Publicada originalmente no site do Jornal do Dia, em 05/07/2019
A música transforma
Por Rian Santos
Pascoal Maynard é um conspirador do bem. Para ele, importa documentar os feitos e a
história das pessoas, colocar o nome de quem faz e acontece na roda. Estávamos
nessa, falando de uns e outros, saboreando uma cachaça fabricada em Capela,
quando ele levantou para "buscar uma coisa". De volta à mesa,
carregava o songbook do Cataluzes embaixo do braço.
A publicação do Sesc não transcreve todo o repertório do
conjunto sergipano em linguagem musical, como o título sugere. Mas abarca os
três discos gravados pelo Cataluzes. No texto de apresentação, Pascoal resgata
a trajetória iniciada lá atrás, nos tumultuados anos 70. Foi quando Cláudio
Miguel e os irmãos Antônio e José do Amaral tomaram parte em diversos festivais
e no curso dos acontecimentos, engajados, cada um a seu próprio modo, nos
movimentos estudantil e sindical. Somente com as canções reunidas em 'Viagem
cigana' (1983), o registro mais precioso de toda a discografia Serigy, no
entanto, eles fariam alguma diferença profunda na paisagem nativa. A música
transforma.
A Atalaia não seria a mesma sem 'Cheiro da terra'. Sem os
versos do Cataluzes, ninguém se daria conta ao mirar as ondas do mar. Em todas
as praias do mundo, sempre haverá alguém de olhos perdidos na imensidão. Aqui,
entretanto, o assombro natural da contemplação foi mudado em melodia.
Letras, cifras e partituras do Cataluzes estão agora a
disposição de qualquer músico familiarizado com a notação musical. A iniciativa
do departamento regional do Sesc merece, portanto, todos os aplausos. Hoje, os
discos do conjunto podem ser ouvidos em qualquer ponto do planeta, em alta
definição, acessíveis como estão nas plataformas de streaming. Mas, na
superfície do papel, suas canções ganham o mesmo relevo das pinturas rupestres,
indiferente às transformações da tecnologia e os séculos pela frente.
Eu fui ao encontro de Pascoal em companhia de Gabi Etinger.
Os dois estão empenhados em transformar os artigos do jornalista Waldemar
Bastos Cunha em livro. Conversa vai, conversa vem, os projetos já realizados
foram sucedidos por um monte de planos. Pascoal tem a paixão de contar, não
cansa de revolver a memória da aldeia, está o tempo inteiro atento ao que
ocorre aqui e agora. Talvez lhe faltem forças e recursos para realizar tudo o
que pretende. História não falta.
Texto e imagem reproduzidos do site: jornaldodiase.com.br
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