Sergipana de Aracaju lança livro sobre o estanciano Graccho
Cardoso.
A professora e escritora, Crislane Azevedo, de Aracaju,
lançou recentemente um livro sobre a vida do estanciano Graccho Cardoso, e que
a partir de hoje estará publicando com exclusividade no site A Tribuna Cultural
semanalmente e que também mensalmente esses artigos serão publicados no jornal
impresso. Acompanhe a primeira publicação sobre Graccho Cardoso.
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Graccho Cardoso: Formação e Vida Política.
Por Crislane B. Azevedo*
Maurício Graccho Cardoso nasceu na cidade de Estância-SE em
1874. Em sua família já havia quem se dedicasse a atividades intelectuais. Seu
pai, Brício Cardoso, tornou-se um conceituado professor do Atheneu Sergipense.
Seu avô, Joaquim Maurício Cardoso, foi, além de advogado, professor de
Matemática e Geografia. Seu tio, Severiano Cardoso, era professor e escritor. O
professor José de Alencar Cardoso, de quem Graccho era primo, foi o fundador do
Colégio Tobias Barreto e Diretor da Instrução Pública no governo Pereira Lobo
(1918-22).
Os primeiros estudos de Graccho Cardoso, iniciados com o seu
pai, tiveram prosseguimento em Aracaju, depois no Rio de Janeiro, onde estudou
na Escola da Praia Vermelha. Finalmente, ingressou na Escola Militar do Ceará,
estado onde depois, em 1907, concluiu o curso de Direito.
No Ceará atuou também como jornalista. A experiência como
proprietário e redator de “O Republicano” contribuiu para o seu envolvimento
com a vida política. Naquele estado trabalhou com os Accioly, ocupando vários
cargos públicos: diretor da Secretaria da Assembleia Legislativa Estadual,
professor concursado do Liceu do Ceará, professor de Direito Constitucional da
Faculdade de Direito, deputado estadual por duas legislaturas, secretário da
Fazenda no 2º Governo Accioly e deputado federal, momento em que foi eleito
também vice-presidente do Ceará para o quadriênio de 1908 a 1912.
Acrísio Torres de Araújo recordava, em 1973, que Graccho já
havia atuado em jornais em Aracaju, ao redigir em “O Operário” e em “O
Caixeiro” no ano de 1891. Assim como, posteriormente, ao retornar a Sergipe,
após deixar a política cearense, e colaborar no “Correio de Sergipe” com o
pseudônimo G. Osodrac e na “Gazeta de Sergipe” com o de Jambographes.
Após a queda dos Accioly, em 1912, o sergipano distanciou-se
por três anos da vida pública, retornando em 1915 com a nomeação para o cargo
de Secretário do Ministro da Agricultura, Dr. José Bezerra. No ano seguinte, o
presidente Wenceslau Braz o nomeou como professor de Legislação Rural da Escola
Superior de Agricultura e Medicina Veterinária, na qual lecionou até 1921. Nesse
momento, Graccho Cardoso aproximou-se de parlamentares influentes e integrou-se
aos acordos políticos de oligarcas sergipanos como Manuel Prisciliano Oliveira
Valladão e Joaquim Pereira Lobo, sendo eleito deputado federal por Sergipe em
1921 e ocupando em 1922 o cargo de senador da República, eleito para preencher
a vaga deixada devido à morte do general Oliveira Valladão. Após somente dois
meses, Graccho foi novamente levado a outro cargo público. Desta vez, ao de
presidente eleito para o estado de Sergipe no quadriênio de 1922 a 1926.
Na sequência de Oliveira Valladão e seu genro, Pereira Lobo,
foi indicado para disputar a eleição à Presidência do Estado, como candidato do
Partido Republicano Conservador Sergipano, o nome de Graccho Cardoso. Ao
aceitar a sugestão, lançou à sociedade sergipana uma plataforma presidencial,
largamente difundida pela imprensa local, sobretudo, no Diario Official do
Estado de Sergipe e no Sergipe Jornal. O fato é que, em sua plataforma de
governo, o presidente eleito (como era chamado o cargo de governador na época),
de acordo com o historiador Ariosvaldo Figueiredo, realizou, como nenhum outro
governante, um retrato fiel do estado de Sergipe, seus problemas, dramas e
anseios. Ao mesmo tempo, indicava rumos e sugeria soluções.
