sábado, 8 de março de 2025

O Serviço de Luz e Força de Aracaju e as noites de blackouts

Instalações do Serviço de Luz e Força de Aracaju, 
em 1949. Fonte: Acervo do Arquivo Público Estadual de Sergipe.

O Serviço de Luz e Força de Aracaju e as noites de blackouts

Blog Coluna Getempo, Blog Segunda Guerra Mundial, por getempo, de 3 de maio de 2024

Maria Luiza Pérola Dantas Barros

Doutoranda em História Comparada (PPGHC/UFRJ)

Integrante do Grupo de Estudos do Tempo (GE/UFS/CNPq)

E-mail: perola@getempo.org

Muitos talvez ainda não tenham ouvido falar no Serviço de Luz e Força de Aracaju (SLFA), criado pelo estado de Sergipe na década de 1940 para funcionar no lugar da Empresa Tração Elétrica de Aracaju, empreendimento privado dos anos de 1930, cujo maquinário e os muitos operários eram responsáveis pelo abastecimento de energia elétrica em Aracaju.

Em 1942, nos anos da Segunda Guerra Mundial (1939-1945), o SLFA estava sob comando de Hormindo Menezes, comerciante que, de acordo com o Processo Crime contra Nelson de Rubina, dirigia-se com frequência à praia de Atalaia com uma caminhonete para ajudar a recolher os corpos dos náufragos, vítimas dos torpedeamentos de navios na costa brasileira pelo U-507.

Esses torpedeamentos ocorreram no litoral entre Sergipe e Bahia, em agosto de 1942, gerando grande medo e revolta em parte da população. As autoridades locais temiam novos ataques e, com a inclusão do Estado, em 1943, no Plano Nacional de Blackout, passaram a realizar os blackouts programados, sempre anunciados pelo som das sirenes.

O memorialista Raymundo Mello, no artigo Histórias do tempo do Serviço de Luz e Força de Aracaju, nos relata que o blackout ocorria a partir de determinada hora da noite, e durava até a manhã do dia seguinte, com o objetivo de nenhuma claridade ser avistada por aviões ou embarcações em trânsito, ficando sob responsabilidade do esquadrão da cavalaria da Polícia Militar, em vários grupos, a fiscalização externa das residências aracajuanas para garantir o cumprimento de tal medida.

Já o memorialista Murilo Melins, em Aracaju romântica que vi e vivi: anos 40 e 50, escreve que, em virtude do toque de recolher, poucas pessoas saíam às ruas durante a noite, mas isso não impedia que os boêmios frequentassem as “zonas”, nem que os seresteiros fizessem suas serenatas. Tanto os músicos dos cabarés quanto os artistas da Rádio Difusora possuíam “passes livres”, fornecidos pela Secretaria de Segurança Pública, para andarem pelas escuras ruas de Aracaju sem sofrer severas punições.

Vale mencionar que esses blackouts programados resultaram em grandes lucros para o SLFA, pois as máquinas geradoras paravam durante algumas horas, sofrendo assim menos desgastes e economizando combustível.

O tempo passou e o crescimento econômico e social de Sergipe levou à criação de uma nova empresa, capaz de atender não só a capital como também a todo o interior do Estado. Assim, surgiu a Energipe – Empresa Energética de Sergipe S.A, atualmente Energisa Sergipe – Distribuidora de Energia S/A, criada pela Lei Estadual, nº 943, de 03/06/59, desaparecendo assim o SLFA.

Para saber mais:

BARRETO, Luiz Antônio. Dicionário de nomes e denominações de Aracaju. Aracaju: Banese, 2002.

MAYNARD, Andreza Santos Cruz. “Blitzkreig de Muriçocas” e outros problemas no cotidiano de Aracaju. Revista Cadernos do Tempo Presente, nº 10, 2012.

MELINS, Murilo. Aracaju romântica que vi e vivi: anos 40 e 50. Aracaju: UNIT, 2010.

MELLO, Raymundo. Histórias do tempo do Serviço de Luz e Força de Aracaju. Isto é Sergipe, 18 de janeiro de 2017. Disponível em: https://istoesergipe.blogspot.com/2017/01/historias-do-tempo-do-servico-de-luz-e.html, último acesso: 01/05/24, às 12:13.

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Texto e imagem reproduzidos do site: getempo org

domingo, 2 de março de 2025

Lei dos Mestres reconhece figuras relevantes na cultura em SE

Foto: Reinaldo Moura

Publicação compartilhada do site do JORNAL DA CIDADE, de 26 de fevereiro de 2025 

Lei dos Mestres reconhece figuras relevantes na cultura em SE

Cinco personalidades foram homenageadas por se dedicarem à preservação das tradições sergipanas

Lei dos Mestres reconhece figuras relevantes na cultura em SE

O Governo de Sergipe, por meio da Fundação de Cultura Arte Aperipê de Sergipe (Funcap), realizou nesta terça-feira, 25, a assinatura do Programa de Registro de Patrimônio Vivo da Cultura Sergipana – Lei dos Mestres, com a participação do governador Fábio Mitidieri. A solenidade realizada no Palácio Museu Olímpio Campos dá continuidade ao reconhecimento de diversas figuras que se dedicam à manutenção e preservação das tradições culturais, tendo papel de fundamental importância e relevância para manter viva a riqueza cultural e a história sergipana.

