Professor Balthazar Góes.
Publicado por Infonet - Blog Luíz A. Barreto, em 15/04/2005.
A República em Sergipe.
Por Luíz Antônio Barreto.
Desde o lançamento do Manifesto Republicano, em 1870, que
intelectuais e militares sergipanos aderiram a propaganda, criaram Clubes,
fundaram jornais, agitando as comunidades, notadamente Aracaju, Laranjeiras,
Estância e estabelecendo contatos com outras Províncias, onde alguns
conterrâneos viviam. Em Penedo (Alagoas), por exemplo, o itabaianense Francisco
Carvalho Lima Júnior liderou a propaganda, ajudando a criar o Clube Republicano
Federal, que reuniu grande número de adeptos e participou, ativamente, das
manifestações mobilizadoras ao lado do farmacêutico sergipano Josino Menezes,
ali estabelecido.
No Recife (Pernambuco), entre os alunos da Faculdade de
Direito, vários sergipanos assumiram publicamente o ideal republicano, do mesmo
modo como defendiam a abolição da escravatura. No Rio de Janeiro o bacharel
Ciro de Azevedo agitava a pequena Cantagalo, juntando adeptos para a propaganda
republicana. Francisco Leite de Bitencourt Sampaio, sergipano de Laranjeiras,
bacharel pela Faculdade de São Paulo, poeta, foi um dos signatários do
Manifesto, como a representar, simbolicamente, sua terra e sua geração de
conterrâneos.
Laranjeiras era, em Sergipe, um centro de irradiação
cultural, desde 1876, quando o médico baiano Domingos Guedes Cabral chegou, com
suas idéias evolucionistas, inspiradas em Herbert Spencer. Ele tivera
rejeitada, na Faculdade de Medicina da Bahia, sua tese sobre As Funções do
Cérebro, que externava novas teorias científicas, estimuladas após a retumbante
divulgação das idéias de Charles Darwin, ampliadas por Ernest Haeckel. Tais
correntes, sucessivamente renovadas, representavam “ um bando de idéias novas”,
que no dizer de Silvio Romero agitava a juventude reunida em Pernambuco, em
torno de figuras como Tobias Barreto, professor da Faculdade de Direito e líder
do movimento intelectual que ficou conhecido como Escola do Recife.
A agitação tinha vínculos em várias partes do Brasil.
Laranjeiras, espécie de capital econômica de Sergipe, especialmente da região
produtora de açúcar, tinha sua imprensa, suas escolas, e dentre elas uma escola
inglesa, filial de outra existente no Recife, sob a direção de Ana Carrol, e
uma norte americana, protestante, fundada em 1886 e dirigida por Manoel Nunes
da Mota, para consolidar a propaganda evangélica a cargo da pequena Igreja,
fundada em 1884. A morte de Guedes Cabral, em 1883, não fez diminuir a marcha
propagandística das teses científicas, políticas e religiosas.
O grupo de alunos de Direito, no Recife – Silvio Romero,
Fausto Cardoso, Gumercindo Bessa, Prado Sampaio, dentre outros – e de Medicina,
na Bahia – tendo Felisbelo Freire como o mais destacado – envolveu-se
integralmente no movimento contra a monarquia, escravocrata e centralizadora,
assumindo nas ruas, nas récitas, nos saraus, nos corredores das duas faculdades
e na imprensa um papel amplo de discussão, de formação de uma opinião pública,
cada vez mais consciente de suas responsabilidades.
Ecoava, então, em Laranjeiras o brado dos jovens
intelectuais sergipanos, apoiados por uma geração de militares, que desde a
Guerra do Paraguai enchiam de glória a Pátria brasileira. Militares como Samuel
de Oliveira, José de Siqueira Menezes, Moreira Guimarâes, Ivo do Prado, Pereira
Lobo, iriam cumprir funções destacadas, fortalecendo a campanha republicana,
que a partir de 1887 fixava-se em Laranjeiras, com a criação do Clube
Democrático, tendo em seu salão principal o retrato de Tobias Barreto, a
inspirar suas ações. Com a entrada em circulação do jornal O Horizonte,
substituindo por O Laranjeirense, em 1º de janeiro de 1887, a República ganha
novo ânimo. No ano seguinte, em 1º de novembro, reunia-se o Partido ou Clube
Republicano, que passava a contar com o jornal O Republicano, órgão que
incorporou O Laranjeirense, ampliando a propaganda por toda a Província.
A defesa da República estava organizada, em crescimento e em
ligação com os centros nacionais comprometidos com a propaganda. Em Laranjeiras
o Clube Republicano contava com a participação do pequeno grupo de
protestantes, tendo a frente o pastor Manoel Antonio dos Santos David, o que
parecia caracterizar de forma mais radical o grupamento reunido para a luta
contra o Império. Neste contexto é grande a importância do jornalista e
professor Baltazar Góes, que sempre esteve na vanguarda das mudanças que
ecoaram em Laranjeiras. Foi ele fundador e diretor do Liceu Laranjeirense,
fundador do Clube Democrático e seu Diretor em 1887, promovendo conferências
sobre A Evolução da Matéria, Leis e Causas de suas Formas, Instrução Pública no
Brasil, Transformação do Trabalho, dentre outras. Foi redator dos jornais
locais republicanos, signatário da ata de fundação do Clube Republicano e autor
de A República em Sergipe- Apontamentos para a história – 1870-1889, livro de
1891.
Baltazar Góes não foi o único entre os integrantes do Clube
Republicano a escrever sobre a propaganda e a movimentação intelectual e
política em torno da Proclamação da República, Felisbelo Freire, que governou o
Estado, e que publicou em 1891 a sua História de Sergipe, tem um capítulo
especial sobre o movimento republicano em Sergipe na sua História
Constitucional da República dos Estados Unidos do Brasil e Manoel Curvelo de
Mendonça, que ingressou no movimento em favor da República aos 17 anos, sendo
um dos oradores do Clube, quando da sua fundação, escreveu um estudo crítico –
Sergipe Republicano, em 1896, considerado por Maria Thetis Nunes como uma
contribuição de “pioneiro da historiografia social sergipana”, como o disse em
conferência na Fundação Joaquim Nabuco, no Recife, dentro do Congresso
Brasileiro de Tropicologia, em 1986.
Mais do que repassar as diversas fases da evolução das lutas
democráticas no Brasil e em Sergipe, contrariando a Baltazar Góes, para quem a
propaganda republicana começou em Sergipe apenas em 1887, Manoel Curvelo de
Mendonça defende as condições da Província para estabelecer os frutos da
República, destacando Laranjeiras, pelas condições econômicas e culturais como
o cenário mais adequado para sediar o movimento. (Continua).
Fonte: Pesquise -
Pesquisa de Sergipe/InfoNet. institutotobiasbarreto@infonet.com.br.
Pesquisa de Sergipe/InfoNet. institutotobiasbarreto@infonet.com.br.
Fotos e texto reproduzidos do site:
infonet.com.br/luisantoniobarreto
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