumindo maconha. 

“Olha, se a polícia bater, eu vou falar para o Brasil inteiro, denuncio e processo. Isso é força brutal. Vocês não têm o direito de usar a força na ‘meninada’ que não está fazendo nada. Cadê o responsável? Eu quero falar, tenho o direito. Esse show é meu, não é de vocês. Esse show é minha despedida do palco e vocês continuam tendo que guardar as pessoas, não agredir”, disse Rita Lee ao microfone.

A cantora ainda enfrentou os agentes. “Seus cachorros – coitados dos cachorros. Cafajestes. Vocês estão fazendo de propósito. Eu sou do tempo da ditadura. Vocês pensam que eu tenho medo?” prosseguiu. 

“Vem aqui. Eu sou mulher. Tenho três filhos, uma neta, 64 anos. O que vocês vão fazer? É isso que vocês querem: chamar atenção. […] Cadê por escrito que vocês têm que fazer isso? […] O que é isso? Não, eu não vou esperar. Esse show é meu. As pessoas estão me esperando cantar. Não é a gracinha de vocês. Vêm me prender. Agora vêm aqui”, completou.

A reação de Rita Lee rendeu aplausos do público e repercutiu bastante nas redes sociais no ano de 2012. Nesta terça-feira (9), após a divulgação de sua morte por um câncer, os vídeos desse show voltaram a ser compartilhados pelos internautas...

Prisão e processo

As declarações renderam uma prisão por desacato à autoridade, a artista foi detida, ouvida e liberada. Na delegacia, Rita Lee disse que foi movida pelo calor das emoções, segundo ela, a ação policial havia sido truculenta Por fim, ela assinou o boletim de ocorrência. 

A cantora enfrentou processos movidos pelos PMs e precisou pagar algumas indenizações. O governo de Sergipe deu razão à polícia, emitindo uma nota oficial onde afirma que "não foi registrada nenhuma ação dos policiais militares que justificasse os insultos proferidos pela cantora". Ainda na nota, o governo lamentou o "mal-estar provocado pela cantora" durante o show.

Texto e imagens reproduzidos do site: f5news com br