Publicado originalmente no site do JORNAL DA CIDADE, em
03/09/2019
Thaís Bezerra ENTREVISTA Daniela Costa
A nossa convidada de hoje é a brilhante advogada Daniela
Carvalho Almeida da Costa. Possui graduação em Direito pela Universidade
Federal de Sergipe (1998), mestrado e doutorado em Direito pela Universidade de
São Paulo. Atualmente é professora associada da UFS, lecionando na graduação e
no Programa de Pós-graduação – Prodir, e instrutora de facilitadores em Justiça
Restaurativa. Membro da Comissão Executiva e de Articulação Institucional para
difusão da Justiça Restaurativa no Estado de Sergipe, indicada pela UFS, que
firmou o Protocolo de Cooperação Interinstitucional com o Tribunal de Justiça
de Sergipe e outros diversos órgãos e instituições, desde 11 de maio de 2015.
Daniela é líder do grupo de pesquisa “Estudos sobre violência e criminalidade
na contemporaneidade”, cadastrado no CNPq, e vem desenvolvendo pesquisas sobre
Justiça Restaurativa desde 2016, com o objetivo de desenvolver um modelo de
avaliação continuada para as práticas restaurativas. Acabou de publicar o
primeiro fruto dessa pesquisa, em formato de e-book, pela editora UFS, no
início do mês de agosto. O e-book está disponível para downloa dgratuito, no
site da livraria UFS e intitula-se “Monitoramento da Justiça Restaurativa em
três dimensões”. Vamos ao bate papo!
Thaïs Bezerra – Em que a Justiça Restaurativa (JR) se difere
da justiça tradicional?
Daniela Carvalho Almeida da Costa – A JR propõe um novo
olhar para os conflitos, ao enxergá-los não só como uma violação da lei, mas
também e especialmente como uma violação de relacionamentos. O procedimento
restaurativo trata de devolver o conflito às partes, por meio de metodologias
consensuais, baseadas no diálogo, para identificar as necessidades da vítima e
dos demais envolvidos na situação conflitiva, com foco em reparar danos e
endireitar as coisas para o futuro. Essas práticas, levadas a cabo por
facilitadores previamente capacitados, podem ocorrer tanto no ambiente
comunitário (ex.: solução de conflitos escolares), quanto no ambiente da
justiça. Quando neste último, o juiz será o responsável por encaminhar o
processo ao núcleo de JR e homologar o acordo restaurativo que, se cumprido a
contento, extinguirá o processo e, em não havendo acordo ou tendo sido
descumprido, o processo voltará a tramitar na justiça tradicional.
TB – Como se deu sua aproximação com a Justiça Restaurativa?
DC – É uma longa história... Acredito que toda minha
trajetória acadêmica me preparou para a JR. A resposta penal promove exclusão,
ao estigmatizar o condenado e romper definitivamente com seus laços de
pertencimento comunitário. Sempre enxerguei isso com muita clareza, o que me
levou a buscar novas possibilidades de resolução de conflitos e, em algum
momento – feliz –, me levou ao encontro da Justiça Restaurativa. Isso se deu
nos idos de 2010, entretanto, minha primeira experiência com a JR aconteceu em
outubro de 2012, quando fui a Porto Alegre fazer um curso para me tornar
facilitadora, com a kay Pranis, umas das maiores experts dessa metodologia no
mundo, e foi um divisor de águas em minha carreira e em minha vida.
TB – Fale-nos um pouco sobre seus projetos profissionais.
DC – A JR de tal modo transformou minhas escolhas que, em
2017, decidi requerer o regime de dedicação exclusiva na UFS. A partir de
então, projetos em várias frentes estão ganhando vida, dentre os quais já posso
destacar: a publicação do livro; dois projetos de extensão que estão em fase de
amadurecimento e, por isso, ainda não posso adiantar muita coisa, mas dizem
respeito a levar a Justiça Restaurativa para além do judiciário, envolvendo a
comunidade; a aprovação, no final de 2017, em reunião do colegiado de curso, da
inserção da Justiça Restaurativa, na matriz curricular do curso de direito da
UFS, como disciplina obrigatória e a organização de uma rede nacional de
docentes restaurativos, que estou coordenando. Enfim, o tripé
ensino-pesquisa-extensão é bem dinâmico.
TB – E sobre o livro que acabou de publicar?
DC – O livro - fruto dos dois primeiros anos da pesquisa que
desenvolvo com alunos da graduação e da pós-graduação, vinculada ao CNPq, que se
iniciou em 2016 - apresenta um modelo de monitoramento para a Justiça
Restaurativa em três dimensões, que permita uma avaliação continuada de suas
práticas, para fins de garantia da qualidade das mesmas.
TB – Onde encontrar o livro? Soube que é para download
gratuito.
DC – Meu objetivo é oportunizar a maior publicização
possível do livro, vez que se trata de resultados de pesquisa acadêmica.
Decidi, então, submetê-lo à seleção da editora UFS, para garantir acesso
gratuito. Para acessar o livro, basta entrar no site da livraria UFS
(www.livraria.ufs.br), localizá-lo em seu catálogo, inserir no carrinho,
preencher o cadastro e, por fim, clicar no ícone “BAIXAR”, que aparecerá logo
abaixo, na tela “detalhes do pedido”, e o download gratuito, em pdf, será efetuado.
TB – Gostaria de acrescentar algo mais?
DC - Só agradecer e há tanto pelo que agradecer... Então,
concentrarei meu agradecimento à Espiritualidade Amiga que tanto nos inspira,
especialmente pela matrícula na Escola de Espiritualidade Cristã, o Instituto
Salto Quântico. Lá tenho diariamente aprendido sobre genuína fraternidade, que
é também o valor que move a Justiça Restaurativa, o que me faz enxergar várias
interfaces entre os valores da Justiça Espiritual e os da JR. Venho refletindo
muito sobre essas convergências, mas esse é todo um novo tema, que daria uma
outra entrevista (risos). Por fim, agradecer a você, TB querida, pela
generosidade em abrir esse espaço para a divulgação do meu livro e de trechos
da minha trajetória profissional.
Texto e imagem reproduzidos do site: jornaldacidade.net
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