Publicado originalmente no site Substantivo Plural, em
12/11/2012.
Alcino Alves Costa: O Caipira Poeta e Cangaceiro de Poço
Redondo-SE. (1940 - 2012).
Por João da Mata.
Alcino Alves Costa – sobrinho do cangaceiro - poeta Manoel
Marques da Sila, o Zabelê, nasceu em Poço Redondo/SE, e ai viveu intensamente
como ativo protagonista e guardião de sua história contada numa dezena de
livros. Filho de Ermerindo Alves da Costa e de Emeliana Marques da Costa,
Alcino foi um politico que amava sua terra e costumes. Foi prefeito por três
vezes do município de Poço Redondo – SE, deixou a política para se dedicar ao
estudo do cangaço e das ricas tradições culturais de sua terra natal amada.
Grande contador de causos, um caipira como gostava de ser
chamado, é referencia obrigatória em se tradando de cangaço. Mesmo sendo um
profundo conhecedor da saga lampiônica, não tinha a presunção daqueles que se
consideram dono da verdade. Gostava de dizer, essa é a minha versão. O seu
primeiro sobre o cangaço, já em terceira edição, teve o prefácio da professora
antropóloga Luitgarde Barros, que escreve: “este livro não é de ficção”, pelo
contrário, o livro tem como objetivo a desmistificação de alguns detalhes
envolvendo um dos fenômenos social mais estudado do Brasil, o cangaço. Alcino é
um grande contador de estórias ou histórias. Seus livros são muito bem escritos
e referenciados com outros escritores da mesma saga. Muitas vezes Alcino
corrige informações contidas em outros livros referencia da saga do cangaço. É
um escritor que escreve com paixão a dura realidade de um nordeste exsicado
pelas longas secas onde sobrevivem as plantas cactáceas: xiquexique, macambira,
quipá, mandacaru, cabeça – de – frade e facheiro. E por que não falar da
arvores sagrada do sertão, o umbuzeiro. Arvore que mata a sede, serve de sombra
e de refúgio para beatos e cangaceiros. A crueldade do bando de Lampião não é
maior que a dos volantes. Muitas vezes existe uma migração de um lado para
outro. Zé Rufino, por parte dos Volantes e, Lampião, por parte dos bandidos,
foram os marechais do sertão e vinha do mesmo tronco familiar. Tanto volantes
quanto os bandidos assustavam e espoliavam os homens que habitavam aquele
estranho e perverso mundo.
Os nazarenos foram os grandes combatentes dos temidos
cangaceiros. Mané Neto, o temido vesgo de Nazaré – PE, luta contra o bandido Sabonete.
“Um bandido pula para a frente dos inimigos. Está
enlouquecido Com um punhal na mão corre na direção de Mané Véio. Parece que
quer sangrá-lo. O cangaceiro está tão próximo do nazareno que este não tem
dificuldade nenhuma em d com um tiro certeiro na cabeça. O Assecla cai morto
aos seus pés”.
Morto de sede o nazareno toma a água com sangue na cabaça do
“cabra”. (Fogo de Maranduba. Lampião Além da Versão pp. 168). As Nas Batalhas
de Maranduba e Serra Grande os cangaceiros desafiaram seus algozes.
Lampião só pode surgir num sertão esquecido pelo poder, numa
terra desolada e esturricada por tenebrosas secas, onde reinava os grandes
latifúndios governados por coronéis. Mesmo assim, Lampião teve desavença com
poucos coronéis e a sua presença fez tremer o poder e riqueza dos senhores das
terras que remonta às capitanias hereditárias. O flagelo da seca continua. O
sertão é outro e os deserdados da seca recebem, hoje, uma bolsa- família.
As opçoes de vida eram poucas e entrar para o exercito ou
cangaço eram faces da mesma moeda. O cangaço também era poder e muitos filhos
de famílias entraram para esse mundo sem nenhuma motivação provocada por mortes
ou vinganças. Muitas vezes as desavenças surgiam por uma intriga, fuxico ou
delação (veja o terrível caso da morte de Zé Vaqueiro ). Cangaceiro detesta
fuxico e covardia. Outras vezes as brigas aconteciam por vinganças entres
famílias ou traição. “ O traidor sempre foi a figura mais odienta dentro do
mundo caipira e do meio do cangaceiro. Para o delator não havia perdão” ( op.
Cit. pp. 239).
Um homem simples apaixonado pela vida e pelas mulheres. A
paixão pelo cangaço e Sergipe, só perdia para elas. Casou muitas vezes e deixou
muitas viúvas. Além dos livros que conseguiu publicar, deixou outros inéditos.
Alcino Alves Costa viveu toda a sua vida num dos principais cenários, palco da
saga de Lampião. Ouvindo pessoas e pesquisando os lugares e refúgios onde foram
travadas as batalhas ele pode reunir muitas histórias e versões contadas dos
embates entre coroneis, volantes, coiteiros e beatos.
Pode não ser a versão verdadeira, mas é uma versão que
precisa ser ouvida e lida. Seus livros ficam e são imprescindíveis para quem
estuda o cangaço e os costumes e cultura dos nordestinos. “Lampião além da
versão – mentiras e mistérios de Angico” (3ª edição 2011), “O Sertão de
Lampião” ( 2ª edição 2008); e “Poço Redondo, a saga de um povo” ( 2009).
O autor ainda escreveu um livro que ele considerava o seu
melhor trabalho. “Maria do Sertão”, seu primeiro romance ficional.
História e Lendas do Sertão, Sertão Viola e Amor, Preces ao
Velho Chico entre outros livros escritos por Alcino Costa, enriquecem a
etnografia nordestina e a cultura brasileira.
Texto e imagem reproduzidos do site:
substantivoplural.com.br
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