Luciana Barbosa foi bem aceita durante
a sua transição no seu local de trabalho
Linda Brasil, presidente da CasAmor
Jessica Taylor é cabelereira e presidente da Unidas
Além de acolher a população LGBT
a CasAmor fará um trabalho de inclusão social
Publicado originalmente no site do cinform, em 29 de janeiro de 2018
Quando o emprego é sinônimo de igualdade e inclusão
Por: Juliana Paixão
As estáticas da inclusão no mercado de trabalho daqueles que
nascem com um gênero, masculino ou feminino, e não se identificam com o mesmo,
é alarmante. Dados do último relatório de Violência Homofóbica no Brasil: ano
2013, publicado em 2016, demonstram que a transfobia faz com que muitos
transexuais acabem tendo como única opção de sobrevivência a prostituição de
rua.
Organizações não governamentais como a Associação CasAmor
(Casa de Apoio e acolhimento às pessoas LGBT´s) que terá o seu espaço
inaugurado na IV Semana de Visibilidade Trans de Aracaju, e como a Associação
das Travestis Unidas na Luta pela Cidadania (Unidas) auxiliam a comunidade
trans a conseguir inserção no mercado de trabalho oferecendo cursos de
especialização para garantir mais oportunidades.
O auxílio de organizações para profissionalizar a comunidade
e o exemplo de transexuais e travestis que conseguiram “chegar lá” é um
incentivo. A reportagem do CINFORM conversou com três transexuais que lutam
pela melhoria das condições da comunidade.
Começando o mestrado
Linda Brasil, 45, foi a primeira transexual a se formar na
Universidade Federal de Sergipe (UFS) podendo utilizar o seu nome social. Hoje
formada em letras e prestes a começar o mestrado na área de Educação e
Diversidade, é presidente da Associação CasAmor, que irá acolher as pessoas
LGBT que são expulsas de casa e precisam de ajuda.
“A portaria que regulamentou o nome social na UFS foi
derivada de um processo administrativo, porque no primeiro dia de aula eu sofri
um constrangimento por causa de um professor. Porque eu fui no DAA antes de
começar as aulas requerer o nome social, porque para nós isso é importante, e
eles me informaram para comentar com os professores e um resistiu, alegando que
não poderia me chamar de Linda já que meu nome era outro”, relata Linda.
“Existe um machismo quando as pessoas percebem que a gente
nasceu no gênero dominante, o ‘bambam’, e você negar esse gênero para assumir
uma identidade feminina e isso para alguns é degradante”, fala.
Linda destaca dados alarmantes sobre a comunidade Trans no
país. Atualmente 90% das transexuais e travestis estão compulsoriamente na
prostituição, além de possuir uma expectativa de vida de 35 anos por conta da
vulnerabilidade social. “Eu fui a primeira trans a ser assistida com o uso do
nome social, a primeira a se formar e esse respeito é importante”, conta.
“A gente chega lá”
Jessica Taylor dos Santos, 45, mulher Trans, é cabeleireira
e presidente da Associação das Travestis Unidas na Luta pela Cidadania, que
ajuda a comunidade Trans em Aracaju há 18 anos. A associação oferece cursos
profissionalizantes como serviços gerais, cabelereira, manicure, além de apoio
emocional à comunidade.
Jessica conta que muitas transexuais e travestis não têm
oportunidades de estudar, o que as levam a não conseguir entrar no mercado de
trabalho, levando muitas vezes à prostituição. “A gente percebe que muitas não
têm qualificação, já que saíram de casa cedo e não tiveram oportunidade de
estudar. Hoje você vê poucas pessoas da comunidade trans no mercado de trabalho
e essas poucas é porque tiveram oportunidade de estudar, muitas se assumiram
tarde. No meu caso, saí de casa aos 10 anos de idade e aos 11 já estava na
prostituição”, conta a presidente da Associação das Travestis Unidas na Luta
pela Cidadania, que se prostituiu por mais de 30 anos.
A esperança de uma sociedade na qual a inclusão da
comunidade trans seja um fato ainda existe para Jessica. “Quando eu sei que tem
uma no mercado de trabalho, fico feliz demais e para mim é uma conquista. Eu
queria que estivéssemos todas, mas um dia a gente chega lá”, destaca.
“Como eu me sentia bem”
Luciana Barbosa, 32 anos, é vendedora em uma loja no centro
comercial de Aracaju, pode trabalhar vestida do jeito que se sente bem, é
reconhecida e aceita pelos colegas e seus patrões. Lu, como prefere ser
chamada, já trabalha na mesma loja há dez anos e ingressou ao trabalho como um
homem homossexual, em 2015. Depois que começou a morar sozinha, decidiu que era
hora de assumir quem ela realmente era. “Comecei a me vestir como eu me sentia
à vontade, com roupas femininas, andar 24 horas como eu me sentia bem”,
comentou.
Durante todo o processo, Luciana teve a ajuda da chefe e dos
funcionários da loja, o que, segundo ela, não acontece em outras locais. “Minha patroa sempre me incentivou, falando
que era isso mesmo, que eu tinha demorado. Tanto meus colegas de trabalho
quanto meus patrões me ajudaram. Eu conheço outras lojas que não permitem que o
funcionário se vista do jeito que se sente bem”, comentou.
Luciana conta que o processo foi lento, apesar de já ser
conhecida como cover de Joelma, precisou conscientizar as pessoas sobre a
transformação que passou. “Como eu era cover de Joelma, já facilitava um pouco,
porque o povo me conhecia como Joelma. Aos poucos eu comecei a tomar hormônio,
que começou a mudar meu rosto e meu corpo, aí tive que usar sutiã porque já não
tinha como não usar mais, e minha patroa sempre falava para eu colocar o sutiã.
Na outra semana eu já ia maquiada, na outra com salto. No começo as pessoas me
chamavam de Lúcio e eu corrigia, que era para ser chamada de Luciana ou Lu”,
contou.
Texto e imagens reproduzidos do site: cinform.com.br
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