Inauguração Jardim Olímpio Campos na década de 1910.
Foto recente da Praça Fausto Cardoso no centro comercial de Aracaju,
núcleo inicial da cidade, o antigo Plano de Pirro.
Vista aérea de Aracaju na década de 1920,
onde é possível observar o Plano de Pirro.
Processo de verticalização nas áreas que margeiam o Rio Sergipe,
onde na foto, é possível observar inclusive seu encontro
com o mar Av. Beira Mar, que na realidade beira o rio,
e Bairro Jardins são as zonas mais nobres, de solo mais caro.
Av. Beira Mar, que na realidade beira o rio,
e Bairro
Jardins são as zonas mais nobres,
de solo mais caro e com grande adensamento da
cidade.
O Rio Poxim corta a cidade de Aracaju, na foto,
observa-se
uma grande área de preservação do manguezal
e imensos vazios urbanos
decorrentes
das antigas políticas de urbanização da cidade.
Aracaju SE Brasilano 08, out. 2007.
Aracaju, mais um ano de vida e sobrevida.
Por Maíra Campos.
Aracaju completou mais um ano oficial de vida em 17 de
março. Uma cidade de contrastes desde a sua fundação, onde temos: de um lado
prédios altos e verticalidade, do outro a horizontalidade; de um lado barracos,
do outro a estrutura sólida; de um lado avenidas cruzam e ligam ao restante da
cidade, do outro as ruas são esburacadas e de barro, quem dirá ter avenidas
ligando à cidade...
Num resgate histórico, é possível observar que a paisagem
urbana da cidade já se configurava com muitos contrastes desde a sua fundação,
em 1855. A passagem de tantos anos apenas reforçou os contrastes e distanciou
mais a realidade de quem vive na cidade e de quem vive na periferia.
Foi Inácio Joaquim Barbosa quem escolheu o então Povoado de
Santo Antônio do Aracaju para ser a nova sede da Província de Sergipe del´Rey,
vindo a substituir São Cristóvão. A transferência da capital produzia condições
mais favoráveis para o funcionamento de um bom porto e assim tornar fácil o
escoamento dos produtos. As águas do Rio Sergipe, mais profundas e de longo
estuário, tornavam a navegação mais fácil e segura, pois a região do
Cotinguiba, amplo recôncavo produtor de cana-de-açúcar, necessitava de um bom
porto.
A capital foi transferida em 1855. Os motivos que levaram à
escolha de Aracaju como nova sede foram encabeçados por diversos fatores, mas o
preponderante foi sua situação geográfica, próxima à foz do rio Vaza-Barris,
enquanto São Cristóvão possuía difícil acesso até para as embarcações de
pequeno porte.
Para a fundação da nova cidade, Inácio Barbosa encarregou o
Eng. Sebastião José Basílio Pirro de planejá-la de forma a representar o
“espírito progressista da época”. O “Plano de Pirro”, como ficou conhecido o
projeto urbanístico de Aracaju, resumia-se a um traçado em xadrez, extremamente
geometrizado, o que facilitaria a demarcação das ruas, atitude justificada pela
pressa em se tornar Aracaju uma realidade, pois existia ainda o perigo de a
mudança de capital não ser aprovada pela Corte.
Mesmo existindo o quadrado de Pirro (32 quadras de 110mx110m
cada uma), ocorreu outra expansão paralela, originada pela falta de recursos da
população pobre para atender às exigências do Código de Posturas Municipal, o
qual determinava: o alinhamento dado pelos Fiscais da Câmara estabelecia o
pé-direito mínimo, dimensões para esquadrias, mandava caiar as frentes das
casas duas vezes por ano e vedava a cobertura de palha. Fazia-se apenas questão
das fachadas. Logo, a população pobre começou a construir casebres no lado
norte da cidade.
A partir de 1862, com a criação da Praça da Matriz e o
lançamento da pedra fundamental da Igreja Nossa Senhora da Conceição (atual
Catedral Metropolitana de Aracaju), a cidade começou a crescer rumo ao oeste.
