Publicado originalmente no blog Academia Literária de Vida,
em 28/11/2012.
Sementear.
Encantou-me o livro Sementear, do poeta, contista e artista
José Sergival da Silva, membro do Movimento de Apoio da Academia Sergipana de
Letras – MAC. Encantou-me pela simplicidade e sentimento com que sabe observar
e apreciar a vida em seus variados aspectos. Encantou-me a sua maneira de ver,
de falar sobre coisas da terra que ele ama, as lembranças vívidas da sua
infância, as paisagens, o amor explodindo em tudo quanto escreve. Sergival,
melhor contista ou melhor poeta? Sergival está entre os dois como um fiel de
balança. Na poesia Mendigos retrata a dor da fome, da miséria que infelizmente
assola o nosso povo: “Nas quitandas do mercado/ Nas noites de frio ou calor/
Dormem velhos e crianças/ Na Ponte do Imperador,/ onde reina a fome e a dor”.
Em Notícias do Nordeste canta o nosso cálido sertão, desde o
Maranhão, Piauí, Ceará até as caatingas das Alagoas, Sergipe e Bahia, chamando
atenção para as particularidades da terra, concitando os brasileiros a
conhecê-la, antes de ir ao estrangeiro: “Por isso digo ao povo brasileiro / Antes
de ir pro estrangeiro / Visitar outra nação / Venha pra cá conhecer o tal
Nordeste / Companheiro se avexe / Valorize o nosso chão”.
E a delicadeza de lírios no poema Lâminas?
Vejam como a brisa corta os galhos
Sinfonia de folhas
Mansidão
O fruto, a flor, o inseto,
De todo o verde alfabeto
Respiro, inspiro, inspiração
Vejam como a ave corta os ares
Bate asas de mansinho
Corta nuvens, rumo ao ninho
Traz no bico uma canção.
Ou enaltecendo a Mulher:
Tu és a luz dos sonhos...
És brisa que suave acaricia o rosto dos anjos...
E no final: banhada de suor
pelo trabalho de tuas mãos firmes
na conquista da liberdade
Dóceis – na conquista do homem amado.
E Atitude?
Hoje não quero passar embaixo das sombras
Nem tão pouco acreditar
que tudo está escrito.
Quero sim, expor meus olhos à luz
Para que ela reflita em meu espírito...
Em todas as poesias Sergival desenha imagens e joga com as
cores da vida impregnando-nos de suas emoções. E os contos? Interessantes,
plenos de vida, do sabor da terra, das árvores, da infância. Trovoada misto de
prosa e poesia conta-nos o que significa para o sertanejo a trovoada... a chuva
tamborilando no telhado, a fartura de água nos vasilhames, antes ressequidos.
Chuva no telhado
Ronco do trovão
E o vento açoitando
As folhagens do sertão.
Raio que corisca
Um som mais estridente
E a água escorrendo
No telhado reluzente.
Goteira na bacia
Que encanta a criançada
Transformando em sinfonia
Uma forte trovoada.
Em Contos de D. Umburana, Sergival dá voz às árvores que se
encolhem apavoradas com a chegada do homem carregando seus apetrechos de
destruição. Em Leitura Silenciosa, lá na colina de Santo Antônio ele conversa
com seu amigo, o oitizeiro, dando-nos a impressão de estar falando com um
colega. E lembrando, com saudade, a infância feliz em Nossa Senhora da Glória,
fecha o livro com Viagem Lunar, sonhando com um grupo de colegas, transformando
um velho carro abandonado em uma nave espacial rumo ao infinito.
Parabéns, Sergival por suas poesias e contos repletos de
vida, de fantasia, de sonhos, de beleza e de amor. Simples, sem rebuscamento,
capazes de serem entendidos até por quem não se liga em poesias.
Maria Lígia Madureira Pina.
Foto e texto reproduzidos do blog:
academialiterariadevida.blogspot.com.br
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