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segunda-feira, 13 de janeiro de 2014

A República em Sergipe - 1

 Professor Balthazar Góes.

Publicado por Infonet - Blog Luíz A. Barreto, em 15/04/2005.

A República em Sergipe.
Por Luíz Antônio Barreto.

Desde o lançamento do Manifesto Republicano, em 1870, que intelectuais e militares sergipanos aderiram a propaganda, criaram Clubes, fundaram jornais, agitando as comunidades, notadamente Aracaju, Laranjeiras, Estância e estabelecendo contatos com outras Províncias, onde alguns conterrâneos viviam. Em Penedo (Alagoas), por exemplo, o itabaianense Francisco Carvalho Lima Júnior liderou a propaganda, ajudando a criar o Clube Republicano Federal, que reuniu grande número de adeptos e participou, ativamente, das manifestações mobilizadoras ao lado do farmacêutico sergipano Josino Menezes, ali estabelecido.

No Recife (Pernambuco), entre os alunos da Faculdade de Direito, vários sergipanos assumiram publicamente o ideal republicano, do mesmo modo como defendiam a abolição da escravatura. No Rio de Janeiro o bacharel Ciro de Azevedo agitava a pequena Cantagalo, juntando adeptos para a propaganda republicana. Francisco Leite de Bitencourt Sampaio, sergipano de Laranjeiras, bacharel pela Faculdade de São Paulo, poeta, foi um dos signatários do Manifesto, como a representar, simbolicamente, sua terra e sua geração de conterrâneos.

Laranjeiras era, em Sergipe, um centro de irradiação cultural, desde 1876, quando o médico baiano Domingos Guedes Cabral chegou, com suas idéias evolucionistas, inspiradas em Herbert Spencer. Ele tivera rejeitada, na Faculdade de Medicina da Bahia, sua tese sobre As Funções do Cérebro, que externava novas teorias científicas, estimuladas após a retumbante divulgação das idéias de Charles Darwin, ampliadas por Ernest Haeckel. Tais correntes, sucessivamente renovadas, representavam “ um bando de idéias novas”, que no dizer de Silvio Romero agitava a juventude reunida em Pernambuco, em torno de figuras como Tobias Barreto, professor da Faculdade de Direito e líder do movimento intelectual que ficou conhecido como Escola do Recife.

A agitação tinha vínculos em várias partes do Brasil. Laranjeiras, espécie de capital econômica de Sergipe, especialmente da região produtora de açúcar, tinha sua imprensa, suas escolas, e dentre elas uma escola inglesa, filial de outra existente no Recife, sob a direção de Ana Carrol, e uma norte americana, protestante, fundada em 1886 e dirigida por Manoel Nunes da Mota, para consolidar a propaganda evangélica a cargo da pequena Igreja, fundada em 1884. A morte de Guedes Cabral, em 1883, não fez diminuir a marcha propagandística das teses científicas, políticas e religiosas.

O grupo de alunos de Direito, no Recife – Silvio Romero, Fausto Cardoso, Gumercindo Bessa, Prado Sampaio, dentre outros – e de Medicina, na Bahia – tendo Felisbelo Freire como o mais destacado – envolveu-se integralmente no movimento contra a monarquia, escravocrata e centralizadora, assumindo nas ruas, nas récitas, nos saraus, nos corredores das duas faculdades e na imprensa um papel amplo de discussão, de formação de uma opinião pública, cada vez mais consciente de suas responsabilidades.

Ecoava, então, em Laranjeiras o brado dos jovens intelectuais sergipanos, apoiados por uma geração de militares, que desde a Guerra do Paraguai enchiam de glória a Pátria brasileira. Militares como Samuel de Oliveira, José de Siqueira Menezes, Moreira Guimarâes, Ivo do Prado, Pereira Lobo, iriam cumprir funções destacadas, fortalecendo a campanha republicana, que a partir de 1887 fixava-se em Laranjeiras, com a criação do Clube Democrático, tendo em seu salão principal o retrato de Tobias Barreto, a inspirar suas ações. Com a entrada em circulação do jornal O Horizonte, substituindo por O Laranjeirense, em 1º de janeiro de 1887, a República ganha novo ânimo. No ano seguinte, em 1º de novembro, reunia-se o Partido ou Clube Republicano, que passava a contar com o jornal O Republicano, órgão que incorporou O Laranjeirense, ampliando a propaganda por toda a Província.