Logo o entorno da igreja foi demarcado por construções de edifícios públicos e
residenciais.
Nascendo a cidade não de forma espontânea, mas de uma
vontade política, competia ao Governo Provincial criar condições para sua
existência. Por isso, durante os primeiros vinte anos o poder público teve uma
atuação decisiva no desenvolvimento da cidade. Preocupava-se com a abertura de
ruas, problemas de aterros, incentivava e financiava construções de casas sem
exigir dos proprietários, no primeiro ano de fundação da cidade, o cumprimento
das leis do código de posturas.
Após 1870, o crescimento da cidade é quase paralisado porque
ficou à mercê da iniciativa privada. E é fora do Plano de Pirro que a cidade
continua a crescer intensamente, abrigando os negros recém-libertos e outros
grupos de baixa renda. Aglomerações caracterizadas como verdadeiras “cidades
livres”, onde a população não era absorvida pelo mercado de trabalho da cidade,
fulminando nos primeiros problemas urbanos. Enquanto isso, no centro comercial
da cidade está localizada a nova burguesia. Tal confronto evidencia que nessa
época já se constituía uma estrutura espacial estratificada em termos de classe
social e segregação urbana.
A partir de 1910, com a Lei nº 168 de 2 de julho de 1914
para embelezamento das praças, começou a se investir mais em arborização,
calçamento, etc. Então surge o jardim Olympio Campos. Dá-se o primeiro
embelezamento de espaço público, com uso de vegetação na composição urbana da
cidade. Porém o mais marcante é a instalação de um coreto de ferro, o primeiro
existente num espaço público da cidade, representando a projeção da cidade
européia da segunda metade do século XIX. E, a exemplo da maior parte das
capitais brasileiras, Aracaju importou o coreto europeu.
Para acompanhar as tendências urbanísticas da época, o
jardim é contornado por um gradil de ferro, com acesso controlado por um
jardineiro que ficava com as chaves dos portões. Ao público era determinado um
horário de acesso e, através do regulamento nº 12 de 10 de outubro de 1911,
ficou determinado que o ingresso somente fosse permitido para aquele
decentemente vestido. O contraponto do Jardim é a Praça da Matriz, que tem toda
a área livre e aberta às manifestações populares. A praça é palco dos folguedos
populares nas tradicionais festas de Natal que acontecem ali desde épocas
remotas, possivelmente quando implantam o carrossel em 1900. O local começa a
ser ocupado por uma classe mais abastada da sociedade e bancos privados também
se instalam ali.
Orgulhava-se o Governo por ter obtido a beleza tão almejada
para os espaços públicos e ainda ter conseguido servir a cidade de estrutura
urbana, registrando ainda a passagem do famoso Eng. Saturnino de Brito: “todas
as ruas são corretamente calçadas a paralelepípedos e fartamente iluminadas,
sendo algumas já arborizadas. Possui lindas avenidas e atraentes jardins e
parques, onde dizem os visitantes ser a arborização mais bem cuidada do Brasil!
Existem para quase todos os bairros bondes elétricos, lotações e ônibus. As
construções obedecem as mais belas e harmoniosas linhas da engenharia contemporânea.
É regular sua rede de telefones, possuindo água encanada limpa e esgotos que
foram reconstruídos pelo Eng. Saturnino de Brito” (Cadastro de Sergipe, nº 4,
ano 1953).
No entanto, as melhorias obtidas pela gestão municipal e
estadual não chegavam às zonas mais periféricas da cidade. Lá faltava todo tipo
de infra-estrutura básica. Isso se devia ao fato de que ao redor da área
ocupada pelo Plano de Pirro havia vários sítios e chácaras dos burgueses que
residiam na cidade e, apenas após esse vazio urbano, estava a periferia, o que
dificultava e encarecia a chegada de serviços como iluminação e saneamento.
