Chiquinho do Além Mar mostra com orgulho sua vasta produção.
Foto: Alejandro Zambrana.
João Firmino vende seu trabalho no mercado municipal.
Foto: Silvio Rocha.
Publicado originalmente no site da PMA, em 22/06/11.
Cordel conquista pela rima e ensina com diversão
Por Gilmara Costa
"Prá começar, preciso contar// Do trabalho que deu,
essa matéria escrevinhar// Foram dias difíceis para criar// Um texto à altura
de João Firmino e Chiquinho Além Mar". Distante desse cordel genérico, o
original prima pela presença de palavras metricamente aglomeradas, frases
devidamente rimadas e grande criatividade na narração de fatos históricos e
atualidades. São esses os elementos da sonora composição que revela um mundo
encantado e prende a atenção até dos mais dispersos leitores. Este ano, as
historinhas em preto e branco são o tema da 18ª edição Forró Caju, cujo jingle
veiculado na televisão e rádio tem conquistado muita gente e despertado a
curiosidade de outras tantas pessoas sobre o cordel.
Aqui em Sergipe, a arte é produzida com maestria pelos
cordelistas João Firmino e Chiquinho Além Mar, personagens fundamentais da
cultura popular no Estado. Das engraçadas estórias amorosas ao resgate de fatos
históricos da terra Serigy, os textos são ótimas opções de diversão e
aprendizado. Tudo produzido com muito esmero e muitas vezes com a linguagem tal
qual a pronúncia comum de algumas palavras pelo povo nordestino.
"Às vezes para dar a rima no cordel fazemos uso da
forma como as pessoas falam. Alguns não compreendem, mas é preciso lembrar que
o cordel é uma poesia falada, popular, e nada melhor do transferirmos isso para
o papel. A literatura de cordel é uma grande fonte de educação. Tenho obras
como a Invasão Holandesa, que conta a chegada dos holandeses aqui em Sergipe,
uma obra que, de forma didática, conta a nossa história e hoje é utilizada nas
escolas. É muito gratificante ver ações como essa, pois os alunos conhecem a
história do seu Estado e também tem acesso à literatura de cordel", afirma
Chiquinho Além Mar.
Em total convergência de opinião, João Firmino (falecido em
2013) revela uma de suas mágicas experiências em escolas. "Fiquei muito
feliz quando fui à escola Oviêdo Teixeira, no bairro São Carlos. O que era para
ser uma palestra apenas para uma sala se transformou num grande evento com
todos os alunos na escola. Contei a eles a história do cordel, e muitos ficaram
encantados com a literatura. A receptividade foi tamanha e a curiosidade pela
literatura foi tão grande que vendi inúmeros cordéis por lá. Foi uma
experiência surpreendente", contou.
Causos
Como não se divertir com a obra ‘O exemplo da moça que casou
com o capeta', de João Firmino; e aprender um pouco da história de Sergipe com
'A Saga dos Guerreiros Tupinambás: a invasão portuguesa e a conquista de
Sergipe em 1590', de autoria de Chiquinho Além Mar? Mas não somente estórias
cultivadas na imaginação ou fatos históricos são temas dos causos contados em
rima pelos cordelistas.
As manifestações populares, biografias e atualidades também
fazem parte do amplo leque de assunto que vira cordel na 'cachola' de João
Firmino e Chiquinho Além Mar. Este último, inclusive, agraciou a Prefeitura de
Aracaju com um cordel sobre o Forró Caju. "São João é nossa tradição, é
cultura popular, assim como o cordel. Fiz um em homenagem ao grande arraial na
praça Hilton Lopes feito pela prefeitura que reconhece o trabalho do artista
local e dedica a maior parte de sua programação a artistas sergipanos",
disse Chiquinho.
Mercados
Antes fortemente presente nas feiras livres, onde barbantes
e pregadores exibiam as mais recentes e famosas produções dos cordelistas, o
cordel atualmente se restringe à venda em pequenas bancas, geralmente situadas
em mercados. Isso graças à dedicação de outros cordelistas e amantes da cultura
popular. Em Aracaju, o Mercado Municipal Antônio Franco é o ponto certo que
procura o melhor do cordel sergipano e também de outros estados.
"Tenho aqui obras de grandes cordelistas do Ceará, hoje
berço da literatura de cordel. Se foi o tempo da venda de cordel nas feiras,
como antigamente. Na década de 60, o cordel estava na boca do povo. Naquela
época eram os chamados folheteiros vendendo pelas cidades a literatura de
cordel. Hoje a coisa mudou muito", afirmou João Firmino.
Modernidade
Já o cordelista Chiquinho Além Mar, numa tênue linha que
separa o antigo do moderno, tem levado o seu trabalho às mídias sociais,
publicando cordéis sobre fatos corriqueiros em sua página num site
relacionamento. "Quando houve aquela chuva que Aracaju ficou inundada, fiz
um cordel e postei. Milhares foram os comentários. Acho que é preciso haver
essa adaptação para que as pessoas possam compreender e despertar o interesse
pela nossa tradição de cordel. Foi também pensando nisso que passei a publicar
minha obra em papel couché. Para atrair mais", explicou.
Leia o cordel de Chiquinho do Além Mar sobre o Forró Caju:
O Melhor São João do Mundo está em Aracaju.
A nossa festa é bonita
Transmite paz, segurança
Tem espaço pra criança
Pra todos que nos visita
O seu coração palpita
No meio da multidão,
Com forró, milho e quentão
Forró Caju no mercado
É sucesso consagrado
Das festas de São João...
O Forró Caju recebe
Gente de toda nação
Que vem pra nossa cidade
Pra curtir essa emoção:
Visitar Aracaju e
Dançar no Forró Caju
No dia de São João...
Tem forró a noite toda
É grande a programação
Num espaço aconchegante
Procure acomodação
Tem qualidade de vida,
Sussego, pinga e comida
E muita animação...
Chiquinho do Além Mar.
Texto e imagens reproduzidos do site: aracaju.se.gov.br
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