Foi em um cenário político intrigante que Graccho Cardoso
assumiu o governo de Sergipe. O panorama caracterizado pela ausência de
oposição política estabelecida ou sistemática no período de 1909 a 1921,
responsável pelo comando do Partido Republicano Conservador no estado,
anunciava mudanças no final do governo Pereira Lobo (1918-1922), alvo de
contínuas críticas na imprensa da época, a qual fora, inclusive, reprimida na
sua administração.
No último ano do governo Pereira Lobo, a inquietação que
marcava o País refletia em Sergipe, fruto dos eventos que ficaram conhecidos
como “Reação Republicana”. O resultado disso foi que ex-governantes do estado
como Siqueira de Menezes e José Rodrigues Dória, oficiais do Exército e civis,
chefes políticos do interior e da capital aderiram ao movimento formando uma
dissidência no Partido Conservador e nesse sentido, apoiaram para o governo de
Sergipe, o aristocrata e senador, Gonçalo Rollemberg, em oposição à candidatura
situacionista de Graccho Cardoso. Gonçalo Rollemberg rompeu com o Partido
Conservador no momento da escolha dos candidatos à Presidência da República
ficando ao lado de Nilo Peçanha e José J. Seabra, enquanto o Partido
Conservador apoiava Arthur Bernardes e Urbano Santos.
A vitória de Graccho Cardoso sob Gonçalo Rollemberg foi
expressiva. Apesar de inexistir no Brasil, na época, uma fiscalização apurada
dos processos eleitorais e do reduzido número de eleitores, a diferença na
quantidade de votos entre os candidatos evidenciava a aceitação da sua candidatura.
Graccho venceu com 8.693 votos, contra 366 de Gonçalo Rollemberg. Ainda assim,
porém, no momento de sua posse, em 1922, apesar do seu próprio entusiasmo,
perceptível na sua plataforma de governo, Graccho Cardoso não conseguiu ocultar
sentimentos de incerteza e medo.
O novo governante herdava tensões do governo Pereira Lobo,
considerado por parte da imprensa, autoritário e centralizador. Entretanto, a
vivência política no Ceará junto aos membros da oligarquia Accioly, inclusive
no momento da queda destes, contribuía para a consciência da necessidade do
apaziguamento de comportamentos no seio político. Sabia Graccho Cardoso das
dificuldades de governar Sergipe. Por isso, em seus discursos fazia referência
à necessidade de que as relações entre os políticos e os partidos
humanizassem-se, perdendo o seu caráter agressivo. Em sua plataforma de
governo, afirmava Graccho Cardoso que desejava um quadriênio fundado na paz, na
ordem e na cultura democrática.
Apesar de representar um Partido Conservador, Graccho Cardoso
defendia reformas e mudanças que se tornaram alvo de contestação por
reacionários, o que, por sua vez, não o impediu de executar um projeto
político-administrativo progressista. Além de experiência e habilidade, o
governante contou com um período de prosperidade econômica em Sergipe. O fato é
que, para além da ligação com a oligarquia local e conivente com ditames do
Governo Federal, Graccho Cardoso pôs em prática uma administração modernizadora
em Sergipe, cenário em que se destacaram, por exemplo, os assuntos
educacionais.
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* Licenciada e Bacharel em História, Mestre e Doutora em
Educação.
Fonte: AZEVEDO, Crislane B. A modernidade no Governo Graccho
Cardoso (1922-1926) e a reforma educacional de 1924 em Sergipe. Natal: EdUFRN,
2013.
Foto e texto reproduzidos do site: atribunacultural.com.br
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