A Lei dos Mestres é uma seleção e registro de pessoas com relevante contribuição à cultura local, para que usufruam de direitos e, em contrapartida, mantenham sua prática cultural ativa, compartilhando saberes com a comunidade sergipana. Os selecionados têm como benefícios o Título de Patrimônio Vivo da Cultura Sergipana, bolsa mensal vitalícia de incentivo equivalente a dois salários mínimos, e prioridade na análise de projetos culturais. Ela teve início no ano passado, com cinco contemplados, e agora abrange mais cinco nomes.

O governador exaltou a homenagem e a importância desses personagens para a cultura do estado. “O que a gente aqui faz aqui é uma justa homenagem e é preservação de nossa memória e de nosso saber popular. Esse valor a ser recebido por eles é uma justiça por tudo que eles produziram durante a sua vida, com trabalho e dedicação à arte e cultura em Sergipe. A melhor forma de reconhecê-los é em vida, e tenho convicção que essa lei vem em uma ótima hora, no momento em que o Estado valoriza tanto sua cultura. Isso nos fortalece e passa uma mensagem clara que apoiamos, e por meio da cultura e da arte, valorizamos cada vez mais a nossa história”, afirmou Fábio Mitidieri.

Cinco pessoas foram homenageadas e receberam o título de Patrimônio Vivo da Cultura de Sergipe. Foram elas: Marilene dos Santos Moura, a “Mestra Marilene”, do Reisado São José, no Povoado São José, em Japaratuba; Rosualdo da Conceição, o “Mestre Diô”, que está à frente do grupo de Samba de Coco do Mosqueiro; Josefa Santos de Jesus, a “Finha de Zé de Totó”, mestra da Dança de Roda do Quilombo Sítio Alto, em Simão Dias; Marizete Lessa, a “Mãe Marizete”, candomblecista mais antiga de Sergipe; e Severo D’Acelino, que participou da fundação do Movimento Negro contemporâneo em Sergipe e é fundador e coordenador-geral da Casa de Cultura Afro Sergipana. Ao final, o grupo Samba de Pareia realizou uma apresentação ao público.

Mestra Marilene, além de receber a homenagem, entregou um buquê de flores ao governador em nome dos contemplados. “Para mim é um momento único e maravilhoso. Não esperava tanto a essa altura da vida! Quando eu comecei a viver, resgatei esses grupos e minha vida mudou completamente. Sou muito feliz, faço isso há 25 anos e com o maior prazer do mundo”, disse ela.

Severo D’Acelino também expressou sua felicidade com o reconhecimento. “A cultura é a expressão da vida, da verdade e vivência. Esse reconhecimento do governo é o que a gente busca e espera por fazermos cultura. Se nós somos reconhecidos, há um alimento. Isso é muito importante para nós, e agradecemos muito ao governador e ao grupo que pensou nesse projeto, estando dentro do contexto da representatividade”, colocou.

Sobre a lei

O Programa de Registro de Patrimônio Vivo da Cultura Sergipana – Lei dos Mestres incentiva e impulsiona a atuação de pessoas que tradicionalmente mantém e salvaguardam aspectos relevantes da cultura de Sergipe. O objetivo é assegurar a transmissão de conhecimentos e contribuições culturais, incentivando a participação dos mestres em programas de ensino-aprendizagem e cedendo ao Estado os direitos de uso dos conhecimentos dos mesmos.

A seleção é feita via edital, e para participar os candidatos devem comprovar suas contribuições na manutenção de aspectos da cultura sergipana em diversas linguagens, além de possuir atuação comprovada na área por no mínimo seis anos. O edital dispõe de cinco vagas, sendo ao menos três destinadas às Culturas Populares.

O projeto foi idealizado pelo então deputado estadual e hoje vice-governador Zezinho Sobral. “Como sergipanos, ficamos muito contentes por tudo isso. Nos termos da lei, o mestre recebe um apoio financeiro durante toda a sua vida, com a contrapartida de continuar transmitindo para as novas gerações o seu conhecimento. É a garantia da preservação da nossa história, assegurando a nossa sergipanidade. E para mim, como autor do projeto lá atrás, a alegria é ainda maior”, pontuou.

O presidente da Funcap, Gustavo Paixão, também esteve presente e reforçou a necessidade de cuidar das referências da cultura sergipana. “A cultura de Sergipe é algo indescritível. Nosso estado é muito plural, e estamos aqui para celebrar isso. O prêmio nada mais é que uma valorização a pessoas que se doaram por uma vida em prol da nossa cultura, e ver esse brilho nos olhos de vocês é lindo e nos motiva”, completou.

Texto e imagem reproduzidos do site: jornaldacidade net