Publicado originalmente pela Infonet/Reportagem, em
17/03/2005
Uma cidade que vive no futuro.
Aracaju tem uma marca? Uma cara? Muito já se discutiu, se
especulou, concordou e discordou sobre isto. Mas, ainda, está longe de se
chegar a um consenso. Será que as araras, os cajus, o caranguejo, até os arcos
da Orla (todos estes já utilizados como símbolos aracajuanos) realmente
representam a capital? Representam a sua cultura, a sua tradição, a sua
identidade? Para muitos a resposta seria sim. Entretanto, há também quem diga
que não. Encontrar algo que simbolize a capital sergipana não é tarefa fácil.
Mas o professor Lindvaldo Sousa propõe uma resposta, singular, para a questão.
Para ele deve-se partir, antes de tudo, de outra questão:
Aracaju foi construída em que período da história do Brasil? Tendo este ponto
de partida, o historiador observa que, através do tempo, a cidade acabou
criando uma marca. “Quando a capital foi transferida, era o período da Lei
Euzébio de Queiroz, do processo de abolição da escravatura. Um paralelo da
situação peculiar que nossa nova capital vivia, naquela época, junto a
população pobre (principalmente junto daqueles que não estavam mais sob o jugo
da escravidão), é com a São Paulo do século XX, que se tornou um refúgio para
aqueles que fugiam da seca e da fome. Aracaju, quando foi construída, era uma
esperança”, analisa.
“E foi este povo pobre que ajudou a construí-la. Então eu
pergunto: o que é a marca de Aracaju? Acredito que é esconder a favela, a
pobreza. Aracaju sempre cria a idéia de que é uma cidade moderna, nova, que vai
acontecer. Por outro lado, esta mesma cidade nunca se pergunta onde estão os
outros. Não os heróis, mas os homens pobres, a população anônima que também foi
responsável por sua existência”, alerta o historiador.
Ele continua: “Aracaju tem passado? Parece que quando você
abre os jornais o que se vê é apenas a nova Aracaju. Então, a marca de Aracaju
é a idéia de que ela tem sempre um futuro promissor. Que tem futuro e que não
tem passado. O passado é São Cristóvão e Laranjeiras”, ressalta. Por mais
chocante que pareça a afirmação, não deixa de ser um ponto de vista que vale
ser analisado. Enquanto explica a análise tão crua que faz da cidade, o
professor não deixa de se cercar de argumentos. Entre eles o de que a capital
não só surgiu sob a égide da modernidade – com o traçado do projeto de Pirro e
tudo mais – mas que também guarda em si um elemento de colônia, que é a igreja.
E esta também é outra marca da cidade.
“A Igreja Nossa Senhora da Conceição, hoje a Catedral
Metropolitana, também foi pensada. Sendo assim, reforça que a marca de Aracaju,
em plena modernidade, abriga elementos da religiosidade. E não só a católica.
Por isso a cidade também pode ser pensada através da festa de Bom Jesus, da
festa de Santo Antônio, das praças que eram sempre ocupadas para festas de
final do ano, de Reis. Desse modo, Aracaju é uma cidade que, por mais que a
historiografia não revele isso, une o novo e o velho”, destaca o professor.
Segundo ele, fatos pequenos, de um cotidiano que se afasta mais e mais da
memória popular, são os verdadeiros traços que formam a fisionomia da cidade.
“Se analisarmos bem, Aracaju ainda simboliza prédios, mas é um lugar onde a
pessoas convivem e andam. E eu acredito que esta é uma marca importante”,
defende Sousa.
Fotos e texto reproduzidos do site: infonet.com.br/noticias
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