sexta-feira, 2 de maio de 2014

Tambores da Terra Vermelha, de Saracura


Publicado originalmente no blog Academia Literária de Vida, em 28/01/2014.

Tambores da Terra Vermelha, de Saracura
Por Maria Lígia Madureira Pina

Tambores da Terra Vermelha é o mais recente livro de Antonio Francisco J. Saracura, natural da Terra Vermelha,(Itabaiana/Sergipe), recém-empossado membro da Academia Itabaianense de Letras e seu fundador. Li, li sem querer parar o citado livro. E lembrei-me da minha mãe, reclamando: essa quando pega um livro se esquece da vida. Não se lembra de comer, de dormir... Criatura de Deus, amanhã é dia de trabalho, sete horas você tem que estar no colégio! Como hoje eu não tenho mãe para me admoestar vou entrando, noite a dentro, sem pensar nas horas, porque também estou descompromissada de qualquer trabalho.

Voltando ao livro de Saracura. Encantou-me: pelo enredo e pelas características da construção; a leveza do estilo, bordado de humor fino, mesmo nos temas mais difíceis, que não são poucos. A fidelidade aos fatos, a espontaneidade, as lembranças fluem, leves, gritam por sair, como diria Garcia Rosa. Focaliza a dureza da infância na vida do campo. O trabalho pesado imposto às crianças, tudo com humor, sem traumas, nem mágoas. As dificuldades para estudar, diante da intransigência do pai que não via vantagem nos estudos. A filosofia de vida de D. Florita, as estratégias para abordar o assunto com o marido difícil, mas sabia ser firme, quando o marido inteligente tentava driblar o seu empenho em favor dos filhos. As carnes de sol e as laranjas encaixotadas, a doença de D. Florita. O encontro do autor com a mãe, quase desenganada pelos médicos; ou operava ou teria apenas seis meses de vida. Aí Antonio, já trabalhando na Petrobrás entrou em ação, prontificou-se a pagar as despesas, em Salvador na Bahia e dobrou o pai. Saracura salvou a vida da mãe.

Saracura não retrata apenas os fatos. Ele os absorve e os traz de volta, fieis, mas envolvidos em preciações, suas, ditos e costumes da época, rebordados de simbologia.

Mas Saracura expira momentos de revolta, diante da falta de iniciativa que levava a morte as parturientes. E cita dois casos: a que teve a criança, mas morreu sem “se despachar” (sem expelir a placenta) nas mãos de uma parteira. E a outra Tila, foi um caso muito mais doloroso: a mulher morreu e a criança viva no ventre, lutando pela vida. E ninguém teve a iniciativa de salvar a criança. Saracura comenta revoltado: tantos homens, ali, acostumados a salvar bezerras, tendo a faca na cintura e nada ficaram inertes.

A morte da matriarca Santinha tuberculosa, pedia constantemente para levá-la ao médico e ninguém atendia. E Saracura expele a sua revolta. Mas eu não vou fazer uma resenha do livro de Saracura, mesmo assim quero comentar sobre o mau olhado. Eu também não acredito. Mas, ele existe. Eu tenho cá minhas provas. Ou coincidências? Sei não. E por fim lembro o reencontro com parentes que você não via há tantos anos... Tudo graças ao seu livro Os Tabaréus do Sítio Saracura. D. Lourdes, sua prima viu o livro, comprou, leu, gostou, telefonou pra você, fez o convite para um encontro. Você foi e lá ficaram os dois a relembrar o passado, como se tudo estivesse acontecendo naquele momento. É muito gratificante. Eu passei por esta experiência. Parentes que não via há mais de 40 anos... De repente recebo uma linda carta, lembrando a nossa adolescência. E quando nos encontramos parecia não ter havido aquele interregno de mais de 40 anos.

Parabéns Saracura. Foi maravilhoso, viver com você a bela experiência da sua rica vida.

Foto e texto reproduzidos do blog:
academialiterariadevida.blogspot.com.br

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