A rua vista da insônia.
A insônia me leva a esconderijos de onde xereto a vida nos
escaninhos da casa.
O cotidiano vai se acomodando pelos cantos
para que a noite atue os seus fantásticos elencos.
No lusco fusco da varanda monto guarda aos meus tesouros:
nesga de sanidade mental guardada no velho baú de palavras
inconsúteis,
duas ou três metáforas reumáticas
e a fotografia de algum sorriso atônito
amarelando entre mágoas.
O chinelo faz gemer os tabuados,
a casa estrala em tremores que vão do rodapé à cumeeira.
É a noite inventando medos, ruidosa
O vizinho tosse a mulher ri o filho choraminga a empregada
geme no quartinho dos fundos enquanto o pai se masturba no quartinho ao lado.
Uma gata mia entrecortando o cio e logo
o gatão da vizinha espreita a rapariga chorosa no muro
baldio.
Vai dar certo!
Na rua uma ratazana frinfa o nariz no ar e dá cinquenta e
quatro corridinhas para chegar à lata de lixo,
onde uma multidão de baratas faz a festa.
Um lava-cu solitário sobrevoa a sarjeta e pousa elegante na
poça,
roçando a extremidade do cu na poça plácida
e um sariguê, roendo cascas de velhos e dourados pomos, de vez
em quando me olha com ar concupiscente.
O carro corta a mortalha da noite chispando no asfalto
e traz, voando atrás de si, em poeira e ventania,
o lixo das ruas despertas
Cascas de amendoim, pontas de cigarro. latinhas amassadas,
filipetas de shows imperdíveis, endereços de amails revelados, miçangas
perdidas no frege do amor entre as crianças
e muitos baratões mortos voando em festa,
redivivos no levante dos pneus. (Eus)
O dia começou de novo com a sua claridade impune.
Amaral Cavalcante.
Postagem originária da página do Facebook/MTéSERGIPE.
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