Como maior centro urbano do Estado, Aracaju será portadora
dos grandes males encontrados nas cidades industrializadas do século XIX, em
conseqüência do rápido crescimento populacional imprimido pela Revolução
Industrial. Determinados tipos de problemas urbanos, como ruas estreitas para
circulação e falta de espaço para lazer, não aconteceram dentro do Plano de
Pirro, mas sim fora de seu limite.
Na década de 1970, inicia-se o processo de metropolização de
Aracaju impulsionado por políticas públicas. O período foi marcado pela
presença de migrantes motivados pelo início da exploração de recursos minerais
sergipanos, pela transferência da sede da Região Nordeste de Maceió para
Aracaju, pela criação da Universidade Federal de Sergipe, pela implantação do
Distrito Industrial de Aracaju e pela política habitacional desenvolvida pela
COHAB – Companhia de Habitação Popular em Sergipe.
Foi a COHAB-SE que em trinta anos financiou mais de 15.000
unidades habitacionais para as classes menos favorecidas. Na década de 1980
foram construídas 62,65% dessas unidades, fase em que se construíam conjuntos
com mais de 1.000 unidades. Já o INOCOOP – Instituto Nacional de Cooperativas
Habitacionais construiu cerca de 6.000 unidades habitacionais destinadas à
população de classe média.
Como a COHAB construiu seus conjuntos habitacionais
distantes da malha urbana consolidada, tal procedimento exigia uma ampliação
dos serviços de infra-estrutura, valorizando ainda mais os espaços vazios
localizados entre a malha e as novas áreas ocupadas. Com o solo valorizado, a
especulação imobiliária se fortalece e, na década de 1970, surgem várias
empresas imobiliárias e construtoras.
Por conta de sua própria política habitacional, valorizou-se
o solo urbano e atiçou-se o interesse dos grandes empreendedores da construção
civil e do mercado imobiliário, que logo adquiriram os terrenos remanescentes.
E, assim, a cidade começa a ser empurrada para áreas mais distantes, em
terrenos nos municípios limítrofes, onde ficou estabelecido pela COHAB que a administração
municipal seria a responsável pela manutenção dos mesmos, porém ocorria que
somente após os planejamentos o Prefeito era convidado a assinar um termo de
compromisso para a sua manutenção.
Em 1980 o processo de metropolização avança seus limites,
invadindo os municípios limítrofes. Na década de 1980, Nossa Senhora do Socorro
apresentou um crescimento em torno de 35%, São Cristóvão de 95% e Barra dos
Coqueiros cresceu 60%. Semelhante ao processo de ocupação de outras capitais
brasileiras, o aglomerado de Aracaju passou a possuir mais da metade da
população urbana do Estado, com mais de 50% do total em 1991.
A partir da metade da década de 1970, Aracaju inicia um
processo de verticalização que irá definir uma nova paisagem urbana. Esse
processo começa na parte central da cidade, direcionando-se para o sul e
ocupando as áreas dos antigos casarões. O processo de verticalização foi
desenvolvido inicialmente através de empresas imobiliárias.
Essa verticalização que tende a se acentuar de forma concentrada
em áreas da cidade vem causando problemas, uma vez que há descompasso entre o
adensamento e o serviço de infra-estrutura disponível. Outro efeito é o
comércio que começa a se desenvolver junto a esses aglomerados humanos, que
dinamiza essas áreas e diminui suas relações de dependência com o centro
comercial da cidade. Eis o “Jardins”, bairro mais recente e mais “nobre” da
cidade, como exemplo.
sobre o autor
*Maíra Campos é Arquiteta e Urbanista, pós-graduanda em
Reabilitação Ambiental Arquitetônica e Urbanística pela Universidade de
Brasília – UNB e em Artes Visuais pela Universidade Federal de Sergipe – UFS.
Texto e imagens reproduzidos do site:
vitruvius.com.br/revistas
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