segunda-feira, 30 de abril de 2018

Thatiane, Presidente da Associação de Travestis e Transgêneros de Aracaju


Publicado originalmente no site Alô News, em 28/04/2018

Exclusiva do Alô:Thatiane Presidente da Associação de Travestis e Transgêneros de Aracaju

Nesta entrevista Thatiane traz um dado preocupante sobre o preconceito em Sergipe, fala também sobre a Parada LGBT e de sua pré-candidatura a deputada estadual, e outros assuntos.

Alô News – Thatiane, conte-nos um pouco de sua história.

Thatiane - Minha história se inicia no movimento estudantil, eu fui presidente do Grêmio no Colégio Atheneu em 1997, logo depois eu fui secretária Geral da União Sergipana de Estudantes Secundaristas. Fui uma das primeiras travestis do Brasil a ser da União Brasileira dos Estudantes e depois comecei a militar também no movimento LGBT a partir do grupo Dialogay, que foi um dos grupos mais antigos que existiu em Sergipe e depois fundamos a ASTRA, no intuito de trabalhar questões ligadas ao universo de pessoas transexuais e travestis, LGBT, pois existia uma necessidade de ter um grupo que qualificasse mais as discussões, estudos, etc... Fui a primeira presidente da ASTRA, hoje presido a Rede Nacional de Pessoas Trans, que congrega mais de 70 instituições em todo o Brasil, sou conselheira nacional LGBT, sou a primeira travesti a ser conselheira nacional da assistência social.

Fiz pedagogia até o 5° período, tranquei e fiquei na missão de retornar, mas senti que não tinha muito haver com o que eu desempenhava, e hoje faço Gestão Pública.

Alô News – Você já organizou várias Paradas do orgulho LGBT, como tudo começou?

Thatiane – As Paradas já existiam no Rio e em São Paulo desde 1969 e surgiu como um manifesto dos homossexuais e transexuais em represália às batidas policiais e tentativas de extorsão dessa população. Então é natural que as Paradas surjam também em outros estados. Muita gente confunde a Parada com festa, eu recentemente recebi uma ligação de uma pessoa me chamando para organizar, mas quando dizem que essa “festa” é uma Parada Gay, eu digo: Não vou me envolver em algo que não tenha um cunho político, social, para ajudar e conscientizar as pessoas dos seus direitos e contra a violência...

A Parada de Sergipe nasceu de uma forma legítima, de uma reunião nacional... Na época eu não era a militante mais antiga, mas fui a que abracei a causa. Os dois outros grupos que existiam em Sergipe disseram que a Parada não iria dar certo aqui, que teria muita violência, que não haveria apoio... A primeira Parada saiu com um trio e menos de 4 mil pessoas, e na última edição foram 120 mil pessoas, e uma Parada que já recebeu prêmios pela logomarca criativa e inclusiva. Esse evento é um momento de se comunicar de forma alegre e também reivindicar de forma alegre em comunhão com a sociedade.

Desde o início da Parada você vê famílias, casais, crianças que vão para apoiar e dizer que são contra a discriminação e combatem a homofobia.

Alô News – Já tem data para a Parada deste ano?

Thatiane – São 17 anos ininterruptos da Parada, e este ano tivemos resposta negativa de alguns órgãos, mas vamos reverter como nos outros anos, e a data prevista para a realização é o último domingo de Agosto na Orla de Atalaia. Serão 15 dias de atividades, como ocorre nos outros anos; atividades lúdicas, atividades culturais, e debates que envolvem a cultura LGBT. Movimento que lotam os hotéis e trás turistas para o nosso estado. A expectativa é nesta edição superemos as 120 mil pessoas, chegando a 130 mil.

Alô News – Quais os serviços que a ASTRA oferece?

Thatiane – A ASTRA nunca fechou as portas, mesmo não tendo nenhum tipo de incentivo, vivemos das doações dos membros e de projetos que agente desenvolve, como as campanhas de prevenção a AIDS. Oferecemos como serviço o teste de fluido oral em parceria com o Ministério da Saúde, que é um teste para se detectar com rapidez o HIV; temos a mais de 10 anos, de forma voluntária, através de parceria com advogados que entendem a nossa luta, assessoria jurídica.

Não passa uma semana sem que tenhamos de encaminhar algo para a justiça, de desrespeito familiar, de agressão, já pegamos caso de cárcere privado, tortura, etc...

Além do teste de fluído oral, conseguimos aprovar um projeto junto ao Ministério da Saúde, uma nova metodologia em saúde de prevenção combinada que também vamos oferecer. A ASTRA sempre foi uma instituição inovadora, e fomos a primeira instituição do nordeste a oferecer o teste rápido em 2004.

Alô News – A ASTRA também tem sido atuante na política, conte um pouco sobre isso.

Thatiane – Conseguimos aprovar algumas leis e todas advogadas pela ASTRA através de alguns vereadores.
  
Alô News – Quanto a situação do preconceito, como está o estado de Sergipe?

Thatiane – Sergipe aponta quadros preocupantes de violência. Só este ano tivemos uma elevação de casos de violência em relação ao mesmo período do ano passado. E Sergipe também preocupa quanto ao travamento de políticas públicas de Direitos Humanos. Pois tínhamos secretaria de Direitos Humanos, um Centro de Referência e Combate a Homofobia, abrindo todos os dias, em que a Secretaria de Segurança Pública reduziu o horário de funcionamento, reduziu o quadro de pessoal... A estrutura era outra, dispúnhamos de carro para resolver situações de conflito, e o Centro de Referência é exatamente pra isso, resolver essas questões...

Temos alguns avanços, mas infelizmente, nesse último governo, Sergipe parou de avançar em alguns pontos que já foram referência como a Delegacia de Grupos Vulneráveis, apresentada como uma das primeiras delegacias a ter trato especial com o cidadão LGBT... Estamos ansiosos esperando agora um Conselho que foi anunciado duas vezes pelo Governo, mas até agora nada.

Alô News – Estamos em período eleitoral, você está pensando em concorrer a alguma vaga na política?

Thatiane - Estou pré-candidata a deputada estadual pelo PSB e sou secretária nacional do segmento LGBT do partido

Texto e imagem reproduzidos do site: alonews.com.br

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