Engenheiro militar José de Siqueira Menezes.
Sergipe Republicano de Manoel Curvello
A República em Sergipe (II)
Por Luíz Antônio Barreto.
A campanha abolicionista e a propaganda republicana andaram
lado a lado em Laranjeiras, como compromissos democráticos, ainda que a luta em
favor da República tenha obtido maior visibilidade. O movimento estabeleceu, ainda,
conexões importantes com a Maçonaria e com os missionários protestantes, que
percorriam o Brasil na tentativa de fixar igrejas evangélicas, além, das
íntimas ligações que tinham os seus integrantes, quase todos tocados pelas
idéias cientificistas que dominavam o ambiente intelectual da segunda metade do
século XIX.
A campanha abolicionista teve várias faces, a começar, ao
mesmo tempo, que a propaganda republicana, pelas manifestações estéticas, que
revelaram figuras geniais como o poeta Castro Alves, o maestro Carlos Gomes,
representativos de uma geração que tomou as ruas, as redações dos jornais, os
corredores das faculdades, em defesa da dignidade humana. Depois foram criadas
as Sociedades, muitas delas secretas, destinadas a somar esforços em prol da
libertação dos escravos.
Em Aracaju foi fundada e instalada à rua de Capela, a
Sociedade Libertadora Sergipana, liderada por Francisco José Alves, agregando a
colaboração de outras pessoas, como a professora Etelvina Amália de Siqueira. A
Sociedade, conhecida como A Cabana do Pai Tomás, numa alusão ao romance de
Herriet Becher Stowe, editava o jornal O Libertador, como órgão da causa
abolicionista. Francisco José Alves, contudo, não era um partidário da
propaganda republicana e chegou mesmo a lamentar o fim da monarquia.
A propaganda republicana ganhou importância em Laranjeiras,
nos pequenos jornais, graças a uma somação de fatos favoráveis, a saber: a
presença do médico Domingos Guedes Cabral clinicando, e sua substituição por
Felisbelo Freire; a pregação dos missionários norte-americanos, presbiterianos,
e a conseqüente criação da Igreja protestante, em 1884; a condição de maçons,
de alguns dos “rebeldes” listados por Baltazar Góes em sua A República em
Sergipe. Ainda que em Estancia, em Vila Nova (Neópolis), em Maruim a República
tenha inspirado alguns engajamentos, foi em Laranjeiras, sem dúvida, que o
movimento ganhou densidade e liderança, promovendo a organização política para
a transição de 1889.
Guedes Cabral tem sido uma unanimidade da crítica, tanto
pela posição contestadora na Faculdade de Medicina da Bahia, como pelo seu
papel intelectual exercido em Laranjeiras, onde clinicava, em Maruim, onde era
orador do Gabinete de Leitura. Foram sete anos de intensa atividade, agitando
toda a zona da Cotinguiba com suas idéias livres, que soavam como novidades
diante do magistério moral da Igreja católica, presente desde os primeiros
tempos da colonização.
Todos os que historiam a propaganda republicana em Sergipe,
especialmente em Laranjeiras, afirmam, convictos, a contribuição de Guedes
Cabral sem a qual os fatos não teriam os desdobramentos que tiveram. O padre
Filadelfo Jônatas de Oliveira, que foi por longo período o vigário de
Laranjeiras, atribuía a posição de Guedes Cabral à tuberculose, doença que
forçaria seu retorno para a Bahia, em 1882 e sua morte, em janeiro de 1883.
Poucas vezes alguém influiu tanto uma geração, quanto o médico baiano em
Laranjeiras.
Três pequenos jornais serviram, magistralmente, de veículos
propagandísticos: O Horizonte, O Laranjeirense, O Republicano, cada um com seu
corpo redatorial, seu papel e sua influência, na marcha batida para mudar os
fatos da história. Cada um cumpriu, no seu tempo, fases esseenciais do
movimento republicano, de acordo com as condições objetivas existentes em
Laranjeiras. Tais jornais, vistos no contexto da imprensa sergipana, se
destacam pela coragem dos seus patrocinadores.
Havia uma crítica, nem sempre velada, com relação a certos
integrantes do movimento republicano e que tinham contatos e amizades com os
senhores escravocratas e monarquistas. No entanto, o valor e o alcance da
propaganda retiraram qualquer ilegitimidade que pudesse sublinhar a pregação
sincera da geração republicana. Estiveram nos jornais, também, maçons e
protestantes, engrossando o caldo propagandístico, ampliando os horizontes do
recrutamento social.
Alguns dos republicanos de Laranjeiras eram iniciados da
Maçonaria e frequentavam a Loja Cotinguiba, fundada em 10 de novembro de 1872.
Firmino José Rodrigues Vieira, por exemplo, engenheiro e um dos expoentes da
propaganda republicana em Laranjeiras entrou na Maçonaria em 1873, enquanto
José de Siqueira Menezes, engenheiro militar, e Marcelino Jose Jorge, também
militar, entraram na mesma Loja em 1881. Outros republicanos se tornaram
maçons, declarando liberdade religiosa, o que facilitaria a presença dos
missionários protestantes com suas bíblias e seu convencimento.
Na sua História Constitucional da República, Felisbelo
Freire atribui a Siqueira Menezes todo o mérito de comandar a Proclamação da
República em Sergipe, destituindo o então vice presidente Tomás Cruz, que
estava na presidência esperando a chegada do novo presidente nomeado para a
Província, Manoel Joaquim de Lemos, e organizar o novo Governo. O engajamento
protestante, que pode ser avaliado pelas polêmicas que estão nos jornais e que
foram objeto de estudo de Jackson da Silva Lima no seu Estudos Filosóficos,
também pode ser representado pela participação direta de Manoel Antonio dos
Santos David, representante em Laranjeiras dos missionários norte americanos,
ajudando a manter aberta a Igreja e fazer funcionar a Escola Americana, esta
exaustivamente estudada por Ester Fraga Vilas Boas Carvalho do Nascimento.
Manoel Curvelo de Mendonça, que era apenas um rapaz de 17 a
18 anos quando participou do movimento republicano em Laranjeiras, publicou um
livro – Sergipe Republicano, com o qual amplia, criticamente, o ensaio de
Baltazar Góes. Aluno de Baltazar no Liceu Laranjeirense, ouvinte das
conferências do Clube Democrata e participante do movimento, desde a propaganda
até a fundação do Clube Republicano, Manoel Curvelo de Mendonça recupera o
ideal republicano, sem expor a desilusão confessada pelo seu mestre.
Fonte: Pesquise - Pesquisa de Sergipe/InfoNet.
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Imagens e texto reproduzidos do site:
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