Imagem extraída do vídeo:
YouTube/Memórias do Poder/TV Alese
Empresário Sadi Paulo Castiel Gitz
Imagem reproduzida do site: epmundo.com
Texto publicado originalmente no site do Portal Infonet, em 5 de julho de 2019
Mortes abalam rotina da cidade
Por Ivan Valença (Blog Infonet)
Por Ivan Valença (Blog Infonet)
Duas mortes quebraram a rotina de Aracaju nestas últimas 48
horas.A opinião pública sentiu a ausência do jornalista João Oliva Alves, que
desapareceu aos 97 anos e o empresário Sadi Paulo Castiel Gitz, o proprietário
de “A Escurial”, com unidade fabril no município de Socorro. João Oliva Alves
veio de Riachão do Dantas para se tornar, de pronto, um dos mais importantes
jornalistas do Estado. Era editorialista de mãos cheias, como não se fazem mais
hoje em dia. Quer dizer tinha o embasamento cultural necessário para escrever
sobre os mais diversos assuntos, sempre transmitindo opiniões as mais diversas.
Nunca o vi trabalhando no jornal ‘A Cruzada”, órgão da Diocese de Aracaju, ao
qual emprestou muitos anos de sua vida profissional. Mas dava-me prazer vê-lo redigindo
alguma coisa – as vezes matérias triviais – na redação do jornal “Gazeta de
Sergipe”, cujo proprietário, Orlando Dantas, tinha um enorme prazer em
conversar com ele. Bastava vê-lo dedilhando uma das máquinas Remington da
Gazeta, para Orlando Dantas convocá-lo logo para troca de idéias que geralmente
ocorriam na sala da diretoria da Usina Vassouras. “Você não quer fazer um
editorial sobre isto não?”, instava Orlando Dantas quando do final das
conversas. No outro dia, João Oliva chegava apressadamente à redação com uma
folha de papel escrita num dos versos. Era o editorial que Orlando havia
sugerido. Homem devoto à religião católica, João Alves também colaborava com a
Rádio Cultura, escrevendo muitos dos artigos rotulado de “Nossa Opinião”, ao
qual emprestava valor filosófico que sua cultura permitia. Nos tempos da
Livraria Regina, do seu Apóstolo, era comum encontra-lo à porta trocando idéias
com os amigos todo final de tarde. Tinha uma verdadeira admiração por João
Oliva Alves e hoje só lamento não ter podido realizar o que poderia ter sido a
última entrevista dele a dois jornalistas da nova geração, eu e Gilson Souza.
Sob inspiração deste último, estávamos organizando um livro com entrevistas de
20 jornalistas do passado. Mas não conseguimos ouvir João Oliva. No nosso
último contato, ele me disse que “na próxima semana ligaria prá mim”, para
marcarmos dia e hora. “Só não vá morrer antes disso”, retruquei-lhe, brincando.
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O que aconteceu com Sadi Paulo Castiel Gitz foi uma tragédia
quase que anunciada. Ele vinha ultimamente muito deprimido, vendo o sonho de
sua existência – no caso a empresa Escurial, com instalações físicas no
município de Socorro, fugir-lhe do controle. É que, ao enfrentar a crise do dia
a dia brasileiro, tinha outro problema tão sério quanto: o preço do gás
canalizado inviabilizava a sua operação. Ele tentou a “hibernação” da empresa,
mas o governo do Estado não lhe ajudou em nada. Ao contrário disso, doía-lhe na
alma ter que despedir seus seiscentos e poucos servidores. Os contatos com o
governador Belivaldo Chagas resultaram infrutíferos. Certamente por dentro dele
tramava o desfecho que, afinal, ocorreu ontem. Ele foi para a abertura do
debate sobre o sistema de gás canalizado no Nordeste preparado para oque desse
e viesse. Mal o Governador Belivaldo começou a falar ele levantou-se da
poltrona do auditório do hotel Ravison e gritou: “Governador Belivaldo você é
um mentiro”. Dito o que virou o cano do revólver e disparou contra a sua
própria boca. Caiu no piso do auditório, praticamente já sem vida. Encerrava-se
ali a sua luta pelo astronômico preço do gás canalizado, produto sem o qual não
poderia tocar a Escurial. Gaúcho de Porto Alegre, Sadi morava em Aracaju há há
muitos anos. O tiro que ele dirigiu à sua própria boca, atingiu, sem dúvida, o
Governo do Estado: Belivaldo vai ter que dar muitas explicações para deixar
morrer daquele jeito, um brasileiro, quase sergipano, que apenas lutava pela
sua existência e de seus seiscentos e tantos funcionários.
Texto reproduzido do site: infonet.com.br
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