Publicação compartilhada do site GOVERNO DE SERGIPE, de 17 de Dezembro de 2025
Galeria de Arte J. Inácio completa 44 anos como espaço de formação e circulação das artes visuais em Sergipe
Série especial reúne artistas e curadores que destacam a importância histórica da Galeria em suas trajetórias e para a produção artística no estado
Ao completar em dezembro 44 anos de atuação, a Galeria de Arte J. Inácio segue como um dos principais espaços públicos dedicados às artes visuais em Sergipe. Ao longo de sua trajetória, a galeria se consolidou como local de exposições, formação e encontro entre artistas de diferentes gerações, contribuindo para a difusão da produção artística sergipana. Nas trajetórias de Véio, Caã e do curador Mário Britto, a galeria aparece como um espaço decisivo de formação, visibilidade e reconhecimento.
Do sertão à Galeria
Cícero Alves dos Santos, conhecido como Véio, é um dos mais importantes escultores brasileiros contemporâneos. Nascido em Nossa Senhora da Glória, sertão sergipano, Véio trabalha exclusivamente com madeira, transformando troncos e raízes encontrados na natureza em esculturas que retratam o cotidiano, os mitos e as lendas do sertão nordestino. Suas obras integram acervos como a Pinacoteca do Estado de São Paulo, o Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro e o Museu do Pontal.
Para Véio, a Galeria de Arte J. Inácio marcou sua trajetória quando o espaço acreditou em uma arte que vinha do interior e falava sobre a sergipanidade. "Na época, trabalhar com arte não era algo bem aceito, nem no sertão, nem na capital. Quem vinha do interior para mostrar seu trabalho enfrentava muita dificuldade. Meu trabalho era de um único estilo, sem pintura, todo em madeira. Levei para a Galeria peças que falavam sobre o sertão e sobre as pessoas que viviam lá, mostrando as dificuldades e a qualidade de vida do povo do campo. Eu tentava não só fazer o meu nome, mas também mostrar o trabalho ao nível sergipano e dar oportunidade àquele pessoal do sertão que sequer conhecia a capital", disse.
Para o escultor, a Galeria abriu oportunidades para artistas que até então permaneciam invisibilizados. "A Galeria foi muito importante nesse sentido. Deu condições a alguns que nunca tinham sido comentados de ter a chance de se apresentar. O artista precisa e merece um espaço para mostrar o que faz, mas para isso é preciso ter pessoas que queiram ver. Para o futuro, só espero que a Galeria se desenvolva cada vez mais, dando oportunidade aos principiantes. Já se passaram muitos anos desde que estive lá, e desejo que os novos artistas estejam sempre visitando, vendo, aprendendo e também ensinando”, destacou.
Entre legado e construção de identidade artística, Caã, artista plástico e pintor, seguiu os passos de seu pai, J. Inácio, e incorporou a filosofia dele em sua trajetória - "Faça da sua arte um apostolado”. J. Inácio foi uma personalidade determinada que estudou Belas Artes no Rio de Janeiro e decidiu abandonar o curso quando sentiu que os professores queriam impor uma volta ao academicismo. "J. Inácio foi uma pessoa que estudou Belas Artes no Rio de Janeiro. Não chegou a concluir o curso porque era muito rebelde, queria seguir o próprio caminho. Papai dizia: 'Eu já tenho a minha forma de pintar e os professores querem que eu volte à pintura acadêmica. Eu quero é a pintura moderna'. E deixou a escola", revelou Caã.
Essa rebeldia artística também marcou Caã, mas trouxe um desafio: lidar com a influência do pai. "No início, eu pintava muito parecido com ele. Chegava a um ponto em que as pessoas olhavam minhas obras e perguntavam se eram dele. Era até difícil me desprender dessa influência, porque ela era muito forte. Quando eu tinha dúvida sobre uma pintura, pensava em como ele resolveria e fazia igual. Foi preciso tempo para encontrar meu próprio caminho", relembrou.
O ponto de virada veio quando Caã se mudou para a Ribeira. "Lembro que um dia, já morando na Ribeira, olhei lá de cima e vi o povoado embaixo, com aquela paisagem meio borrada, meio impressionista. Achei bonito e decidi pintar assim mesmo, soltando mais o pincel, fazendo aquela melação. Gostei do resultado e segui por esse caminho, desde então", descreveu.
As primeiras exposições de Caã na Galeria de Arte J. Inácio foram compartilhadas com o escultor Zeus, numa parceria que mostrava como o espaço acomodava diferentes linguagens. "Costumava expor junto com o escultor Zeus: eu com as pinturas, ele com as esculturas. Era sempre uma parceria boa, e a galeria comportava bem as duas linguagens, porque era um espaço grande. Sobre a Galeria, lembro bem da época em que foi inaugurada. Foi um momento muito bom para todos os artistas, porque abriu espaço tanto para os jovens que estavam começando quanto para os mais experientes. A influência do meu pai foi enorme. Para mim e para muitos artistas de Sergipe que vieram depois, ele deixou um legado de uma arte séria, feita com vontade”, comentou.
Espaço público e memória cultural
Mário Britto, curador de arte, compreende bem o significado da Galeria de Arte J. Inácio no panorama cultural do estado. Como galerista à frente da Galeria de Arte Mário Britto, ele observa de perto como os espaços públicos de arte funcionam e sua responsabilidade com as comunidades artísticas. "A Galeria tem um papel importante não só pela forma como presta serviço à coletividade artística, mas também por ter como patrono J. Inácio, uma figura que representa muito da nossa cultura", afirmou Mário Britto.
Para ele, J. Inácio ocupa um lugar especial no imaginário coletivo sergipano. "Costumo dizer nas minhas rodas de conversa sobre arte, que ele faz parte desse cantinho afetivo no coração do sergipano. As suas famosas bananeiras, que o consagraram como artista, hoje são disputadas por colecionadores e continuam sendo símbolos da arte sergipana", observou.
O curador vê a Galeria de Arte J. Inácio como um espaço de memória e de encontro coletivo. "A Galeria J. Inácio tem sido desde sempre um espaço de pertencimento coletivo. Muitos artistas escolheram esse lugar para se lançar nas artes e dar os primeiros passos na carreira. Por ser uma galeria pública estadual, ela tem esse caráter democrático e integrador, algo especial no nosso cenário cultural. A Galeria vem sendo mantida de forma positiva, com muitas proposituras e continua sendo esse lugar de encontro, de memória e estímulo à criação. É bom ver que, passadas mais de quatro décadas, ela ainda inspira artistas e curadores do nosso estado”.
Texto e imagens reproduzidas do site: www se gov br




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