(Insaite por Marcelo Déda)
Das certezas
Na última mesa onde nos encontramos, de você, esquálido, mas
brilhante como sempre, acho que o ouvi dizer:
– Perdi todas as certezas.
A frase ricocheteou na louça, ofendeu o arranjo florido que
enfeitava a mesa, tirou fino na minha conveniente circunspecção e penetrou
lancinante bem aqui no coração do poeta.
Digo-lhe que as certezas de várias gerações se embaralham
com as suas, cabra!
Nossos ganhos morais, a inteligência que nos resta e o épico
de nós,
são as certezas que enriquecem a nossa história e que lhe
foram confiadas.
Guardamos em você a preciosa certeza de que temos de mudar o
mundo, haja na vida, ou na morte, o que houver!
Como então, companheiro, as declara perdidas?
Você não diga mais isso, poeta, pelo menos em minha
presença.
Entrelaçamos bilros frágeis no travesseiro da história,
linhas sensíveis, beleza arisca que se destina a contemplações futuras.
Fico aqui, tranquilo, adereçando babados, porque lhe confiei
a guarda dos meus trançados, a paz da minha janela, a água fresca no pote,
a guarda dos meus sonhos mais revolucionários.
Você é o nosso único Marcelo Deda, lembre-se sempre.
Amaral Cavalcante -16/12/2009
Post migrado da página do Facebook/MTéSERGIPE
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