sexta-feira, 5 de julho de 2019

Mortes abalam rotina da cidade, por Ivan Valença

Jornalista e escritor João Oliva Alves 
Imagem extraída do vídeo: 
YouTube/Memórias do Poder/TV Alese

Empresário Sadi Paulo Castiel Gitz
Imagem reproduzida do site: epmundo.com

Texto publicado originalmente no site do Portal Infonet, em 5 de julho de 2019

Mortes abalam rotina da cidade
Por Ivan Valença (Blog Infonet)

Duas mortes quebraram a rotina de Aracaju nestas últimas 48 horas.A opinião pública sentiu a ausência do jornalista João Oliva Alves, que desapareceu aos 97 anos e o empresário Sadi Paulo Castiel Gitz, o proprietário de “A Escurial”, com unidade fabril no município de Socorro. João Oliva Alves veio de Riachão do Dantas para se tornar, de pronto, um dos mais importantes jornalistas do Estado. Era editorialista de mãos cheias, como não se fazem mais hoje em dia. Quer dizer tinha o embasamento cultural necessário para escrever sobre os mais diversos assuntos, sempre transmitindo opiniões as mais diversas. Nunca o vi trabalhando no jornal ‘A Cruzada”, órgão da Diocese de Aracaju, ao qual emprestou muitos anos de sua vida profissional. Mas dava-me prazer vê-lo redigindo alguma coisa – as vezes matérias triviais – na redação do jornal “Gazeta de Sergipe”, cujo proprietário, Orlando Dantas, tinha um enorme prazer em conversar com ele. Bastava vê-lo dedilhando uma das máquinas Remington da Gazeta, para Orlando Dantas convocá-lo logo para troca de idéias que geralmente ocorriam na sala da diretoria da Usina Vassouras. “Você não quer fazer um editorial sobre isto não?”, instava Orlando Dantas quando do final das conversas. No outro dia, João Oliva chegava apressadamente à redação com uma folha de papel escrita num dos versos. Era o editorial que Orlando havia sugerido. Homem devoto à religião católica, João Alves também colaborava com a Rádio Cultura, escrevendo muitos dos artigos rotulado de “Nossa Opinião”, ao qual emprestava valor filosófico que sua cultura permitia. Nos tempos da Livraria Regina, do seu Apóstolo, era comum encontra-lo à porta trocando idéias com os amigos todo final de tarde. Tinha uma verdadeira admiração por João Oliva Alves e hoje só lamento não ter podido realizar o que poderia ter sido a última entrevista dele a dois jornalistas da nova geração, eu e Gilson Souza. Sob inspiração deste último, estávamos organizando um livro com entrevistas de 20 jornalistas do passado. Mas não conseguimos ouvir João Oliva. No nosso último contato, ele me disse que “na próxima semana ligaria prá mim”, para marcarmos dia e hora. “Só não vá morrer antes disso”, retruquei-lhe, brincando.

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O que aconteceu com Sadi Paulo Castiel Gitz foi uma tragédia quase que anunciada. Ele vinha ultimamente muito deprimido, vendo o sonho de sua existência – no caso a empresa Escurial, com instalações físicas no município de Socorro, fugir-lhe do controle. É que, ao enfrentar a crise do dia a dia brasileiro, tinha outro problema tão sério quanto: o preço do gás canalizado inviabilizava a sua operação. Ele tentou a “hibernação” da empresa, mas o governo do Estado não lhe ajudou em nada. Ao contrário disso, doía-lhe na alma ter que despedir seus seiscentos e poucos servidores. Os contatos com o governador Belivaldo Chagas resultaram infrutíferos. Certamente por dentro dele tramava o desfecho que, afinal, ocorreu ontem. Ele foi para a abertura do debate sobre o sistema de gás canalizado no Nordeste preparado para oque desse e viesse. Mal o Governador Belivaldo começou a falar ele levantou-se da poltrona do auditório do hotel Ravison e gritou: “Governador Belivaldo você é um mentiro”. Dito o que virou o cano do revólver e disparou contra a sua própria boca. Caiu no piso do auditório, praticamente já sem vida. Encerrava-se ali a sua luta pelo astronômico preço do gás canalizado, produto sem o qual não poderia tocar a Escurial. Gaúcho de Porto Alegre, Sadi morava em Aracaju há há muitos anos. O tiro que ele dirigiu à sua própria boca, atingiu, sem dúvida, o Governo do Estado: Belivaldo vai ter que dar muitas explicações para deixar morrer daquele jeito, um brasileiro, quase sergipano, que apenas lutava pela sua existência e de seus seiscentos e tantos funcionários.

Texto reproduzido do site: infonet.com.br

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