Publicado originalmente no blog Academia Literária de Vida,
em 28/01/2014.
Tambores da Terra Vermelha, de Saracura
Por Maria Lígia Madureira Pina
Tambores da Terra Vermelha é o mais recente livro de Antonio
Francisco J. Saracura, natural da Terra Vermelha,(Itabaiana/Sergipe),
recém-empossado membro da Academia Itabaianense de Letras e seu fundador. Li,
li sem querer parar o citado livro. E lembrei-me da minha mãe, reclamando: essa
quando pega um livro se esquece da vida. Não se lembra de comer, de dormir...
Criatura de Deus, amanhã é dia de trabalho, sete horas você tem que estar no
colégio! Como hoje eu não tenho mãe para me admoestar vou entrando, noite a
dentro, sem pensar nas horas, porque também estou descompromissada de qualquer
trabalho.
Voltando ao livro de Saracura. Encantou-me: pelo enredo e
pelas características da construção; a leveza do estilo, bordado de humor fino,
mesmo nos temas mais difíceis, que não são poucos. A fidelidade aos fatos, a
espontaneidade, as lembranças fluem, leves, gritam por sair, como diria Garcia
Rosa. Focaliza a dureza da infância na vida do campo. O trabalho pesado imposto
às crianças, tudo com humor, sem traumas, nem mágoas. As dificuldades para
estudar, diante da intransigência do pai que não via vantagem nos estudos. A
filosofia de vida de D. Florita, as estratégias para abordar o assunto com o
marido difícil, mas sabia ser firme, quando o marido inteligente tentava
driblar o seu empenho em favor dos filhos. As carnes de sol e as laranjas
encaixotadas, a doença de D. Florita. O encontro do autor com a mãe, quase
desenganada pelos médicos; ou operava ou teria apenas seis meses de vida. Aí
Antonio, já trabalhando na Petrobrás entrou em ação, prontificou-se a pagar as
despesas, em Salvador na Bahia e dobrou o pai. Saracura salvou a vida da mãe.
Saracura não retrata apenas os fatos. Ele os absorve e os
traz de volta, fieis, mas envolvidos em preciações, suas, ditos e costumes da
época, rebordados de simbologia.
Mas Saracura expira momentos de revolta, diante da falta de
iniciativa que levava a morte as parturientes. E cita dois casos: a que teve a
criança, mas morreu sem “se despachar” (sem expelir a placenta) nas mãos de uma
parteira. E a outra Tila, foi um caso muito mais doloroso: a mulher morreu e a
criança viva no ventre, lutando pela vida. E ninguém teve a iniciativa de
salvar a criança. Saracura comenta revoltado: tantos homens, ali, acostumados a
salvar bezerras, tendo a faca na cintura e nada ficaram inertes.
A morte da matriarca Santinha tuberculosa, pedia
constantemente para levá-la ao médico e ninguém atendia. E Saracura expele a
sua revolta. Mas eu não vou fazer uma resenha do livro de Saracura, mesmo assim
quero comentar sobre o mau olhado. Eu também não acredito. Mas, ele existe. Eu
tenho cá minhas provas. Ou coincidências? Sei não. E por fim lembro o
reencontro com parentes que você não via há tantos anos... Tudo graças ao seu
livro Os Tabaréus do Sítio Saracura. D. Lourdes, sua prima viu o livro,
comprou, leu, gostou, telefonou pra você, fez o convite para um encontro. Você
foi e lá ficaram os dois a relembrar o passado, como se tudo estivesse
acontecendo naquele momento. É muito gratificante. Eu passei por esta
experiência. Parentes que não via há mais de 40 anos... De repente recebo uma
linda carta, lembrando a nossa adolescência. E quando nos encontramos parecia
não ter havido aquele interregno de mais de 40 anos.
Parabéns Saracura. Foi maravilhoso, viver com você a bela
experiência da sua rica vida.
Foto e texto reproduzidos do blog:
academialiterariadevida.blogspot.com.br
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