Publicado originalmente no site Click Sergipe, em
02/09/2016.
Das canoas de toldas só ficaram as argolas no cais onde elas
eram amarradas.
Por Adeval Marques
Das canoas de toldas só ficaram as argolas no cais onde elas
eram amarradas: memória, história e patrimônio histórico.
Quem passeia pelo quais de Propriá, se for um passeante
atento e não se importar em dedicar um pouco de tempo, perceberá inúmeros
detalhes que contam um pouco da História da cidade. Um deles nos faz lembrar a
época em que as canoas de toldas aportavam em toda extensão da cidade pelo lado
do rio trazendo e levando mercadorias e pessoas.
De uma ponta à outra o cais de Propriá tem diversas argolas
em intervalos regulares que contam um pouco daquela História. São inúmeras
argolas em ferro em grande diâmetro fincadas na parede de pedras que foram
construídas em cao batido, misturado a água do São Francisco, areia e muito
esforço humano.
A construção do cais tinha ideia de projeto sob várias
óticas. Uma delas era a de embelezar a vista da cidade, funcionar como um muro
de proteção nos tempos das grandes cheias do Opará e por fim dá uma certa magnitude
ao porto onde ancoravam as balsas, lanchas de passageiros, pequenos navios de
poucos calados e as belas e majestosas canoas de toldas na cidade mais
importante do Baixo São Francisco.
Ao ser construído, o cais deu uma nova roupa à cidade, pois
deixou de ser um porto de chão e areia batida, com pequena ladeira íngreme em
toda sua extensão para em fim trazer uma qualidade de vida melhor ao que dele
faziam uso diariamente. Em todo o Baixo São Francisco dizia-se: “Não há porto
mais bonito no Baixo São Francisco do quê o da cidade de Propriá [..]”. Grande
em extensão e belo em arquitetura.
Naqueles idos do começo do século 20, até os anos de 1960,
Propriá tinha uma economia sólida. Eram fábricas, comércio pujante, prestadores
de serviços em diversas áreas circulando na cidade, população crescente.
Propriá era próspera. Um verdadeiro centro de referência em diversas áreas. Ela
tinha pressa em crescer. Parecia que nada interromperia seu desenvolvimento.
Era então, em meio a essa agitação, que o abastecimento da cidade precisava ser
reposto a toda hora.
Através das canoas de toldas chegavam uma diversidade
incrível de mercadorias de todas as partes. Eram tantas que o porto ficava
lotado de canoas em toda sua extensão. Ao aportarem as cordas eram jogadas à terra
e em seguida amarradas nas argolas do cais e os descarregadores cuidavam em
agilizar, com rapidez, o trabalho de descarga porque haviam outras aguardando
para serem descarregadas. Era um porto movimentado porque assim tinha que ser
naquela cidade próspera da dobra do século 20. A grande maioria das mercadorias
chegavam através da canoas de toldas. Era o caminhão da época.
Com o passar do tempo a economia de Propriá começou a dar
sinais de enfraquecimento. Fábricas foram fechadas, comércio declinando, lojas
mudando-se para outras cidades, movimento financeiro caindo... As previsões não
eram boas e logo alguns proprietários de canoas de toldas começaram a migrar
para outras áreas de comércio. Alguns tornaram-se comerciantes com pequenas
vendas, outros em agricultores e assim, sem a movimentação e fluxo de
mercadorias, as canoas de toldas foram vendidas, algumas se acabavam nos portos
de outras cidades e até vendidas para o Médio São Francisco, Juazeiro e
Petrolina, onde a economia dava indícios de crescimento. Lá elas tornavam-se
grandes lanchas movidas a motor, como foi o caso da Sergipana, construída por
Pedro Minervino.
Daquele tempo são poucas as lembranças do reinado das canoas
de toldas e uma delas são as argolas fincadas no cais marcando um reinado que,
embora tenha passado, ficou registrado no tempo, nas fotografias, na lembrança
dos mais antigos, em poucos registros escritos e no cais da Princesinha do São
Francisco como era então conhecida e chamada à cidade de Propriá. Deveriam ser
tombadas como patrimônio público antes que sejam retiradas de seus locais. Elas
contam a História local. São importantes e devem ser preservadas a todo custo.
Tem valor histórico e cultural.
Hoje elas já não amarram as canoas de toldas e nem as outras
embarcações que aportavam no cais. Hoje elas guardam a história e memória
daqueles idos de prosperidade da cidade de Propriá.
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*Adeval Marques: graduado em História / Unit; membro do CCP
(Centro de Cultura de Propriá); fundador dos sites Própria News e Revista
Sergipe News.
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Fonte: Propriá News
Data Original: 01/09/2016.
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