Foto: Fernando Correia.
Publicado originalmente pela Revista Rever, em 11/05/2016.
Doc conta a História de Dona Nadir da Mussuca.
Documentário retrata a história e musicalidade da mestra
quilombola
por Geilson Gomes
Pode-se contar uma história através de muitas narrativas. A
cinematográfica é uma das mais fascinantes que existe e quando ela se encontra
com o encantamento em pessoa que é a Dona Nadir, aí a coisa ganha contornos antológicos.
Na noite da última terça-feira, 10, em uma sala lotada no Museu da Gente
Sergipana, os espectadores que foram assistir ao documentário ‘Dona Nadir da
Mussuca’, dirigido por Alexandra Dumas, certamente, saíram encantados com o que
viram e ouviram.
A comunidade da Mussuca, a trajetória de vida e a
musicalidade pulsante de Dona Nadir foram os temas explorados pelo doc, que em
seu curto tempo (quem conhece a protagonista sabe que pra ela sempre dá pra
“gastar” mais um pouco) mostra a beleza dos sambas e das danças, a influência
forte do pai e outros familiares e a fonte cultural do povo negro que é o
quilombo.
O olhar ancestral para a Mussuca foi um ponto importante do
documentário. Contar e conhecer a nossa própria história é como receber uma
injeção de cultura e resistência para os dias atuais. Nós, habitantes dos
quilombos modernos, estamos doentes e a cura/transformação começa quando
dobramos nossos olhos para nossa ancestralidade negra e compreendemos que a
luta é antiga e contínua.
Localizada na região das antigas lavouras de cana-de-açúcar,
a Mussuca fica no município de Laranjeiras, no Vale do Cotinguiba e desde 2003
ela é titulada como comunidade remanescente de quilombo pelo MINC/Instituto
Palmares. Mas, mesmo com o reconhecimento, existe ainda a disputa pela posse de
terra com os fazendeiros/empresários e a falta de políticas públicas na
comunidade. Aliado a isso, a produção de cimento da fábrica afeta a saúde dos
moradores.
Sagacidade e samba
Ela mesma afirma que possui um gênio “maldoso”, uma
personalidade forte que movimenta seu corpo e mente por 68 anos. Essa é a Dona
Nadir, uma mulher guerreira, que, sem saber ler e escrever a formalidade, samba
na cara da sociedade letrada. No filme, vemos sua rotina e sua relação com a
comunidade. Sempre com sua sagacidade atinada, sua vivência representa o poder
da cultura e dos ensinamentos populares do povo negro.
No Grupo São Gonçalo da Mussuca e no Samba de Pareia ela
reina. Influenciados pelos toques dos tambores, cantos e danças trazidos pelos
negros africanos, essas manifestações vêm por muitos anos resistindo, de forma
coletiva, passando por várias gerações.
O sentido de Africanidade é: reconhecer tanto o lugar
histórico, sociopolítico e a manifestação artística enquanto expressões de
nossa vida cultural, no qual, figuras como Dona Nadir são como os antigos Griôs
– àqueles que mostram o caminho e que tem muito a nos contar e a nos ensinar.
No final da exibição do filme ela nos deixou mais um
ensinamento: o samba não pode morrer, o samba não pode acabar.
Texto e imagem reproduzidos do site: revistarever.com
Nenhum comentário:
Postar um comentário