A defesa da República estava organizada, em crescimento e em ligação com os centros nacionais comprometidos com a propaganda. Em Laranjeiras o Clube Republicano contava com a participação do pequeno grupo de protestantes, tendo a frente o pastor Manoel Antonio dos Santos David, o que parecia caracterizar de forma mais radical o grupamento reunido para a luta contra o Império. Neste contexto é grande a importância do jornalista e professor Baltazar Góes, que sempre esteve na vanguarda das mudanças que ecoaram em Laranjeiras. Foi ele fundador e diretor do Liceu Laranjeirense, fundador do Clube Democrático e seu Diretor em 1887, promovendo conferências sobre A Evolução da Matéria, Leis e Causas de suas Formas, Instrução Pública no Brasil, Transformação do Trabalho, dentre outras. Foi redator dos jornais locais republicanos, signatário da ata de fundação do Clube Republicano e autor de A República em Sergipe- Apontamentos para a história – 1870-1889, livro de 1891.

Baltazar Góes não foi o único entre os integrantes do Clube Republicano a escrever sobre a propaganda e a movimentação intelectual e política em torno da Proclamação da República, Felisbelo Freire, que governou o Estado, e que publicou em 1891 a sua História de Sergipe, tem um capítulo especial sobre o movimento republicano em Sergipe na sua História Constitucional da República dos Estados Unidos do Brasil e Manoel Curvelo de Mendonça, que ingressou no movimento em favor da República aos 17 anos, sendo um dos oradores do Clube, quando da sua fundação, escreveu um estudo crítico – Sergipe Republicano, em 1896, considerado por Maria Thetis Nunes como uma contribuição de “pioneiro da historiografia social sergipana”, como o disse em conferência na Fundação Joaquim Nabuco, no Recife, dentro do Congresso Brasileiro de Tropicologia, em 1986.

Mais do que repassar as diversas fases da evolução das lutas democráticas no Brasil e em Sergipe, contrariando a Baltazar Góes, para quem a propaganda republicana começou em Sergipe apenas em 1887, Manoel Curvelo de Mendonça defende as condições da Província para estabelecer os frutos da República, destacando Laranjeiras, pelas condições econômicas e culturais como o cenário mais adequado para sediar o movimento. (Continua).

Fonte: Pesquise - 
Pesquisa de Sergipe/InfoNet. institutotobiasbarreto@infonet.com.br.

Fotos e texto reproduzidos do site:
infonet.com.br/luisantoniobarreto 

A República em Sergipe - 2

 Engenheiro militar José de Siqueira Menezes.



Sergipe Republicano de Manoel Curvello

Publição no Portal Infonet - Blog Luíz A. Barreto, em 22/04/2005.

A República em Sergipe (II)
Por Luíz Antônio Barreto.

A campanha abolicionista e a propaganda republicana andaram lado a lado em Laranjeiras, como compromissos democráticos, ainda que a luta em favor da República tenha obtido maior visibilidade. O movimento estabeleceu, ainda, conexões importantes com a Maçonaria e com os missionários protestantes, que percorriam o Brasil na tentativa de fixar igrejas evangélicas, além, das íntimas ligações que tinham os seus integrantes, quase todos tocados pelas idéias cientificistas que dominavam o ambiente intelectual da segunda metade do século XIX.

A campanha abolicionista teve várias faces, a começar, ao mesmo tempo, que a propaganda republicana, pelas manifestações estéticas, que revelaram figuras geniais como o poeta Castro Alves, o maestro Carlos Gomes, representativos de uma geração que tomou as ruas, as redações dos jornais, os corredores das faculdades, em defesa da dignidade humana. Depois foram criadas as Sociedades, muitas delas secretas, destinadas a somar esforços em prol da libertação dos escravos.

Em Aracaju foi fundada e instalada à rua de Capela, a Sociedade Libertadora Sergipana, liderada por Francisco José Alves, agregando a colaboração de outras pessoas, como a professora Etelvina Amália de Siqueira. A Sociedade, conhecida como A Cabana do Pai Tomás, numa alusão ao romance de Herriet Becher Stowe, editava o jornal O Libertador, como órgão da causa abolicionista. Francisco José Alves, contudo, não era um partidário da propaganda republicana e chegou mesmo a lamentar o fim da monarquia.

A propaganda republicana ganhou importância em Laranjeiras, nos pequenos jornais, graças a uma somação de fatos favoráveis, a saber: a presença do médico Domingos Guedes Cabral clinicando, e sua substituição por Felisbelo Freire; a pregação dos missionários norte-americanos, presbiterianos, e a conseqüente criação da Igreja protestante, em 1884; a condição de maçons, de alguns dos “rebeldes” listados por Baltazar Góes em sua A República em Sergipe. Ainda que em Estancia, em Vila Nova (Neópolis), em Maruim a República tenha inspirado alguns engajamentos, foi em Laranjeiras, sem dúvida, que o movimento ganhou densidade e liderança, promovendo a organização política para a transição de 1889.

