Foto reproduzida do site [ibgpbrasil.org],
e postada pelo blog, para ilustrar o presente artigo
Publicado originalmente no site do Portal Infonet, em 7 de março de 2019
Por uma História do Povo Negro Laranjeirense
Maria da Conceição Bezerra dos Santos Sobrinha
Graduanda em História/PICVOL
Universidade Federal de Sergipe (UFS)
Por diversas vezes ao longo da história de Sergipe
observamos diversos intelectuais adjetivando a cidade de Laranjeiras,
reverenciando a qualidade de sua grandiosa cultura. Chamado de “Atenas
sergipana, berço da cultura Sergipana”, entre outras nomenclaturas, o município
de Laranjeiras tem a sua relevância cultural reconhecida. Mas, o mesmo não
acontece com o seu povo, os sujeitos de sua história e cultura. Uma pesquisa de
contato nos faz conhecer Laranjeiras sob a ótica do seu povo e, para o espanto
da intelectualidade tradicional de Sergipe, este povo não se enxerga, nem vê a
sua cidade como herdeira da Grécia ou outro país europeu.
Em Laranjeiras podemos ver nas ruas da cidade, nas pessoas e
na maioria dos lugares de memória, a herança cultural da África mesclada às culturas
europeias e indígenas, adaptada ao continente americano. Tal fenômeno supõe uma
coesão social, vivida pela população laranjeirense, de maneira especial entre
os negros. Estes negros, ao longo de mais de quatro séculos vêm mantendo a sua
memória e transmitindo aos mais novos. Conservam suas tradições por um longo
tempo, mesmo que estas sejam reinventadas, reelaboradas e atualizadas.
As manifestações culturais das Taieiras ao Cacumbi têm uma
base profunda na vivência e história do povo de Laranjeiras, permanecendo
ligadas aos seus líderes, estejam eles mortos ou vivos. Suas lideranças são
chamadas pelo nome, pois são reconhecidos como sujeitos. Ou seja, as
manifestações culturais de Laranjeiras não são meros espetáculos, simples
danças ou festejos. São verdadeiros rituais de celebração ancestral e de
transmissão de seus modos de vida e saber, a forma de vida do negro
laranjeirense. Ali vemos representadas as formas de pensar, agir, educar as
suas crianças e manter a coesão grupal, o respeito aos mais velhos da
comunidade, a celebração aos mortos e o culto dos santos.
Os negros de Laranjeiras têm pensamento, força e organização
autônomos. Suas manifestações culturais são políticas, religiosas e, sobretudo,
memorialistas. Laranjeiras é um modelo de manutenção e transmissão da cultura
afro sergipana, pela força que tem, pela dinâmica e união. Esse poder, segundo
a historiadora negra sergipana Beatriz Nascimento, advém do quilombo. Urge que
nós, filhos negros da academia, reconheçamos que já passou da hora de
Laranjeiras ser estudada pelos próprios conceitos, premissas e vivências de seu
povo. Pois, a complexidade de Laranjeiras não cabe em quadros conceituais e
arcabouços teóricos marcadamente brancos e elitistas. Assim, poderemos
construir na historiografia sergipana, uma história do povo negro laranjeirense
e uma história afro-laranjeirense para ensinar nas escolas.
Texto e logo reproduzidos do site: infonet.com.br
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