Guedes Cabral tem sido uma unanimidade da crítica, tanto pela posição contestadora na Faculdade de Medicina da Bahia, como pelo seu papel intelectual exercido em Laranjeiras, onde clinicava, em Maruim, onde era orador do Gabinete de Leitura. Foram sete anos de intensa atividade, agitando toda a zona da Cotinguiba com suas idéias livres, que soavam como novidades diante do magistério moral da Igreja católica, presente desde os primeiros tempos da colonização.

Todos os que historiam a propaganda republicana em Sergipe, especialmente em Laranjeiras, afirmam, convictos, a contribuição de Guedes Cabral sem a qual os fatos não teriam os desdobramentos que tiveram. O padre Filadelfo Jônatas de Oliveira, que foi por longo período o vigário de Laranjeiras, atribuía a posição de Guedes Cabral à tuberculose, doença que forçaria seu retorno para a Bahia, em 1882 e sua morte, em janeiro de 1883. Poucas vezes alguém influiu tanto uma geração, quanto o médico baiano em Laranjeiras.

Três pequenos jornais serviram, magistralmente, de veículos propagandísticos: O Horizonte, O Laranjeirense, O Republicano, cada um com seu corpo redatorial, seu papel e sua influência, na marcha batida para mudar os fatos da história. Cada um cumpriu, no seu tempo, fases esseenciais do movimento republicano, de acordo com as condições objetivas existentes em Laranjeiras. Tais jornais, vistos no contexto da imprensa sergipana, se destacam pela coragem dos seus patrocinadores.

Havia uma crítica, nem sempre velada, com relação a certos integrantes do movimento republicano e que tinham contatos e amizades com os senhores escravocratas e monarquistas. No entanto, o valor e o alcance da propaganda retiraram qualquer ilegitimidade que pudesse sublinhar a pregação sincera da geração republicana. Estiveram nos jornais, também, maçons e protestantes, engrossando o caldo propagandístico, ampliando os horizontes do recrutamento social.

Alguns dos republicanos de Laranjeiras eram iniciados da Maçonaria e frequentavam a Loja Cotinguiba, fundada em 10 de novembro de 1872. Firmino José Rodrigues Vieira, por exemplo, engenheiro e um dos expoentes da propaganda republicana em Laranjeiras entrou na Maçonaria em 1873, enquanto José de Siqueira Menezes, engenheiro militar, e Marcelino Jose Jorge, também militar, entraram na mesma Loja em 1881. Outros republicanos se tornaram maçons, declarando liberdade religiosa, o que facilitaria a presença dos missionários protestantes com suas bíblias e seu convencimento.

Na sua História Constitucional da República, Felisbelo Freire atribui a Siqueira Menezes todo o mérito de comandar a Proclamação da República em Sergipe, destituindo o então vice presidente Tomás Cruz, que estava na presidência esperando a chegada do novo presidente nomeado para a Província, Manoel Joaquim de Lemos, e organizar o novo Governo. O engajamento protestante, que pode ser avaliado pelas polêmicas que estão nos jornais e que foram objeto de estudo de Jackson da Silva Lima no seu Estudos Filosóficos, também pode ser representado pela participação direta de Manoel Antonio dos Santos David, representante em Laranjeiras dos missionários norte americanos, ajudando a manter aberta a Igreja e fazer funcionar a Escola Americana, esta exaustivamente estudada por Ester Fraga Vilas Boas Carvalho do Nascimento.

Manoel Curvelo de Mendonça, que era apenas um rapaz de 17 a 18 anos quando participou do movimento republicano em Laranjeiras, publicou um livro – Sergipe Republicano, com o qual amplia, criticamente, o ensaio de Baltazar Góes. Aluno de Baltazar no Liceu Laranjeirense, ouvinte das conferências do Clube Democrata e participante do movimento, desde a propaganda até a fundação do Clube Republicano, Manoel Curvelo de Mendonça recupera o ideal republicano, sem expor a desilusão confessada pelo seu mestre.

Fonte: Pesquise - Pesquisa de Sergipe/InfoNet.
institutotobiasbarreto@infonet.com.br.

Imagens e texto reproduzidos do site:
infonet.com.br/luisantoniobarreto